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Escolhas & Percursos

...espaço de discussão, de formação, de cultura, de curiosidades, de interacção. Poderemos estar mais próximos. Deus seja a nossa Esperança e a nossa Alegria...

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24.08.24

Para quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna

mpgpadre

       1 – «Estas palavras são duras. Quem pode escutá-las?» A partir de então, muitos dos discípulos afastaram-se".

       Continuamos com o texto de São João, no qual Jesus Se apresenta como o verdadeiro Pão da Vida, o Pão de Deus. A afirmação de Jesus gera polémica na população, nos judeus e nos discípulos.

       Perante a dispersão dos judeus e dos discípulos, Jesus questiona os Doze: «Também vós quereis ir embora?». Pedro, em nome dos outros Apóstolos, responde inequivocamente: «Para quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. Nós acreditamos e sabemos que Tu és o Santo de Deus».

       A dissidência dá lugar à firmeza, à convicção, ao seguimento consciente e livre. O projeto de Jesus Cristo é um projeto de salvação, de vida nova, desafiando os limites do tempo e do espaço.

       2 – Jesus Cristo, Deus entre nós, é o Pão que nos dá ânimo (alma) para vivermos confiantes, em momentos favoráveis como em ocasiões de tormenta, com alegria, sabendo que Ele é OLHAR que nos eleva, mão que nos segura, COMPANHIA que nos fortalece, é a VIDA nova que oxigena o nosso coração, por inteiro.

       Não Se impõe. Vive no tempo e na história. Habita a humanidade. Caminha nas nossas buscas. Insere-Se nos nossos sonhos. Sofre e diverte-se com os nossos filhos e irmãos e pais. Chora e ri nas praças e nas vielas dos nossos corações. Não Se impõe. Tem a força e o poder que Lhe vêm do alto, de DEUS, mas faz-Se pobre, frágil, mendigo da nossa vontade, ajoelha-Se diante do nosso olhar.

       "Quereis ir embora?"

       A liberdade integra o plano salvador de Deus. Sem ameaças. Cabe a cada um, ainda que com a ajuda dos irmãos, decidir. É este o jeito de Deus, como os pais em relação aos filhos seus. Querem o melhor para nós, mas cabe-nos fazer as nossas próprias escolhas.

"Josué disse ao povo: «Se não vos agrada servir o Senhor, escolhei hoje a quem quereis servir. Eu e a minha família serviremos o Senhor». O povo respondeu: «Longe de nós abandonar o Senhor para servir outros deuses; porque o Senhor é o nosso Deus..."

       3 – Quando uma criança descobre que não pode ter dois brinquedos, opta pelo melhor. O buscador de pérolas, ou de pedras preciosas, nas parábolas de Jesus sobre o Reino de Deus, quando encontra a mais bela pérola, ou a pedra mais preciosa, deixa/vende tudo o que tem de valioso para ficar com a que é mais preciosa e bela.

       As escolhas podem exigir renúncia. Há escolhas que devem fazer-nos sentir preenchidos, a transbordar de júbilo. Se escolho este marido, esta esposa, se escolho este caminho, não fico a chorar pelo que deixo, ou será que não encontrei o amor maior?! Quando escolho Jesus Cristo, escolho a vida, e abrir-me à graça de Deus.

       Confiemos! Não nos deixemos levar pela multidão. Vivamos! Neste concreto, não importa tanto a maioria, mas saber que o CAMINHO é verdade e vida para nós. E na certeza que os outros continuarão a ser atraídos por Deus, ainda que por meio da Sua luz em nós.

 

       4 – Ele é o Pão vivo. A Sua carne e o Seu sangue são alimento que nos salva. Comungamos o mesmo corpo, constituímos um só Corpo. Daí a certeza que a Eucaristia nos compromete com os outros. Recebemos para dar, para partilhar, para entrar em comunhão.

       Como nos diz Bento XVI, "o pão é para mim e também para o outro. Assim Cristo une todos a Si mesmo e une-nos uns aos outros".

       O caminho da Eucaristia é caminho do amor.

       A este propósito vale a pena mastigar as palavras de São Paulo, exemplificado o amor entre marido e mulher, expressão do AMOR único de Cristo à Igreja e pela humanidade, paradigma do amor que nos há de mobilizar uns para os outros e para Deus:

"Quem ama a sua mulher ama-se a si mesmo. Ninguém, de facto, odiou jamais o seu corpo, antes o alimenta e lhe presta cuidados, como Cristo à Igreja; porque nós somos membros do seu Corpo...".


Textos para a Eucaristia (ano B): Jos 24, 1-2a.15-17.18b; Ef 5, 21-32; Jo 6, 60-69.

16.08.24

A minha carne é verdadeira comida e o meu sangue é verdadeira bebida

mpgpadre

1 – “O que tens de partir para reunir uma família? Pão, evidentemente” (Jodi Picoult).

O pão é símbolo de todo o alimento biológico, antes de mais, mas também espiritual, afetivo, cultural. Mas em si mesmo o pão é alimento, rico em hidratos de carbono, pobre em açúcares e gorduras, fonte de fibras que ajudam ao equilibro intestinal, fonte de vitaminas (tipo B) e minerais (cálcio, magnésio e fósforo…). O pão tem menos sal que os seus substitutos como bolachas, biscoitos, bolos, cereais prontos a comer… e provoca mais rapidamente a sensação de saciedade, tornando-se parte essencial de qualquer dieta.

Ainda que haja muitas variedades de pão, a sua confeção é muito simples. Farinha, água, sal e fermento, na justa medida! Pode facilmente transportar-se e não precisa de grande esforço para se conservar. Algum do simbolismo do pão advém do próprio pão: o trigo ou centeio que é lançado à terra, cresce como planta, produz as espigas que a seu tempo darão os grãos maduros. Debulhados, os grãos serão moídos para se transformarem em farinha, tornando-se o ingrediente principal do pão, amassada (juntando o sal, o fermento, a água) e levedada, levada ao forno e, passado algum tempo, estará suficientemente cozido para ser comido, saboreado e saciar a fome de muito. Um pão é feito de muitos grãos. Um pão pode congregar muitos à volta da mesa e ser partilhado por muitos! Trabalho de muitas mãos. Unidade. Partilha e comunhão. Semente, planta, trigo, farinha, massa, pão, pessoas que comem do mesmo pão, condividindo-o!

O pão é um alimento prático, simples e bastante acessível. É nesta simplicidade que Jesus Se nos dá por inteiro.

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2 – «Eu sou o pão vivo que desceu do Céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão que Eu hei de dar é minha carne, que Eu darei pela vida do mundo».

A discussão adensa-se. Jesus afirma que é o Pão vivo descido do Céu, e logo acrescenta que o Pão que nos dá é a Sua própria carne. Ser o Pão da vida poderia tratar-se de uma comparação, uma imagem. Agora dizer que é a Sua carne? Como é possível que nos dê a Sua carne? Como é possível comer a Sua carne e beber o Seu sangue? Acaso podemos tornar-nos canibalistas?

«A minha carne é verdadeira comida e o meu sangue é verdadeira bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em Mim e Eu nele. Assim como o Pai, que vive, Me enviou e Eu vivo pelo Pai, também aquele que Me come viverá por Mim…».

As palavras de Jesus são tão vivas e específicas que alguns discípulos seguem outro caminho.

 

3 – O Verbo encarnou e habitou entre nós. Em Jesus, Deus faz-Se carne, assume a nossa condição humana, sujeitando-se às coordenadas do tempo e do espaço. Carne, corpo, vida humana. No judaísmo quando se fala de carne ou de corpo fala-se precisamente da pessoa como um todo, corpo, alma e espírito. Quando Jesus Se consome a favor da humanidade entrega a Sua vida por inteiro.

Mas a expressividade vai ainda mais longe. O Corpo sublinha a vida. O sangue (derramado) aponta para a morte. Jesus oferece-nos a Sua vida e a Sua morte para nos salvar, para nos introduzir no mistério da Sua ressurreição.

O evangelista São João não descreve a instituição da Eucaristia no decorrer da Ceia, mas apresenta a multiplicação dos pães nos mesmos contornos. Logo Jesus Se revela como o Pão vivo: Carne, Corpo, Sangue, Vida entregue por nós. A Eucaristia torna presente o mistério pascal de Jesus. Faz com que Jesus seja nosso contemporâneo. Oferece-Se de uma vez para sempre, mas por ação do Espírito Santo, em Igreja, podemos participar hoje (sacramentalmente) no Seu mistério pascal. Também a nós Jesus nos diz: a minha carne é verdadeira comida e o meu sangue é verdadeira bebida. Eu Sou o Pão da vida. É precisamente no Pão e no Vinho, no mistério da Eucaristia, que Jesus nos dá o Seu Corpo e o Seu sangue, como alimento para esta vida e até à vida eterna.

____________________________________________________________________________________________

Textos para a Eucaristia (ano B): Prov 9, 1-6; Sl 33 (34); Ef 5, 15-20; Jo 6, 51-58.

16.08.24

PERGUNTAS DE DEUS, PERGUNTAS A DEUS

mpgpadre

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Dois sacerdotes dominicanos, Timothy Radcliffe e Lukasz Popko juntaram-se para um diálogo bíblico, a partir de perguntas feitas por Deus aos homens e interrogações dos homens a Deus. O ser humano é alguém que se questiona, constantemente, até ao fim da vida. Quem tem respostas prontas e definitivas não caminha, já encerrou a curiosidade e a busca da verdade. Aqueles que questionam, estão em busca, não são nem ignorantes nem ingénuos, mas, precisamente, peregrinos, buscadores da verdade, de um sentido para a vida, em busca de Deus.

O livro é também ele um diálogo, escrito a quatro mãos. Os dois sacerdotes partem da mesma passagem bíblica e exploram novas perguntas, pontos de vista, desafios e, claro, a ideia é que nos sirvam de interpelação para enfrentarmos as adversidades da vida, na procura por vivermos em dinâmica de verdade, justiça, amor, em comunhão com os outros, caminhando conjuntamente, neste compromisso de uma Igreja sinodal como a propõe o Papa Francisco.

Este diálogo é prefaciado pelo Papa Francisco. Diz o Papa: “Quem tem respostas para tudo não questiona nada. Pensa que tem a verdade na algibeira como quem guarda uma caneta no bolso pronta a usar… o Cristianismo sempre se fez próximo de quem questiona, porque, estou convencido, Deus ama perguntas… porque as respostas são fechadas, as perguntas permanecem abertas. Do mesmo modo que Deus – escreveu certo poeta – é uma vírgula, não um ponto final: a vírgula refere-se a algo mais, faz avançar a conversa, deixa aberta a possibilidade de comunicação. O ponto encerra o discurso, põe fim à discussão, interrompe o diálogo… Dar apenas respostas significa permanecer ancorado na sua própria visão das coisas”.

A terminar o prefácio, o santo Padre agrafa uma nota final: “Este livro está cheio de humor. Penso que é um elemento importante e pelo qual devemos estar duplamente gratos aos autores. Em primeiro lugar, porque o humor é uma expressão humana que se aproxima muito da graça. O humor é alegre, é doce, alegra a alma e oferece-nos a esperança. Quem tem humor dificilmente não ama os outros, é propenso a ser generoso e é capaz de se relativizar – escreveu alguém espirituosamente: “Bem-aventurados aqueles que sabem rir de si próprios, porque nunca deixarão de se divertir». E, ao mesmo tempo, o humor, quando experimentado pelo crente, mostra como a fé cristã não é algo de sombrio ou pedante, não é retro, nem degradante. A fé faz brilhar o rosto daqueles que a ela aderem. O Evangelho dá alegria, alegria verdadeira, não a efémera, claro, mas a verdadeira alegria: quem crê, não tem rosto de funeral. É uma pessoa feliz, pode ver-se no seu rosto!”

Com o Papa Francisco, três apelos: “que nós, crentes, permaneçamos irrequietos, sempre capazes de fazermos perguntas e também versados no humor”.

Os autores:

TIMOTHY RADCLIFFE: Antigo Mestre da Ordem Dominicana, vive agora em Oxford, mas passa grande parte do seu ano orientando retiros, palestras e discursos em conferências no Reino Unido e no estrangeiro. Recentemente, padre Timothy Radcliffe, acompanhou os participantes da 16.ª Congregação Geral do Sínodo 2023, com profundas reflexões bíblico-espirituais. Conquistou o Prémio «Michael Ramsey» de 2007, na categoria teológica, pelo seu livro Ser cristão para quê? (2011), publicados por Paulinas, junto aos títulos a seguir: Ir à Igreja porquê? (2010), Imersos na Vida de Deus (2013), Na margem do mistério (2017), Carregou as nossas dores (2017), A arte de viver em Deus (2021).

ŁUKASZ POPKO: estudioso da Bíblia. Nascido na Polónia, é um pregador dominicano que reside em Jerusalém, onde leciona Antigo Testamento e História Antiga na Escola Bíblica e Arqueológica Francesa (Ecole Biblique). É também o diretor editorial do projeto “The Bible in its Traditions”. O seu atual e principal projeto de investigação é a edição crítica do Livro dos Reis da Bíblica Hebraica.

Resumo:

Perguntas de Deus, Perguntas a Deus explora diálogos bíblicos com Deus. Não há conversa genuína sem perguntas verdadeiras. O nosso Deus questiona-nos, desde o primeiro diálogo entre Deus e a Humanidade, na Bíblia, quando Deus pergunta a Adão: «Onde estás?», até ao Senhor Ressuscitado, interpelando Pedro na praia: «Amas-me tu, mais do que estes?» Mas a humanidade também questiona Deus, como no audacioso questionamento de Jesus pela mulher samaritana junto ao poço. Neste processo de questionamento mútuo, a humanidade é atraída cada vez mais profundamente para a vida de Deus, o diálogo eterno da Trindade. A compreensão destas conversas transformadoras é útil, na medida em que a Igreja questiona como ser fiel a Deus nestes tempos incertos.

Autores: Łukasz Popko, Timothy Radcliffe

Título: Perguntas de Deus, Perguntas a Deus

Subtítulo: Em diálogo com as Escrituras

Editora: Paulinas Editora

Ano: 2024

Páginas: 244

10.08.24

O pão que Eu hei de dar é a minha carne...

mpgpadre

       1 – "Só Aquele que vem de junto de Deus viu o Pai. Em verdade, em verdade vos digo: Quem acredita tem a vida eterna. Eu sou o pão da vida. No deserto, os vossos pais comeram o maná e morreram. Mas este pão é o que desce do Céu, para que não morra quem dele comer. Eu sou o pão vivo que desceu do Céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão que Eu hei de dar é a minha carne, que Eu darei pela vida do mundo".

       Jesus apresenta-Se como o verdadeiro Pão, que alimenta, perdoa, purifica, e nos dá uma vida nova. Ele responde às necessidades básicas, propondo a partilha solidária como milagre para que todos tenham acesso aos bens da criação e da criatividade humana. Responde também aos anseios que plasmam o coração humano. Pão e esperança. E razões para viver. Terra e Céu. Compromisso e abertura ao Infinito. Dá o pão e motivos para crer no futuro e para se comprometer no presente com as pessoas que estão ao nosso lado. Ensina muitas coisas. A mente – o coração – é um largo campo de sementeira que pode levar-nos à perdição, à indiferença e cinismo, ou à salvação. Jesus lança a semente. Promove. Desafia. Convoca para um novo tempo, vida nova, reino que se estende desde agora até à eternidade, daqui até ao Céu.

       Se muitas são as razões daqueles que procuram Jesus – uns pelo pão, outros pelos milagres, outros pela descoberta das Suas palavras de vida eterna – a compreensão da Sua mensagem também provoca divisões. E que divisões! Muitos ficam escandalizados com a afirmação – Eu Sou o Pão da Vida, o Céu chegou a vós –, pressupondo-se a Sua identificação divina (EU SOU), e a possibilidade de SER comestível. Quem não se escandalizaria?

       2 – "O pão que Eu hei de dar é a minha carne, que Eu darei pela vida do mundo".

       O pão é mais que o pão. Muito mais. É partilha, é vida, é comunidade. Em cada pão o trabalho de muitas pessoas, e muitos grãos. O pão é símbolo de todo o alimento. Pão é também carne e peixe e legumes e o sustento da família. Jesus refere que é Pão, e o Pão é a Sua carne. O pão tem a cor do trabalho, do suor, do sacrifício, e tem a cor da alegria, do convívio e da festa. Pão é mais que pão, é companhia (cum panis), faz de nós companheiros, comendo do mesmo pão, partilhando a vida.

       E que não falte pão nas nossas mesas. Quando falta o pão falta também a alegria, a serenidade, falham os argumentos para a felicidade a construir. Ainda hoje, seguindo uma tradição milenar, há casas em que se coloca sempre pão na mesa, símbolo da fartura que se quer proporcionar aos convivas, ou aos de casa.

       Na multiplicação do pão – o milagre da partilha solidária – Jesus antecipa (e prepara) o Pão da Vida, a Eucaristia, que ficará como memorial. Na última Ceia, Jesus antecipa a entrega suprema do amor que vai até ao fim, até à CRUZ. É na Cruz que Ele nos entrega para sempre o Seu corpo. Na Última Ceia, porém, Ele ordena que nos reunamos à volta do Seu Corpo e O comamos, comungando da Sua vida, da Sua entrega, do Seu Evangelho de salvação.

       No alto da Cruz, Jesus entrega-Se até à última gota de sangue. A vida não se extinguirá com a morte. É, antes, um momento crucial de oblação a Deus e à humanidade, pela humanidade. Logo, do sepulcro irradiará em luminosa claridade a Ressurreição. Deus Pai sanciona Jesus e o projeto de amor para a humanidade.

       Desde então, os discípulos reúnem-se no primeiro dia da Semana, dia da Páscoa de Jesus, e fazem o que Ele fez na Última Ceia, atualizam as palavras e os gestos, para que, pelo Espírito Santo, Jesus nos seja dado como Pão que nos alimentará até à vida eterna.

 

       3 – “O pão que Eu hei de dar é a minha carne, que Eu darei pela vida do mundo”.

       Não é fácil entender as palavras de Jesus. Não são meramente simbólicas. É a Sua vida que Ele dará pela humanidade inteira. A discussão adensa-se, como veremos nos domingos seguintes, com os judeus a discutir e com os discípulos a distanciarem-se claramente do Mestre. Quando a discussão se inicia parece uma brisa que passa sem deixar marcas. Quase se aceitava que Jesus não aprofundasse muito a questão, diplomatizando com os circunstantes, mas não o faz, não foge às questões como não fugirá da perseguição e da morte, por mais que doa.

       Quando se dá a multiplicação dos pães, Jesus aponta para um pão mais duradouro, alimento que sacia a VIDA nova que Ele nos dará em abundância. Aliás, toda a Sagrada Escritura nos prepara para a plenitude do Tempo, a vinda do Messias, o Pão vivo, o Bom Pastor, Deus entre nós.

       Elias, o profeta do fogo, é alimentado por Deus para a longa jornada que tem pela frente, experimentando um pão que dura o tempo necessário para a travessia, até ao monte Horeb, monte da revelação, monte das origens, onde Ele recobrará ânimo, onde Deus Se manifesta.

"Elias entrou no deserto e andou o dia inteiro. Depois sentou-se debaixo de um junípero e, desejando a morte, exclamou: «Já basta, Senhor. Tirai-me a vida, porque não sou melhor que meus pais». Deitou-se por terra e adormeceu à sombra do junípero. Nisto, um Anjo tocou-lhe e disse: «Levanta-te e come». Ele olhou e viu à sua cabeceira um pão cozido sobre pedras quentes e uma bilha de água. Comeu e bebeu e tornou a deitar-se. O Anjo do Senhor veio segunda vez, tocou-lhe e disse: «Levanta-te e come, porque ainda tens um longo caminho a percorrer». Elias levantou-se, comeu e bebeu. Depois, fortalecido com aquele alimento, caminhou durante quarenta dias e quarenta noites até ao monte de Deus, Horeb".

       Não apenas o pão, mas a presença de Deus que o conforta com o alimento e com as palavras do Anjo. Deus cuida dos Seus filhos, cuida de Elias, cuida de nós. "O Anjo do Senhor protege os que O temem e defende-os dos perigos. Saboreai e vede como o Senhor é bom: feliz o homem que n’Ele se refugia" (Salmo).

 

       4 – Se todos fomos remidos pela vida, pelo CORPO de Cristo, pela Sua morte redentora, para com Ele ressuscitarmos, então agora comemos do mesmo Corpo, do mesmo Pão que vem do Céu. O corpo de Cristo, descido da Cruz, é-nos entregue, é-nos confiado através de Maria, Sua Mãe, para que O preservemos intacto.

       Ao olharmos para o CORPO místico de Cristo que é a Igreja, certamente que encontramos um corpo dilacerado pela discórdia, pela divisão, pelos conflitos que a história e as culturas acentuaram. No entanto, seguindo os desejos do próprio Jesus Cristo, na oração Sacerdotal (Jo 17) – que todos sejam UM – não devemos cessar de procurar viver unidos, num só coração e numa só alma, em Cristo e com todos os cristãos, para testemunhar a vida nova que d’Ele recebemos.

       O Apóstolo São Paulo, de diversas maneiras, nos dá indicações claras para sintonizarmos (em HD – alta definição) Jesus Cristo e os seus ensinamentos:

"Seja eliminado do meio de vós tudo o que é azedume, irritação, cólera, insulto, maledicência e toda a espécie de maldade. Sede bondosos e compassivos uns para com os outros e perdoai-vos mutuamente, como Deus também vos perdoou em Cristo. Sede imitadores de Deus, como filhos muito amados. Caminhai na caridade, a exemplo de Cristo, que nos amou e Se entregou por nós, oferecendo-Se como vítima agradável a Deus".


Textos para a Eucaristia (ano B): 1 Reis 19, 4-8; Salmo 33 (34); Ef 4, 30 – 5, 2; Jo 6, 41-51.

02.08.24

Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não terá mais fome.

mpgpadre

1 – Depois da multiplicação dos pães e dos peixes, a multidão quer aclamar Jesus como Rei, que se retira sozinho para o monte. A multidão procura-O e encontra-O na outra margem do lago. Diz-lhes Jesus: «Em verdade, em verdade vos digo: vós procurais-Me, não porque vistes milagres, mas porque comestes dos pães e ficastes saciados. Trabalhai, não tanto pela comida que se perde, mas pelo alimento que dura até à vida eterna e que o Filho do homem vos dará».

Atendamos às palavras do Papa Francisco: «Jesus não elimina a preocupação nem a busca do alimento diário, não, não elimina a preocupação de tudo o que pode tornar a vida mais progredida. Mas Jesus recorda-nos que o verdadeiro significado da nossa existência terrena consiste no fim, na eternidade, consiste no encontro com Ele, que é dom e doador, e recorda-nos também que a história humana com os seus sofrimentos e as suas alegrias deve ser considerada num horizonte de eternidade, ou seja, no horizonte do encontro definitivo com Ele. E este encontro ilumina todos os dias da nossa vida».

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2 – Somos muito mais do que aquilo que comemos, que vestimos, muito mais do que as coisas que temos, por mais valiosas que sejam. Na verdade, todos nós conhecemos pessoas que tendo tudo são verdadeiramente miseráveis. Interrogamo-nos: como é possível que esta pessoa tenha tudo e ande sempre com uma cara de sexta-feira santa? E quando vemos, em situações extremas, uma pessoa do mundo da música ou do cinema, da moda ou das revistas cor-de-rosa porem termo à própria vida ou envolvidas em rixas, em droga, em prostituição?! Claro que não é o muito que têm que as faz assim, mas a perda de sentido e, talvez, nalguns casos, também o facto de não sentirem a alegria do esforço, da dedicação, do trabalho e como compensa ver os respetivos resultados. Por outro lado, a dificuldade em perceber se as amizades são autênticas ou interesseiras.

Mas não enveredamos pela cultura da miséria! Como se aqueles que vivem na pobreza material tivessem todas as condições para serem felizes! De modo nenhum, a não ser que seja por opção. Nem só de pão vive o homem, mas também vive de pão. A multiplicação dos pães é um desafio a sermos dádiva para os outros, com o que temos e com o que somos. Jesus não faz um discurso bonito e depois despede a multidão para que esta se governe, conforme desejo dos discípulos. Não. Alimenta aquela gente, juntando o que há disponível, 5 pães e 2 peixes, contando com o contributo do rapazinho e dos apóstolos, invocando a poder de Deus, e mandando distribuir para que todos fiquem saciados.

Pessoas e famílias com parcos recursos económicos também passam por momentos de dúvida, de luta, por vezes, de discussão, caindo na depressão pelas dificuldades extremas e pelo medo do futuro ou por quererem dar um futuro melhor aos filhos e não estarem a conseguir. Em muitos casos, todavia, a luta fortalece a vontade de viver! A vida de mão-beijada não costuma dar bons resultados. Conseguimos ouvir os pais a dizerem aos filhos: quando ganhares para ti, vais saber o que custa a vida e vais dar valor ao que tens!

 

3 – Os discípulos como a multidão veem o pão que se multiplica na partilha e que não se esgota, mas não veem Aquele que é o verdadeiro Pão da Vida, veem os dons da vida mas não o Dom que é Jesus Cristo.

Simples, além do pão que partilhamos, devemos tornar-nos pão e vida uns com os outros. Jesus multiplicou o pão e a partilha, mas a grande novidade e a verdadeira revolução é que Ele próprio Se torna pão, levedado pelo amor, pelo serviço, pela docilidade, pela compaixão, dando-Se por inteiro.

____________________________________________________________________________________________

Textos para a Eucaristia (ano B): Ex 16, 2-4. 12-15; Sl 77 (78); Ef 4, 17. 20-24; Jo 6, 24-35.

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Velho - Mafalda Veiga

Festa de Santa Eufémia

Pinheiros, 16/17 de setembro de 2012

Primeira Comunhão 2013

Tabuaço, 2 de junho

Profissão de Fé 2013

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