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...espaço de discussão, de formação, de cultura, de curiosidades, de interacção. Poderemos estar mais próximos. Deus seja a nossa Esperança e a nossa Alegria...

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29.06.24

Deveis também sobressair nesta obra de generosidade

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       1 – Deus não é um Deus de mortos, mas de vivos, como claramente o afirma Jesus (cf. Mc 12, 18-27), é Deus de Abraão, de Isaac e Jacob, de Moisés e Elias, de Isaías e Jeremias, é o Deus de nossos pais (cf. Atos 3,13), de João Batista e de Jesus Cristo. É a vida em abundância que Deus quer para aqueles que criou por amor e cuja vinda ao mundo do Seu Filho Jesus Cristo o explicita: Eu vim para que tenham a vida e a vida em abundância (Jo 10,10). É o bom Pastor que dá a vida pelas ovelhas, que carrega com as mais débeis aos ombros e que as conduz às melhores pastagens.

       A primeira leitura, do livro da Sabedoria, mostra esta certeza inabalável:

"Não foi Deus quem fez a morte, nem Ele Se alegra com a perdição dos vivos. Pela criação deu o ser a todas as coisas, e o que nasce no mundo destina-se ao bem. Em nada existe o veneno que mata, nem o poder da morte reina sobre a terra, porque a justiça é imortal. Deus criou o homem para ser incorruptível e fê-lo à imagem da sua própria natureza. Foi pela inveja do Diabo que a morte entrou no mundo, e experimentam-na aqueles que lhe pertencem".

       Como é que continua a perpassar a ideia que Deus é terrífico, sequioso de vingança, de sacrifício dos homens e das mulheres, que é um vigilante justiceiro, sempre pronto para destruir, para castigar, para exigir?!

       O texto inspirado da Sabedoria não poderia ser mais clarificador. Deus não se alegra com o sofrimento das pessoas. Quantas vezes o dizemos: Ele sofreu, logo temos de sofrer com paciência?! É urgente modificar o paradigma: Ele amou, até ao fim, gastando-Se por inteiro. "Amo, logo existo" (Pe. João André, Da minha janela). De que forma, hoje, aqui e agora (hic et nunc), posso amar melhor? Tudo o que Deus criou e nos confiou destina-se à vida e ao bem. Somos imagem e semelhança de Deus, pertencemos-Lhe. A nossa natureza liga-nos à eternidade, à vida em Deus.

       2 – Compreende-se, portanto, que a missão de Jesus seja salvar, envolver, curar, reabilitar, incluir e inserir na comunidade dos filhos de Deus, promover o bem, a verdade, a justiça, a conciliação entre todos, a solidariedade, a partilha efetiva e concreta de bens materiais e espirituais. A defesa dos mais desfavorecidos não procura desfavorecer os demais mas criar iguais oportunidades para que todos possam viver em abundância, sentindo-se filhos e herdeiros de Deus, irmãos, família, incluídos, parte importante da sociedade atual, responsáveis pelo mundo a que pertencem. Por conseguinte, muitas vezes se refere, no ponto concreto da relação entre pessoas e povos, que só é possível diálogo e concertação entre iguais, e não entre uma pessoa/povo credor e uma pessoa/povo sujeito de ajuda. Aí haverá domínio e imposição!

       Enquadram-se nesta dinâmica as curas narradas no Evangelho de São Marcos:

“Jesus olhou em volta, para ver quem O tinha tocado. A mulher, assustada e a tremer, por saber o que lhe tinha acontecido, veio prostrar-se diante de Jesus e disse-Lhe a verdade. Jesus respondeu-lhe: «Minha filha, a tua fé te salvou». Ainda Ele falava, quando vieram dizer da casa do chefe da sinagoga: «A tua filha morreu. Porque estás ainda a importunar o Mestre?». Mas Jesus, ouvindo estas palavras, disse ao chefe da sinagoga: «Não temas; basta que tenhas fé»…

Ao entrar, perguntou-lhes: «Porquê todo este alarido e tantas lamentações? A menina não morreu; está a dormir». Riram-se d’Ele. Jesus, depois de os ter mandado sair a todos, levando consigo apenas o pai da menina e os que vinham com Ele, entrou no local onde jazia a menina, pegou-lhe na mão e disse: «Talita Kum», que significa: «Menina, Eu te ordeno: Levanta-te». Ela ergueu-se imediatamente e começou a andar, pois já tinha doze anos”. 

       No primeiro caso, uma mulher há muito afastada do convívio saudável, cujas maleitas físicas não lhe permitiam viver em sociedade, e integrar-se na vivência religiosa. A sua doença é também espiritual e "social". Vê-se obrigada a sobreviver. Jesus cura-a e integra-a. Doravante estará como igual na família e nas relações sociais e religiosas.

       No segundo caso, a certeza que Jesus vem salvar, redimir, devolver-nos a uma vida nova, pré-anunciada na ressurreição desta menina, ao mesmo tempo que dá tempo e vida a esta família. Ele está definitivamente do nosso lado. Caminha connosco. Também está connosco quando sofremos.

 

       3 – A vocação do cristão é seguir Jesus Cristo, imitá-l'O, acolhendo a vontade de Deus, fazendo com que seja o verdadeiro alimento, prosseguindo para se tornar perfeito e misericordioso como Deus, incluindo, sendo bênção para os outros, em palavras e em gestos, pela boca e pela vida, fazendo o que está ao seu alcance para acudir a todos, dando o melhor de si, comprometendo-se desde logo com as pessoas que Deus colocou à sua beira. Somos cristãos também em casa, ou sobretudo em casa, com a família. Como nos lembrava o Pregador da festa de São João, Pe. Giroto, por vezes somos pouco tolerantes e compreensivos para com aqueles estão mais perto, a família. Mas aí começa o testemunho e a veracidade da nossa fé e o seguimento de Jesus Cristo, prosseguindo para a vizinhança.

       Reflitamos, atenta e demoradamente, nas palavras do apóstolo São Paulo:

"Já que sobressaís em tudo – na fé, na eloquência, na ciência, em toda a espécie de atenções e na caridade que vos ensinámos – deveis também sobressair nesta obra de generosidade. Conheceis a generosidade de Nosso Senhor Jesus Cristo: Ele, que era rico, fez-Se pobre por vossa causa, para vos enriquecer pela sua pobreza. Não se trata de vos sobrecarregar para aliviar os outros, mas sim de procurar a igualdade. Nas circunstâncias presentes, aliviai com a vossa abundância a sua indigência para que um dia eles aliviem a vossa indigência com a sua abundância. E assim haverá igualdade, como está escrito: «A quem tinha colhido muito não sobrou e a quem tinha colhido pouco não faltou»".

       Mastiguemos bem, ruminemos estas palavras, abrindo-nos para o compromisso sério com os outros. É aqui que podemos e devemos intrometer-nos na vida dos outros. Somos guardas dos nossos irmãos. Somos corresponsáveis pela sua felicidade. A intromissão na vida alheia, para o cristão, vale apenas e quando há um claro empenho por ajudar, sem expor, por promover uma vida condigna e humana. Não podemos ser Abel nem Pilatos, não lavamos as mãos, não nos descartamos dos outros. É com os outros que vamos até ao Céu de Deus.


Textos para a Eucaristia: Sab 1, 13-15; 2, 23-24; 2 Cor 8, 7.9.13-15; Mc 5, 21-43.

22.06.24

Daniele Mencarelli - A CASA DOS OLHARES

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Arrebatador do primeiro ao último instante, das primeiras linhas até às últimas palavras, este é um romance que toca de perto a realidade, com traços autobiográficos do autor, conforme a informação da editora. O narrador é a personagem principal, o próprio Daniele.

O Hospital Pediátrico Bambino Jesus, em Roma, sob a jurisdição do Vaticano - Há cem anos, o Hospital Pediátrico Bambino Gesù se tornou o "Hospital do Papa", um ponto de referência para o atendimento de todas as crianças doentes em Roma e em todo o mundo. Uma "história de amor", como destaca o vídeo oficial que comemora o evento, iniciada com a doação feita em 20 de fevereiro de 1924 à Santa Sé, por meio do então cardeal vigário Basilio Pompili e com o consentimento de Pio XI, pelos duques Salviati, que fundaram o hospital em 1869. Doze leitos em uma casa de propriedade dos duques Arabella e Scipione Salvati, na Via delle Zoccolette, no centro de Roma, fizeram dele o primeiro hospital pediátrico italiano (https://www.vaticannews.va/pt/vaticano/news/2024-02/cem-anos-da-transferencia-do-hospital-bambino-gesu-a-santa-se.html) – é o local do novo trabalho de Daniele, jovem poeta, enredado numa vida autodestrutiva, primeiro a droga e a toxicodependência, depois o álcool. É um farrapo que traz desgosto e sobressalto aos pais, ao irmão e à irmã, aos cunhados, a qualquer altura pode aparecer morto, e já foram tantos os acidentes. Pode matar-se a conduzir ou matar outros. Uma vida degradante. De hospital em hospital, de cura em cura, de promessas e recaídas. Poderá este novo trabalho resgatá-lo a uma vício tão destrutivo?

As situações que encontra são avassaladoras. Integra uma equipa de limpeza, a cooperativa. No primeiro dia, o primeiro embate, sente-se atraído por uma luz forte, uma criança, será uma festa, a Primeira Comunhão? Afinal, a menina está num caixão, pais e familiares rodeiam. É uma imagem forte, marcante, que lhe provoca sentimentos contraditórios. O refúgio é o vinho, habitualmente branco. Chega a fazer um trato com os pais, não bebe durante a semana, bebe apenas ao fim de semana. Toc-toc, o barulho na janela que o atrai. Afinal, saberá após a sua morte, era o Alfredo, duplo transplante de rim, de que nunca mais recuperou, indo parar aos cuidados intensivos de forma recorrente. Desta vez não resistiu. Como Toc-toc, Daniele já tinha estabelecido um ritual, quando o via à janela e a tristeza que lhe provocava quando se afastava. Mais uma bebedeira! Até ao limite. Como é que a família há de confiar nas suas promessas. Volta sempre ao mesmo. Mais uma hospitalização. O médico quer interná-lo, para desintoxicação alcoólica; em reunião familiar, o veredito é o mesmo, internamento. Mas a sua opção é não largar o trabalho de limpeza no hospital, pois aí reside a convicção de que se salvará.

Na passagem para um dos pavilhões, encontra uma irmã-freia a olhar para uma criança com o rosto deformado, horripilante, mas pode testemunhar os gracejos da irmã, a falar e rir com a criança, com os pais, a brincar, sem nenhuma afetação, sem desviar o olhar ou fazer trejeitos, simplesmente olha para o menino e não para as suas deformações. É este o olhar que o salva e são estes olhares que quer preservar. A sua veia poética vem ao de cima. E mais não se pode dizer, pois será uma descoberta para quem gosta de histórias envolventes, verosímeis, que tocam de perto com uma realidade crua, mas igualmente com esperança e fé.

O Autor:

Nasceu em Roma, em 1974. Casado e pai de dois filhos, vive em Ariccia (Castelli Romani), nos arredores da capital italiana.
Muito jovem ainda, revelou-se como uma estrela nascente da cena literária, em primeiro lugar como poeta, mas também como escritor, na narrativa e no romance, áreas em que se distinguiu e conquistou prestigiosos prémios.
A sua vasta produção literária revela-nos uma nova forma de contar histórias, a partir da realidade até aos domínios da busca espiritual. Especialmente na ficção, como La casa degli sguardi (A casa dos olhares)Tutto chiede salvezza (Tudo pede salvação), ou o recente Sempre tornare (Voltar sempre), publicados por Mondadori e vencedores de importantes prémios, o autor percorre – em subliminar registo autobiográfico e com rara densidade –, o seu próprio e doloroso renascimento. Mas, como ele próprio diz: «Não é escritor quem tem uma história, mas sim aquele que sabe escrevê-la.» E Mencarelli bem o sabe!

A casa dos olhares está a ser adaptada ao cinema. Daniele Mencarelli é autor da série “tudo pede salvação” – Todos queremos ser salvos, produção da Netflix.

Autor: Daniele Mencarelli

Título: A Casa dos Olhares

Editora: Paulinas Editora

Ano: 2023

Páginas: 256

Livro disponível na Gráfica de Lamego e online na página PAULINAS EDITORA.

21.06.24

Pe. Joaquim Correia Duarte - CONFERÊNCIAS OCASIONAIS

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CORREIA DUARTE, Padre Joaquim (2024). Conferências Ocasioanais.

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É o mais recente título de uma obra significativa do padre Joaquim Correia Duarte, cujo o ambiente é a história, mas com facilidade no romance, no conto, na crónica ou na exposição oral de uma escrita agradável, fundamentada, percetível e escorreita.

Desta feita, a publicação apresenta algumas conferências proferidas em contextos diferentes e com temáticas variadas.

Logo na Introdução, o Pe. Joaquim diz-nos ao que vem:

“Depois de, no ano anterior, ter publicado as conferências por mim apresentadas na Academia Portuguesa da História, e depois de ter verificado o grande interesse que essa publicação mereceu da parte dos meus amigos, dos meus conterrâneos e de diversos confrades da mesma academia, achei que devia pôr ao dispor de todos os interessados o texto de outras conferências que proferi nos últimos anos, em momentos circunstanciais, a convite dos organizadores de eventos e celebrações”.

Logo de seguida, o autor enumera as referidas conferências que podem ser lidas e saboreadas no miolo do livro, nove relacionadas com o seu concelho, Resende, duas com a diocese de Lamego e uma com o concelho de Penedono.

Na lista dessas celebrações, enumero oito relacionadas com o meu concelho de Resende, duas com a diocese de Lamego e uma com o concelho de Penedono.

As que se relacionam com o concelho de onde é originário:

1) Resende na vida e na obra de Eça de Queirós;

2) A presença dos romanos em Resende;

3) A Escola Preparatória nos seus 25 anos de História;

4) O Seminário de Resende, nos 75 anos da sua existência;

5) A Misericórdia de Resende, nos 75 anos da sua existência;

6) A vida e a obra de Edgar Cardoso;

7) Aregos na Memória dos postais e dos Humanos;

8) Resende na Primeira República;

9) A Cultura da Música em terras de Resende.

No que se relaciona com a Diocese de Lamego:

  1. Luzes e Sombras na Igreja de Lamego
  2. Lamego, uma Igreja com História, uma diocese com memória

A que se relaciona com Penedono: “As inquirições Régias no Concelho de Penedono”.

As conferências estão localizadas, no tempo, no contexto e local onde foram proferidas, bem como muitas referências às pessoas presentes.

Para nós que conhecemos o Padre Joaquim, mas também para os que são originários ou vivem neste território da diocese de Lamego, como o próprio refere, há muitas informações de interesse, sobre o passado, sobre o presente, história, cultura e tradições. A escrita é viva. Nota-se que o orador coloca mestria na conjugação das palavras, com uma eloquência que passa da oralidade para a escrita ou cuja escrita faz ver a oralidade direta, que aproxima e envolve, que nos prende à história e às estórias, com recursos estilísticos variadas, mas sem nos distrair do essencial, da trama que nos apresenta.

Uma das referências e informações que sublinhei no texto: “… Ainda dentro deste tema, é de realçar a existência de uma ‘Tuna’ em Vinhós, fundada em 1921 pelo senhor Alípio Pereira Dias que, chegado rico do Brasil e casado em Tabuaço, criara em Vinhós a loja de comércio mais importante do concelho e da região” (pág. 345). De Resende para Tabuaço, na conferência “A Cultura da Música em Terras de Resende”, por ocasião do lançamento do CD de música do Grupo Coral de Resende e na inauguração das suas novas instalações. Mas como esta ponte, muitas outras se podem encontrar nas diferentes conferências, sentindo-nos parte integrante e interessada…

15.06.24

O reino de Deus é como um homem que lançou a semente à terra. Dorme e levanta-se e a semente germina e cresce...

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1 – Bento XVI, no início do seu ministério petrino (24/04/2005), falava nos desertos exteriores que se multiplicavam (guerra, violência, fome…) e nos desertos interiores que se acentuavam, com a perda de sentido, havendo cada vez mais pessoas a não saber qual o seu lugar no mundo. Por outro lado, Deus já nem é questionado ou é secundarizado! Um risco que corremos também na Igreja: viver como se Deus não existisse, ou como se não fosse importante, ou só importasse no fim da vida ou nos apertos da vida!

Os santos experimentaram o que se apelida de noite de fé. Santa Teresa de Calcutá é a mais recente de um número de santos que se questionaram e questionaram Deus no confronto com uma realidade avassaladora de miséria, de exclusão, de sofrimento "inocente"! Santa Teresinha do Menino Jesus deparou-se com a doença "mortal", protestando com Deus, tal como Job: que mal tinha feito para que Deus permitisse tão grande sofrimento?! As respostas nem sempre são clarividentes e muitas vezes levam a novas perguntas. Para Santa Teresinha, a esperança pode falhar, a fé em Deus também, mas o caminho seguro para Deus será o amor. Assim Santa Teresa de Calcutá prossegue com a sua "noite da fé", sujeita a muitas interrogações, mas não vacilando na hora de amar Jesus em cada pessoa a cuidar.

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2 – Jesus desafia à confiança em Deus: «O reino de Deus é como um homem que lançou a semente à terra. Dorme e levanta-se, noite e dia, enquanto a semente germina e cresce, sem ele saber como. A terra produz por si, primeiro a planta, depois a espiga, por fim o trigo maduro na espiga. E quando o trigo o permite, logo se mete a foice, porque já chegou o tempo da colheita».

Numa leitura apressada dá a ideia que o trabalho humano (e braçal) é dispensável. O homem lança a semente à terra!

Antes disso é preciso cavar, ajeitar a terra e eliminar as ervas ruins, cavando mais fundo. No caso do trigo e do centeio é semear e deixar crescer… até chegar o tempo de cortar! Pelo meio, outros cuidados! Logo nos primeiros dias é necessário estar atento afastando as aves para que não comam as sementes visíveis ou esgravatem na terra à procura das que estão mais fundas! Por isso se colocam espantalhos! É preciso vigiar ratazanas e cava-terras que luram a terra e danificam a sementeira. Se antes há cuidados, depois é preciso "malhar" ou debulhar, separando o trigo da palha, aproveitando um e outro. O trigo será moído, obtém-se a farinha, e coze-se o pão! A palha ser, por exemplo, para alimento dos animais…

 

3 – Na segunda parábola, Jesus clarifica e acentua a confiança em Deus. O Reino de Deus «é como um grão de mostarda, que, ao ser semeado na terra, é a menor de todas as sementes que há sobre a terra; mas, depois de semeado, começa a crescer e torna-se a maior de todas as plantas da horta, estendendo de tal forma os seus ramos que as aves do céu podem abrigar-se à sua sombra».

A oração inicial provoca-nos à mesma confiança: «Deus misericordioso, fortaleza dos que esperam em Vós, atendei propício as nossas súplicas; e, como sem Vós nada pode a fraqueza humana, concedei-nos sempre o auxílio da vossa graça, para que as nossas vontades e ações Vos sejam agradáveis no cumprimento fiel dos vossos mandamentos».

A benevolência de Deus chama-nos à vida e sustenta-nos neste mundo que Ele nos dá como chão e como casa, atendendo às nossas súplicas mas implicando-nos na transformação de todas as realidades que estejam longe ou desfasados do reino de Deus que não é apenas uma realidade futura, mas está aí, está aqui, na história e no tempo. Jesus veio, em Pessoa, viver connosco. Não veio viver por nós, mas viver como um de nós. Assumindo-nos, para que com Ele possamos aprender, crescer, e O assumamos na nossa vida, criando as condições para que a semente em nós semeada possa germinar.

_____________________________________________________________________________________

Textos para a Eucaristia (ano B): Ez 17, 22-24; Sl 91 (92); 2 Cor 5, 6-10; Mc 4, 26-34.

08.06.24

Quem fizer a vontade de Deus esse é meu irmão, minha irmã e minha Mãe

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1 – É possível que ouçamos o rumor dos passos do Senhor a caminhar no nosso jardim! Por vezes os Seus passos assustam-nos porque estamos nus, temos medo do Seu olhar, e talvez pensemos que a Sua misericórdia tenha limites. Mas o problema não é estarmos despidos diante do Senhor, sem as nossas máscaras, o problema é a falta de confiança no Seu amor, a falta de cumplicidade com um Pai que nos ama com o coração de Mãe. É possível que não possamos voltar atrás, é possível que nos tenhamos desabituado do olhar de Deus e O sintamos como um intruso, um intrometido, que queremos afastar, manter longe da nossa vista. Talvez tenhamos deixado de ter aquela cumplicidade que nos fazia correr para os Seus braços, a intimidade com um olhar translúcido de amor, de carinho e de ternura! Há de chegar o tempo em que sentiremos saudades daquele olhar, daquele abraço, sem precisarmos de nos vestir, de nos disfarçarmos, de arranjarmos barreiras!

Houve um tempo em que as nossas Mães nos trouxeram ao colo, nos amamentaram, nos deram banho, nos mudaram as fraldas! Agora talvez tenhamos pudor e recato em falar desse tempo que não nos lembramos mas que sabemos que existiu! Com os anos fomos fazendo a experiência de uma privacidade que anulou aquela intimidade, pele com pele, fomos fechando o quarto, fomo-nos vestindo, deixamos de aparecer nus diante dos nossos pais. E já crescidos acharíamos estranho despir-nos diante deles, pois tal intimidade já não se expressa da mesma maneira.

«Onde estás?». Pergunta Deus a Adão. Onde estás, pergunta-nos Deus! A resposta de Adão mostra o medo e a vergonha: «Ouvi o rumor dos vossos passos no jardim e, como estava nu, tive medo e escondi-me». Como é que nós respondemos a Deus? Temos medo? Vergonha? Exigir-nos-á mais do que estamos dispostos a dar?

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2 – Jesus torna audíveis e visíveis os passos de Deus. Podemos continuar a esconder-nos. Deus não Se esconde, pelo contrário, procura-nos, vem ao nosso jardim, ao nosso mundo, chama-nos pelo nome, quer-Se perto de nós.

O nosso olhar pode ficar turvo, o nosso coração pode endurecer como pedra, a nossa memória pode adoecer, a nossa vontade pode fraquejar, mas Deus não desiste. Não desistiu de Adão nem de Caim. Não desistiu de Noé nem dos seus filhos. Apostou em Abraão, em Moisés e em Josué. Confiou em David e em Salomão, em Elias e em Amós. Não cessou de insinuar o Seu rosto e a Sua presença, não tanto na tempestade e na confusão, mas na brisa suave, respeitando-nos na nossa liberdade. Sem Se impor, mas não deixando de Se propor!

É então que, na plenitude dos tempos, Deus vem em carne e osso, encarnando, dando-nos o Seu Filho muito Amado! Não dá mais para ignorar, Deus está no meio de nós. O sim de Deus à humanidade encontra o "sim" de Maria e nasce Jesus, Deus connosco.

Jesus vem fazer a vontade do Pai! Seremos Seus discípulos e Seus parentes se O imitarmos: «Quem fizer a vontade de Deus esse é meu irmão, minha irmã e minha Mãe».

 

3 – Agora sei que o rumor no meu jardim eram os Teus passos,

agora percebi que era a Tua voz que me chamava pelo nome,

agora, Senhor, que o meu olhar encontrou o Teu olhar,

ou melhor, que Tu quiseste ver-Me...

agora sei que vieste ao meu encontro, quiseste habitar comigo,

Ilumina-me, Senhor, com o Teu Espírito, com o fogo do Teu amor...

faz com que me sinta perdoado e amado pelo Teu abraço,

Que nos momentos bons, saiba ser grato por tantas bênçãos!

Que nos momentos maus, saiba que não foste embora!

Agora que me encontraste, não me deixes afastar-me de Ti, do Teu olhar, do Teu amor

Agora sei que me assumiste como filho no Teu Filho Jesus...

Agora sei que faço parte da Tua família,

Que saiba fazer com que sejas parte da minha família...

Faz-me atento e disponível para Te escutar, Te amar e Te seguir;

faz-me dócil para acolher a Tua palavra e procurar a Tua vontade,

e como Maria saiba dizer-Te: faça-se em mim segunda a Tua palavra!

_____________________________________________________________________________________

Textos para a Eucaristia (ano B): Gen 3, 9-15; Sl 129 (130); 2 Cor 4, 13 – 5, 1; Mc 3, 20-35.

 

REFLEXÃO DOMINICAL COMPLETA na página da Paróquia de Tabuaço

02.06.24

Será permitido ao sábado fazer bem ou fazer mal, salvar a vida ou tirá-la?

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1 –  O Evangelho traz-nos mais um debate entre Jesus e os fariseus. Os discípulos, enquanto caminham, apanham algumas espigas. Popularmente dizemos que "roubar para comer não é pecado".

Nas nossas terras é conhecido o costume do "rebusco". Quando se arrancavam as batatas e depois de serem apanhadas, as pessoas podiam passar a apanhar as que ficavam perdidas. Assim o trigo, o milho… Depois de varejar os castanheiros ou as nogueiras, ou depois de vindimar, as pessoas podiam entrar nas propriedades e apanharem castanhas, nozes, maças, uvas, o que encontrassem. Alguns proprietários, que não eram unhas de carne, deixavam propositadamente mais frutos na terra e nas árvores para que os pobres pudessem recolher alimentos.

Os fariseus também não colocam isso em causa. Quem não fosse proprietário ou quem andasse em viagem comia frugalmente, pela escassez dos alimentos disponíveis mas também pelas dificuldades em transacionar pela troca direita ou por dinheiro. O que os fariseus questionam é por ser ao sábado, supondo que ao sábado seria preferível passar fome ou até morrer!

Sugestões | O Canto na Liturgia

2 – Os fariseus usam a lei do descanso sabático para questionar Jesus acerca dos seus discípulos. Tudo serve para O questionarem e pôr em causa a Sua postura!

Jesus serve-se da Sagrada Escritura relembrando uma personagem importantíssima para os judeus, o Rei David, e como ele e os companheiros entraram no templo e comeram as oferendas que era oferecidas a Deus para sustento dos sacerdotes! A conclusão de Jesus é lapidar: «O sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado. Por isso, o Filho do homem é também Senhor do sábado». A lei, o sábado hão de estar ao serviço da pessoa, da sua dignidade, da promoção da vida!

Jesus prossegue. Entra na sinagoga onde encontra um homem com uma mão atrofiada. Os fariseus fixam-se em Jesus a ver se ele tem o atrevimento de em dia de sábado o curar. É a vez de Jesus questionar: «Será permitido ao sábado fazer bem ou fazer mal, salvar a vida ou tirá-la?». E logo Jesus trata de fazer o que está ao Seu alcance, curando-o.

Jesus sente indignação e tristeza pela dureza dos seus corações. Os fariseus vão reunir-se com os partidários de Herodes e decidem acabar com a vida de Jesus. De que lado nos posicionamos? Claro, simpaticamente ao lado de Jesus, embora talvez também sejamos fariseus em muitas circunstâncias. Deixemos que Jesus nos cure do nosso egoísmo e da indiferença perante o sofrimento dos outros.

3 – A primeira leitura enquadra e justifica o sábado como dia santo. «Trabalharás durante seis dias e neles farás todas as tuas obras. O sétimo, porém, é o sábado do Senhor, teu Deus. Não farás nele qualquer trabalho, nem tu, nem o teu filho, nem a tua filha, nem o teu escravo, nem a tua escrava, nem o teu boi, nem o teu jumento, nem nenhum dos teus animais, nem o estrangeiro que mora contigo. Assim, o teu escravo e a tua escrava poderão descansar como tu».

É de sublinhar a sabedoria da lei, sob a inspiração divina, numa época tão distante da nossa. O sábado é dia santificado para louvar o Senhor, mas também para o descanso de todos. O sábado não é apenas para alguns, mas para todos, até para os animais. As leis laborais, como a psicologia moderna, consagram a necessidade do descanso para retemperar forças, para equilibrar a saúde física e psicológica, mas por forma a potenciar o convívio entre as pessoas. O descanso valoriza o trabalho e, em contraponto, o trabalho valoriza o descanso.

Sendo o texto elaborado por alguém académica e socialmente com um estatuto elevado, a abrangência da lei é divinal, pois não se fixa apenas nos judeus ou nos homens livres, mas abarca os escravos e os estrangeiros, evocando a condição em que os judeus viveram no Egipto como estrangeiros e como escravos. Se Deus os libertou, se Deus está na origem do sábado, então o sábado é para todos, em ordem à libertação integral!

__________________________________________________________________________________

Textos para a Eucaristia (ano B): Deut 5, 12-15; Sl 80 (81); 2 Cor 4, 6-11; Mc 2, 23 – 3, 6.

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