Quem não é contra nós é por nós!
1 – O meu grupo. O meu partido. A minha religião. A minha Igreja. O meu altar. O meu clube. A minha terra. O meu mundo. Há espaços que são meus, que não podem nem devem ser invadidos por outras pessoas, a não ser em situações muito específicas.
Contudo, o que é meu, o que me pertence, o chão que me identifica, a quem pertenço, usando esta linguagem mais "corporal", não deve obstaculizar ao bem de todos. É como a pele do nosso corpo, delimita-nos, identifica-nos, traça uma fronteira, sou eu e não outro, mas permite-me ver o outro, abraçá-lo, dialogar com ele, estar frente a frente, entrar em comunhão, partilhar.
As pedras com que se constroem muros e divisões, servem para construir estradas, degraus, pontes que nos aproximam e irmanam. O outro ajuda-me a construir a minha identidade, a saber quem sou.
2 – O meu mundo permite-me procurar, descobrir e encontrar outros mundos. Se o meu ego, o meu grupo ou a minha capela se fecham, me aprisionam e me limitam, isolando-me, erguendo muros e paredes, tornar-me-ei doente, esclerosado, raquítico.
Mas se eu não tenho poiso, casa, família, grupo, não tenho pátria, então não tenho como partir, como sair! E não tenho como e onde regressar. Os discípulos partiram porque faziam parte do grupo de Jesus. Partiram porque foram enviados. Jesus chama-os para os enviar. O envio supõe o regresso a casa, ao grupo, a Jesus, para descansar, retemperar forças, avaliar o trabalho feito, agradecer e rezar, projetar o trabalho a fazer. E sintonizar com Jesus e o Seu Evangelho, para não correr o risco de se anunciarem em vez de O anunciar.
João fica incomodado porque vê alguém a fazer coisas extraordinárias. «Mestre, nós vimos um homem a expulsar os demónios em teu nome e procurámos impedir-lho, porque ele não anda connosco». O incómodo e o ciúme porque ele não faz parte do grupo! Já alguma vez depreciámos o trabalho, as iniciativas, o bem que que outros fazem só por não serem da nossa família, do nosso partido, do nosso grupo de amigos? Talvez! Talvez digamos a Jesus que esta ou aquela pessoa só vêm para estorvar e não para acrescentar e que já somos mais que suficientes e até nos atrapalhamos!
A resposta de Jesus é lapidar: «Não o proibais; porque ninguém pode fazer um milagre em meu nome e depois dizer mal de Mim. Quem não é contra nós é por nós». Para fazer o bem ninguém está a mais. Em Igreja, é preferível que muitos façam pouco, que poucos façam muito ou façam tudo. É preferível a imperfeição que promove a participação, o envolvimento e o empenho de todos que a espetacularidade e perfeição que isola, impede e afasta a participação de todos.
3 – O reino de Deus, instaurado, preconizado e plenizado por Jesus é um reino inclusivo. Não tem fronteiras culturais, sociais, religiosas ou sexistas. É abrangente. É universal: dirigido e acessível a todos. Esta inclusão começa pelos últimos, pelos mais frágeis e desfavorecidos. E porquê? A resposta é dada pelo próprio Jesus: são os doentes que precisam de médico, Eu vim chamar os pecadores!
O Espírito sopra onde quer e Deus tem muitas formas de chegar ao coração das pessoas. Isso não nos retira responsabilidade e compromisso missionário. Conscientes da nossa fé e da salvação que nos é dada em Jesus Cristo temos o dever de O anunciar, de O testemunhar, de contagiar com a nossa alegria todos aqueles que encontramos. Descobrimos um tesouro! De nada serve se ficar esquecido no baú! A alegria da descoberta leva-nos à partilha.
Ciúmes e inveja porque alguém pratica o bem e não faz parte da nossa Igreja?! Também através deles Deus manifesta o Seu amor e a Sua ternura. Rejubilemos. Procuremos também nós fazer o melhor, espalhar o bem, irradiar alegria e paz, semear a reconciliação e a justiça. Não tenhamos medo de quem transborda de bondade. Nunca nos fará sombra. Não se trata de competir a ver quem é melhor, quem brilha mais. A nossa competição é cada um, em cada dia, aperfeiçoar o seu amor e aprofundar o serviço aos outros. O brilho e a luz são de Cristo. Não importa que eu brilhe, por mais razoável que isso seja, mas que seja Cristo a iluminar, a brilhar, a fazer-Se notar.
Em Igreja, todos somos essenciais e imprescindíveis. Ninguém é substituível e ninguém substitui outro. Podemos substituir-nos nas tarefas, mas não na presença e na vivência da nossa fé. A competição será no serviço e na alegria de partilharmos o tempo e a vida.
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Textos para a Eucaristia (ano B): Num 11, 25-29; Sl 18 (19); Tg 5, 1-6; Mc 9, 38-43. 45. 47-48.
REFLEXÃO DOMINICAL COMPLETA na página da Paróquia de Tabuaço