Ao desembarcar, Jesus viu uma grande multidão e começou a ensinar-lhes muitas coisas
1 – A delicadeza e a compaixão de Jesus hão de converter-se na docilidade e na ternura em todos nós. O discípulo não é superior ao Mestre e feliz o discípulo que for como o seu Mestre.
Por vezes, pode parecer que o cristianismo se move a partir de um catálogo de leis e de proibições, e, até mesmo, de condenações. Será, com efeito, uma perceção errada de quem não percebeu nada da mensagem e da vida de Jesus Cristo oferecida para que tenhamos vida abundante (cf. Jo 10,10). Claro que em qualquer grupo de pessoas, por mais pequeno que seja, há um mínimo de regras, de orientações. Mas as regras só são necessárias para ajudarem à harmonia, para evitar descarrilamentos, no reconhecimento da nossa fragilidade humana e da possibilidade de, em certos momentos, vermos a vida apenas a partir de nós, dos nossos interesses ou das nossas comoções!
Diz-nos Santo Agostinho sobre o amor: ama e faz o que quiseres! Bom, mas há quem mate por amor! Ou talvez não! Quando muito isso acontece por deficiência, por desconfiança, por negação, por ciúme, por inveja. Uns para se vingarem de um amor não correspondido, outros para defenderem de ameaças (reais ou imaginárias) aqueles que amam. Daí a necessidade de recorrer a Jesus e ao modo como nos ama: ama-nos no serviço, na entrega, na compaixão, gastando-Se inteiramente, até ao fim, a favor de todos.
2 – A vida resolve-se nos pormenores, nas pequenas coisas. Podemos invocar Deus como o Deus das pequenas coisas (livro de Arundhati Roy). Isso não secundariza o mistério maior da nossa fé, a Ressurreição de Cristo. Porém, é preciso valorizar o que nos une e aproxima, o que nos faz sorrir, ou nos faz sentir úteis, acarinhados. Quem descura as pequenas coisas, acabará por nunca descobrir a beleza da vida. Quem espera constantemente por um milagre, um arrebatamento, um momento transcendente de luz, quem aguarda por algo surpreendente, como ganhar a lotaria ou o Euro-milhões, ou espera que a outra pessoa mude em 180 graus, poderá passar ao lado da felicidade, entendida como caminho e não somente como meta.
Vejamos um exemplo: esperar um príncipe/princesa encantado/a, em cima de um cavalo branco, em fuga para o país das maravilhas! Será muito mais honesto descobrir as qualidades naqueles/as que Deus coloca à nossa beira. Nas relações humanas, a ansiedade e o desencanto verificam-se quando se procura alguém perfeito. Claro que devemos melhorar os aspetos que dificultam o entendimento com os outros. Mas em vez de ficarmos à espera, tomemos a iniciativa! Um sorriso, uma carícia, uma palavra simpática, um gesto de generosidade, baixará as nossas defesas, baixará as defesas do outro!
3 – Os Apóstolos foram enviadas a anunciar a Boa Nova, a expulsar os demónios, a curar os doentes. Regressam para junto de Jesus. Contam-Lhe tudo o que aconteceu. É tempo de fazer avaliação.
É surpreendente a resposta de Jesus: «Vinde comigo para um lugar isolado e descansai um pouco». O evangelista recorda-nos que havia sempre muita gente a chegar e a partir que mal tinham tempo para comer e para descansar. Jesus alegra-se com os Seus discípulos, mas atende ao pormenor: alimentação e descanso. Em momentos tão sublimes, em que os Apóstolos falam em milagres, em curas, em expulsão de demónios, Jesus poderia promover uma catequese, uma reflexão, um debate, mas do que Ele se lembra, de uma coisa simples: os discípulos precisam de se alimentar, precisam de descansar e retemperar forças. E vão de barco para um lado isolado.
As pessoas percebem para onde Jesus vai e chegam lá primeiro que Ele. Ao desembarcar, Jesus vê aquela grande multidão. E o que é que faz? O que esperávamos que Ele fizesse? Talvez que pedisse um pouco de paciência e aguardassem. No entanto, Jesus compadeceu-Se de toda aquela gente, que eram como ovelhas sem pastor e prossegue ensinando-lhes muitas coisas. Também aqui a sensibilidade e a compaixão de Jesus são desafio à nossa disponibilidade. Tudo é importante. Em cada momento teremos que avaliar o que é essencial e agir em conformidade. O descanso era importante, mas há ali uma multidão faminta de descansar dos anseios, dúvidas e medos!
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Textos para a Eucaristia (ano B): Jer 23, 1-6; Sl 22 (23); Ef 2, 13-18; Mc 6, 30-34.
REFLEXÃO DOMINICAL COMPLETA na página da Paróquia de Tabuaço