Se eu, ao menos, tocar nas suas vestes, ficarei curada
1 – A vida de Jesus transparece o amor de Deus e a Sua ternura! Toda a vida de Jesus é um hino de louvor ao Pai e identificação com a humanidade, nos seus sonhos e nos seus sofrimentos.
Jesus passa à outra margem. O Filho do Homem está em movimento! Vem ao nosso encontro. Sai de uma para a outra margem, onde se junta uma grande multidão.
O Papa Francisco, em mais de uma ocasião, tem desafiado os pastores a terem o cheiro das ovelhas. Jesus está no meio de nós como quem serve! A Sua fama espalhara-se! As pessoas reconhecem-n'O. Prevalece a certeza da Sua bondade e delicadeza, da Sua atenção aos mais pobres, aos mais frágeis, aos excluídos da sociedade.
No evangelho, dois encontros inesperados, duas pessoas com estatuto social diverso, um homem e uma mulher. Jairo, bem conhecido de todos, pois é um dos chefes da Sinagoga, e procura uma resposta para a sua filha enferma. E uma mulher, desconhecida, que engrossa a multidão e (quase) não se distingue dos demais. Como outras mulheres naquela época, o seu lugar é o anonimato!
2 – A multidão absorve e pode fazer esquecer a pessoa como pessoa. Vejam-se os ajuntamentos, os grupos, as manifestações! Para o bem e para o mal, a multidão sanciona comportamentos, reforça atitudes, desculpa e/ou disfarça o que corre mal.
Jairo destaca-se da multidão, porque chega, não estava na multidão, aproxima-se de Jesus, cai aos seus pés e suplica-Lhe: «A minha filha está a morrer. Vem impor-lhe as mãos, para que se salve e viva». Jesus segue Jairo para se inteirar do que se passa e poder agir em conformidade.
Entretanto vêm avisar Jairo que a filha tinha morrido. O que este pai temia aconteceu! A reação da multidão é espontaneamente fria: «A tua filha morreu. Porque estás ainda a importunar o Mestre?». Contudo, Jesus não se esconde atrás da multidão e diz-lhe que basta ter fé. Pedro, Tiago e João acompanham-n'O a casa de Jairo. Chegados aí encontram grande alvoroço com pessoas a gritar e a chorar. Jesus serena os presentes dizendo-lhes que a menina está apenas a dormir. Jesus usa as palavras da ressurreição: «Talita Kum – Menina, Eu te ordeno: Levanta-te».
E a menina ergueu-se, ressuscitada. Jesus é homem como nós, mas é também verdadeiro Deus. Mais uma vez mostra ao que vem: salvar, redimir, ressuscitar, dar-nos nova vida.
3 – De partida para casa de Jairo, uma mulher aproxima-se de Jesus, por entre os apertos da multidão, toca-Lhe o manto e sente-se curada de um fluxo de sangue que a atormentava há vários anos. Não nos é revelado o nome, mas esta mulher tem rosto e tem uma história de sofrimento que carrega há muito. Gastou os seus bens à procura de cura. Quantas pessoas passam pelo mesmo? Recorrem a tudo e mais alguma coisa, ora com esperança ora cansadas de lutar. Gastam balúrdios e gastam-se e, em muitas situações, inutilmente. A fé pode ser essa força que nos anima, nos fortalece e não nos deixa desistir.
Para lá da doença física, a impureza cultual e o afastamento do contacto humano e social. A lei era explícita: «Quando uma mulher tiver o fluxo de sangue que corre do seu corpo, permanecerá durante sete dias na sua impureza… Quem tocar nalguma coisa que estiver sobre a cama ou sobre o móvel em que ela se sentou, ficará impuro até à tarde… Quando uma mulher tiver um fluxo de sangue durante vários dias, fora do tempo normal de impureza, isto é, se o fluxo se prolongar para além do tempo da sua impureza, ficará impura durante todo o tempo desse fluxo…» (Lv 15, 19-25).
Entenda-se, é uma impureza cultual e não uma impureza moral. No caso presente, é um fluxo de sangue que perdura há muito. É um estigma religioso e social. Jesus poderá ser a última oportunidade: «Se eu, ao menos, tocar nas suas vestes, ficarei curada». Aproxima-se discretamente, não quer ser denunciada. Basta o que tem sofrido. De Jesus emana uma força que salva, que acolhe, que cura, que inclui, que devolve a dignidade. «Minha filha, a tua fé te salvou». A força da cura sai de Jesus, mas advém também da fé desta mulher.
Jesus vê, sente, percebe esta mulher por entre uma multidão aos encontrões, para surpresa dos Seus discípulos: «Vês a multidão que Te aperta e perguntas: ‘Quem Me tocou?’».
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Textos para a Eucaristia (ano B):
Sab 1, 13-15; 2, 23-24; Sl 29 (30): 2 Cor 8, 7. 9.13-15; Mc 5, 21-43.
REFLEXÃO DOMINICAL COMPLETA na página da Paróquia de Tabuaço