Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?
1 – Um doutor da Lei aproxima-se de Jesus. O propósito é experimentá-l'O, testar os Seus conhecimentos, ver se O apanha em contradição e, dessa forma, expô-l'O diante dos discípulos e perante as multidões. Saduceus, fariseus, herodianos, doutores da Lei, autoridades judaicas encontram em Jesus um inimigo comum. Não é que Jesus lhes tenha feito mal, pelo menos diretamente, mas o Seu saber, o Seu dizer e o Seu fazer, o Seu modo de agir, de Se aproximar, de Se dar, o modo de conviver com todos, especialmente com os mais desfavorecidos, provoca ciúme, ódio, inveja. Ele é LUZ que ilumina as trevas e que expõe os corações de todos. Se vivermos nas trevas qualquer lampejo de luz nos magoa a vista. Se nos habituarmos a viver a meia-luz, uma luz mais diurna vai-nos fazer perceber que afinal estávamos mais nas trevas que na luz.
É essa a alegoria da caverna de Platão. Dentro da caverna, pessoas voltadas para o interior, habituam-se a viver na escuridão. A luz do exterior projeta sombras de uma realidade alternativa a evitar. Há que permanecer no interior, mantendo tudo como está.
2 – Jesus é seguido por multidões de pessoas sobretudo simples. Daí a ardilosidade das classes dirigentes, para não criar anticorpos entre o povo, de quem procura a simpatia. Víamos a tramoia da semana passado sobre os impostos para o império romano. Hoje a pergunta parece mais óbvia, menos dada a polémicas. O âmbito é diferente, pois fixa-se na religião e na lei mosaica. «Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?».
No judaísmo, entre grupos mais religiosos judaicos havia várias discussões sobre os mandamentos. Com o passar do tempo, os 10 Mandamentos foram multiplicados até ao número de 613 preceitos, divididos em 248 prescrições (248 corresponderiam aos ossos do corpo humano) e 365 proibições (365 correspondem aos dias que o ano tem). Vê-se desta forma o simbolismo no número de preceitos, mas também o facto que tantas minudências baralharem a vida das pessoas do povo. A resposta de Jesus é expectável, mostrando que conhece as Escrituras: «Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todo o teu espírito». Deus é a primeira referência e todos os mandamentos são decorrentes da ligação de Deus com a humanidade. Amar a Deus de todo o coração e com todas as forças é o primeiro e o maior mandamento.
3 – Jesus acrescenta um segundo mandamento semelhante ao primeiro: «Amarás o teu próximo como a ti mesmo». E conclui: «Nestes dois mandamentos se resumem toda a Lei e os Profetas».
A verticalidade exige a horizontalidade. Voltar-se para Deus sem os outros seria esquecer que Ele é Deus de todos e para todos. Só mesmo fundamentalismos estupidificantes para defender uma religião sem os outros, que seria tão nefasta como uma religião sem Deus, meramente sociológica, sem horizonte de futuro, sem saída, e com o risco de alguém ocupar o lugar de Deus, como infelizmente aconteceu no passado e acontece em muitos movimentos religiosos.
O diálogo poderia continuar, como na versão lucana (Lc 10, 25-37) em que o Doutor da Lei, reconhecendo a justeza e honestidade da resposta, insiste a perguntar a Jesus: quem é o meu próximo? Nessa ocasião, Jesus apresenta a belíssima parábola do Bom Samaritano. Próximos são todos os que precisam de ajuda, mas o importante é se eu me faço próximo de quem precisa, se me aproximo para ver e para ajudar, para levantar a pessoa que se encontra prostrada. Daí o desafio de Jesus, assumido pela nossa diocese de Lamego: Vai, e faz tu também do mesmo modo.
REFLEXÃO DOMINICAL COMPLETA na página da Paróquia de Tabuaço