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Escolhas & Percursos

...espaço de discussão, de formação, de cultura, de curiosidades, de interacção. Poderemos estar mais próximos. Deus seja a nossa Esperança e a nossa Alegria...

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30.09.17

Os publicanos e as mulheres de má vida irão diante de vós

mpgpadre

1 – Não há santos sem passado nem pecadores sem futuro (Papa Francisco). Deus não Se cansa de nos perdoar, nós é que nos cansamos de pedir perdão. O Papa coloca a ênfase na misericórdia de Deus que nos alcança, nos acaricia e nos eleva, perdoando-nos.

A conversão é permanente. Enquanto vivemos estamos a tempo de alterarmos a trajetória que nos afasta de Deus e dos outros.

Nos domingos precedentes víamos como a comunidade procurava acolher, na prática, os ensinamentos de Jesus acerca do perdão, não desistindo dos erráticos, dando-lhes segundas e terceiras oportunidades, procurando integrá-los, e como Pedro percebe que tem de perdoar muitas vezes, não até sete vezes, sempre, mas até setenta vezes sete, diz-lhe Jesus, até ao infinito.

O contexto aproxima-nos da morte de Jesus. Depois de ter entrado triunfalmente na cidade santa, aclamado por aqueles que O acompanham, Jesus "entra" em choque com as autoridades judaicas. No templo expulsa os que compravam e vendiam, gerando uma crescente onda de indignação.

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2 – As parábolas tornam acessível a mensagem de Jesus. Cabe-nos tirar as lições que nos ajudam a viver Jesus, a traduzir Jesus para a nossa vida, a testemunhar Jesus. Que pretende Jesus dizer-nos com esta parábola? Até que ponto é atual para nós?

Mais uma estória luminosa: «Um homem tinha dois filhos. Foi ter com o primeiro e disse-lhe: ‘Filho, vai hoje trabalhar na vinha’. Mas ele respondeu-lhe: ‘Não quero’. Depois, porém, arrependeu-se e foi. O homem dirigiu-se ao segundo filho e falou-lhe do mesmo modo. Ele respondeu: ‘Eu vou, Senhor’. Mas de facto não foi. Qual dos dois fez a vontade ao pai?»

O próprio Jesus dá a resposta em outra parte do Evangelho: «Nem todo o que me diz: 'Senhor, Senhor' entrará no Reino do Céu, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está no Céu» (Mt 7, 21). As palavras valem o que valem. Para Deus valem tudo, pois o próprio Jesus é a Palavra de Deus dada ao mundo. Palavra de Deus encarnada! Também para nós as palavras devem contar.

Na parábola, o filho mais velho responde negativamente ao pai, mas acaba por refletir e por fazer o que o pai lhe tinha pedido. Cumpriu, ainda que tivesse hesitado. Há sempre tempo para arrependimento. Uma perna quebrada e emendada não é quebrada. Não adianta responder por responder, só para agradar, e depois não fazer. Os interlocutores ainda estão a tempo de se converter, de dar uma oportunidade à vontade de Deus e aos Seus desígnios de amor e salvação. É a provocação de Jesus: «Os publicanos e as mulheres de má vida irão diante de vós para o reino de Deus. João Baptista veio até vós, ensinando-vos o caminho da justiça, e não acreditastes nele; mas os publicanos e as mulheres de má vida acreditaram. E vós, que bem o vistes, não vos arrependestes, acreditando nele».

 

3 – A oração inicial da Eucaristia (coleta) ambienta-nos e sintoniza-nos com a liturgia da Palavra, como podemos ver neste domingo: «Senhor, que dais a maior prova do vosso poder quando perdoais e Vos compadeceis, derramai sobre nós a vossa graça, para que, correndo prontamente para os bens prometidos, nos tornemos um dia participantes da felicidade celeste».

Constatamos que o poder de Deus está no perdão e suplicamos a Sua graça, para que possamos caminhar para a felicidade eterna.

Há espaço para o arrependimento e para a conversão, como o filho mais velho da parábola deste domingo, ou como o filho pródigo na parábola lucana do Pai misericordioso. Através do Profeta, Deus faz saber que se o ímpio, «abrir os seus olhos e renunciar às faltas que tiver cometido, há de viver e não morrerá». Em definitivo, Deus não quer a morte do pecador, mas que se converta e viva. A glória de Deus é o Homem vivo (Santo Ireneu).


Textos para a Eucaristia (ano A):  Ez 18, 25-28; Sl 24 (25); Filip 2, 1-11; Mt 21, 28-32.

23.09.17

Ide vós também para a minha vinha...

mpgpadre

1 – O reino de Deus, diz Jesus, pode comparar-se a um proprietário que sai muito cedo para contratar trabalhadores para a sua vinha, ajustando com eles a respetiva remuneração. Hoje os trabalhadores necessários estão previamente contratados. Mas lá vai surgindo espaço para mais alguém, sobretudo se há mais uvas para apanhar ou se é necessário apressar a colheita.

Todos os trabalhos que estão ligados à terra dependem do trabalho humano e da natureza. Se chove em excesso ou em défice vem prejuízo, ou pelo menos não tanto lucro. Uma trovoada com granizo pode estragar o trabalho de um ano. Tanto trabalho e para nada! É uma fatia importante do ganha-pão de muitas pessoas!

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 2 – O Senhor da Vinha, o nosso Deus, toma a iniciativa. Vem à nossa procura, vem ao nosso encontro. Pelas praças e vielas, pelas aldeias e cidades. Em Jesus, sai do Seu conforto, do Seu mundo e mistura-Se connosco, vem para o nosso mundo.

No reino de Deus, a vinha do Senhor, há sempre lugar para mais um, há lugar para todos. Há trabalho para quem quiser trabalhar, para quem quiser comprometer-se, para quem quiser "vindimar", cortar uvas, recolhê-las, carregar baldes, descarregar tinas. Este "Senhor" sai várias vezes ao dia. Não desiste de nos procurar e nos rogar: «Ide vós também para a minha vinha e dar-vos-ei o que for justo». A meio da manhã, ao meio dia, pelas três horas da tarde e ao cair da tarde. Vai encontrando pessoas e convoca-as: «Porque ficais aqui todo o dia sem trabalhar?». Distração dos próprios ou incúria dos rogadores? «Ninguém nos contratou».

Como faz este nosso "Senhor" caber-nos-á fazer o mesmo. Sair, procurar, encontrar pessoas para a vinha do Senhor, lançar-lhes o convite. É preciso não nos cansarmos de ir, de chamar, de insistir. «Ide vós também para a minha vinha». Pode haver alguém que não escute! Pode haver quem prefira ficar encostado a preguiçar ou à espera que outros façam! Cabe-nos a nós, a mim e a ti, anunciar, envolver, desafiar. Esta missão faz parte da nossa condição de batizados.

 

3 – Deus não deixará sem recompensa nem sequer um copo de água dado em Seu nome. A garantia é dada aos jornaleiros: pagar-vos-ei o que é justo. Ao anoitecer, o capataz cumpre o mandato do dono da vinha e paga o salário aos trabalhadores a começar pelos últimos. Atualmente, o pagamento é feito no final da semana ou no final da vindima, isto quando os patrões não optam por pagar apenas quando recebem da venda das uvas! O trabalhador merece o seu salário e a demora pode fazer muita diferença para quem sobrevive com pouco.

A prontidão de Deus em pagar corresponde à insistência com que sai ao nosso encontro para nos contratar. E quanto nos paga? Quanto nos pagam os nossos pais por serem pais? Tudo! Nada menos do que tudo. Sempre. Eles acolhem-nos com alegria nos braços quando nascemos e estão sempre prontos para nos acolher, mesmo que pelo meio tenhamos sido ingratos, distraídos, distantes, mesmo que só tenhamos "trabalhado" quando o dia estava a findar.

Na nossa lógica muito humana, muito justa e generosa, o proceder do dono da vinha é injusto e, talvez quem sabe, maldoso. Os da última hora recebem o mesmo que os da primeira que trabalharam durante todo o dia, que sofreram a dureza do tempo e o calor!

O dono da vinha parece agir indiscriminadamente, favorecendo os preguiçosos, os desleixados, os que não se importam se têm trabalho ou não! Mas um Pai que ama como Mãe é assim. Não é falta de exigência, é excesso de amor. E o amor autêntico não é divisível, compartimentalizado, ou se ama ou não se ama, ainda que a confiança possa progredir. Não amo um pouquito (para não deixar abusar!) e depois já amo mais (para reconquistar!).

Ama com tudo, com todas as forças, com a vida toda.


Textos para a Eucaristia (ano A): Is 55, 6-9; Sal 144 (145); Filip 1, 20c-24. 27a; Mt 20, 1-16a.

16.09.17

Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete

mpgpadre

1 – Aí está a pergunta de Pedro: «Se meu irmão me ofender, quantas vezes deverei perdoar-lhe? Até sete vezes?».

Perdoar até 7 vezes? Impossível. Uma vez, duas vezes! À terceira começa a ser demais, pois há que manter a dignidade! Três vezes ou mais já é perder a face e deixar abusar. 7 vezes? Só se fosse a 7 pessoas diferentes e em diferentes ocasiões! Mas o SETE, na linguagem semita, vale por plenitude, perfeição, ou seja, sempre.

Ora a resposta de Jesus é ainda mais taxativa: «Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete».

Façamos as contas que, em termos matemáticos, são fáceis de fazer: 70X7=490 vezes. Muitos "perdões"! Mas novamente a linguagem semita e o seu significado: 70X7 = SEMPRE! Pedro já apontava para um perdão sem limites, mostrando a Jesus que tinha aprendido bem a lição e que já era capaz de ver além do seu umbigo. Porém, Jesus aponta para o infinito, para que não haja interpretações personalizadas à medida de quem escuta. SEMPRE. É a medida do amor, é a medida de Jesus, a medida de Deus. Sem ajustes nem reservas! Perdoar até àqueles que te matam, como fez Jesus no alto da Cruz!

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2 – A comunicação de Jesus procura "democratizar" o acesso ao reino de Deus, mas também a perceção sobre o mesmo. O reino de Deus é para todos, não para um grupo privilegiado. Esse é também o combate de Jesus com alguns líderes religiosos, que nem entram nem deixam entrar, complicando, sendo os intérpretes exclusivos da Lei e da vontade de Deus. Jesus eleva a fasquia. Os filhos apresentam-se diante de um Pai, não de um Juiz prepotente e surdo! Os juízos do Pai são preenchidos de ternura e misericórdia.

Mestre da Sensibilidade, Jesus fala da vida e de modo a que todos possamos perceber. Não se enrola num emaranhado de argumentos. Ao responder a Pedro, como em tantas outras ocasiões, Jesus conta uma estória. O reino de Deus pode comparar-se a um rei que quer ajustar contas com os seus servos. À sua presença é levado um homem que lhe deve 10 mil talentos. Uma fortuna. Não tendo com que pagar, será vendido com a mulher, os filhos e as suas posses. Perante a iminência da desgraça, este homem suplica ao rei compreensão e tempo para saldar a dívida. O rei despe a capa do poder e enche-se de compaixão! Perdoa-lhe toda a dívida.

Pelo caminho, o homem a quem foi perdoada a dívida encontra um companheiro que lhe deve uma ninharia: cem denários! A alegria e a gratidão deveriam agora ser o seu alimento e o seu vestuário. Mas prevalece a ganância e, tendo em conta o muito que lhe foi perdoado, não é capaz de fazer o mesmo com o seu companheiro, mandando-o prender. Este é também um drama do nosso tempo: muitas vezes a quem deve são-lhe também retiradas as possibilidades de pagar! A parábola termina com os companheiros a irem à presença do seu senhor, contando-lhe o sucedido, revoltados com a desmedida com que aquele servo tinha sido beneficiado e a exigência para com o companheiro sobre uma pequena dívida.

 

3 – Nós também cabemos dentro da parábola. Eu e tu. Enquanto Jesus fala não podemos assobiar para o lado como se não fosse nada connosco. Ele fala para os discípulos, isto é, fala para nós.

A reação do rei é elucidativa: «Servo mau, perdoei-te tudo o que me devias, porque mo pediste. Não devias, também tu, compadecer-te do teu companheiro, como eu tive compaixão de ti?» Então o senhor entregou-o aos verdugos até que a dívida seja saldada.

Depois da parábola vem a conclusão! O próprio Jesus avisa e desafia: «Assim procederá convosco meu Pai celeste, se cada um de vós não perdoar a seu irmão de todo o coração». O perdão de Deus para connosco é absoluto, sem reservas nem condições! Acolhendo-O na nossa vida, o caminho a percorrer terá de ser conforme ao Seu proceder: perdoar sempre.


Textos para a Eucaristia (ano A): Sir 27, 33 – 28, 9; Sl 102 (103); Rom 14, 7-8; Mt 18, 21-35.

09.09.17

Se o teu irmão te ofender, repreende-o a sós...

mpgpadre

1 – Deus nunca desiste de nós. Esta é a história de Deus com os homens. A história da criação e da salvação. Deus não desiste de nós. Criou-nos por amor e por amor nos sustenta na vida. Quer-nos bem, tão bem como um Pai, como um Mãe a um/a filho/a.

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2 – Perdoar? Sempre. 70X7. Em todas as ocasiões. Só o pecado contra o Espírito Santo não tem perdão, ou por outras palavras, o orgulho, a autossuficiência, a sobranceria, o ensimesmamento, o fechar-se conscientemente a qualquer luz, a toda a verdade, a toda a ajuda.

Perdoar uma vez é razoável. Perdoar duas vezes é bondade. Perdoar três vezes é abuso. Jesus vai muito além. Sete vezes é perdoar sempre. Perdoar 70X7? É melhor não fazer as contas! Jesus também não as faz. Por alguma razão dizemos que errar é humano e perdoar é divino. Ainda que humano seja amar e errar seja, muitas vezes, desumano. Perdoar eleva-nos, projeta-nos para outro nível de compromisso, que nos obriga a superar gostos e preferências, a tolerar nos outros o que gostávamos que tolerassem em nós, a compreender as fragilidades alheias e amar além dos defeitos e insuficiências.

As comunidades cristãs dos primeiros tempos procuram ser fieis à mensagem de Jesus: perdoar sempre. Não julgueis. Não condeneis. A quem te bater numa face oferece também a outra. Reza por aqueles que te maldizem. Abençoa os que te perseguem. A quem te pedir a capa dá também a túnica. Não matarás. Não te irrites contra o teu irmão. Se o teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa a tua oferta no altar e vai reconciliar-te com ele. A Eucaristia reconcilia-nos, senta-nos à mesa com Jesus, une-nos aos outros. A Eucaristia vale também enquanto nos converte, nos irmana e nos faz dar passos concretos para vivermos em harmonia, apesar das diferenças.

 

3 – O Evangelho exprime não apenas a Mensagem de Jesus, mas o acolhimento das Suas palavras por parte da comunidade cristã.

A comunidade procura ver, traduzir, atualizar e concretizar tudo o que vem da parte do Senhor Jesus: «Se o teu irmão te ofender, vai ter com ele e repreende-o a sós. Se te escutar, terás ganho o teu irmão. Se não te escutar, toma contigo mais uma ou duas pessoas, para que toda a questão fique resolvida pela palavra de duas ou três testemunhas. Mas se ele não lhes der ouvidos, comunica o caso à Igreja; e se também não der ouvidos à Igreja, considera-o como um pagão ou um publicano».

Aqueles que se apresentam como discípulos de Jesus têm de considerar (sempre) a opção pelo perdão, pelo serviço, pela reconciliação. Uma e outra vez. E outra vez ainda! Descrição. Bom senso. Equilíbrio. Respeito pela pessoa que está à frente. Já me cansei de repetir que quem enche a boca com a própria frontalidade, entendida como dizer sempre tudo o que dá na real gana, independentemente de quem esteja à frente, não passa de uma criança mimada, uma criança a quem tiraram o brinquedo. Mas a criança é criança, é ingénua, está a aprender, a crescer. No adulto essa atitude revela infantilidade. Quem está à nossa frente não é um saco de boxe em quem descarregamos a nossa azia, o nosso azedume com a vida. Ser frontal não é isso. Ser frontal é ser verdadeiro, mas respeitar o outro como pessoa, como rosto e presença de Deus. A azia com que tratamos os outros, não é azia com que tratemos Jesus.

Correção fraterna. Se tens que corrigir, corrige a sós, discretamente. Se não houver avanços, pede ajuda a uma ou duas pessoas. Não desistas nem à primeira nem à segunda. Recorre à Igreja, será mais uma ajuda. A comunidade cristã daqueles dias percebe que terá que dar segundas e terceiras oportunidades e não desistir às primeiras dificuldades e contratempos.


Textos para a Eucaristia (ano A): Jer 20, 7-9; Sl 62 (63); Rom 12, 1-2; Mt 16, 21-27.

09.09.17

VL – A árvore a cair e a floresta a arder

mpgpadre

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Depois de Pedrógão Grande, tragédia que abalou o país, outros incêndios e muitos fogos ateados pela comunicação social, pelos políticos e por muitas pessoas de boa vontade, pelo menos ao nível das intenções.

Sobre alguns assuntos todos opinam, mesmo desconhecendo o contexto, a raiz, as responsabilidades. Já muito se disse sobre incêndios. Uns desculpam-se. Outros atacam, acusam, lançam farpas. Outros remetem para o passado, a estruturação da floresta, a orgânica das autoridades, a fiabilidade das comunicações. Outros delimitam o tempo no presente. Calor intenso, erros na abordagem aos incêndios, desconhecimento do terreno, falta de coordenação, escassez de meios e de pessoas. E, claro, há quem supostamente ganhe muito dinheiro com isto! Pois, dizem, os incêndios mexem com muitos interesses, fazem gerar a economia.

É importante discutir a ordenação florestal, a estruturação dos meios e a hierarquização das responsabilidades. É preciso olhar para hoje e para amanhã. As raízes ajudam a enfrentar o vendaval. Há que avaliar e ponderar as fraquezas e as potencialidades, para que no futuro não se cometam erros semelhantes.

Porém, o que aqui me traz não são essas questões, por mais importantes que sejam. Esta semana, ainda que outros já o tenham feito, gostaria de falar sobre generosidade, voluntariado, serviço e dedicação ao próximo. Também aqui houve situações que não correram da forma mais adequada, perante a grandeza da calamidade, a rapidez, e a resposta de centenas, de milhares de pessoas, prontas para dar alimentos e roupas, prontas para ir ao local ajudar as pessoas, as famílias que foram afetadas.

É, todavia, um primeiro aspeto a sublinhar: prontidão na ajuda perante a espetacularidade das imagens que (ainda) comoveram as pessoas. Um dos perigos a que Francisco tem feito referência amiúde é o facto da repetição de imagens de violência, desgraças e miséria, sangue, crianças na valeta, criarem pessoas indiferentes. Sublinha o Papa: quando a Bolsa de Valores desce um ponto percentual, logo a comunicação social, os economistas e os políticos se agitam. Morrem centenas de crianças à fome e já faz parte da paisagem.

Na maioria dos meios de comunicação deu-se mais importância à flatulência de Salvador Sobral que aos milhares de voluntários dispostos a ajudar e aos milhões de euros recolhidos por diversas instituições. Longos minutos para a crítica, para denúncias... e quase despercebida a imensa multidão de pessoas lançadas para minorar o sofrimento das vítimas dos incêndios… Mas como sói dizer, o bem não faz barulho… uma árvore a cair faz muito mais barulho que uma floresta inteira a crescer…

 

Publicado na Voz de Lamego, n.º 4422, de 25 de julho de 2017

08.09.17

VL - Quero falar contigo sobre os meus sentimentos - 2

mpgpadre

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A comunicação é como jogar à bola. Eu lanço a bola. Tu lanças a bola. Alguém tem de lançar a bola em primeiro lugar. Deus é o primeiro a lançar a bola, toma a iniciativa, vem “jogar” o nosso jogo, faz-Se, em Jesus Cristo, um de nós, em tudo igual a nós exceto no pecado.

Na comunicação contam várias condicionantes, mas o essencial são as pessoas que comunicam. A primeira condição é a aceitação: aceitar e escutar. A predisposição não apenas para falar mas para criar as condições para a outra pessoa falar. Aceitar o que tem para me dizer, sem preconceitos. A aceitação inicia-se ouvindo o que ela tem para me dizer. E então a comunicação acontece. É possível que alguma coisa mude.

Com efeito, a comunicação visa a mudança. Se nada muda, é porque não houve comunicação, pois esta leva sempre a novos comportamentos.

Falar do tempo, do futebol, falar das fases da nossa vida, é parecido com comunicação, mas a verdadeira comunicação fala de sentimentos e procura tocar o coração do outro.

Por outro lado, na comunicação pode haver a tentação de eu procurar mostrar à outra pessoa que sou melhor que ela. "Se ao menos eu fosse melhor do que aquela pessoa! Sem se perceber, muitas vezes usamos a comunicação como uma forma de competição”. Dessa forma nada muda. A mudança começa quando o outro se sente aceite como pessoa. Não se trata de concordar com tudo o que diz, trata-se de a aceitar como pessoa e dar valor ao que nos diz.

É isto que Deus faz connosco. Por amor nos chama à vida e por amor Se comunica, em palavras mas sobretudo pela Palavra que encarna, que Se assume Pessoa, em Jesus Cristo. A comunicação é “corporal”, encurtando distâncias. Jesus comunica-Se com a Sua própria vida. Na relação com as multidões, com os discípulos, com as pessoas mais frágeis, Jesus olha, escuta, pergunta, responde. A primeira preocupação de Jesus não é julgar, mas acolher, escutar, perceber o coração de quem d’Ele se aproxima ou, muitas das vezes, de quem Ele se aproxima. “Nós vivemos através da comunicação. Quando a tua comunicação muda com outra pessoa, a tua relação muda com todas as outras pessoas também. A tua relação com o teu trabalho e as relações na tua vida mudarão também”.

É isso que acontece com os discípulos: o encontro com Jesus muda-os e mudam para sempre as suas vidas, indo ao encontro de outros para comunicarem a Vida por excelência: Jesus, morto e ressuscitado.

 

Publicado na Voz de Lamego, n.º 4424, de 8 de agosto de 2017

07.09.17

VL - Quero falar contigo sobre os meus sentimentos

mpgpadre

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"I want to tell you about my feelings". Belíssimo texto de MAMORU ITOH (1992), traduzido do inglês por Helena Gil da Costa e facultado, salvo erro, em Técnicas de Comunicação, na Faculdade de Teologia no Porto. É um texto (livro já publicado) sobre comunicação e sobre sentimentos, sobre a vida e o relacionamento entre pessoas.

Comunicar é como jogar à bola. Para que haja jogo é preciso que alguém atire a bola para o outro. Uma e outra vez. Atiro a bola. Tu atiras a bola. Recolhes a bola. Eu recolho a bola. Para haver comunicação, e para haver relacionamento, alguém precisa de tomar a iniciativa e falar sobre os seus sentimentos e atirar primeiro a bola.

Na comunicação, tradicionalmente, existem o emissor, a mensagem e o recetor. Nesta parábola percebem-se as condicionantes. As circunstâncias. Eu posso atirar a bola com demasiada força ou com força insuficiente. O outro pode estar preparado para receber a bola, mas não conseguir apanhá-la, porque vai com força demasiada ou não chega. «Todos nós queremos que apanhem as nossas bolas». Eu posso atirar a bola com meio metro diâmetro e quando voltar para mim pode vir com poucos centímetros. Alguém tem de lançar primeiro a bola. Mas posso ter medo que ela não seja recolhida ou não seja devolvida. E o outro pode ter medo ou não estar preparado para atirar a bola, para falar dos seus sentimentos.

«Se a pessoa a quem atiraste a bola não a apanhou da maneira que tu querias, não culpes essa pessoa. Talvez ela não seja muito boa a jogar a bola. Talvez ela estivesse nervosa, e a sua mão tenha deslizado. Talvez a tua bola fosse demasiado pesada».

Para que haja verdadeira comunicação não posso ficar só à espera que o outro me atire a bola. Tenho que também atirar a bola, arriscar, falar sobre os meus sentimentos. Não é possível falarmos ao mesmo tempo. Um fala e outro escuta. Pode haver nervosismo, ansiedade. Mas o mal não é a ansiedade, mas não a reconhecer. Queres falar, mas o mais importante não é falar, mas a tua capacidade para fazeres com que o outro fale. Começa por confiar e por aceitar o que a outra pessoa tem para te dizer. A aceitação é o primeiro passo para que a comunicação possa acontecer. 

Transpondo para a nossa fé: Deus toma a iniciativa de Se comunicar e a Sua Palavra é carne viva, é Jesus Cristo! Ele precede-nos e lança a primeira bola. A comunicação acontece e a vida surge!

 

Publicado na Voz de Lamego, n.º 4423, de 1 de agosto de 2017

06.09.17

VL – Seguir Jesus também em tempo de férias

mpgpadre

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 Seguir Jesus implica toda a nossa vida, a vida toda, em todos os seus aspetos. Somos cristãos em qualquer situação, não apenas quando nos convém, nos dá mais jeito ou quando temos mais tempo. É dessa forma que ganhamos a vida, perdendo-a, gastando-a, dando-lhe sentido e sabor pelo serviço, pelo cuidado com os outros e com o meio ambiente. É dando que se recebe, é dando que se acolhe a vida como dom alegre. Quem resguarda a sua vida por medo ou para não se incomodar, acabará por morrer sem ter vivido (cf. Mt 16, 25)!

Para o cristão, a referência é Jesus Cristo. Segui-l'O para O imitar, para gastar a vida como Ele, a favor de todos. Com efeito, lembra-nos São Paulo, fomos batizados em Cristo, sepultados na Sua morte, para com Ele ressuscitarmos. Se morremos com Cristo, vivamos então com Ele uma vida nova. «Cristo morreu para o pecado de uma vez para sempre; mas a sua vida, é uma vida para Deus. Assim, vós também, considerai-vos mortos para o pecado e vivos para Deus, em Cristo Jesus» (Rom 6, 10-11).

Configurados com Cristo, deixemos que Ele nos ilumine, nos guie e viva em nós e através de nós. Morrendo por causa d'Ele, havemos de situar-nos na vida que permanece. É a Sua promessa. Tudo o que fizermos, façamo-lo em nome de Jesus, por amor a Jesus, com o amor de Jesus. E então tudo terá mais sentido, um sentido mais pleno, a vida, os pais, os filhos. Importa tomar a nossa cruz, dia após dia, e segui-l'O, imitando-O. «Se alguém der de beber, nem que seja um copo de água fresca, a um destes pequeninos, por ele ser meu discípulo, em verdade vos digo: Não perderá a sua recompensa» (Mt 10, 42).

Seguir Jesus não servirá nunca para justificar a indiferença ou o descarte a que botamos as pessoas. Seguir Jesus com a nossa vida inteira faz-nos incluir os pais, os filhos, os amigos, os vizinhos, os colegas de trabalhos, aqueles de quem não gostamos tanto e sobretudo as pessoas mais fragilizadas, pela doença, pela pobreza, pela exclusão social, cultural, económica ou política.

Em ambiente de férias, o cristão permanece ligado a Jesus com o compromisso de O transparecer em todos os cenários, em todo o tempo, com todas as pessoas. Com efeito, o cristão que vai à Missa é o mesmo que vai ao café ou que vai num passeio de barco! E o facto de quebrar as rotinas, não significa que se esqueça de celebrar a fé!

 

Publicado na Voz de Lamego, n.º 4421, de 18 de julho de 2017

05.09.17

VL – A tragédia, a fé, o silêncio e a oração

mpgpadre

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Um fim-de-semana que fica marcado pela tragédia de Pedrógão Grande. Trovoadas secas originaram um gigantesco caos, com famílias inteiras a arderem carbonizadas dentro de automóveis, outras pelo excesso de inalação de fumo, aldeias isoladas sob a ameaça do fogo. Até este momento (em que o texto foi escrito), 62 mortos e 62 feridos, alguns dos quais em estado grave. Casas e fábricas destruídas, e enorme área florestal que continua a ser consumida pelas chamas.

Quando se encontra de imediato um culpado e uma justificação torna-se um pouco mais fácil. Não havendo uma explicação plausível, torna-se mais difícil aceitar a dantesca tragédia. Para todos. Também para quem tem fé. Como foi possível? Porquê?

A figura bíblica de Job mostra que nem todas as perguntas têm respostas e que não há explicações para todas as dúvidas. Job, em diálogo com os amigos, verifica que o mal que lhe sucedeu não pode ser imputado a Deus, mas também não é consequência da sua conduta, pois sempre procurou ser justo e honesto diante de Deus e perante os outros. Pelo que, no final, não se encontrando uma resposta clarificadora, se aponte para o mistério insondável de Deus.

Bento XVI, em 2006, no campo de extermínio de Auschwitz remetia para o grito do silêncio e da oração: «Num lugar como este faltam as palavras, no fundo pode permanecer apenas um silêncio aterrorizado um silêncio que é um grito interior a Deus: Senhor, por que silenciaste? Por que toleraste tudo isto? É nesta atitude de silêncio que nos inclinamos profundamente no nosso coração face à numerosa multidão de quantos sofreram e foram condenados à morte; todavia, este silêncio torna-se depois pedido em voz alta de perdão e de reconciliação, um grito ao Deus vivo para que jamais permita uma coisa semelhante».

Em Auschwitz houve uma intervenção direta e criminosa do ser humano; em Pedrógão Grande, não, ainda que se venha a perceber circunstâncias que acentuaram a tragédia.

Por outro lado, agora importa ajudar as pessoas, minimizar os danos pessoais, confortar, cuidar, para que a dor e a perda não destruam (por completo) os familiares que sobreviveram. O país e o mundo, mais uma vez, respondeu rapidamente com comoção e com solidariedade, com dinheiro e com bens materiais, aos familiares das vítimas e aos Bombeiros.

Há um tempo para tudo. Para já, tempo para o silêncio, para a oração, tempo para ajudar!

Confiemos as vítimas ao Senhor. Rezemos pelos seus familiares e amigos.

 

Publicado na Voz de Lamego, n.º 4417, de 20 de junho de 2017

04.09.17

VL – Só Deus é Deus. A intimidade de Jesus com o Pai

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 Ao longo da Sua vida e de maneira mais clarividente na Sua Paixão e Morte na Cruz, Jesus mostra a Sua grande ligação ao Pai. É uma intimidade de todas as horas, visível nos momentos mais intensos, mais importantes e mais dramáticos. Se a Sua vida é uma oração constante, Jesus reserva tempos específicos para uma maior proximidade com o Deus: antes da vida pública retira-Se em oração para o deserto; antes de escolher os apóstolos passa a noite em oração; antes do processo da Sua morte, retira-Se para o horto das Oliveiras para orar; na Cruz mantém um diálogo vivo com o Pai: Meu Deus, Meu Deus, porque me abandonaste?! Pai, nas Tuas mãos entrego o meu espírito.

É percetível na vida de Jesus o Amor primeiro e único: o Pai. Mas é também dessa forma que Ele tem disponibilidade para as pessoas, sobretudo as mais frágeis, pois não desperdiça nem forças nem tempo com intrigas, com lamentações, com suspeição, com estratégias para Se afirmar ou para assegurar poder ou vantagem sobre os demais.

Com efeito, a soberania de Deus garante a verdadeira solidariedade entre pessoas. Garante a igualdade, a inclusão, a pessoa como "absoluto", isto é, não reduzível a mim nem descartável. Colocar Deus em primeiro lugar evita a instrumentalização e a idolatria. Se o primeiro lugar for ocupado por alguém ou pelos nossos interesses, há um risco provável de instrumentalizarmos as pessoas: importam-nos enquanto nos são úteis, são descartáveis quando não nos servem. Na mesma perspetiva, o auto endeusamento: queremos e assumimo-nos como centro do universo, tudo há de funcionar para nos servir. No inverso, não tendo Deus como Deus, que está acima e além de toda a possessão, mais tarde ou mais cedo lá colocaremos alguém ou alguma coisa, preenchendo dessa forma o lugar de Deus.

A prioridade e a precedência de Deus liberta-nos da ansiedade e da perda definitiva, pois Ele nos garante a vida. Aqueles que perdemos, pela vida, Ele os guarda na eternidade. Reconhecermos que não somos deuses, ou que alguém ou alguma coisa o é, faz-nos relativizar as perdas e os insucessos, mas também que o céu não é definitivo na vida histórica, pelo que estamos a caminho. Se acharmos que somos deuses então não poderemos repousar nem equilibrar o nosso cérebro, temos que resolver tudo. Se colocarmos essa esperança em alguém vamos exigir-lhe que resolva tudo o que queremos. Ainda bem que não somos deuses e que só Deus é Deus.

 

Publicado na Voz de Lamego, n.º 4420, de 11 de julho de 2017

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