A vida da pessoa não depende da abundância dos seus bens
1 – A felicidade na pobreza é um desafio e um compromisso de quem considera os outros uma prioridade porque neles está impressa a imagem de Deus. A pobreza liberta-nos de nós, do nosso egoísmo e do auto endeusamento. Pobreza, neste sentido, é a humildade de quem se reconhece a caminho, a necessitar de salvação, de ajuda, da presença do outro. De quem se abre a Deus e aos outros.
O contrário de pobreza é avareza. Prepotência. Ganância desmedida. Egoísmo.
A pobreza em espírito caracteriza-se por usar os recursos e os bens materiais como meio para viver em segurança e em dignidade, aproximando-se dos outros. Dispor dos bens para viver e para a ajudar os outros a viverem com dignidade. Quando a riqueza material serve para contendas sem fim, disputas, violência, quando serve para anular ou destruir os outros, é diabólica!
A riqueza fecha-nos o coração e a vida. O dinheiro ou os bens materiais não são mal ou bem em si mesmos, o uso que fazemos deles é que pode ser moralmente condenável ou assomar bondade.
Defender a pobreza do evangelho para justificar a existência de pobres e não se comprometer na procura de soluções, é pecado que brada aos céus. Mas também a cobiça pelos bens dos outros, quando estes os conseguiram com trabalho, honestidade e justiça. Há pobres e ricos gananciosos e há pobres e ricos generosos.
Bem-aventurados os pobres em espírito porque deles é o Reino de Deus. Não é para justificar a pobreza. Pelo contrário, ser pobre, ao jeito de Jesus, implica que nos façamos pão e vida para os mais pobres, como Ele fez. Dai-lhes vós de comer. Como Eu vos fiz, fazei-o também uns aos outros. O que fizerdes ao mais pequeno dos irmãos é a Mim que o fazeis. Dar de comer a quem tem fome, é uma das obras de misericórdia que nos implica. Em tudo, a grande riqueza é a sintonia com o Pai, fazendo a Sua vontade.
2 – Certamente depois de ouvir Jesus a falar de despojamento, de partilha, de serviço aos demais, um homem aproximou-se para O convocar a resolver os seus problemas: «Mestre, diz a meu irmão que reparta a herança comigo».
Tenho a impressão que Jesus não veio resolver os problemas de ninguém. Explico. Jesus não nos substitui, não vive a vida por nós. Por conseguinte, a nossa oração a Deus não é para que nos ajude a derrotar os outros, dando agora o exemplo do futebol e lembrando o testemunho do selecionador nacional, mas pedir a Deus a humildade para persistir, a sabedoria para buscar as melhores soluções e a persistência para fazer boas escolhas, pois nem o Fernando Santos ia para dentro de campo jogar nem Deus ia meter golos na baliza da equipa adversária. Ou como dizia o professor João Paiva: «Vi gente a comemorar a vitória de Portugal sobre França com imagens de Nossa Senhora e terços… ocorre-me imaginar Nossa Senhora a contabilizar 11 milhões de Aves Marias, do lado de Portugal, 30 milhões de Aves Marias, do lado francês, imagino Lurdes contra Fátima...»
Jesus desafia-nos ao melhor de nós mesmos e a buscarmos nos outros a presença de Deus, mas não se faz árbitro das nossas disputas. «Amigo, quem Me fez juiz ou árbitro das vossas partilhas?».
No seguimento da resposta, Jesus acrescenta, dizendo a todos: «Vede bem, guardai-vos de toda a avareza: a vida de uma pessoa não depende da abundância dos seus bens». Quando os bens materiais substituem as pessoas, estamos a caminho da desumanização.
Vale a pena escutar e refletir a parábola de Jesus: «O campo dum homem rico tinha produzido excelente colheita. Ele pensou consigo: ‘Que hei de fazer, pois não tenho onde guardar a minha colheita? Vou fazer assim: Deitarei abaixo os meus celeiros para construir outros maiores, onde guardarei todo o meu trigo e os meus bens. Então poderei dizer a mim mesmo: Minha alma, tens muitos bens em depósito para longos anos. Descansa, come, bebe, regala-te’. Mas Deus respondeu-lhe: ‘Insensato! Esta noite terás de entregar a tua alma. O que preparaste, para quem será?’. Assim acontece a quem acumula para si, em vez de se tornar rico aos olhos de Deus».
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Textos para a Eucaristia (C): Ecl 1, 2; 2, 21-23; Sl 89 (90); Col 3, 1-5. 9-11; Lc 12, 13-21.
REFLEXÃO DOMINICAL COMPLETA na página da Paróquia de Tabuaço
e no nosso outro blogue CARITAS IN VERITATE