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Escolhas & Percursos

...espaço de discussão, de formação, de cultura, de curiosidades, de interacção. Poderemos estar mais próximos. Deus seja a nossa Esperança e a nossa Alegria...

Escolhas & Percursos

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31.12.15

Maria conservava todos estes acontecimentos em seu coração

mpgpadre

       1 – Iniciamos cada ano sob o olhar materno da Virgem Mãe de Deus e nossa Mãe, para que em todo o ano Ela seja a Estrela da Manhã que nos guia para Jesus e nos conduz para dentro do Presépio, dando-nos Jesus, para O adorarmos, contemplando-O, enchendo-nos da Sua alegria e da Sua paz. Exige-se-nos o mesmo que a Maria: acolhê-l'O, adorá-l'O e dando-O aos outros.

        Um Menino nos foi dado, um Deus no meio de nós. Em Jesus, Deus entranha-Se na história a partir da própria história, encarnando, fazendo-Se Um de nós. Sem anúncios espetaculares ou publicidade enganosa, sem reportagens ou parangonas. Simplesmente nascendo numa família o mais normal possível, de Nazaré, e como qualquer família, com os seus contratempos, desde logo o nascimento em Belém de Judá.

       Há sinais que muitos veem, mas que poucos valorizam e dão crédito. Por regra, só quem tem um coração pobre, grande, disponível para os outros, vazio das coisas e sem orgulhos vãos, é que consegue ler os sinais que surgem na sua vida e à sua volta. Os que estão cheios de si raramente veem o que é verdadeiramente importante, o que conta, o que transforma a vida. Cheios de si, só eles contam, ninguém mais importa, nada têm a aprender ou a descobrir, a importância está neles, os outros são acessórios que embelezam as suas vitórias ou escadas que se permitem pisar para subir mais e mais.

       Como Maria a caminho da Montanha, apressadamente, assim os pastores ao encontro do Menino, apressadamente. Não há tempo a perder. Tudo é importante. Mas há acontecimentos que são decisivos e há pessoas – que nos trazem a salvação – que precisam de toda a nossa atenção. Os pastores deixam os rebanhos, partem por que nada têm de mais importante que a adoração de Jesus, o Menino que vem da parte de Deus. Diante de Jesus, tudo é relativo, secundário, dispensável. Só Jesus não se pode dispensar. Recordamos a liturgia da Festa da Sagrada Família: quando Jesus não está no MEIO, não está connosco, então há que deixar tudo, tudo, absolutamente tudo, para ir ao Seu encontro. Sem Ele de pouco vale o que temos ou o que somos. Com Ele, até as provações têm sentido e poderão ser redentoras.

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       2 – Chegados a Belém, encontram Maria, José e o Menino deitado na manjedoura, conforme o Anjo do Senhor lhes revelara. E de novo não há tempo a perder, não importa a pressa que traziam, nem o que deixaram lá fora, estão em casa pois estão junto de Jesus, encontraram uma RAZÃO maior que iluminará as suas vidas por completo.

       Que importa o mundo inteiro se tenho o mundo ao pé de mim, se estou em casa, se sou iluminado pela maior luz, se diante dos olhos e do coração tenho o essencial para ser feliz?

        Madre Teresa de Calcutá lembrava muitas vezes que o fundamental é dar atenção e cuidar da pessoa que tenho à minha frente. Se tenho uma pessoa a quem valer e não valho por estar preocupado com a doença, o sofrimento e a miséria de milhares de pessoas, de pouco me adianta fazer e ter bons propósitos. Há que começar por algum lado, melhor, por alguém. Quantas vezes estamos a falar com alguém e não escutamos por que estamos centrados noutras coisas, noutros mundos, em outras pessoas! Mas então e esta pessoa que está diante de mim? Não me merecerá toda a atenção do mundo? Há que acudir a Jesus nesta pessoa concreta.

        Os pastores dão-nos uma lição importante: ir ao encontro de Jesus e colocar-nos por inteiro diante d'Ele, com o que somos, com as nossas dúvidas e incertezas, com os nossos sonhos e projetos. Levamos-lhe o nosso dia-a-dia. Quando chegaram, os Pastores contaram tudo o que ouviram do Anjo.

       E como será o regresso? Se Ele nos tocou a alma, regressamos mudados para sempre. "Os pastores regressaram, glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham ouvido e visto, como lhes tinha sido anunciado".

 

       3 – Capacidade de admiração dos ouvintes. De cada um de nós. Mal é quando a vida já não tem nada para nos dar, nada que nos faça sorrir, nada a apreciar. Todos ficam admirados, mas obviamente Maria ocupa um lugar especial. As mães bebem, mastigam, cada palavra que se diz dos filhos. "Maria conservava todos estes acontecimentos, meditando-os em seu coração".

       Silêncio que acolhe, guarda e medita. Maria também nos desafia pelo Seu silêncio da oração e da adoração. É a primeira a admirar Jesus, a pegar-lhe ao colo, a olhar para as suas feições, a tatear-lhe o corpo, cada pedaço de pele, a aconchegá-l'O contra o seu peito, embrulhando-O para o manter confortável, procurando-lhe o olhar.

       Quando os Pastores os encontram, Jesus está na manjedoura. É possível que Maria O tivesse em seus braços, mas coloca-O para que os pastores O possam adorar e pegar-lhe sem se sentirem retraídos. Os Pastores aproximam-se, presenciam o que lhes disseram: o Messias nasceu e está diante dos seus olhos. Como os habitantes da Samaria, quando a Samaritana lhes falou de Jesus: acreditamos não pelo que disseste mas pelo que vimos e Lhe ouvimos. Os pastores confiaram nas palavras do Anjo e partiram, mas fazem a experiência de encontro com Jesus.

       E com os pastores, outras pessoas se aproximam do Presépio. Vamos também nós a Belém adorar o Deus Menino. Maria, que lá O tem, estendê-l'O-á para que possamos pegar-lhe, deixando que Ele toque a nossa mão, o nosso coração, e nos envie, como aos pastores, em missão.

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       4 – Para o cristão, o Batismo marca o arranque de uma vida que se quer de identificação ao autor do Batismo, Jesus Cristo. Um dos primeiros gestos do ritual do Batismo é a escolha do nome do batizando. A primeira missão de Adão e Eva é a de dar nome às coisas e aos animais, para que dominem sobre eles, num domínio que é serviço e cuidado, responsabilidade por aqueles a quem se dá um nome. Quando queremos bem a alguém tratamo-lo pelo nome, num tom e num timbre que ressoe no coração. É das melhores músicas para os nossos ouvidos: o nosso nome dito e ouvido com alegria e amizade, com ternura e afabilidade.

"Quando se completaram os oito dias para o Menino ser circuncidado, deram-Lhe o nome de Jesus, indicado pelo Anjo, antes de ter sido concebido no seio materno". Ele é o Filho de Deus, mas está ao cuidado de Maria e de José, que Lhe dão o nome e a casa. "Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher e sujeito à Lei, para resgatar os que estavam sujeitos à Lei e nos tornar seus filhos adotivos. E porque sois filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: «Abá! Pai!». Assim, já não és escravo, mas filho. E, se és filho, também és herdeiro, por graça de Deus".

       Somos filhos de Deus, em Jesus Cristo e como tal somos responsáveis por cada irmão, filho, pai, mãe, pois Deus os colocou na nossa vida para deles cuidarmos. Maria e José exemplificam este cuidado. Jesus nasce e imediatamente lhes merece toda a atenção. Sublinhe-se o facto de São José que sendo pai adotivo e não biológico logo assume a missão de acolher, amar, cuidar, proteger, dar nome a Jesus e amparar a Virgem Mãe. Os laços que nos unem radicam no amor e na proximidade, ultrapassando os laços sanguíneos.

 

       5 – Neste primeiro dia de 2016, colocamo-nos, com Maria, sob o olhar misericordioso de Deus, para que nos ilumine e nos dê a Sua bênção. "Senhor nosso Deus, que, pela virgindade fecunda de Maria Santíssima, destes aos homens a salvação eterna, fazei-nos sentir a intercessão daquela que nos trouxe o Autor da vida, Jesus Cristo, vosso filho".

       A bênção há de ser a oração que nos liga a Deus e aos outros, e nos compromete na construção da paz. Como diz Deus através de Abraão: "O Senhor te abençoe e te proteja. O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face e te seja favorável. O Senhor volte para ti os seus olhos e te conceda a paz". Assim invocarão o meu nome sobre os filhos de Israel e Eu os abençoarei». E como salmodicamente respondemos à Palavra de Deus: «Deus Se compadeça de nós e nos dê a sua bênção, resplandeça sobre nós a luz do seu rosto. Na terra se conhecerão os seus caminhos e entre os povos a sua salvação. Alegrem-se e exultem as nações, porque julgais os povos com justiça e governais as nações sobre a terra». 

       São também os votos do Papa Francisco, na tradicional Mensagem para o Dia Mundial da Paz que hoje comemoramos: «Não perdemos a esperança de que o ano de 2016 nos veja a todos firme e confiadamente empenhados, nos diferentes níveis, a realizar a justiça e a trabalhar pela paz. Na verdade, esta é dom de Deus e trabalho dos homens; a paz é dom de Deus, mas confiado a todos os homens e a todas as mulheres, que são chamados a realizá-lo».

       O compromisso será vencer a indiferença, reconhecendo que os outros são nossos irmãos em Jesus Cristo e, desta forma, conquistar a paz que Ele nos traz.

 

Pe. Manuel Gonçalves

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Textos para a Eucaristia (ano C): Num 6, 22-27; Sl 66 (67); Gál 4, 4-7; Lc 2, 16-21.

26.12.15

Não sabíeis que Eu devia estar na casa de meu Pai?

mpgpadre

1 – Jesus, Deus connosco, ensina-nos o caminho da fraternidade, da partilha, da comunhão, pelo perdão e pelo amor, colocando os outros em primeiro lugar, servindo-os. A quadra de Natal recorda-nos esta família de Nazaré, cujo ambiente promove o diálogo, o respeito pelas diferenças e pela missão de cada um, e sobretudo, o acolhimento da vontade de Deus.

Não é uma família extraordinária e, muito menos, extraterrestre. É uma família simples, pobre ou remediada, de uma pequena cidade-aldeia, de Nazaré. Não vive num palácio. São José trabalha a pedra, a madeira e em tudo o que é necessário às construções daquele tempo. Maria cuida da casa, dos animais, recolhe o leite, fabrica o queijo, fia a lã, trata das roupas, amassa a farinha e coze o pão. E, como em qualquer família judaica, Maria tem o cuidado por Jesus, ensina-O a rezar, a ler, a comportar-se. Sendo rapaz, a partir dos 7/8 anos, passa a acompanhar o pai, ajudando-o e aprendendo a mesma profissão. Filho de um carpinteiro, carpinteiro será.

A religião marca o ritmo das famílias e das aldeias. Como sublinha São Lucas, a Sagrada Família ia todos os anos a Jerusalém pela festa da Páscoa. É nesse contexto que "perdem” Jesus. É a idade em que os rapazes são iniciados na vida adulta: vão ao Templo e, pela primeira vez, leem a Sagrada Escritura em público.

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2 – Indo em caravana, com os membros da família alargada e com as pessoas da mesma cidade, protegendo-se mais facilmente dos salteadores, era possível que as crianças, nas correrias e brincadeiras, se afastassem dos pais. No regresso de Jerusalém, Maria e José "perdem-se" de Jesus.

Durante o dia da caminhada, as crianças mais crescidas poderiam ir juntas. No final do dia, a família reúne-se para a refeição e para descansar. É então que se apercebem que Jesus não voltou e procuram-n'O entre familiares e conhecidos.

Encontram-n’O no Templo entre os doutores da Lei, que se admiram com a sua sabedoria. Maria questiona-O: «Filho, porque procedeste assim connosco? Teu pai e eu andávamos aflitos à tua procura». Jesus responde-lhes: «Porque Me procuráveis? Não sabíeis que Eu devia estar na casa de meu Pai?».

Sobrevém o clima de diálogo. Maria pergunta a Jesus se tinha consciência de que Ela e São José estavam preocupadíssimos. Jesus responde-lhes com outra pergunta e que aponta para a Sua identidade original e para a missão que terá de assumir.

Visualiza-se a delicadeza de Maria e de José. Maria guarda estes acontecimentos e palavras no coração e certamente também José. Logo o evangelista nos lembra que "Jesus ia crescendo em sabedoria, em estatura e em graça, diante de Deus e dos homens".

A família de Nazaré também tem a sua dose de dificuldades, por ocasião do nascimento de Jesus, na fuga para o Egipto e agora na "perda" de Jesus. Como é que se terão sentido Maria e José?

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3 – O texto do Evangelho diz-nos, entre muitas coisas, algo essencial: se nos perdermos de Jesus, como aconteceu com Maria e José, e por mais caminho que tenhamos percorrido, é imprescindível que regressemos a todos os lugares onde O pudermos encontrar. Não adianta correr se não sabemos para onde vamos.

Peçamos com fé: "Senhor, Pai santo, que na Sagrada Família nos destes um modelo de vida, concedei que, imitando as suas virtudes familiares e o seu espírito de caridade, possamos um dia reunir-nos na vossa casa para gozarmos as alegrias eternas".

Maria e José estão atentos à vontade de Deus, fazendo com que Jesus esteja no centro das suas preocupações e das suas vidas, por maiores que sejam as dificuldades e os desafios. Assim ter de ser connosco. Encontrar Jesus, para O levarmos na nossa vida…

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Textos para a Eucaristia: Sir 3, 3-7. 14-17a; Sl 127 (128); Col 3, 12-21; Lc 2, 41-52.

 

REFLEXÃO DOMINICAL COMPLETA na página da Paróquia de Tabuaço

e no nosso outro blogue CARITAS IN VERITATE

24.12.15

Natal 2015: O Verbo fez-Se carne e habitou entre nós...

mpgpadre

1 – O Natal é luz, é paz, é esperança. O Natal é amor, solidariedade, é vida. O Natal é ternura, justiça, é alegria. O Natal é humanidade, compaixão e misericórdia. O Natal é encontro e transformação, o Natal é vida nova e tempo novo. O Natal é bênção e chegada. É vinda e salvação, inclusão e fraternidade. O Natal é partilha e verdade. O Natal é aconchego e denúncia, é transparência do bem e do mal, é desafio e provocação. O Natal é Jesus a nascer em nós. Deus a fazer-Se um connosco. O Natal é acolhimento e calor. Proximidade e reconciliação. O Natal é tempo da família, dos afetos, e da gratidão. O Natal é Casa de Oração e de Misericórdia. É tempo da memória agradecida. É a oportunidade para recomeçar, para partir, para descobrir, é o tempo para construir, para criar ou solidificar os laços. Todas as comemorações nos fazem parar, refletir, olhar para trás, fazer propósitos para caminhar, emendar a mão, ir ao encontro do irmão.

       À nossa volta não faltam sinais: luzes, enfeites, decorações, Pais-natais, árvores de Natal, Presépios, estrelas, anjos, renas... doces, bolos, convites, prendas... campanhas de solidariedade (algumas das quais servem para as marcas venderem mais). É um tempo muito especial, muito sensível. Sentimentos à flor de pele. As lembranças da infância e do tempo perdido; os sonhos e as vidas que se desfizeram; a família e os que já ficaram para trás. Tudo lembra. Muito mais nestas alturas em que a família se reúne. A alegria mistura-se com a nostalgia. A festa traz-nos de volta os familiares e amigos que estão longe, fisicamente ou pelos meios tecnológicos de comunicação; mas traz-nos também os que já morreram.

       Aos desertos exteriores – pobreza, guerra, toxicodependência, corrupção, fosso entre ricos e pobres, desemprego, fome – acrescem os milhentos desertos interiores – a solidão, falta de sentido para a vida, o vazio da alma. Nestas palavras emprestadas por Bento XVI, e que novamente retomo, um diagnóstico que se torna um desafio a levarmos Luz a todos os recantos, a levar Luz às trevas, ao pecado, aos momentos de desencanto.

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       2 – O Natal é Luz que vem do Céu, da eternidade para o tempo, do Infinito para a história. O Deus que nos criou por amor, por amor nos quer salvar.

       O profeta do Advento e que nos introduz no Natal, Isaías, proclama: «O povo que andava nas trevas viu uma grande luz; para aqueles que habitavam nas sombras da morte uma luz começou a brilhar. Multiplicastes a sua alegria, aumentastes o seu contentamento. Rejubilam na vossa presença, como os que se alegram no tempo da colheita, como exultam os que repartem despojos».

       Ao longo de gerações, Deus não deixou de Se manifestar, de nos enviar os Seus mensageiros, de nos falar, como Pai e Mãe, perscrutando o nosso coração e o nosso olhar, chamando-nos a Si, procurando-nos nos nossos caminhos, muitas vezes incertos e perdidos. «Nestes dias, que são os últimos, falou-nos por seu Filho, a quem fez herdeiro de todas as coisas e pelo qual também criou o universo».

       Desde sempre pendeu sobre nós a Misericórdia do Deus altíssimo. Chegado o tempo, Deus quebrou o jugo que pesava sobre todo o povo, para restabelecer a paz e a justiça. «Porque um menino nasceu para nós, um filho nos foi dado. Tem o poder sobre os ombros e será chamado "Conselheiro admirável, Deus forte, Pai eterno, Príncipe da paz". O seu poder será engrandecido numa paz sem fim, sobre o trono de David e sobre o seu reino, para o estabelecer e consolidar por meio do direito e da justiça, agora e para sempre. Assim o fará o Senhor do Universo».

       Por conseguinte, podemos dizer e alegrar-nos com o Profeta: «Como são belos sobre os montes os pés do mensageiro que anuncia a paz, que traz a boa nova, que proclama a salvação... Eis o grito das tuas sentinelas que levantam a voz. Todas juntas soltam brados de alegria, porque veem com os próprios olhos o Senhor que volta para Sião. Rompei todas em brados de alegria, ruínas de Jerusalém, porque o Senhor consola o seu povo, resgata Jerusalém. O Senhor descobre o seu santo braço à vista de todas as nações e todos os confins da terra verão a salvação do nosso Deus».

       Deus nos dará a paz em abundância. E com a abundância da paz que nos desafia a ser irmãos, a alegria do coração, que nos faz atravessar por vales e montanhas, por mares revoltos e por todas as tempestades que nos atrasam e nos desviam do caminho que nos leva a Jesus.

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       3 – Há Natal e há mais luz, Luz que vem de Deus para nos guiar. Haverá Natal quando o homem quiser, quando o homem sonhar, quando cada um de nós dos outros cuidar, e então haverá Natal porque Deus quer, porque Deus vem, porque Deus nos ama e nos envolve em ternura e misericórdia, porque Deus nos redime e salva, porque Deus nos quer bem e nos assume como filhos no Filho que é nosso irmão, para que n'Ele, Jesus Cristo, dando as nossas mãos e o coração, possamos voltar a ser como no paraíso, como no início, como irmãos, família que caminha, apoiando-se nos momentos bons e nos enfadonhos, nos sonhos e nos agravos. Nunca escravos, sempre irmãos.

       Naqueles dias, saiu um decreto de César Augusto, para que todos se recenseassem na sua terra natal. Maria e José tiveram que partir, da cidade de Nazaré para a cidade de David, chamada Belém. «Enquanto ali se encontravam, chegou o dia de ela dar à luz e teve o seu Filho primogénito. Envolveu-O em panos e deitou-O numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria».

       Logo o Anjo do Senhor se aproxima dos pastores que andavam por ali e os cerca de luz, dizendo-lhes: «Não temais, porque vos anuncio uma grande alegria para todo o povo: nasceu-vos hoje, na cidade de David, um Salvador, que é Cristo Senhor. Isto vos servirá de sinal: encontrareis um Menino recém-nascido, envolto em panos e deitado numa manjedoura».

       Quando alguém chega, quando alguém nasce, é tempo para cantar, agradecer, louvar. É a bênção de Deus que chega até nós. Juntemo-nos aos Anjos e aos Pastores e cantemos: «Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por Ele amados».

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       4 – «Manifestou-se a graça de Deus, fonte de salvação para todos os homens». Um Menino nos foi dado. Deus no meio de nós. Deus connosco. Tal é o Seu amor que nos assumiu inteiramente, abaixando-Se, colocando-Se ao mesmo nível que nós, para nos elevar com Ele às alturas do Céu, donde veio, de onde nos atrai, para onde nos encaminha, de onde nos acompanha.

       «No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus. No princípio, Ele estava com Deus. N’Ele estava a vida e a vida era a luz dos homens. A luz brilha nas trevas e as trevas não a receberam. O Verbo era a luz verdadeira, que, vindo ao mundo, ilumina todo o homem. Àqueles que O receberam e acreditaram no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus. Estes não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus. E o Verbo fez-Se carne e habitou entre nós. Nós vimos a sua glória, glória que Lhe vem do Pai como Filho Unigénito, cheio de graça e de verdade».

        Acreditando no Filho de Deus, recebemos o poder e a graça de nos tornarmos também nós filhos de Deus e instrumento de salvação para os outros, fazendo com que a Luz que nos salva, incidindo em nós, reflita para os outros.

 

Pe. Manuel Gonçalves

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Textos para a Eucaristia:

Missa da Noite - Is 9, 1-6; Sl 95 (96); Tito 2, 11-14; Lc 2, 1-14;
Missa do Dia - Is 52, 7-10; Sl 97 (98); Hebr 1, 1-6; Jo 1, 1-18.

22.12.15

SVETLANA ALEKSIEVITCH - O fim do Homem Soviético

mpgpadre

SVETLANA ALEKSIEVITCH (2015). O fim do Homem Soviético. Um tempo de desencanto. Porto: Porto Editora. 472 páginas.

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Quando um/a escritor/a é considerado/a Nobel da Literatura logo desperta a atenção de milhares de leitores em todo o mundo. Por vezes essa atribuição reconhece autores já consagrados, outras vezes autores desconhecidos do grande público, mesmo que sejam considerados no meio literário, ou numa região do globo.

Como leitor estou sempre à espera que Haruki Murakami receba esta distinção, tal é, a meu ver, a criatividade, imaginação, as histórias que se multiplicam dentro de outras histórias, além da ponte entre a cultura ocidental, com as suas tradições, superstições, descobertas, tendência e a cultura oriental, nipónica sobretudo, mas abrangendo costumes e tradições e superstições do mundo oriental, com a sua história ancestral. Esta seria uma mais valia para lhe poder ser atribuído o Prémio Nobel da Literatura. Mas pelos vistos o Júri ainda não é dessa opinião.

O Prémio Nobel da Literatura foi atribuído a esta escritora, Svetlana Alexksievitch e certamente por mérito próprio, tal é, como este livro que agora sugerimos como leitura, a arte com que escreve e, como muitos outros autores que receberam esta distinção, o seu contributo para conhecermos a Rússia e todo o mundo soviético, a passagem de um império para uma república mas que quer continuar a impor-se como superpotência mundial.

O fim do Homem soviético (ou "O tempo em segunda mão" - título original traduzido à letra) faz parte de um quinteto, em que a autora escuta testemunhos de pessoas reais, em diferentes contextos, do mundo soviético, em que vem ao de cima sobretudo o desencanto, o vazio, a indefinição. As promessas de liberdade e de democracia defraudaram as expectativas e aqueles que foram para a rua manifestar-se desiludiram-se, os heróis das guerras travadas pela União Soviética, nomeadamente no Afeganistão chegaram a ser considerados assassinos, sem honra e sem causas para lutar. O desmoronar da URSS, com a independência dos diversos Estados que a constituíam trouxeram muitas dúvidas. Milhares de pessoas que cresceram num império, estudaram a sua história, cultura, tradições, e de repente estão uns contra outros por que agora pertencem a países diferentes.

A liberdade aplaudida não cumpriu as promessas de uma mundo melhor, em que todos pudessem desfrutar das potencialidades europeias e norte-americanas. As calças de ganga não trouxeram a felicidade. A miséria era imensa, mas todos viviam com dificuldades, com o advento da democracia, muitos enriqueceram, controlando a riqueza, e os que viviam na miséria perderam até o que tinham, continuaram a ser explorados e espoliados dos seus bens.

Terá valido a pena a revolução? A perestroika? Alguns ainda olham com esperança para este tempo, a maioria parece viver na nostalgia de uma passado mais ou menos glorioso. Por conseguinte, na atualidade, Putin pareça estar a recuperar o imperialismo e a ditadura, sem oposição de relevo.

É um livro extraordinário. Permite conhecer a alma russa e soviética. Parecem ser palavras de desencanto, mas que correspondem ao pulsar de centenas de pessoas entrevistadas pela autora. Histórias que nos fazem sentir dentro daquele contexto, daquele momento da História, ainda que estejamos à distância, temporal e culturalmente. O livro é um desafio, para percebermos melhor as diferenças dos mundos que compõem o mundo. Questões de humanidade e de fé e de poder e de controlo, de riqueza e exploração.

Como refere a autora, na entrevista que aparece no final do livro, foram cinco livros "vermelhos", daquele tempo de transição, em que os revolucionários saíram sem pátria nem identidade e muitas vezes crucificados aos ideais comunistas, um socialismo que não protegeu os seus. Findo este ciclo, a autora escreverá sobre o amor, a velhice, a morte, mas num registo diferente, pois também há esperança e há muitas pessoas otimistas.

Para quem goste de ler, é um livro que se lê de fio a pavio, histórias dentro da história, envolventes, com todos os ingredientes de uma realidade que se vive naquela zona do planeta, mas em tudo idênticas as outras vidas a a outras histórias vividas por muitos que sonharam um mundo novo e acordaram sem o mundo antigo e sem se sentirem parte integrante do mundo que entretanto chegou e que eventualmente ajudaram a construir. Nem pão nem liberdade. Pois liberdade sem ter que comer, sem casa nem trabalho, nem que vestir de pouco vale.

19.12.15

Bendita és entre as mulheres, bendito o fruto do teu ventre

mpgpadre

       1 – Pôr-se a caminho há de ser a atitude permanente dos discípulos de Jesus.

       Sair de si, ir ao encontro dos outros, estar em movimento, física mas sobretudo espiritualmente, sair do seu egoísmo para criar espaço para Jesus nascer e crescer, criar espaço para os outros, para os acolher, para os compreender, para os ajudar. Como o Bom Pastor que sai ao encontro das ovelhas desgarradas e perdidas. Assim a missão da Igreja. Assim o compromisso batismal de todos os cristãos.

       Se nos domingos anteriores, a figura que nos desafiava a sintonizar com o Messias anunciado, prometido e para breve no meio de nós, era João Batista, neste quarto domingo, Maria irrompe preenchendo o Evangelho e a Igreja e, mesmo sem falar, ensina-nos como proceder para bem acolhermos Jesus, levando-O aos outros.

       Depois da Anunciação do Anjo, Maria parte. Não parte de qualquer maneira. Parte com pressa. Com pressa para ajudar a Sua prima Santa Isabel, grávida e de idade avançada (para a época). Leva a Isabel a alegria do Evangelho que se gera no Seu ventre. Ela é a Arca da Nova Aliança, leva em Si a Nova Aliança que é Jesus. E isso é motivo de grande júbilo.

       A presença Maria é bênção e toda a bênção gera vida, gera alegria, gera paz.

       Isabel comunica-nos a ALEGRIA gerada pela proximidade de Maria e do Deus Menino: «Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. Donde me é dado que venha ter comigo a Mãe do meu Senhor? Na verdade, logo que chegou aos meus ouvidos a voz da tua saudação, o menino exultou de alegria no meu seio. Bem-aventurada aquela que acreditou no cumprimento de tudo quanto lhe foi dito da parte do Senhor».

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       2 – A escolha de Deus distancia-se de muitas das nossas escolhas. Escolhemos (muito mais) pelo aparente, o que nos soa bem, o que é agradável à vista e ao ouvido; a robustez; aquilo com que simpatizamos, os mais belos, mais fortes, mais bem apresentáveis. Perigo para o qual São Tiago alertava as primeiras comunidades cristãs.

       Deus escolhe o que é pequeno, pobre, último, insignificante. Não para excluir, mas para incluir. Se os pais tiverem vários filhos, procurarão dar atenção a todos, se os amam de verdade, mas irão ter mais cuidado com os mais frágeis, com os que estão fora, com os que atravessam uma fase complicada, com os mais novos. É uma dinâmica de compensação, de inclusão, de cura, de absorção. Ou seja, compensar quem está menos tempo, incluir quem está fora ou está afastado da mesa e da sala porque está doente; a cura que é potenciada pelo amor, pelo carinho, pelas carícias; absorver os gestos e as palavras de quem está pouco tempo, para continuar a desfrutar daqueles bons momentos, depois da partida.

       Deus escolhe o que passa despercebido para confundir os sábios (presunçosos) deste mundo. Chama para incluir, para nos fazer ver que para Ele todos contam, não há ninguém insignificante, pois todos são obra das Suas mãos.

       Eis o que diz o Senhor: «De ti, Belém-Efratá, pequena entre as cidades de Judá, de ti sairá aquele que há de reinar sobre Israel... Deus os abandonará até à altura em que der à luz aquela que há de ser mãe. Então voltará para os filhos de Israel o resto dos seus irmãos. Ele se levantará para apascentar o seu rebanho pelo poder do Senhor, pelo nome glorioso do Senhor, seu Deus. Viver-se-á em segurança, porque ele será exaltado até aos confins da terra. Ele será a paz».

       De Belém, a pequena cidade, surgirá o Rei - Bom Pastor, Ele será a paz. Vem para reunir, para ajuntar, para congregar numa só família. Não mais se sentirão abandonados quando Aquela Mulher der à luz Aquele que trará a paz e a segurança.

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       3 – Maria, a escolhida do Senhor, desde toda a eternidade, a Imaculada Conceição, nasce e cresce numa família o mais normal possível. N'Ela Se manifesta a grandeza de Deus. A eleita de Deus não tem privilégios, não nasce num palácio ou numa família reconhecível pelos seus feitos, riqueza ou pelo prestígio social, religioso ou político. É de uma família simples de Nazaré, cidade quase insignificante, em comparação, por exemplo, a Jerusalém, a cidade santa, a cidade de David.

       A Virgem de Nazaré reveste-se de esperança para nós. Não tem predicados que não estejam ao nosso alcance. Reunimos, com efeito, as mesmas condições para sermos chamados por Deus e para acolhermos em nós o Salvador de mundo. Ela ensina-nos a tornarmo-nos livres para amar, para acolher, para partir, para encontrar, para dar, para espalhar a alegria. Sem pompa nem vaidades vãs, sem arrogância nem prepotência. Simples. Parte. Corre. Onde é necessário ajudar é aí que é necessário ir e permanecer. Na visitação a Isabel, ou intercedendo pelos noivos de Canaã. Cada encontro é oportunidade para levar Deus e, com Deus, partilhar a alegria que não tem fim.

       Não segue com muitas coisas, que por certo atrasariam a viagem. Não leva um séquito de criados para se proteger e para carregarem as suas malas. É uma Mulher simples, do povo. Passa despercebida, como qualquer simples mortal. Provavelmente pediu ajuda a São José e a acompanhasse a casa de Isabel, uma cidade de Judá, Ain Karim, a 140 km de Nazaré. Deixa o que tem de deixar, por ora importa ajudar Isabel, depois pensará no Filho que carrega no Seu ventre.

       Não se faz rogada. Não precisa que lhe digam que pode ser prestável. Antes que Lhe peçam, já Ela está a ajudar e/ou a interceder. Já está a caminho. Pouco tempo teve para digerir a notícia que o Anjo Lhe deu. No Seu Sim, abre a humanidade à vinda da divindade, à vinda do Filho de Deus. Mas por ora não há tempo a perder. É necessário partir, é preciso ir, sair, correndo.

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       4 – A resposta de Maria, alimentada pela fé em Deus, pela confiança no Senhor, sintoniza-nos às maravilhas com que Deus manifesta o Seu amor por nós. A salvação não será primeiramente o que cada um de nós fizer, como conquista, ou usurpação. É de Deus a iniciativa, que Se dá, que Se entrega, que vem, que Se envolve com a humanidade. Precisa e quis precisar de nós. Em Maria encontra a humildade, a delicadeza, a abertura aos Seu planos salvíficos. Com o SIM de Maria, Deus inicia uma nova forma de Se relacionar connosco, vem em carne e osso, para ser Deus connosco, Um de nós. Já não distante. Nunca Juiz, mas Pai. Não de fora. Ou alheado do drama da história. É um Deus compassivo e misericordioso, cujas entranhas de Mãe e Pai se revoltam perante as trevas que nos impedem de ver os outros como irmãos.

       Deus não nos exige nada que não possamos fazer. E não exige menos que a nossa vida por inteiro. Maria responde com o que é, e predispõe a Sua vida para acolher Jesus e para O dar a todo o mundo. Será a mesma resposta de Jesus. Não Se Lhe exige sacrifícios, dando a entender que a salvação se conquistaria pelo mérito de cada um, mas entrega-Se a Deus com todo o Seu Corpo, a Sua vida por inteiro, fazendo com que a Sua vida espelhe a Misericórdia do Pai.

       A Epístola aos Hebreus fala-nos do Corpo de Cristo, como único e supremo sacrifício na obediência. «Não quiseste sacrifícios nem oblações, mas formaste-Me um corpo. Não Te agradaram holocaustos nem imolações pelo pecado. Então Eu disse: ‘Eis-Me aqui; no livro sagrado está escrito a meu respeito: Eu venho, ó Deus, para fazer a tua vontade’». O culto que chegará com a vinda de Cristo, é o culto da obediência até à morte e morte de Cruz. Ele oferece-Se a Si mesmo, de uma vez para sempre. Não oferece sacrifícios, exteriores, mas oferece-Se, dando a Sua vida por inteiro. Mostra-nos que o único caminho que nos leva à eternidade passa pelo amor, pela compaixão, passa por acolhermos Deus, dando-nos uns aos outros. Já nem precisamos de dizer que a salvação é um dom que se acolhe partilhando, dando Deus aos outros!

 

       5 – No alto da Cruz, Jesus confia-nos Maria por Mãe, para que A acolhamos em nossa casa, para que sejamos Casa de Oração e de Misericórdia uns para os outros. Procuremos imitá-l'A no Sim sem reservas, confiando, entregando-nos a Deus, indo ao encontro de todos os familiares e amigos, para lhes levar e lhes confiar a Alegria que se gera em nós, como discípulos missionários.

       Peçamos ao Senhor ajuda, sabedoria, discernimento: «Infundi, Senhor, a vossa graça em nossas almas, para que nós, que pela anunciação do Anjo conhecemos a encarnação de Cristo, vosso Filho, pela sua paixão e morte na cruz alcancemos a glória da ressurreição».

       A salvação está próxima, pressente-se a alegria no ventre de Maria, que nos traz e nos dá Jesus, sabendo de antemão que um dia Ele, o mesmo Jesus, nos dará Maria por Mãe.

 

Pe. Manuel Gonçalves

_______________________

Textos para a Eucaristia (C): Miq 5, 1-4a; Sl 79 (80); Hebr 10, 5-10; Lc 1, 39-45.

12.12.15

Alegrai-vos sempre no Senhor

mpgpadre

       1 – O terceiro Domingo do Advento é conhecido como da Alegria (Gaudete), tal é a LUZ que vem do Natal e que se anuncia cada vez com mais intensidade. A alegria tem muitas cores e muitas motivações, ainda que as expressões sejam idênticas: exuberância, sorriso, apaziguamento, conversação, proximidade, contágio. Como nos lembra Toltoi, as famílias alegres são todas iguais, mas cada uma sofre à sua maneira. A alegria gera comunicação e comunidade; a tristeza, sem mais, afasta, isola, atrofia, por culpa própria, por cansaço dos outros ou pelo desgaste do tempo.

       A alegria é possível para quem encontrou a paz, um sentido para vida, uma luz interior que não se apaga por maior que sejam as tempestades. Falta mais um domingo para o Natal. A proximidade espiritual (também cronológica) já não deixa margem para a dúvida: Deus está a chegar à minha e à tua vida. Deus vai nascer. Deus vai querer estar connosco. Ele vai querer para nós todo o bem. Ele está a chegar, porque sempre vem, porque sempre Se aproxima, porque sempre nos ama com amor de Mãe e de Pai, porque sempre Se dá, total e absolutamente, sem reservas nem condições. É Deus de Misericórdia, cujo ROSTO é Jesus, o Deus que Se faz Menino e que Se deixa embalar, tocando-nos com a Sua fragilidade de Menino, ternura de uma criança que acaba de nascer. As Mães ensinam-nos /dizem-nos a beleza dos filhos acabados de nascer. Já não há tempo a perder, não há tempo para nos distrairmos com outras coisas. Ele faz-Se anunciar. Já vem lá, arrumemos a casa, abramos as portas, arejemos os espaços, perfumemo-nos de alegria. O nosso coração já se dilata, queremos apressar a Sua chegada.

       Preparemo-nos para a festa. Ponhamos o melhor sorriso para O receber. Vistamo-nos de esperança. Quando um amigo, um familiar regressa, para uma ocasião festiva, logo começamos a imaginar a alegria que vamos experimentar, e já vivemos nesta antecipação, pois já estamos a viver com esta chegada certa.

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       2 – Enquanto nos preparamos para escutar o Evangelho, as leituras que o procedem falam-nos desta ALEGRIA no Senhor que vem, em Deus que nos ama, na salvação iminente.

       A profecia de Sofonias dá como certa a salvação e, por conseguinte, desafia todo o povo: «Clama jubilosamente, filha de Sião; solta brados de alegria, Israel. Exulta, rejubila de todo o coração, filha de Jerusalém... O Senhor teu Deus está no meio de ti, como poderoso salvador. Por causa de ti, Ele enche-Se de júbilo, renova-te com o seu amor, exulta de alegria por tua causa, como nos dias de festa».

       Deus alegra-Se connosco e por nós. Vem salvar-nos e a Sua alegria envolve-nos e compromete-nos. Pela mesma razão podemos e deveremos exultar de alegria porque Ele já está no meio de nós. E se Ele está connosco, e está por nós, nada nos poderá separar da felicidade que não tem fim. Estamos a caminho e experimentaremos a fragilidade da nossa existência. Mas se Deus é a garantia da nossa felicidade definitiva, se Ele segue connosco, os nossos caminhos são mais seguros e sabemos que, com maior ou menor esforço, sacrifício e dedicação, haveremos de chegar à meta prometida.

       Do mesmo jeito, São Paulo nos convoca: «Alegrai-vos sempre no Senhor. Novamente vos digo: alegrai-vos. Seja de todos conhecida a vossa bondade. O Senhor está próximo. Não vos inquieteis com coisa alguma; mas em todas as circunstâncias, apresentai os vossos pedidos diante de Deus, com orações, súplicas e ações de graças. E a paz de Deus, que está acima de toda a inteligência, guardará os vossos corações e os vossos pensamentos em Cristo Jesus».

       A alegria advém do amor de Deus e da certeza inabalável que Ele está por perto. Por isso Lhe poderemos suplicar, agradecer e colocar-nos diante d'Ele com o que somos, com as nossas alegrias e os nossos sonhos, com os nossos pecados e com todo o bem que deixamos passar através da nossa voz e da nossa vida.

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       3 – Como insinua São Paulo, a alegria que experimentamos em Cristo não é passageira, superficial, fingida ou para nos disfarçarmos diante dos outros. A alegria é indelével, vem de Deus, não está a prazo, não é acessória. É definitiva. É uma alegria que nos solidariza no bem, na verdade e na justiça. A alegria requer a partilha. Ninguém faz festa sozinho. Ninguém é feliz na solidão. A alegria também se constrói. É dom de Deus que nos obriga a condividir, a partilhar. Todo o dom só faz sentido e só é dom multiplicando-se pelos outros.

       O Evangelho aponta-nos o caminho a percorrer para alcançarmos a alegria que a salvação vem trazer-nos. Deus salva-nos contando com a nossa liberdade e a nossa cooperação. Como nos recorda Santo Agostinho: Deus criou-nos sem nós mas não nos salva sem nós. Não força, não Se impõe. Propõe-Se e expõe-Se. Em Jesus Cristo, Deus deixa-se embalar, deixa-Se amar. Mas também podemos fazer-Lhe mal, persegui-l'O, condená-l'O, pregá-l'O numa cruz. E sempre que o fizermos a um dos irmãos mais pequenos a Ele o faremos. Se tocamos as feridas de alguém, é de Cristo que cuidamos. Se agredimos alguém, é a Cristo que recusamos.

       As multidões seguem João Batista e mastigam as suas palavras. O Precursor faz saber que o Messias está a chegar e portanto é tempo de conversão e de mudança de vida. Pessoas de várias condições manifestam a vontade de se preparar: que devemos fazer?

       As respostas de João Batista são concretas: «Quem tiver duas túnicas reparta com quem não tem nenhuma; e quem tiver mantimentos faça o mesmo... Não exijais nada além do que vos foi prescrito... Não pratiqueis violência com ninguém nem denuncieis injustamente; e contentai-vos com o vosso soldo».

        Há mais alegria em dar do que em receber. A alegria também se deve procurar, deve ser uma opção de vida, ainda que por vezes a vida seja madrasta. Todas as pessoas e todos os grupos podem participar da alegria que nos vem de Deus, comprometendo-se a construir um mundo mais solidário, mais humano.

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       4 – São João Batista, que nos acompanha de perto, não se deixa confundir pelos elogios e aponta para Jesus, a verdadeira Alegria, o Messias de Deus: «Eu batizo-vos com água, mas está a chegar quem é mais forte do que eu, e eu não sou digno de desatar as correias das suas sandálias. Ele batizar-vos-á com o Espírito Santo e com o fogo. Tem na mão a pá para limpar a sua eira e recolherá o trigo no seu celeiro; a palha, porém, queimá-la-á num fogo que não se apaga».

       A proximidade do Deus que vem salvar-nos convoca-nos ao júbilo mas também ao compromisso. É bom que façamos frutificar a semente em nós plantada pela Palavra de Deus e demos fruto em abundância... A palha sem fruto só dará para queimar. O aviso de João Batista não é uma ameaça. Ele responsabiliza-nos. Não somos mais crianças irresponsáveis, ainda que devamos manter a mesma lisura, mas adultos envolvidos na transformação do mundo. Antecipamos a chegada de Deus pelo bem que promovemos. "Deus é o meu Salvador, tenho confiança e nada temo. O Senhor é a minha força e o meu louvor. Ele é a minha salvação... Cantai ao Senhor, porque Ele fez maravilhas, anunciai-as em toda a terra. Entoai cânticos de alegria, habitantes de Sião, porque é grande no meio de vós o Santo de Israel".

       Não estamos sozinhos. E isso é fonte de alegria. Ele segue connosco e faz-Se presente por todos os que nos acompanham no caminho. E isso apazigua-nos e dá-nos vitalidade para continuarmos a trabalhar por um mundo melhor e onde nos reconheçamos como irmãos.

 

Pe. Manuel Gonçalves

_____________________

Textos para a Eucaristia (C): Sof 3, 14-18a; Sl Is 12, 2-3. 4bcd. 5-6; Filip 4, 4-7; Lc 3, 10-18.

08.12.15

Pe. Diamantino: O dever de ser alegre, como Nossa Senhora

mpgpadre

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Reflexão preparada e distribuída na Solenidade da Imaculada Conceição 2015:

 

A sabedoria de quantos – e são tantos – os que souberam fazer das batalhas da vida um trampolim maior para alcançar uma felicidade profunda e duradoura advém, em grande parte, das pequenas alegrias que souberam semear e colher, nas e das diversas situações do seu quotidiano. Um dos exemplos mais evidentes disso mesmo é o da mãe de Jesus, a quem tão carinhosamente invocamos como Senhora da Conceição.

 

Precisamente desde o momento da conceção de Cristo, no seu seio, que conhecemos a sua vida como um contínuo e constante hino à alegria. A mulher que, de entre todas as do seu tempo, tenha sido talvez a mais incompreendida, a mais criticada e a mais desprezada, tornou-se para uma multidão de pessoas e um sem número de gerações a mulher mais admirada, mais seguida e mais amada. Tudo isto pela força inaudita de uma alegria inesgotável que transcorre do seu sentir e que transparece no seu agir.

 

Em Maria conseguimos ver refletido o contentamento inédito que nos podem trazer as mais simples realidades do dia-a-dia, que também esteve presente na vida d’Ela, em muito semelhante à quotidianidade da nossa própria vida. Por isso pudemos, até hoje, e podemos, a partir de agora, compreender a incomensurável alegria de chegar a diferentes lugares, ou a tantos corações que precisam da nossa presença, como outrora foi necessária a chegada de Maria à vida de tanta gente, e como hoje continua a ser desejada a Sua visita à vida de cada um de nós. De igual modo, experimenta Ela a alegria de partir, e ensina-nos a fazer o mesmo, e impele-nos a partir para destinos humanos, e desafia-nos a ir, mesmo que o caminho seja de calvário. 

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A existência alegre de Maria denota-se também na sua felicidade em receber, tanto aquilo que vem de Deus, e que por Ela toda a humanidade recebeu, como o muito que o mundo e as vicissitudes da sua vida terrena lhe puderam oferecer. É esta alegria que ela nos ensina também a experimentar. E para que muitos recebam é indispensável que outros tantos tenham alegria de dar. Quanto a isso, também Nossa Senhora, com a doação gratuita e generosa de si mesma, nos ensina a maneira quanta felicidade nos chega quando damos e nos damos. 

 

Também o modo de atuar da Mãe do Céu nos testemunha a necessidade alegre de falar, sobretudo quando se fala de Deus e as nossas palavras respiram Evangelho e exalam o perfume da paz e do amor, do respeito e da compreensão. Esta é a mesma alegria que cada um é convidado a experimentar quando se torna oportuno e necessário calar, porque as palavras não conseguem dizer mais que o silêncio, ou simplesmente porque se impõe o dever e a necessidade de escutar, como tão bem soube fazer Maria de Nazaré.

 

É ainda Ela, que nos faz interiorizar a alegria de estarmos juntos. É importante que por Ela estejamos reunidos. Mas é sobretudo urgente que através d’Ela estejamos também muito unidos. Esta união, porem, depende substancialmente da alegria de estarmos sozinhos, numa intimidade muito estreita com Deus e numa sintonia bastante perfeita com aquela que nos ensina o valor do recolhimento, da oração e do encontro fecundo com Deus. 

 

No limiar do jubileu da misericórdia, não conseguimos deixar de olhar para Nossa Senhora como aquela de muito perto experimenta a alegria do perdão. Não porque precisasse de ser perdoada, mas porque nos dá lições de como é grande a alegria e inextinguível a felicidade de quem sabe perdoar sempre e para sempre.

 

Pe. Diamantino Duarte

Pregador da Novena e da Festa de Nossa Senhora da Conceição, 2015

06.12.15

Uma voz clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor

mpgpadre

       1 – O dia faz-se anunciar pela claridade que desponta no horizonte. Pouco a pouco a luz permite-nos ver mais além e os contornos dos objetos e das pessoas fazem-nos avançar com mais segurança. À noite todos os gatos são pardos e podem agigantar-se as ameaças e facilmente sermos surpreendidos por aqueles que nos roubam o sonho. A luz permite-nos discernir melhor e caminhar mais confiantes. É de LUZ que nos fala o Advento e é LUZ que o Natal nos trará em abundância. Enquanto celebramos a ESPERA, em expectativa vigilante, já experimentamos a alegria do encontro certo com Jesus. Não é uma espera banal, passageira, indiferente. É uma espera prometida e com sinais concretos que se efetivará. É Deus que promete e não promete menos que Ele mesmo no meio de nós, para nos redimir, para nos elevar. Comunga a nossa vida, para que O comunguemos, partilhando da Sua vida.

       Neste segundo domingo do Advento, surge a inevitável figura de João Batista, interpretando e concretizando as palavras de Isaías. João vem antes ANUNCIAR e PREPARAR o caminho para o Messias, o Emanuel, o Deus connosco. Para que Deus não passe despercebido, o ENVIO de João, como Precursor, adocicando o nosso coração para reconhecermos e acolhermos o Filho de Deus. Quando queremos pedir alguma coisa ao Pai, recorremos à Mãe ou a um irmão para que interceda e amacie o coração do Pai, para que nos conceda o que lhe pedimos. João vem abrir, vem rasgar, vem despertar os nossos corações e as nossas vidas, vem inquietar-nos e despertar-nos. São horas de acordar e levantar. Que o DIA não comece a meio ou se inicie sem nós.

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       2 – A salvação de Deus está próxima. Tão próxima que até lhe podemos tocar. Não vem descarnada, como aragem que passa sem se fazer sentir, ainda que na leve brisa se possa encontrar Deus. A salvação tem um nome e um rosto: Jesus Cristo, o Filho de Deus. É o Rosto da Misericórdia do Pai. É um tempo novo e um REINO novo, de justiça e verdade, de alegria, de festa e de paz, é um reino sem trono nem coroa nem pompa nem armadura. É um reino de amor, feito de perdão e de serviço.

       João Batista vai mostrando como esse Reino é diferente: não exige qualificações nem se rege pelas aparências, não necessita de força ou de armas. O que precisa mesmo é de corações convertidos, dispostos a amar, a servir com alegria, corações dóceis para visualizar o Amor de Deus; pessoas que abdiquem da opacidade para transparecerem a graça que vem de Deus.

       Há diferentes reinos e cargos revestidos de poder. "No décimo quinto ano do reinado do imperador Tibério, quando Pôncio Pilatos era governador da Judeia, Herodes tetrarca da Galileia, seu irmão Filipe tetrarca da região da Itureia e Traconítide e Lisânias tetrarca de Abilene, no pontificado de Anás e Caifás...".

       Deus tem hora marcada connosco. Vem a todas as horas e em todo o tempo. Mas marca encontro connosco. Por isso, em Jesus Cristo, torna-Se pessoa, como nós. Deixa-Se ver. Deixa-Se tocar. Deixa-Se encontrar e até matar. Podemos pegar-lhe ao colo. Ou podemos pregá-lo numa Cruz. O poder de Deus é tanto que Se reduz à nossa dimensão, para não estar acima, ou à distância, ou incólume à nossa condição humana. Precisa de um lugar, uma manjedoura, um estábulo, e sobretudo quer precisar de nós. Mendiga o nosso amor.

       A palavra de Deus é dirigida a João, filho de Zacarias e de Isabel. No deserto. Todos os lugares são bons para Deus nos falar, mas por vezes necessitamos do silêncio e que as coisas e as pressas da vida não nos distraiam nem nos deixem confundir outras vozes com a voz de Deus.

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       3 – Retenhamos os verbos, disponibilizados por Isaías, daquele que anuncia o VERBO de Deus. Clamar... Preparar... Endireitar... Altear... Abater... Endireitar... Aplanar... e VER. Ver a salvação de Deus. É para este VER que a palavra de Deus nos faz ouvintes. É para este VER que João Batista percorre toda a zona do Jordão, pregando um batismo de penitência para a remissão dos pecados.

       «Uma voz clama no deserto: ‘Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas. Sejam alteados todos os vales e abatidos os montes e as colinas; endireitem-se os caminhos tortuosos e aplanem-se as veredas escarpadas; e toda a criatura verá a salvação de Deus’».

       Não podemos ficar mudos diante das injustiças. É preciso, também hoje, clamar, até que a voz nos doa. Preparemo-nos. Para recebermos bem preparamos o espaço mas sobretudo o coração e a alegria para fazer com que os convidados, aqueles que chegam, se sintam em casa. Endireitar os nossos caminhos e o nosso olhar para reconhecermos nos outros a presença de Cristo e deles cuidarmos como irmãos. Altear a nossa vida quando existem obstáculos que nos impedem de ver os outros, procurando-os e indo ao seu encontro para ajudar. Abater o orgulho, a inveja e os ódios que nos afastam dos outros, ensoberbecendo-nos, isolando-nos, pondo-nos num pedestal que cria distâncias e nos impede de sentir o calor e o odor dos que caminham connosco. Endireitar, aplanar, para que aqueles que querem vir até nós possam alcançar-nos facilmente.

       Os verbos põem-nos em movimento. A vinda de João compromete-nos, mobiliza-nos, faz-nos descruzar os braços e destapar o coração, arejar a mente e faz-nos sair do nosso espaço de conforto. O mais importante da vida, ou pelo menos, aquilo a que damos mais valor, é o que nos custa, nos sai do corpo, e nos faz transpirar. É esta a pregação de João: sair, compor o chão, alisar a terra, investir o melhor de nós, para deixarmos passar Aquele que vem de Deus, e arranjar espaço para que a Palavra tenha lugar em nós e encontre a terra trabalhada e assim a semente possa morrer como semente e nascer como planta, para vir a dar fruto em abundância.

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       4 – A oração de coleta faz sinfonia e sintonia com o desafio do Precursor. "Concedei, Deus omnipotente e misericordioso, que os cuidados deste mundo não sejam obstáculo para caminharmos generosamente ao encontro de Cristo, mas que a sabedoria do alto nos leve a participar no esplendor da sua glória".

       A convocação é para enfrentar os obstáculos, as dificuldades, os medos e as hesitações. O tempo que chega é definitivamente tempo de Deus, que nos é dado para nos aproximarmos uns dos outros e em Jesus Cristo edificarmos uma verdadeira fraternidade.

       O profeta faz ecoar as promessas do Deus que vem. É já tempo de deixar a veste de luto e de aflição e revestir o manto da justiça. O nome que Deus nos dá para sempre: «Paz da justiça e glória da piedade».

       O clamor do Profeta diante da cidade: «Levanta-te, Jerusalém, sobe ao alto e olha para o Oriente: vê os teus filhos reunidos desde o Poente ao Nascente, por ordem do Deus Santo. É Deus que os reconduz a ti, trazidos em triunfo, como filhos de reis. Deus decidiu abater todos os altos montes e as colinas seculares e encher os vales, para se aplanar a terra, a fim de que Israel possa caminhar em segurança… Deus conduzirá Israel na alegria, à luz da sua glória, com a misericórdia e a justiça que d’Ele procedem».

       Baruc ajuda-nos a compreender que mais que abatermos os montes e altearmos os vales, é Deus que o fará. Mas conta connosco. O Precursor, João Batista desafia a nossa conversão para reconhecermos e acolhermos o Messias que vai chegar. Preparamo-nos para Ele chegar. Antes, Deus prepara tudo para que nós possamos caminhar em segurança e chegarmos à Sua glória.

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       5 – O Advento não é um tempo estático, como víamos, é um tempo de ESPERA ativa. O que lá vem, melhor, Quem vem lá, exige que nos preparemos e trabalhemos o mundo em que vivemos. O Apóstolo Paulo faz da sua missiva à comunidade uma oração que interpela.

        «Peço sempre com alegria por todos vós, recordando-me da parte que tomastes na causa do Evangelho, desde o primeiro dia até ao presente. Tenho plena confiança de que Aquele que começou em vós tão boa obra há de levá-la a bom termo até ao dia de Cristo Jesus. Por isso Lhe peço que a vossa caridade cresça cada vez mais em ciência e discernimento, para que possais distinguir o que é melhor e vos torneis puros e irrepreensíveis para o dia de Cristo».

       Deus dá início à obra da salvação. Connosco. Estamos dispostos a deixarmo-nos conduzir por Ele?

 

Pe. Manuel Gonçalves

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Textos para a Eucaristia (C): Bar 5, 1-9; Sl 125 (126); Filip 1, 4-6. 8-11; Lc 3, 1-6.

02.12.15

Leituras: D. ANTÓNIO COUTO - O LIVRO DOS SALMOS

mpgpadre

D. ANTÓNIO COUTO (2015). O Livro dos Salmos. Cucujães: Editorial Missões. 120 páginas.

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       D. António José da Rocha Couto é um reconhecido estudioso da Bíblia. O Bispo de Lamego não deixa de ler, meditar, estudar, interessar-se por temáticas teológicas e concretamente bíblicas.

       Cada semana é possível acompanhar a reflexão/estudo de D. António às Leituras de cada domingo, especialmente do Evangelho, no seu blogue MESA DE PALAVRAS. Por outro lado, a publicação em livro destas pistas de reflexão aprofundada da palavra de Deus para o ciclo de três anos (até ao momento publicados os Domingos do ano A e do Ano B; aguarda-se a publicação do ano C; em simultâneo e como complemento, a introdução ao Evangelho de São Mateus e ao Evangelho de São Marcos, aguardando-se o estudo/introdução a São Lucas.

        Entretanto, D. António Couto coloca em nossas mãos este estudo sobre o Livro dos 150 Salmos. Sabendo-se que o conjunto dos Salmos já formaria um livro e daria para vários estudos, D. António entendeu fixar-se em alguns Salmos mais significativos.

       Os Salmos são a resposta que o Homem dá a Deus. De Deus nos vem a Palavra e a Sabedoria, a Graça e a Salvação. Respondemos com louvor e com súplica, reconhecendo a grandeza de Deus e a nossa pequenez, a misericórdia de Deus e o nosso pecado. Ainda que as nossas palavras sejam grito e protesto, encontram um olhar, um coração que escuta, que envolve, que ama, que perdoa e nos redime.

       "Os Salmos - diz D. António - são para cantar com toda a intensidade, ao som de instrumentos musicais, para entregarmos a Deus a nossa alegria, mas também o ódio que nos habita. Rezar é entregar tudo a Deus. As coisas belas, claro. Mas também o lixo, o mato e as silvas que nos habitam. A oração dos Salmos, recitada com toda a intensidade, depura e decanta a nossa vida, de Deus recebida e a Deus oferecida, por Deus agraciada e transformada, transfigurada".

       Mais à frente, D. António reforça a ideia: "Dizer «Salmos» ou «Saltério» é dizer intensidade, vida, energia, canto, música, alegria, prazer, festa e ainda que, por vezes, dorida".

       Um pequena história recolhida por D. António Couto, sobre o mistério do homem:

A história do insensato do Rabbi Hanoch: «Era uma vez um homem insensato e, por isso, era chamado golem. Quando se levantava de manhã tinha de se haver com o difícil problema de encontrar as roupas para vestir, de tal modo que à noite, só de pensar nisso, já tinha medo de se deitar. Mas uma noite encheu-se de coragem, pegou num lápis e numa folha de papel, e, enquanto se despia, tomou nota do lugar onde poisava cada peça de roupa. Na manhã seguinte, levantou-se todo contente e pegou na sua lista: o barrete ali, e enfiou.o na cabeça, as calças acolá, e vestiu-as; a assim por diante até ter vestido tudo. "Sim, mas eu, onde estou eu?", perguntou-se a si mesmo, "onde estou eu?". Em vão procurou e voltou a procurar. Não conseguiu encontrar-se. E assim sucede também connosco, concluiu o Rabbi». E, conclui D. António: "Só sabemos onde estamos quando é Deus a formular a pergunta e a fazer-nos encontrar a resposta".

       Nesta obra de D. António Couto, O Livro dos Salmos, é possível perceber um pouco mais sobre os Salmos, a sua origem, significado, e rezá-los com mais intensidade. É um trabalho a utilizar por estudantes e por especialistas, mas também percep´tivel para quem quiser aprofundar os seus conhecimentos dobre a Sagrada Escritura, sempre com o propósito de rezar melhor e comprometer-se com a oração, fazendo que o Bem que recebemos de Deus, se multiplique na partilha com os irmãos.

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