1 – Deus chama-nos para nos enviar. A primeira e mais original vocação do cristão é a santidade, isto é, a disponibilidade para acolher Deus, deixando-se transformar pela Sua graça, identificando-se progressivamente com Jesus Cristo e com o seu jeito de viver, de amar, de perdoar, de Se assumir irmão, sobretudo dos mais frágeis.
Jesus chama os apóstolos e envia-os. Se, por momentos, eles entendem que o seguimento é um privilégio, com benefícios materiais, sociais ou políticos, cedo vão perceber que seguir Jesus é uma missão da qual poderá advir a perseguição e a própria morte.
Partem de mãos vazias. Como nos tem lembrado o nosso Bispo, D. António Couto, de mãos vazias como as de Deus, que tudo nos dá; a bênção faz-se com as mãos abertas e estendidas e hão de corresponder às nossas mãos abertas para receber os dons de Deus, mantendo-as abertas para repartir pelos irmãos. "Ordenou-lhes que nada levassem para o caminho, a não ser o bastão: nem pão, nem alforge, nem dinheiro; que fossem calçados com sandálias, e não levassem duas túnicas". O importante mesmo é a mensagem que levam. Quanto mais leves mais disponíveis e mais próximos das pessoas. O que levamos pesa-nos, atrasa-nos o andar, afasta-nos dos outros, cria medo de perder o que temos, faz-nos desconfiar dos outros e das suas intenções…
Os apóstolos – hoje somos nós – não estão sós. Jesus envia-os dois a dois. Jesus vai com eles, vai connosco através do outro e da comunidade. Quando dois ou três vos reunirdes em Meu nome, Eu estarei no MEIO de vós (cf. Mt 18, 20). Sozinhos perder-nos-emos. Desanimaremos rapidamente, perderemos a direção, duvidaremos facilmente sobre o caminho que seguimos. O nosso GPS é Jesus, que segue connosco através da comunidade, a Igreja, que é o Seu Corpo.
2 – O discípulo será sempre discípulo. Para os cristãos o Mestre é Jesus. Quem se assumir como mestre deixa de ser cristão para ser outra coisa qualquer. Fixando-nos nos dois termos "discípulo" e "apóstolo", diríamos que o cristão terá que ser sempre discípulo mesmo quando é apóstolo. Por sua vez, o apóstolo, para se manter fiel a Jesus Cristo, será sempre discípulo, aluno, aprendiz. Por outras palavras, e assumindo a linguagem que se foi aprofundando nas Conferências Gerais do Episcopado da América Latina (CELAM), a junção da condição de discípulo com a de missionário. Daí que o cristão, todo o cristão, seja discípulo missionário. Não podemos ser seguidores de Jesus se não para O vivermos e O anunciarmos ao mundo inteiro.
Jesus dá-lhes o poder sobre os espíritos impuros, com o seguinte mandato: «Quando entrardes em alguma casa, ficai nela até partirdes dali. E se não fordes recebidos em alguma localidade, se os habitantes não vos ouvirem, ao sair de lá, sacudi o pó dos vossos pés como testemunho contra eles».
É Jesus quem os envia. O mandato é de Cristo. A mensagem que hão de anunciar – a proximidade do reino, o arrependimento e a fé no Evangelho (cf. Mc 1, 14-15) – é de Cristo. O risco dos discípulos é tornarem-se mestres desligando-se do verdadeiro Mestre, de Jesus Cristo, e em vez de anunciarem o Evangelho, anunciarem-se a si mesmos. E assim também o perigo da Igreja – constituída por todos os discípulos de Jesus –, de se debruçar sobre si mesma, protegendo-se, protegendo os privilégios que adquiriu. Desde o início do seu pontificado, Francisco tem-se referido à doença de uma Igreja ensimesmada, autorreferencial, voltada para o interior onde já só se encontra uma ovelha. Ao invés, a Igreja deve sair, à procura das 99 ovelhas que se tresmalharam, e anunciar Jesus. Como a Lua reflete a luz do Sol, assim a Igreja tem que refletir a Luz de Cristo.
"Os Apóstolos partiram e pregaram o arrependimento, expulsaram muitos demónios, ungiram com óleo muitos doentes e curaram-nos" e regressam para junto de Jesus, como veremos no próximo Domingo. O ponto de partida é Jesus. O ponto de encontro dos cristãos, dos discípulos missionários, é Jesus. Ele é o ponto de convergência e de irradiação da salvação.
3 – A oração de coleta deste domingo recolhe e sublinha a palavra proclamada: "Senhor nosso Deus, que mostrais aos errantes a luz da vossa verdade para poderem voltar ao bom caminho, concedei a quantos se declaram cristãos que, rejeitando tudo o que é indigno deste nome, sigam fielmente as exigências da sua fé".
A oração torna-nos mais íntimos de Deus, que nos envia aos nossos semelhantes. A fé salva-nos, mas aferimos da sua autenticidade quando nos tornamos irmãos e cuidamos uns dos outros.
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Textos para a Eucaristia (B): Amós 7, 12-15; Sal 84 (85); Ef 1, 3-14; Mc 6, 7-13.
REFLEXÃO DOMINICAL COMPLETA na página da Paróquia de Tabuaço
e no nosso blogue CARITAS IN VERITATE.