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Escolhas & Percursos

...espaço de discussão, de formação, de cultura, de curiosidades, de interacção. Poderemos estar mais próximos. Deus seja a nossa Esperança e a nossa Alegria...

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29.03.14

Os que não veem ficarão a ver

mpgpadre

       1 –  Jesus é a ÁGUA VIVA, que sacia a nossa busca de sentido (3.º Domingo da Quaresma). É a LUZ que ilumina o nosso peregrinar, o bom PASTOR que nos conduz às águas calmas, a pastagens verdejantes (Sl); destrói a nossa cegueira (Evangelho), desperta o nosso coração para reconhecermos os outros como irmãos. É a RESSURREIÇÃO e a VIDA. Faz-nos passar da morte à vida, ressuscitando-nos com o Seu amor e com a Sua entrega (próximos Domingos).

       2 – A palavra de Deus proposta para este 4.º Domingo da Quaresma – Laetare – incentiva a ver além das aparências (1.ª Leitura), a iluminar a nossa visão com a luz da fé, para dessa forma abandonarmos as trevas e as obras do mal (2.ª Leitura), vendo a vida e os outros com o olhar de Jesus, Ele ajuda-nos a ver com amor e bondade (Evangelho), levando-nos pela mão, como o Pastor (Salmo).

 

       3 – Samuel é enviado a Belém, para ungir um descendente de Jessé. Ele será o novo Rei de Israel. O profeta deixa-se levar pelas aparências e de cada vez que um dos filhos de Jessé lhe é apresentado ele tem a certeza que será o escolhido de Deus. Samuel repara na beleza, na estatura, na robustez, ou seja, nos aspetos que são visíveis ao primeiro olhar. O escolhido de Deus não está visível, é aquele que não faz parte da contagem, um simples pastor, insignificante, criança ainda, franzino, no qual não se divisa futuro. «Deus não vê como o homem; o homem olha às aparências, o Senhor vê o coração».

       Chegada a plenitude dos tempos, Jesus será o novo David, o verdadeiro Pastor de Israel, cuja fragilidade será a salvação da humanidade inteira. Julgar-nos-á pelo amor!

       4 – Com a Sua morte e ressurreição, Jesus introduz-nos numa nova criação. Pela água e pelo Espírito Santo passamos da morte à vida, das trevas à luz. Se somos filhos da luz e do dia, pratiquemos o que é justo e agradável ao Senhor do dia e da noite. O nosso compromisso com os outros tem a sua origem na gratuidade do amor de Deus.

       "Outrora vós éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor. Vivei como filhos da luz, porque o fruto da luz é a bondade, a justiça e a verdade. Procurai sempre o que mais agrada ao Senhor. Não tomeis parte nas obras das trevas, que nada trazem de bom... «Desperta, tu que dormes; levanta-te do meio dos mortos e Cristo brilhará sobre ti».

       5 – No encontro de hoje, Jesus faz-Se caminho e luz para aquele cego de nascença. Adentra-se na sua vida. A Sua mensagem não é um discurso genérico à humanidade, é um encontro com pessoas concretas, de carne e osso, materializa-se em gestos de bondade e misericórdia. A Encarnação "localiza" o amor de Deus num tempo e num lugar.

       Com a cura do cego de nascença, Jesus mostra também que a Sua missão é devolver-nos a vista, libertando-nos das cadeias injustas, das trevas que dificultam a nossa relação com os outros.

       Pelo caminho, exige-se a nossa cooperação. Não somos marionetas nas mãos de Deus. Ele cria-nos livres para amar. Liberta-nos pela verdade e pela doação da Sua própria vida. O Seu amor desafia sem forçar. Será sempre uma proposta de vida nova.

       É no mundo que encontramos, pelo Espírito Santo, a redenção de Cristo. Ele utiliza ferramentas que estão no mundo. Com efeito, Jesus "cuspiu em terra, fez com a saliva um pouco de lodo e ungiu os olhos do cego". Vem depois a proposta para ficar curado: «Vai lavar-te à piscina de Siloé». Ele fez como Jesus lhe ordenou, lavou-se e ficou a ver. Purificados na água e no Espírito também nós ficamos a ver...

       Mais cego é quem não quer ver. Neste ditado popular encontrámos a resistência à Palavra de Deus por parte dos fariseus de ontem e de hoje. A salvação é colocada ao nosso alcance por Jesus, mas por vezes ainda arranjamos umas desculpas para não ver, para não fazer, para não nos comprometermos.


Textos para a Eucaristia (ano A): 1 Sam 16, 1-13; Sl 22 (23); Ef 5, 8-14; Jo 9, 1-41.

 

28.03.14

LEITURAS: Giulio Viviani - Porque Jejuamos?

mpgpadre

GIULIO VIVIANI. Porque Jejuamos? A prática do jejum e da abstinência na Igreja de hoje. Paulus Editora. Lisboa 2013. 112 páginas.

       Um livro é um pouco como as pessoas, não se mede aos palmos. Este é um pequeno livro mas muito curioso, abordando o tema do jejum e da abstinência (de carne) de uma forma simples, fundamentada, acessível, de fácil compreensão. Parte do texto de Isaías, que dá o título ao original italiano: «Para quê jejuar, se Vós não fazeis caso? Para quê humilhar-nos, se não prestais atenção?» (Is 58, 3). A resposta do Senhor é elucidativa: "É porque no dia do vosso jejum só cuidais dos vossos negócios, e oprimis todos os vossos empregados. Jejuais entre rixas e disputas, dando bofetadas sem dó nem piedade... O jejum que me agrada é este: libertar os que foram presos injustamente, livrá-los do jugo que levam às costas, pôr em liberdade os oprimidos, quebrar toda a espécie de opressão, repartir o teu pão com os esfomeados, dar abrigo aos infelizes sem casa, atender e vestir os nus e não desprezar o teu irmão. Então, a tua luz surgirá como a aurora, e as tuas feridas não tardarão a cicatrizar-se. A tua justiça irá à tua frente, e a glória do Senhor atrás de ti" (Is 58, 1-12).

       Esta crítica estará também no discurso de Jesus quando se refere a algumas práticas exteriores, rituais, que, embora respeitando a Lei, não aproxima as pessoas. O melhor jejum será sempre a bondade, a misericórdia, o serviço ao irmão. Ou dito de outra maneira, o jejum e a prática da abstinência (bem assim a oração e a esmola) deverão ser acompanhadas por uma conversão efetiva a Deus e de Deus para os irmãos.

       O autor fundamenta a relevância do Jejum e da Abstinência na Sagrada Escritura, na Tradição da Igreja, no Magistério papal. Desde logo o jejum de Jesus, durante 40 dias e 40 noites, no deserto, antes de iniciar a vida pública. Por outro a resposta dada alguns fariseus quando ao facto de os discípulos não jejuarem. A resposta é evidente: não jejuam por agora, enquanto o noivo está com eles, quando o noivo lhes for tirado então jejuarão (cf. Mc 2, 18-22).

       Alguns documentos importantes revisitados pelo autor: Constituição Apostólica Paenitemini, do Papa Paulo VI, Catecismo da Igreja Católica, Código de Direito Canónico, Normas para o jejum e abstinência, da Conferência Episcopal Portuguesa (28 de janeiro de 1985), e Nota Pastoral O sentido cristão do jejum e da abstinência, da Conferência Episcopal Italiana (4 de outubro de 1994).

       Na atualidade verifica-se, de algum modo, uma certa indiferença em relação a estas práticas, que se acentuam sobretudo na Quaresma. Por um lado, a própria Igreja mitigou as orientações, para sublinhar que a salvação era dom de Deus, afastando de novo algumas conceções farisaicas: a salvação resultaria sobretudo do esforço humano e do sacrifício, das práticas instituídas. A Igreja, fiel a Jesus, quis e quer, que as práticas exteriores, do jejum, oração e esmola, seja sobretudo um sinal de conversão, de adesão à vontade de Deus, de mudança efetiva na vida pessoa, familiar, comunitária, sejam oportunidades na Quaresma mas para se estenderem a todo o ano. Por outro lado, o Jejum e a abstinência não podem ser separadas, nunca, do serviço concreto ao próximo. Não se jejua hoje para amanhã comer mais, ou se poupa hoje para amanhã gastar mais, mas que a poupança, no jejum e abstinência possam reverter a favor dos mais necessitados. Aliás, estas práticas visam fazer-nos sensibilizar para as carências de outras, que não têm que comer, que vestir, não têm o mínimo necessário para sobreviver com dignidade.

       Um dos aspetos cuja reflexão me surpreendeu anda à volta da ABSTINÊNCIA e concretamente de CARNE. Obviamente, e o documento da Conferência Episcopal Portuguesa é claro, mas também outras intervenções do magistério episcopal e papal, a abstinência poderá ser de um alimento ou algo que nos agrade muito: do tabaco, de café, de andar de carro, de doces. Cada família, comunidade, ou cada região, poderá refletir e propor um jejum e/ou abstinência que seja sinal para aquela realidade. No entanto, a Abstinência de Carne poderá ser um sinal com raízes muito significativas.

       Em Sexta-feira Santa, Jesus ofereceu a Sua Carne por nós. A abstinência e o jejum e a oração e a esmola, são práticas pascais, para melhor nos associarem à paixão redentora de Jesus. Daí se recomende a abstinência em todas as sextas-feiras, especialmente na Quaresma. Configurados à oferenda de Jesus, em Sexta-feira só deveríamos COMER a CARNE de Jesus e não outra carne. Belíssimo. Nunca tinha encontrado uma explicação tão justa e luminosa como esta. Até o jejum eucarístico (uma hora antes de comungar) poderá aqui encontrar uma explicação válida: não misturar o ALIMENTO com outros alimentos, valorizando o verdadeiro Pão da Vida.

       Outro argumento, igualmente preponderante, o facto da abstinência de carne poder ser um SINAL cristão no mundo atual. A abstinência pode adquirir outras modalidades, mas havendo uma comum a todos os cristãos e a todas as comunidades funcionará melhor como sinal. Nas cantinas da escola, ou nos restaurantes, há uma alimentação própria para vegetarianos, para judeus. Os muçulmanos sinalizam o Ramadão em público... então por que não os cristãos proporem o SINAL, não comendo carne à sexta-feira, oportunidade para sublinharem as razões da sua fé.

       Obviamente que esta prática não recusa a abstinência de outros alimentos ou situações, a nível pessoal, familiar e/ou comunitário. Mas um SINAL comum dos cristãos seria bem vindo. Parece que só os sinais dos cristãos desaparecem, sem que ninguém se importe com isso. A fundamentação, contudo, está na identificação com Jesus Cristo e com o mistério da Sua morte e ressurreição.

       Diga-se também que o não comer carne não significa que se deva comer peixe... O autor conta uma pequena história em que uma senhora o terá abordado para dizer que as leis da Igreja eram um disparate pois obrigavam a comer peixe nas sextas-feiras da Quaresma, quando o peixe era uma comida cara, uma comida para ricos, não levando em conta as pessoas com menos recursos. Em nenhum documento da Igreja se diz que a carne deva ser substituída por peixe. Hoje há muitos alimentos confeccionáveis que não exigem carne. Leite, ovos, queijo não entram na "proibição"/ recomendação de não se comer carne. E portanto será fácil preparar refeições sem carne.

       A abstinência é recomendada a partir dos 14 anos. O Jejum, a partir dos 21 anos, e em Portugal a partir dos 18 anos, e até aos 60 anos de idade. Dispensadas estão as pessoas doentes, as mulheres a amamentar, ou outras razões que justifiquem a dispensa. As crianças, sobretudo em idade de catequese, e as pessoas com 60 anos ou mais, podem também jejuar. A indicação para todos é que não ponha em causa a saúde da pessoa que jejua.

       Vale a pena uma leitura atenta e descontraída deste pequeno livro. 112 páginas, com o tamanho de um tablet de 7''.

27.03.14

LEITURAS: Gutiérrez e Müller - Ao lado dos pobres

mpgpadre

GUSTAVO GUTIÉRREZ e GERHARD LUDWIG MÜLLER. Ao lado dos Pobres. A Teologia da Libertação é uma Teologia da Igreja. Paulinas Editora. Prior Velho 2014. 208 páginas.

       Com a eleição do então Cardeal Jorge Mario Bergoglio, em 13 de março de 2013, escolhendo o nome de Francisco, em homenagem a Francisco de Assis, colocando o acento tónico na Igreja pobre e dos pobres, a Teologia da Libertação ganhou nova visibilidade. Longe vão os tempos em que a Teologia da Libertação esteve sob suspeita, sendo acusada, por ignorância e preconceito, de uma teologia marxista, partindo da análise socioeconómica, na persecução do mesmo objetivo da luta de classes.

       Desde logo, no centro da Teologia da Libertação, cuja paternidade tem um rosto de fidelidade à Igreja e ao Magistério, e fidelidade e compromisso com os pobres do Peru, sua terra natal, englobando toda a América Latina e Caribe, a opção preferencial pelos pobres, expressão acarinhada pelos Bispos locais em diversas Assembleias, é uma opção que decorre do amor gratuito e misericordioso de Deus pelos pobres, não pela bondade dos mesmos. Em Jesus, Deus que encarna e Se "localiza", os pobres têm lugar à mesa, hão de ser os primeiros a ser servidos. A Teologia da Libertação é verdadeira teologia, parte de Deus, do Evangelho, acolhe o magistério eclesial, colocando o enfoque precisamente na opção pelos pobres, não como adenda, mas como compromisso irrenunciável. Por outro lado, mesmo servindo-se das ciências humanas e sociais, da análise socioeconómica, não visa, como no marxismo, a troca de uma classe social por outra, mas a dignidade da pessoa humana, de todas as pessoas. A economia de mercado, a globalização da economia, na maioria das vezes não levou a melhorias da vida da maioria, mas sobretudo a abertura dos mercados emergentes para obrigar o escoamento dos produtos das nações mais ricas.

       Vê-se como o autor - não renunciando ao enfoque próprio da Teologia da Libertação, mostrando com clareza que toda a teologia tem em conta a particularidade, a começar pelo próprio Jesus, judeu de nascimento - mantém uma pose de grande humildade e abertura, explicando uma ou outra vez, sublinhando que o mais importância nem é a relevância da Teologia da Libertação, mas o serviço aos mais pobres.

       O Papa Francisco tem precisamente sublinhado como a Igreja deverá ir às periferias geográficas e sobretudo existenciais, tendo vindo também ele de uma periferia.

       A reflexão resultante do Concílio Vaticano II, sobretudo com a Constituição Gaudium et Spes, com a abertura da Igreja ao mundo e a necessidade de uma leitura atenta e atual aos sinais dos tempos, é precisamente berço para o nascimento da Teologia da Libertação, que procura ler e responder aos sinais de uma América Latina pobre, empobrecida, periférica. Gustavo Gutiérrez não se deixou enredar em polémicas e respondeu sempre com abertura às estruturas da Igreja, nomeadamente perante a Congregação para a Doutrina da Fé, com o então Cardeal Ratzinger, como o próprio [Ratzinger] a empenhar-se pessoalmente no diálogo frutuoso com o pai da Teologia da Libertação, acolhendo a riqueza deste património, cuidando para minorar os riscos de desvio e apropriação da Teologia da Libertação por algum regime ditatorial.

       Curiosamente, o parceiro desta publicação é o atual Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Cardeal Gerhard Ludwig Müller (feito Cardeal no dia 21 de fevereiro de 2014, pelo Papa Francisco). Outra curiosidade, é que foi nomeado para Prefeito por Bento XVI, a 2 de julho de 2012, para substituir o cardeal norte-americano William Joseph Levada, por limite de idade.

        O próprio Gutiérrez sublinha o risco de alguns desvios teóricos e práticos da Teologia da Libertação, sem que seja essa a sua génese. No livro, Gerhard Müller, deixa claro que "o movimento eclesial e teológico latino-americano conhecido como "Teologia da Libertação", que se espalhou por outras partes do mundo depois do Concílio Vaticano II, deve, em minha opinião, ser incluído entre as correntes mais importantes da teologia católica do século XX".

       Continua a haver muitos críticos da Teologia da Libertação, que o fazem uma e outra vez por ignorância e preconceito. Mas também a polémica se gera do lado dos que arremessam com esta Teologia contra a Igreja e o Magistério. No entanto, a coletânea dos textos recolhidos neste livro, publicada em 2004, na Alemanha, mais os textos do de Gerhard Müller, afastam-se claramente de qualquer polémica, num equilíbrio ímpar. Sublinhe-se também, que durante a reflexão/análise na Congregação para a Doutrina da Fé, sob a batuta do então Cardeal Joseph Ratzinger, nunca o movimento foi criticado. Por outro lado, o Papa João Paulo II recorrerá por diversas vezes à linguagem nova que vem das Conferências Episcopais da América Latina e Caribe, reunidas em Medellín (1968), Puebla (1979), Santo Domingo (1992). A "opção preferencial pelos pobres" entra definitivamente no vocabulário da Igreja e a necessidade da Nova Evangelização enraíza-se precisamente nas Assembleias do episcopado latino-americano, sancionando a Teologia da Libertação. Posteriormente, a Assembleia da CELAM (Episcopado Latino-Americano) em Aparecida, no Brasil, em 2007, e tal como o fez João Paulo II, também Bento XVI lhe dirigiu palavras de estímulo num discurso muito cristológico.

       Para melhor compreender o que significa Teologia da Libertação, mas sobretudo a opção preferencial pelos pobres, que ao tempo de Cristo tinham nome - Lázaro -, e que agora são uma maioria sem nome e sem chão, este é um excelente texto, de fácil compreensão. O propósito da Teologia da Libertação, com um enfoque específico, visa o mesmo que toda a Teologia, que Cristo seja tudo em todos.

25.03.14

LEITURAS: José Maria Cabral - O desafio da Normalidade

mpgpadre

JOSÉ MARIA CABRAL. O Desafio da Normalidade. (Impressões do fim da vida). Rei dos Livros. Lisboa 1994, 2.ª Edição. 296 páginas.


       Ler um bom livro pode ajudar a abrir a mente e o coração, a pensar em ideias positivas, em deixar-se desafiar pela história vivida e contada em momentos de grande provação. Na parte final do livro MANUEL FORJAZ, Nunca desistas da Vida, que fizemos questão de ler e, após a leitura envolvente, achamos por bem sugerir, cujo testemunho do autor tinha como um dos propósitos incentivar outras pessoas com cancro a manter as rotinas, procurando manter a mesma agenda, fazer o que se costumava fazer, não alterar nem hábitos nem afazeres. Lembramo-nos então destoutro comovente testemunho. Lemo-lo há vários anos, lá para o ano de 1996. Depois disso voltamos a repescar algumas passagens.

       José Maria Cabral é médico, ligado precisamente à oncologia. Familiar e próximo de muitas pessoas com cancros e com cancros de muitas estirpes. No dia 8 de outubro de 1991, às três da tarde, no meio do trabalho, foi-lhe comunicado que sofria de uma doença maligna incurável (linfoma maligno). "O cancro parece representar o princípio do mal, a dissolução da unidade, a desindividualização. Por tudo isto e por razões mais obscuras, o cancro, entre outros males, constitui um verdadeiro desafio à normalidade".

       A primeira reação é de dor, de surpresa, de medo. A reflexão fá-lo fixar-se no outono, o declínio da natureza e do espírito. Como sempre, procura a calma serena. "Preparei a minha esperança para dar sentido a uma nova etapa da vida... Percebi a minha nudez... Sentia-me novo para morrer". 44 anos... "Antes, mais jovem tinha preguiça em deitar-me, agora tinha preguiça em permanecer ativo e só pensava em adormecer"... Os médicos são os doentes mais piegas.

       Com o progredir da doença e dos tratamentos, fica cada vez mais dependente, mais exposto aos outros. Agora está do outro lado. Não é médico, é o doente, com neessidade de atenção, de cuidado, de precauções variadas. Mas insiste com a vida. Não deixa de viver a família, com a mulher e os filhos, e de fazer viagens. Naquele que ele define como "o ano da minha morte", não deixa de ir numa viagem a Roma, embora seja o Porto, a sua cidade, e a família, os espaços onde se sente feliz.

       Perpassa muito sofrimento, certamente. A linha condutora, porém, é de grandeza corajosa, procurando viver bem, fazer as coisas mais normais como ir à casa de banho, apreciar pequenas vitórias, enfrentar os medos, os próprios mas sobretudo os da família. Custa mais ainda o sofrimento que a família possa vir a ter. Tem pouco tempo de vida. Mas quer esgotar as hipóteses que lhe são colocadas para minorar a dor ou a possibilidade de cura, calculando o preço/benefício. Sobrevém uma grande fé em Deus. Há um momento em que a normalidade parece ser aceitar a própria morte como inevitável, para não sofrer e não fazer sofrer os outros. É um testemunho muito lúcido sobre a vida, o amor, a família, a introspecção (o Porto e a família), a beleza, a alegria e a santidade, o trabalho e os amigos. Pedindo emprestado as palavras a Manuel Forjaz, diria que o cancro o matará mas não matará a sua a vida, relacionando-se com os amigos, com a família, com o mundo, com Deus. Enquanto houver tempo, há que viver o melhor possível, procurando viver, com as limitações da doença, a normalidade. Estuda com afinco os tratamentos. Às tantas dão-o como curado, que é sol de pouca dura... Novos tratamentos... transplante da medula óssea... debates acesos... perante 5% de hipótese, valerá a pena submeter-se a novo tratamento? Em Paris, ou em Portugal... sempre o Porto.

 

Da dedicatória do livro:

"Diverte-me a vida, aprecio a vida com intensidade todos os dias. Todo o tipo de vida: vegetal, animal, humana, espiritual..., a criação!
Agradeço aos que me ajudaram no aprofundamento deste sentimento que me arrebata.
Agradeço a dedico estas considerações em particular à minha mulher e aos meus filhos, à família que me faz viver".

 

Frases avulso:

"Como custa o silêncio! O silêncio da aceitação e obediência, o silêncio para me encher dos outros e me encher de nada de mim!" (p 58).

 

"As batalhas do meu temperamento desigual oscilavam assim dentro de uma grande amplitude, entre o fantástico e o péssimo, entre a realidade e o sonho, entre a alegria e a tristeza, entre a amizade e o isolamento, entre a glória e o arrependimento" (p 69)

 

Sobre Mafalda, a mulher: "Eu sofria por ver a dor dela e ela sofria por ver que sobre a minha dor eu tinha a dor pela dor dela. Cada um de nós como desaparecia na dor do outro" (p 82).

 

"O mês de janeiro chegou. Entrei no ano da minha morte. Era assim que eu interpretava a minha vocação" (p 100).

 

"Admirava cada vez mais a criação. Quanto mais sentia que nada do que existia era meu, que as minhas coisas e o meu corpo estavam hipotecados, mais gosto tinha pela vida e pelas coisas, pelas coisa em si, não porque fossem minhas... Eu não tenho nada, mas nada, nada meu! E que importa" (p 101).

 

"Sempre o tempo, sempre o espaço sem tempo, sempre o espírito sem a morada do tempo, sempre a qualidade sem medida... O homem sem tempo não pode ser homem! O tempo parece a alma do homem. Espaço e tempo, corpo e alma, dor e liberdade, obediência e vontade, ato e desejo, diversidade e unidade, dilemas longos e irreais como essas horas sem ritmo" (p. 125).

 

"É preciso amar inteiramente sem contrapartidas. Amar é querer estar sempre vivo para morrer. É preciso amar sem ver, sem possuir, viver com o estranho e o doloroso instrumento da fé, não a minha mas a que Deus me oferece" (p 196)

 

"Não poderei transportar uma árvore para o mar e plantá-la.mas poderei ver Deus face a face, poderei plantar-me na intimidade divina. Deus roçou o universo do querer humano. Deus procurou na pequenez do homem a grandeza divina. Deus quis-se na vontade do homem" (p 290).

22.03.14

Senhor, dá-me dessa água, para que eu não sinta mais sede

mpgpadre

       1 – «Todo aquele que bebe desta água voltará a ter sede. Mas aquele que beber da água que Eu lhe der nunca mais terá sede: a água que Eu lhe der tornar-se-á nele uma nascente que jorra para a vida eterna». «Senhor, – suplicou a mulher – dá-me dessa água, para que eu não sinta mais sede e não tenha de vir aqui buscá-la».

       2 – Jesus encontra aquela mulher, samaritana e, por conseguinte, estranha, estrangeira, inimiga, por questões históricas, por preconceitos religiosos. Anda atarefada. Os seus dias não têm sido fáceis. A sua vida afetiva é uma tremenda trapalhada, já vai no sexto marido, vive suspensa, insatisfeita. Ocupa-se para não questionar a vida!

       Jesus chega ali esgotado, por volta do meio-dia, quando faz mais calor. Os discípulos foram à cidade buscar alimento. Ele fica a descansar. «Dá-Me de beber» – diz Jesus à Samaritana, que logo suspeita do pedido, sublinhando estranheza com o facto de judeus e samaritanos andarem de candeias às avessas. Jesus avança um pouco mais: «Se conhecesses o dom de Deus e quem é Aquele que te diz: ‘Dá-Me de beber’, tu é que Lhe pedirias e Ele te daria água viva».

       Em tom de ironia, a mulher questiona Jesus: «Senhor, Tu nem sequer tens um balde, e o poço é fundo: donde Te vem a água viva? Serás Tu maior do que o nosso pai Jacob, que nos deu este poço, do qual ele mesmo bebeu, com os seus filhos e os seus rebanhos?».

       Ela continua a falar da água do poço, Jesus fala da Água que vem do Céu, e que germina no mais íntimo de cada um de nós. Jesus abre um pouco mais o véu, falando-lhe do que ela não lhe disse, da sua vida passada e atual, não para a condenar, mas para a provocar, para a despertar, para que ela escute melhor…

       3 – Jesus adentra-se na sua vida, dizendo-lhe, e a nós também, coisas muito importantes, nas palavras proferidas e na postura assumida:

a) Não importa se viemos de perto ou de longe, qual a nossa terra ou a nacionalidade, a condição moral e/ou religiosa, se somos homens ou mulheres, se temos muitas ou poucas posses, ou o ponto em que nos encontramos na nossa relação com Deus;

b) O que vale mesmo, para Jesus, é o que podemos ser, os dias que temos pela frente, o que decidimos HOJE para a nossa vida, ainda que o passado nos ajude a um compromisso mais libertador;

c) A conversão é interior, é uma opção livre. A nossa relação com Deus resolve-se, antes de mais, num diálogo íntimo com Ele. "Os verdadeiros adoradores hão de adorar o Pai em espírito e verdade, pois são esses os adoradores que o Pai deseja. Deus é espírito e os seus adoradores devem adorá-l’O em espírito e verdade". Os espaços e os tempos podem ajudar a encontrar com Deus. E também as pessoas e, por maioria de razão, a comunidade crente, mas a decisão é minha, é tua, é de cada um;

d) A descoberta de Deus e do Seu amor por nós gera alegria, júbilo, que por sua vez provoca e exige o anúncio do Evangelho. A alegria tende a transbordar. Ninguém faz festa sozinho. Só o que se partilha, também a vida, é realmente nosso. "A mulher deixou a bilha, correu à cidade e falou a todos: «Vinde ver um homem que me disse tudo o que eu fiz. Não será Ele o Messias?». Eles saíram da cidade e vieram ter com Jesus";

e) "Nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus" (Mt 4, 1-11). Eis o verdadeiro alimento para Jesus: «O meu alimento é fazer a vontade d’Aquele que Me enviou e realizar a sua obra». Os discípulos tinham ido à cidade buscar alimentos e quando chegam junto de Jesus verificam que Ele está satisfeito, recobrou energias. Alguém Lhe terá dado de comer?

f) A autenticidade tem consequências duradouras e gera discípulos. Os samaritanos deixam-se surpreender pelas palavras daquela mulher, mas é no encontro com Jesus que a verdadeira transformação acontece: «Já não é por causa das tuas palavras que acreditamos. Nós próprios ouvimos e sabemos que Ele é realmente o Salvador do mundo».


Textos para a Eucaristia (ano A): Ex 17, 3-7; Sl 94 (95); Rom 5, 1-2. 5-8; Jo 4, 5-42.

 

20.03.14

Leituras: MANUEL FORJAZ - Não te distraias da vida

mpgpadre
MANUEL FORJAZ. Não te distraias da vida. Poderei morrer da doença, mas a doença não me matará. Oficina do Livro. Alfragide 2014. 172 páginas.
       Quase por acaso, ou talvez não, encomendei, via Internet, este livro, sem conhecer o autor. Vi a promoção da publicação e pela descrição seria uma leitura interessante e envolvente afinal era o testemunho de alguém que tem cancro e que já passou por muitas intervenções, tratamentos, por melhoras e por recaídas, por momentos em que o otimismo natural o predispunha a celebrar a vida, outras vezes as notícias que se tornavam desanimadoras sobretudo quando chegavam novos exames a contradizer a esperança de vencer a doença. Num dia seguinte, encontrei o José Alberto Carvalho, na TVI 24, a entrevistar um homem, sem cabelo, que me fez lembrar o economista Vítor Bento (outro Vítor que poderia ter sido Ministro das Finanças). Afinal, pelo desenrolar da conversa, me apercebi que era precisamente o autor do livro que tinha encomendado nas vésperas.
       Como diria Tolstoi, as famílias felizes são todas iguais, as famílias tristes são cada uma à sua maneira. Ou como popularmente se vai dizendo, não há doenças, há doentes, pois cada pessoa reage de maneira específica à manifestação da doença, que pode ter o mesmo nome, mas cuja reação interage com a pessoa. Acrescentaríamos que a doença se faz particular na pessoa, a pessoa "faz" a doença ser diferente que noutras pessoas. Assim também o cancro, no caso concreto num pulmão. Uns querem falar da doença, outros não. Uns reagem com esperança e não quebram as rotinas, a não ser que a isso sejam forçados, outros deixam de viver.
       O livro resulta do desejo de acalentar a esperança para os que enfrentam situações semelhanças e para as pessoas que convivem com doentes oncológicos. Há pouco tempo recomendámos a leitura do livro da Fernanda Serrano - Também há finais felizes -, que viveu momentos de grande aflição e que parece ter superado os anos de maior risco da doença "reincidir". Pelo que se vê no presente testemunho, Manuel Forjaz continua a viver à espera do próximo tratamento, da próxima experiência, sem deixar de procurar, de lutar, de incentivar outros. Além do livro, tem usado várias plataformas para contar a sua experiência, para responder a quem busca respostas, fazendo sugestões para enfrentar a doença, mas também acompanhar, trabalhando na área de empreendedorismo, a criação de empresas.
       É uma história de vida, como filho, como marido, como pai, como católico, como professor, como diretor de empresas de sucesso mas que também passam por dificuldades. O importante é não desistir. Como refere no subtítulo: «poderei morrer da doença, mas a doença não me matará [a vida]». Há tantas coisas que se podem fazer. Não adiar para amanhã. Não desanimar. Pior é ter cancro no Sudão do Sul onde os cuidados médicos são muito deficitários. Não se contente com uma resposta, busque outras.
       Uma das perspetivas, e apesar da doença por vezes o deixar de rastos, é a procura por manter hábitos e rotinas. Veio à memória outro livro, outra história comovente, a de um médico oncologia, José Maria Cabral, em quem se manifestou o cancro. O título - O desafio da Normalidade - mostra como é possível arranjar forças para procurar viver a vida com os amigos e com a família, não deixando que a doença ganhe na qualidade dos afetos e dos sentimentos.
       Conheça ou não alguém com cancro, tenha alguém na família ou não, esta leitura será sempre um desafio, uma provocação. Pode lembrar-nos, no meio das nossas aflições, que há outros cujo sofrimento é bem mais violento e constante. Por outro lado, e numa perspetiva de fé que o autor também expressa, não valerá a pena perguntar: "Porquê eu?", pois pode acontecer a todos. Não é certamente um castigo de Deus. Integra a fragilidade biológica do ser humano. A fé pode abrir outra perspetiva, dando-nos força mas também esperança diante da eminência da morte.

ANEXO 1
O MEU CANCRO: REGRAS PARA VIVER MELHOR
- Proíba quem quer que seja de lhe falar de quem morreu de cancro; quem tem cancro tem presente que vai morrer provavelmente mais cedo que a maioria, não precisa ser lembrado todos os dias;
- Por outro lado, e em sentido contrário, estimule quem o rodeia a contar histórias de quem venceu, está a vencer ou vive com a doença há muito tempo; inspire-se nas boas histórias, sem nunca perder o bom senso;
- Não tenha pena de si próprio. Isso gera um círculo fechado de tristeza e angústia de que é difícil libertar-se;
- Não tente perceber «porquê eu?». Porque sim. Uns cancros são genéticos, outros são ambientais, outros são profissionais. Acontece, não há razões místicas ou religiosas. Toca a muitas pessoas, aqui e no Sudão do Sul, onde claramente as condições de tratamento são bem piores;
- Se ainda assim tem tendência para ficar a remoer esse tipo de pensamentos, lembre-se (quem, como eu, tiver filhos) que ainda bem que fomos nós e não eles;
- Perceba que vai morrer, mas lembre-se que morrem todos os dias 155 mil pessoas, algumas em circunstâncias bem piores que a sua. E vai morrer, mas não é já amanhã. E até lá, a vida segue, bela, poderosa, pujante, cheia de coisas boas, cheia de amor, de pequenos prazeres, de sol e peixe grelhado;
- Não perca demasiado tempo a pensar na sua morte e no disparate das bucket list (apesar de ser tolerável ir ver o filme de Morgan Freeman e Jack Nicholson). Se o fizer, esquece-se de viver. Manter tudo exatamente na mesma - contactos, vida social e profissional -, praticar exercício físico e seguir uma boa alimentação, é a melhor maneira de continuar a viver;
- Siga as medicinas alternativas que entender, mas só depois de as estudar, de ouvir testemunhos credíveis e certificar-se de que não afetam os tratamentos clássicos que estiver a seguir.
Anexo II
O CANCRO DOS OUTROS: REGRAS PARA LIDAR COM A DOENÇA
- Lembre-se que ninguém morre logo amanhã; às vezes morre-se em poucas semanas, mas a vastíssima maioria dos doentes com cancro dura bastante mais e alguns sobrevivem além da idade de morrer de velho;
- Prepara-se para possíveis recaídas. Muitos doentes tratam-se à primeira, outros à segunda e outros à terceira (mas nunca desistimos);
- Não dramatize. A medicina evoluiu muito e hoje os doentes vivem com razoável qualidade de vida;
- Há doentes que querem falar do cancro e outros que preferem não tocar no assunto. Respeite essa decisão mas, em qualquer caso, se não está psicologicamente preparado é melhor não se armar em enfermeiro ou psicólogo;
- Esqueça as tragédias alheias e as histórias de quem nãos e safou, disso os doentes já têm chegue. Dê sorrisos, miminhos e amor que é tudo o que um doente com cancro precisa na eterna luta contra a doença;
- A quimioterapia não é um horror de diarreias, enjoos e aftas. Há dois dias de «psicadélicos», ao segundo e ao terceiro dia, mas cada caso é um caso e cada pessoa reage de maneira diferente. O segredo para reforçar a energia é «canja de galinha», muito mar, se possível, e boa disposição à volta;
- Ficar careca acontece a muita gente, mas o cabelo volta a crescer, não há drama nenhum nisso - brinquem com a situação (só os carecas mesmo é que perdem o cabelo para sempre);
- Todos morremos, disso ninguém escapa. O segredo não é por isso falar de morte, que é óbvia e absoluta, mas sim lembrar o outro de não se esquecer de viver a vida, que é fantástica, surpreendente e extraordinária;
- Nunca digam a alguém com cancro que está mal ou vai morrer, sejam, louca e racionalmente positivos e otimistas.
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18.03.14

Teu pai e eu andávamos aflitos à tua procura...

mpgpadre

       «Filho, porque procedeste assim connosco? Teu pai e eu andávamos aflitos à tua procura».

       «Quando ainda estava longe, o pai viu-o e, enchendo-se de compaixão, correu a lançar-se-lhe ao pescoço e cobriu-o de beijos... Trazei o vitelo gordo e matai-o; vamos fazer um banquete e alegrar-nos, porque este meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi encontrado»

       Dois momentos significativos que nos mostram a figura de São José pelos olhos de Maria e pelos olhos de Jesus e nos fazem compreender a paternidade de Deus.

       Pelos olhos de Maria, na subida ao Templo de Jerusalém (Lc 2, 41-51), à festa da Páscoa, quando Jesus tinha 12 anos, José é um Pai cuidadoso, preocupado, cumprindo a sua missão de Pai, levando a família a celebrar uma das festas mais importantes do Judaísmo, deixando-se entrever que era o proceder habitual da família de Nazaré. José tem a responsabilidade de cuidar da esposa e do filho, da segurança na viagem e dos víveres. Maria fala-nos da sua aflição e da aflição de José, em busca do filho que se perdeu ou se encontrou no Templo. Maria e José, depois de toda a caminhada, do cansaço, do padecimento, não perdem tempo a gritar com o filho, dizem-lhe que O amam, e perguntam-lhe se compreende como o coração dos pais fica apertadinho quando não sabem dos filhos.

       Pelos olhos de Jesus, na parábola do Filho Pródigo, onde se vislumbram as impressões digitais de São José como Pai de Jesus, atento, cuidadoso, que confia no filho e respeita a sua liberdade e o seu espaço, que comunica elevada dose de amor, de carinho, de proximidade, de compreensão, que está pronto a celebrar a vida com a família. Os traços que caracterizam Deus como Pai inspiram-se na figura de São José, que assume, em casa, na vida de Jesus, uma paternidade firme, trabalhadora, responsável, suficientemente próximo e amigo, atento ao crescimento de Jesus, passando-lhe pouco a pouco as responsabilidades de cuidar da casa, sem se desligar dos deveres na comunidade e na história de Israel. Um dia Jesus poderá facilmente concluir que a família é muito mais que a soma dos membros com ligações sanguíneas, mas estrutura-se, alimenta-se e fortalece-se com os laços de caridade.

       Os filhos não precisam de pais super-heróis, mas de pais normais, que choram e riem, que brincam, que afagam e repreendem, que escutam. O mais importante não é ser um pai perfeito, mas ser um pai presente, ativo, interventivo, amigo sem deixar de ser pai, que desafia o filho a fazer o melhor, mas que abraça quando a vida não segue nos carris, que alerta sem querer ter razão…


Textos para a Eucaristia: 2 Sam 7, 4-5a. 12-14a. 16; Rom 4, 13. 16-18. 22; Mt 1, 16. 18-21. 24a ou Lc 2, 41-51a.

 

Reflexão completa na página da Paróquia de Tabuaço

e no nosso blogue CARITAS IN VERITATE.

18.03.14

Boletim Paroquial Voz Jovem » janeiro - março 2014

mpgpadre

        O Boletim Voz Jovem, da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição de Tabuaço, desde o último número, outubro-dezembro 2013, que passou para uma edição trimestral (antes era mensal) e a ser publicado a cores (antes era uma cor). Este número de janeiro-março atualiza a memória das celebrações e acontecimentos da paróquia, inserida no Arciprestado (de Moimenta, Sernancelhe e Tabuaço) e na Diocese. Temas e imagens do Natal, da Missa do galo, da festa da Apresentação do Senhor e Bênção das crianças, o Compromisso dos Acólitos, as Escolas de Fé, atividades promovidas pelo SDPJ de Lamego, nomeadamente a formação de animadores e o retiro quaresmal, informações paroquiais. Muito importante será a fixação de algumas datas do Plano Pastoral, ficando registadas não apenas para memória mas sobretudo para agendamento.

       O Boletim poderá ser lido a partir da página da Paróquia de Tabuaço, ou fazendo o download:

15.03.14

Transfigurou-Se diante deles...

mpgpadre

       1 – «Este é o meu Filho muito amado, no qual pus toda a minha complacência. Escutai-O». Do batismo à transfiguração. Do deserto para a montanha. Há oito dias, no primeiro domingo da Quaresma, tempo privilegiado para assumirmos a Páscoa de Jesus como caminho de reconciliação e de vida nova, o evangelho trazia-nos as TENTAÇÕES de Jesus, numa clara identificação connosco. Aquelas mostram a comunhão fraterna de Jesus com a humanidade. Mostram também como podemos segui-l'O, vencendo o egoísmo, e o apetite voraz do poder. Pouco antes, Jesus tinha sido batizado no rio Jordão, por João Batista. Logo que Jesus saiu da água, a voz do Pai: «Este é o meu Filho muito amado, no qual pus todo o meu agrado» (Mt 3, 16). E sobre Ele desceu o Espírito Santo.

       O deserto e a montanha. Lugares provisórios. O clima, num e noutro local, não é o mais favorável. Demasiado calor, ou excesso de vento e de frio. Lugares quase inóspitos. Onde se torna mais fácil encontrar a Deus, pois pouca coisa nos distrai d'Ele. Não há seguranças humanas. Onde a fé se prova, e a confiança, e se experimenta a presença de Deus, como Aquele que não nos abandona em nenhuma circunstância, por mais desfavorável que seja.

       O deserto não é habitável. É um ponto de passagem. Também a tentação, e as provações, para nos tornarem mais fortes, ou nos prepararem para outras dificuldades de maior monta. Assim a Montanha, que nos permite ver mais longe, olhando ao redor, mas também e sobretudo ver o mundo que pulsa à nossa frente. Obrigamo-nos a descer para a cidade dos homens. A montanha desprende-nos das amarras presentes, relativizando as seguranças materiais, humanas, para que o nosso coração, a nossa vida se predisponha a encontrar seguranças mais definitivas, a encontrar-se com Deus.

       2 – Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, seu irmão, e levou-os, em particular, a um alto monte e transfigurou-Se diante deles: o seu rosto ficou resplandecente como o sol e as suas vestes tornaram-se brancas como a luz. E apareceram Moisés e Elias a falar com Ele. Pedro disse a Jesus: «Senhor, como é bom estarmos aqui! Se quiseres, farei aqui três tendas: uma para Ti, outra para Moisés e outra para Elias». Ainda ele falava, quando uma nuvem luminosa os cobriu com a sua sombra e da nuvem uma voz dizia: «Este é o meu Filho muito amado, no qual pus toda a minha complacência. Escutai-O». Ao ouvirem estas palavras, os discípulos caíram de rosto por terra e assustaram-se muito. Então Jesus aproximou-Se e, tocando-os, disse: «Levantai-vos e não temais». Erguendo os olhos, eles não viram mais ninguém, senão Jesus. Ao descerem do monte, Jesus deu-lhes esta ordem: «Não conteis a ninguém esta visão, até o Filho do homem ressuscitar dos mortos».

       A quaresma, e toda a vida do cristão, é uma subida à montanha, ao encontro do Senhor, para que da nuvem, uma e outra vez, ouçamos a voz de Deus; uma e outra vez acolhamos Jesus como Filho de Deus, procurando viver como irmãos; uma e outra vez e outra ainda, comprometendo-nos com o mundo, com as pessoas de carne e osso. Jesus mostra-nos o Céu, como promessa, como antecipação, mas propondo que a transfiguração se vá realizando no tempo atual. Ao olharmos o mundo não podemos ficar indiferentes, à distância, como se não fosse nada connosco. A fé não nos isola, pelo contrário, irmana-nos no peregrinar, com as suas oportunidades e com as suas dificuldades. Estamos no mesmo barco. Há uma LUZ maior. Depois de lhes/nos anunciar a morte, Jesus abre-lhes/nos o Céu.


Textos para a Eucaristia (ano A): Gen 12, 1-4a; Sl 32 (33); 2 Tim 1, 8b-10; Mt 17, 1-9.

 

Reflexão dominical COMPLETA na página da Paróquia de Tabuaço

e no nosso blogue CARITAS IN VERITATE.

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