1 – Belo o texto que São João nos apresenta como Boa Notícia de salvação. O túmulo vazio já ficou para trás. Lá não há vida. O passado pode ser raiz, ponto de partida, mas não cais ou ponto de chegada. Será que alguém roubou o corpo de Jesus? Têm que O procurar em outro lugar? Onde? Com o avançar da manhã Jesus está mais longe, mais próximo, mais espiritual, mais disponível, mais acessível. A vastidão de Deus irrompe com a ressurreição do Mestre. O Céu não tem uma abertura, é o próprio Céu que se espalha por toda a parte. O nosso Céu é Jesus Crucificado e Ressuscitado.
De novo Jesus Se planta no caminho dos Apóstolos. O cenário agora é diferente. Jesus encontra-os em casa, a caminhar, junto ao túmulo e agora no próprio local de trabalho. Ele está por toda a parte. Ele vai a todo o lado. Está onde está o ser humano. Que belíssima NOTÍCIA: onde eu estou, Deus quer estar também.
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2 – Os discípulos saíram de casa. O medo que antes os fez prisioneiros entre quatro paredes, com as portas e janelas fechadas, dá vez à LUZ que Jesus traz. A luz entra por todos os lados, e no coração de cada um. Voltam a fazer o que faziam.
Quando acabamos de acordar, ficamos a estremunhar, também os discípulos ainda estão ensonados, sem saber bem o que hão de fazer. Têm nas mãos a batata quente, mas que fazer com ela? Pedro, habituado ao trabalho, e mais vocacionado para isso do que para intelectualidades, ou profundas reflexões, decide sair de casa para trabalhar: «Vou pescar». Os outros acompanham-no, afinal não têm muito que fazer nem muito em que pensar, ainda estão atordoados.
“Ao romper da manhã, Jesus apresentou-Se na margem, mas os discípulos não sabiam que era Ele”. Eram horas de terminar a pescaria e regressar à praia para arrumar as redes e limpar o barco. Então eis o inesperado, Jesus pergunta-lhes: «Rapazes, tendes alguma coisa de comer?». Como não tinham pescado nada respondem negativamente, desconsolados. Mais uma interpelação inusitada: «Lançai a rede para a direita do barco e encontrareis». Com a manhã a surgir, as condições para a pesca são mínimas, se antes não conseguiram nada, quanto mais agora! Mas não têm nada a perder.
Mais uma agradável surpresa: “Lançaram a rede e já mal a podiam arrastar por causa da abundância de peixes”. As condições da pesca afinal não são menores na manhã quando o Senhor está com eles, quando Jesus está connosco. Todo o esforço feito sem Deus, sem Jesus, dá em nada. Tudo o que se faça com Jesus multiplica-se em abundância sem fim.
3 – Os olhos dos discípulos abrem-se e veem o Mestre. O primeiro a reconhecê-lo é o discípulo predileto, que diz a Pedro: «É o Senhor». Não se conhece o nome daquele discípulo. Pode ser cada um de nós. Pode ser a comunidade em situação de escuta a Jesus e às pessoas. Somos prediletos quando O reconhecemos.
Pedro deixa-se guiar pelo discípulo predileto. Ele tinha vacilado antes. É necessário estar atento aos companheiros, entrar na lógica da comunidade crente. O discípulo predileto é expressão da constância, da fé, mesmo nos momentos de dor, de morte, de desencanto. Ele esteve sempre, reclinado sobre o peito de Jesus, junto à Cruz, aos pés de Jesus, a correr para o túmulo, ao encontro do Mestre, inserido na comunidade aquando das aparições do Mestre. Ele guia Pedro e guia-nos também a nós, para sermos também discípulos diletos.
E assim também os demais discípulos que recolhem os muitos peixes e correm ao encontro de Jesus. O ambiente era o da pesca, agora é o da partilha. Uma MESA improvisada. Não importa esperar pelas condições mais favoráveis, ou pelas condições ideais, é sempre hora para repartir, é sempre tempo para dar. O mundo inteiro é CASA do cristão. Tendo Jesus por perto, não faltará o alimento. Podem ser poucos os recursos, mas quando a vontade é grande, é possível fazer muito. Com Jesus é possível tudo. Ele fará em nós maravilhas, não de forma automática ou milagrosa, mas connosco e através de nós.
Ele prepara o banquete, mas conta com o nosso esforço e com o nosso amor, com os poucos peixes que possamos dar, mas sem os quais não haverá refeição com Jesus. A pesca é d'Ele, mas Ele quer que seja nossa também. Espera por nós. Está lá, e em toda a parte, aguarda que cheguemos com os nossos peixes, para que a refeição aconteça. E a salvação.
Textos para a Eucaristia (ano C): Atos 5, 27b-32.40b-41; Ap 5, 11-14; Jo 21, 1-19.