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...espaço de discussão, de formação, de cultura, de curiosidades, de interacção. Poderemos estar mais próximos. Deus seja a nossa Esperança e a nossa Alegria...

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28.02.12

Editorial Agência Ecclesia: o trabalho começa e não acaba nunca

mpgpadre

A Agência Ecclesia nasce do trabalho que D. Manuel Falcão inaugurou no início da década de sessenta

 

       “O trabalho começa hoje e não acaba nunca”. A afirmação é do Papa Paulo VI e compõe o penúltimo parágrafo da primeira encíclica do seu pontificado. Paulo VI falava do diálogo – teria de ser – e da prática que encontra tanto no “interior da Igreja” como com os de fora. Isso é sinal de que “a Igreja está hoje mais do que nunca viva”. “Mas – continua de imediato -, reparando bem, parece que tudo está ainda por fazer”.

       Na Ecclesiam Suam, Paulo VI escreve 65 vezes a palavra diálogo. O documento é programático e de um pontificado que dava continuidade aos trabalhos do Concílio Vaticano II e teria de os fazer chegar à universalidade da Igreja. O Papa Montini reserva metade do texto, a segunda, para falar de diálogo. Antes, de outras duas atitudes que propõe para a Igreja Católica: consciência, renovação.

       Na década de sessenta, e nos dias de hoje, o diálogo “com tudo o que é humano” é o horizonte. Paulo VI assume “de bom grado” essa “primeira universalidade”: “a vida, com todos os seus dons e problemas”. Depois, na definição de “círculos concêntricos” onde a Igreja Católica é chamada a estar em diálogo, refere os “crentes em Deus”; num terceiro círculo, o “mundo que se intitula cristão”. O Papa fala depois no diálogo dentro da Igreja, um “diálogo doméstico”, que deseja “familiar e intenso”.

       O programa não é de há 50 anos. É dos dias de hoje. A comprová-lo, acontecimentos e sobretudo histórias de vida.

       Entre os acontecimentos, dois exemplos: a participação ativa e criativa de pessoas e instituições da Igreja Católica em iniciativas como Braga Capital Europeia da Juventude ou Guimarães Capital Europeia da Cultura.

       Entre as vidas, sobressai a notoriedade de algumas. Sobretudo quando correspondem não a comportamentos ocasionais, antes a uma atitude permanente. É o caso de D. Manuel Franco Falcão

        Despedirmo-nos deste homem exige sobretudo dizer-lhe obrigado! Ao longo dos seus 89 anos, na universidade, no sacerdócio, no ministério episcopal viveu a urgência do diálogo. E dialogou; lançou-se ao encontro do outro, nos mesmos círculos concêntricos propostos pelo Papa Paulo VI.

       Na História da Igreja em Portugal, D. Manuel Franco Falcão deixa capítulos inovadores sobre sociologia da religião, sobre diálogo da e na Igreja, sobre preservação e fruição do património. Deixa também largos passos dados na valorização dos meios de comunicação social. Concretamente, a Agência Ecclesia nasce do trabalho que D. Manuel Falcão inaugurou no início da década de sessenta. Por isso e por tudo, obrigado! Sobretudo por sempre ter valorizado essa fronteira do diálogo, onde a Igreja é chamada a estar cada vez com mais intensidade, o mundo dos media.

 

27.02.12

D. Manuel Falcão - o mistério da morte física

mpgpadre

       D. Manuel Falcão, bispo emérito de Beja, faleceu no dia 21 de fevereiro. Vale a pena ler e meditar o texto que se segue, que lemos via "Notícias de Beja", e que está disponível na página da Diocese de Beja.

À laia de testamento espiritual (5)

O MISTÉRIO DA MORTE FÍSICA

 

Depois de termos reflectido sobre o mistério do sofrimento e do mal, é lógico que reflictamos sobre o mistério da morte e no que há para lá dela.

 

O fim da vida temporal

 

       A morte como fim da vida temporal é uma certeza que resulta da observação do que acontece a todos os seres humanos. Os cientistas chegam mesmo a calcular que estamos programados para uma duração máxima da ordem dos 120 anos. Isto, independentemente de motivos acidentais que levam à morte em qualquer idade da vida.

 

O mistério da morte

 

       Se a morte é uma certeza, ela é sobretudo um mistério, tanto mais que parece contradizer a ideia de que nós fomos feitos para viver. De facto, seria absurdo que em nós tudo terminasse com a morte. Daqui a intuição de que a morte não é o nosso fim, mas que ela abre caminho a nova forma de viver. A História da Humanidade diz-nos que os homens de todos os tempos acreditaram numa vida para além da morte.

       E assim é. A revelação divina diz-nos que os nossos primeiros pais estavam destinados a viver num paraíso. E que melhor paraíso se pode imaginar do que a convivência íntima por toda a eternidade com o Deus de bondade e de amor? A mesma revelação diz-nos que, se tal não aconteceu, foi pelo mau uso da liberdade, que levou os nossos primeiros pais ao pecado de orgulho, querendo ser semelhantes ao seu Criador, o que se projectou na sua descendência pelo chamado “pecado original”, de que um dos efeitos é precisamente a passagem pela morte.

       Podemos perguntar se no caso de não terem pecado os nossos primeiros pais ascenderiam à plena comunhão com Deus na visão de face a face, sem morrer. Apenas podemos conjeturar que a passagem desta vida temporal à vida eterna se teria passado na mais plena alegria.

       Também agora, pelo mistério da redenção operada por Jesus Cristo, os santos, purificados dos seus pecados, cheios da graça divina e animados pelo Espírito Santo, encarnam a morte com semelhante alegria, na esperança, tornada em certeza, de que ela abre as portas à plena comunhão com Deus. É isto, aliás, o que Deus quer ver em todos nós.

 

A actual perspectiva da morte

 

       Perante o mistério da morte, hoje não falta quem fuja a pensar nela. Aliás, nas idades activas, o pensamento está absorvido pelos problemas da vida. Só mais tarde se é levado a pensar na morte, podendo cada um, ao anoitecer, dizer a si mesmo : “Mais um dia; menos um dia”.

       Ao contrário dos tempos passados, em que a morte era sentida como um dos mais profundos mistérios da nossa existência, o mundo moderno tende a esquecê-la, nomeadamente pela dispensa dos sufrágios, pela banalização dos funerais, optando pela cremação dos cadáveres e pela supressão do luto. É ver como em geral os meios de comunicação social noticiam o falecimento de alguém, pouco mais relatando além do que ela foi em vida.

       Pelo contrário, nós, cristãos devemos encarar a morte com espírito de fé, como aviso de que neste mundo somos peregrinos ao encontro da Pátria definitiva, onde a morte nos introduz para conviveremos com Deus por toda a eternidade.

 

Que acontece depois da morte?

 

       Pouco sabemos ao certo do que se passa após a morte, tanto mais que não é fácil imaginar como se relacionam o “tempo” e a “eternidade”, embora saibamos que esta relação acontece no actual relacionamento de Deus eterno connosco nesta vida temporal. A revelação diz-nos que, após a nossa morte, a alma é sujeita a um “juízo particular”, que decide do nosso destino eterno, ou o Céu ou o Inferno; diz-nos também que os destinados ao Céu passam por uma purificação dos restos de pecados no chamado “Purgatório”; diz-nos ainda que, no chamado “fim do mundo”, se dá a ressurreição pela reentrada das almas nos respectivos corpos tornados espirituais, à semelhança do corpo do Cristo e da Virgem Maria.

       Os sufrágios pelos mortos, que já vêm do A.T. (Mac 12,46), são prática na Igreja que nos assegura a existência do “Purgatório”. Quanto ao resto, da revelação, o saberemos na plenitude da vida eterna.

 

+ Manuel Franco Falcão,

Bispo emérito de Beja, 01.01.2012, in Diocese de Beja.

26.02.12

57. Larga o que trouxeste

mpgpadre

Larga o que trouxeste.

 

Diante de Deus, como refletimos ontem, não precisamos de máscaras, de vestes, de muitas coisas, precisamos do nosso coração aberto e disposto a acolhê-l'O.

É o que nos diz esta canção que ora sugerimos.

 

O Coro Juvenil de Padornelo e Parada venceu o X Viana Jovem, no Festival de Coros Juvenis, no dia 24 de janeiro de 2010. Ouvimos, gostámos e achamos oportuno partilhar a música, preparando também a canção para ser apresentada na disciplina de EMRC. É uma música extraordinária, na letra, na melodia, na interpretação.De uma Diocese vizinha, Viana do Castelo, mas com o mesmo espírito, animação e disponibilidade para anunciar e seguir Jesus Cristo pela música e pelo desafio.

 

Tudo me prende,
Tudo me agarra,
Tudo me chama para o mundo.
Tenho um pingente,
Uma samarra,
Cartão de crédito e tudo.
 
Eu quero ter [tantas coisas], eu quero ir,
Eu quero ver [o mundo todo], eu quero vestir,
Eu quero ser [muito famoso], eu quero mostrar,
- E tu?
- E eu? Quero saber.
 
Diz, ó Mestre, o que faço agora?
O que guardo, o que deito fora?
Cumpro a Lei e tudo o que disseste.
- Então, larga o que trouxeste.
 
Nada me enche,
Nada me basta,
Nada me satisfaz a sério.
Tenho uma agenda,
Dentro de uma pasta,
Um cheque-brinde, outro mistério.
 
Eu quero ter [a Vida Eterna], eu quero ir,
Eu quero ver [essa Herança], eu quero vestir,
Eu quero ser [nova Esperança], eu quero mostrar-Te,
- E tu?
- E eu? Quero saber.
 
Diz, ó Mestre, o que faço agora?
O que guardo, o que deito fora?
Cumpro a Lei e tudo o que disseste.
- Então, larga o que trouxeste.
 
Um dia vou estar preparado,
Quem sabe cantar ao Teu lado,
Outro refrão.
Quando eu compreender a certeza
De que a principal riqueza
Está no meu coração.

25.02.12

56. Lembra-te, homem, que és pó da terra e à terra hás de voltar (cf. 3, 19).

mpgpadre

Lembra-te, homem, que és pó da terra e à terra hás de voltar (cf. 3, 19).

Nós somos do chão, da terra. Não deverá haver nada entre nós e o chão, o chão liga-nos a Deus e ao irmão. Diante de Deus não precisamos de estar apenas nós, nem ouro, nem prata, nem alforge, só nós e Deus, nós, Deus e o irmão. E assim diante do irmão. Quando estamos com o irmão ainda estamos diante de Deus, porque no outro está Deus.

Hoje, D. António Couto, na Jornada Diocesana do Catequista, subordinado ao tema: “Chamado por Deus, participante da missão de Jesus”, partiu da figura de Moisés para ilustrar o chamamento e o envio e o Deus que chama, Deus santo.
Prestemos atenção ao texto: “Moisés estava a apascentar o rebanho de Jetro, seu sogro, sacerdote de Madian. Conduziu o rebanho para além do deserto, e chegou à montanha de Deus, ao Horeb. O anjo do SENHOR apareceu-lhe numa chama de fogo, no meio da sarça. Ele olhou e viu, e eis que a sarça ardia no fogo mas não era devorada. Moisés disse: «Vou adentrar-me para ver esta grande visão: por que razão não se consome a sarça?» O SENHOR viu que ele se adentrava para ver; e Deus chamou-o do meio da sarça: «Moisés! Moisés!» Ele disse: «Eis-me aqui!» Ele disse: «Não te aproximes daqui; tira as tuas sandálias dos pés, porque o lugar em que estás é uma terra santa.» (Ex 3, 1-5).
D. António sublinhou que Moisés tem de sair do seu caminho habitual, como a criança que nunca segue desatenta no caminho, observa o que a rodeia, tudo cativa o seu olhar, assim Moisés se deixa “desviar” pelo que vê a partir do seu caminho.
Deus chama, pelo nome, e diz a Moisés: “tira as tuas sandálias dos pés, porque o lugar em que estás é uma terra santa”. O ser humano é da terra, do chão. Assim é a partir do chão, da terra que nos unimos a Deus, que Lhe respondemos. É pela terra que nos unimos aos irmãos. Somos do mesmo barro. Pó da mesma terra. Irmãos. Nada deve existir entre nós e a terra, para que os pés nús estejam ligados a Deus, ao Universo, ao nosso irmão.
Cientificamente, tudo aponta para que tenhamos uma origem comum (de baixo das pele, circula o mesmo sangue, a mesma existência biológica, debaixo da pele somos mais iguais), uma poeira inicial, energia concentrada, explosão de energia que faz espalhar a poeira e formar-se em várias estrelas, planetas, galáxias. A terra, a água, o céu, os animais terrestes, os animais marinhos, as aves do céu, o ser humano, tudo tem origem nessa poeira original. A descendência é a mesma. Somos pó que ao pó há de regressar. A mesma origem, o mesmo fim.
Para nós crentes, antes da origem e depois do fim está Deus.
A quarta-feira de Cinzas lembra-nos a nossa origem e a nossa fragilidade, mas sobretudo a nossa interdependência a Deus e aos irmãos.

Na reflexão do nosso Bispo, e como desafio para hoje, que nada nos separe do chão, quando nos queremos diante de Deus e diante do irmão. Somos do chão. É chão sagrado o que pisamos. Somos da terra, e é na terra que o Senhor nos encontra, por Jesus Cristo, Deus feito Homem, feito terra.

24.02.12

55. Carpe Diem. Vive o presente

mpgpadre

Carpe Diem. Vive o presente.
Cada dia tem as suas próprias preocupações.
O tempo não volta, gastemo-lo bem. Foi-nos dado gratuitamente.

Vive hoje, sem a ansiedade e o medo paralisante do futuro.
O futuro só a Deus pertence. Deus providenciará.
Façamos a nossa parte, o que está ao nosso alcance.
Não esperemos pelo amanhã para viver, para nos comprometermos, para modificarmos na nossa vida o que sabemos nos levará a bom termo. Nem esperemos pelo ontem que já foi.

CARPE DIEM:
A expressão popularizada é da autoria de Horácio, poeta romano (65-8 a.C.). Segundo a Wikipédia, quer dizer: "Colhe o dia presente e sê o menos confiante possível no futuro".
A expressão no contexto: "Enquanto estamos falando, terá fugido o tempo invejoso; colhe o dia, quanto menos confiada no de amanhã".

Jesus, no Evangelho, desafia os seus discípulos a viver no tempo atual, presente, sem medo do amanhã, confiando em Deus, mas não deixando a vida ao acaso, empenhando-se na edificação do Reino de Deus e da Sua justiça. O mais providenciará Deus.
"O vosso Pai celeste bem sabe que tendes necessidade de tudo isso. Procurai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, e tudo o mais se vos dará por acréscimo. Não vos preocupeis, portanto, com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã já terá as suas preocupações. Basta a cada dia o seu problema" (Mt 6, 33-34).
Depois de ensinar a oração do Pai-nosso, referindo que não é o número das palavras que conta, mas a disponibilidade para acolher o Deus que vem e de realizar na sua vida quotidiana a vontade de Deus, Jesus insiste para que os seus seguidores, embora de olhar fito nas alturas, estejam comprometidos com os irmãos no tempo que passa.

A expressão anterior - carpe diem - é utilizada em vários sentidos: "gasta a vida enquanto podes", "aproveita enquanto és novo", "goza agora que não sabes o dia de amanhã". Neste sentido pode ser mesmo um convite a desperdiçar o tempo presente, como se o de amanhã nos fosse roubado. É uma expressão para justificar também os excessos...
Mas é o mesmo Deus que nos garante o dia de hoje e o dia de amanhã.
Num sentido cristão, este é um convite a "desfrutar" com alegria o dia de hoje, a potenciar a nossa vida, a comprometer-nos agora, a dar-nos aos irmãos, a realizarmos o que está ao nosso alcance sem esperarmos que outros o realizem, ou que com o tempo alguém se lembre de fazer ou de resolver.

O tempo que não volta...
Ainda que haja situações idênticas, o tempo e a história não e repetem. Por mais que quiséssemos e por mais esforços que façamos o passado não volta. Não nos pertence.
Somos e (re)conhecemo-nos pelas referências aos tempos idos. Somos pessoas, com memória, com raízes, como já vimos por aqui... Não é possível a pessoa de hoje, sem a de ontem, e até mesmo sem se projetar no amanhã. Aliás, se menosprezássemos o passado, a história, seria uma enorme ingratidão para com as pessoas que nos precederam. A história não se compadece com os ingratos, a anulação da memória destrói a vida da pessoa, da família e da comunidade.

A melhor gratidão que prestamos à história e aos nossos antepassados, é a abertura ao futuro, à novidade. Eles rasgaram horizontes que nos permitem viver com muita comodidade, uns mais que outros. Puseram os seus talentos a render. Preparam o futuro (que é o nosso presente) com o seu engenho e esforço. Hoje cabe-nos a nós.
Não sejamos reféns do passado, parasitas do tempo. O tempo não pára. Não volta. O tempo atual é nossa, é graça de Deus. Não esqueçamos os que vieram antes e o que nos legaram. Agora é a nossa vez de construir e preparar o nosso futuro e o futuro dos vindouros.

Vivamos o hoje com alegria e confiança. Aguardemos que o amanhã nos dê a oportunidade de cimentarmos o que hoje semeamos.
Obviamente que a esperança no amanhã, e o compromisso com o hoje, não esconde a dificuldade que muitos têm de enfrentar. Pessoas com situações pessoais, familiares, profissionais preocupantes, sem horizonte, sem um vislumbre de segurança.
Porém, há situações que uma atitude de desânimo não ajuda, pelo contrário só complica o que já de si é complexo e delicado.

NB - Vive hoje com intensidade, sendo generoso consigo e com as pessoas que lhe estão mais próximas. A página que não preencher hoje, não a terá amanhã. Amanhã terá uma página inteirinha para escrever.

23.02.12

54. Humildade : Frontalidade : Sinceridade : Transparência : Caridade

mpgpadre
Humildade :: Frontalidade :: Sinceridade :: Transparência :: CARIDADE

 

"Agora permanecem estas três coisas: a fé, a esperança e a caridade; mas a maior de todas é a caridade" ( 1 Cor 13, 4-13).

 

São palavras e atitudes muito próximas. Podem ser equivalentes, em muitas situações ou consequência umas das outras. A humildade implica a sinceridade e a caridade. A Caridade, por sua vez, enquadra e promove a humildade, a transparência, a sinceridade e a frontalidade (bem entendida). A frontalidade revestida da caridade torna-se uma fonte de aproximação, de diálogo e de edificação mútua.

No entanto, para o cristão o ponto de partida, o ponto de chegada, e o sustentáculo é a CARIDADE. Sem a caridade, o amor gratuito e oblativo ao jeito de Jesus, Aquele que nos dá a Sua vida, as outras virtudes ficam como um esqueleto ressequido, sem carne, sem músculos, sem vida.

 

Há dias, num jantar com colegas padres, ouvi a um - que foi meu professor há alguns anos, e portanto com mais experiência de vida e com outra maturidade de fé (ainda que não tenha tanto a ver com idades mas com cada pessoa, e com os diversos momentos por que passa a sua vida) - uma expressão muito significativa e que hoje nos traz aqui.

Algumas pessoas com a desculpa que são sinceras magoam, ofendem agridem - "não quero saber, eu tenho que ser sincero, quem quer ouvir que ouça, quem não quer não ouça, mas tenho que dizer o que penso", os outros que vão às favas, pouco me importa que gostem ou não. Eu sou assim.

Certamente não é nada que não tenhamos ouvido.

Do mesmo modo acerca da frontalidade. São duas "atitudes" próximas mas não se confundem. Deveria resultar uma da outra.

"O que tiver a dizer digo, seja diante de quem for. Eu cá sou frontal. Não tenho nada a esconder. Custe a quem custar. Eu sou assim. Podem ficar chateados que eu não me importo. Para mim a frontalidade é mais importante".

Será mesmo assim?

Por experiência própria, tenho para mim que tudo o que se absolutiza e se generaliza corre o risco de se tornar contraproducente e "cair" sobre o próprio.

Também aqui não é branco ou preto, pode-se estar a caminho...

Há, sem dúvida, pessoas, que são frontais, que não se escondem em desculpas, que cumprem com o que está ao seu alcance para tornarem o mundo mais saudável...

 

Ou então existem diferentes tipos de frontalidade ou maneiras distintas de a interpretar:

– sou frontal, o que tenho de dizer digo... mas nunca à frente/ na fronte, sempre por interpostas pessoas, e elas se quiserem dizer ao próprio que digam! Há muitas pessoas assim frontais... dizem aqui e além, mas nunca a quem dirigem a sua irritação;

– sou frontal, digo o que me dá na real gana, seja a quem for, seja o que for, não interessa, eu sou assim, quanto aos outros não me interessa o que pensam, ou como reagem;

– sou frontal, traduzindo: sou melhor que toda a gente. As minhas ideias são as melhores do mundo. Os outros ou aceitam ou recusam, mas eu não mudo de opinião. A minha opinião é que conta. Se os outros não aceitam mudar de opinião, são ditadores, orgulhosos. Traduzindo: isto é o contrário do diálogo. O diálogo promove a discussão mas com abertura, estou na disponibilidade de mudar de opinião ou de completar a opinião que tenho, ou pelo menos fazer o esforço por compreender o que o outro tem para me dizer;

– sou frontal, gostem ou não, eu cá sou assim, digo o que penso, digo-lhes para seu próprio bem. Traduzindo: é uma opinião pessoal, mas será uma convicção profunda, já testei na minha vida (contando com a minha imperfeição)? Pediram-me o conselho, ou será que precisam mesmo do meu conselho? Imponho(-me) ou proponho? Estou certo e os outros errados? Não estaremos os dois certos, ou até os dois errados?

 

Pessoas frontais que são sinceras.

Pessoas frontais que destilam ódio, irritação e sobranceria sobre os outros.

Pessoas frontais que usam a mentira, meias-verdades, opiniões duvidosas para ofender, para agredir... sob a capa da frontalidade.

 

Jesus convida a reconhecer os nossos erros e imperfeições, a sabermos acolher o perdão de Deus e a termos a humildade suficiente para perdoar a quem nos ofende. A denúncia é inabalável contra a falsidade, a mentira e a hipocrisia, contra as pessoas fingidas, incoerentes – exigem aos outros o que não fazem. A frontalidade de Jesus leva-O a confrontar as pessoas com a dignidade de filhos de Deus.

A nossa humildade há de dar-nos a coragem para nos reconhecermos também pelas nossas insuficiências, e frontalidade de nos sabermos a caminho.

 

NBA minha fronte/frente não é igual à fronte/frente do outro.

Sou frontal porque estou defronte/de frente/diante de/à frente, face a face com a outra pessoa. É um sentido mais físico mas é também espiritual. Estou à frente da pessoa, sou frontal, quando olho para ela como pessoa, com sentimentos e opiniões próprias, com a sua história de vida, com os seus dramas e com as suas conquistas. Não estou à frente de uma parede. Se eu estiver à frente de um muro, a minha frontalidade só me implica a mim. Se estou perante outra pessoa, implica-me a mim e a ela. Portanto, não descarrego apenas a minha opinião, ou a minha irritação, mas dialogo, falo e escuto, aconselho e deixo que ela me aconselhe, cedo e ela cede também (se se tratar disso), explico o meu ponto de vista e deixo que a outra pessoa rebata ou apresente o seu ponto de vista.

E se é de frente, não é nas costas, não é na ausência da pessoa que se contesta.

 

NB 2 – Um ponto de vista é sempre a vista de um ponto.

 

NB 3 – A frontalidade, a sinceridade, a transparência e a humildade deverão ser revestidas de caridade. Sem caridade são como o esqueleto sem carne, sem músculos, sem vida. Surtem efeito, mas em sentido malévolo, vazio, contraproducente. Se a nossa frontalidade é dirigida a pessoas específicas tratemo-las como pessoas concretas, e se for necessário façamos uma abordagem que respeite o tempo e as características da pessoa que temos de fronte...

 

NB 4 – mais uma reflexão em aberto…

23.02.12

Boletim Paroquial Voz Jovem - fevereiro 2012

mpgpadre

       O boletim paroquial Voz Jovem já se encontra disponível em formato digital. Vem com um rosto ligeiramente diferente, à espera de sugestões já solicitadas. E bem mesmo a calhar, em tempo de conversão interior, de mudança de vida, expressão da conversão e da adesão firme a Jesus Cristo. Obviamente, e como refletimos nesta edição, o exterior, as tradições, os gestos - jejum, oração, esmola - só serão verdadeiramente transformadores se traduzirem a conversão e levarem a um empenho mais consciente e responsável pelo bem de todos. Como sugere Bento XVI, na Sua Mensagem Quaresmal, e partindo do texto da Carta aos Hebreus (10,24) - "Prestemos atenção uns aos outros. para nos estimularmos ao amor e às boas obras" - somos responsáveis uns pelos outros, somos "guarda" do nosso semelhante, do nosso irmão. Na mesma lógica a Mensagem Quaresmal do nosso Bispo, D. António Couto - responsáveis pelos que estão perto e pelos que estão longe. Nesse sentido, e como vem anunciado no boletim, a Semana Nacional da Caritas, cujo peditório na nossa diocese se destina em parte ao fundo solidário diocesano (responsáveis pelos que estão perto) e para as missões de Malema e Nametil, em Moçambique (responsáveis pelos que estão longe).

       Para além das informações decorrentes do trabalho pastoral paroquial, textos sobre a quaresma, sobre a fé de Jesus, sobre a tomada de posse do nosso novo Bispo, D. António Couto.

O Boletim poderá ser lido a partir da página da paróquia de Tabuaço, ou fazendo o download:

22.02.12

53. O jejum faz bem à saúde.

mpgpadre

O jejum faz bem à saúde.

No dia em que a Igreja inicia o tempo santo da QUARESMA, como preparação para a celebração festiva da PÁSCOA, centramo-nos nos aspetos que tradicionalmente se associam a este tempo litúrgico: a oração, o jejum e a esmola (a caridade).

 

O que provoca mais apreensão é o JEJUM. Num tempo em que se foge de todo e qualquer sacrifício, todo e qualquer esforço, o tempo do descafeinado - com o sabor, mas sem a essência - o jejum surge revestido de conservadorismo, tradição anquilosada.

Vamos por partes.

Quando o jejum era uma observância mais rigorosa, também havia mais indigência. Muitos faziam jejum o ano inteiro. Como agora, aliás.

Há os que fazem jejum para manter a linha. O que até está ultrapassado - comer mais vezes em menos quantidade, é a melhor dieta para manter a linha, e que a alimentação seja diversificada, com um prato colorido, alimentos de diversas cores.

 

Jejum - comer menos. Eventualmente fazer uma refeição completa, e as demais serem frugais. Pessoas com mais de 21 anos e menos de 65 anos, que não estejam doentes, ou a tomar medicação, e cujo trabalho não exija uma alimentação reforçada. Dois dias de Jejum: Quarta-feira de Cinzas e Sexta-feira Santa.

 

Abstinência - deixar de comer algum tipo de alimento. Tradicionalmente, abster-se de carne. Estão "obrigados" pessoas com mais de 14 anos, e como quanto ao jejum, que não estejam a tomar medicação. Dias: Quarta-feira de Cinzas e todas as Sextas-feiras da Quaresma (no resto do ano poderá ser substituída pela oração, pela esmola, pela participação na Eucaristia, pela leitura da Sagrada Escritura. Abster-se de carne, ou de peixe, sendo este mais dispendioso, ou quando se gosta bem mais de peixe. Abster-se de doces, de chocolate, de café, de tabaco, de dizer palavrões...

 

O jejum faz bem a saúde física e espiritual.

Por vezes o nosso organismo precisa de descansar, de desenjoar das comidas habituais, para se equilibrar. Os médicos sabem isso, mas também as pessoas comuns. Quando nos sentimos doentes, por vezes, verificamos que precisamos de "não comer", para o estômago se refazer, e os outros órgãos envolvidos na digestão. Ou mais água e comida leve.

O jejum, por si mesmo, apenas como sacrifício não vale muito, vale em quanto nos coloca na rota de Deus e nos leva à prática da caridade. Jejuamos, deixamos de comer algum alimento, para que o que poupamos possa ser investido a favor dos outros.

 

O JEJUM na BÍBLIA:

"O jejum que Me agrada não será antes este: quebrar as cadeias injustas, desatar os laços da servidão, pôr em liberdade os oprimidos, destruir todos os jugos? Não será repartir o teu pão com o faminto, dar pousada aos pobres sem abrigo, levar roupa aos que não têm que vestir e não voltar as costas ao teu semelhante? Então a tua luz despontará como a aurora e as tuas feridas não tardarão a sarar. Preceder-te-á a tua justiça e seguir-te-á a glória do Senhor. Então, se chamares, o Senhor responderá; se O invocares, dir-te-á: «Estou aqui» (Is 58, 1-9a).

Os discípulos de João Baptista foram ter com Jesus e perguntaram-Lhe: «Por que motivo nós e os fariseus jejuamos e os teus discípulos não jejuam?» Jesus respondeu-lhes: «Podem os companheiros do esposo ficar de luto, enquanto o esposo estiver com eles? Dias virão em que o esposo lhes será tirado e nessa altura hão de jejuar» (Mt 9, 14-15).

 

O jejum, com a oração e com a esmola, é um sinal, uma oportunidade e uma vivência que valem como expressão da conversão interior, da adesão firme à Palavra/vontade de Deus, no seguimento do caminho do Senhor. O jejum, sem mais, tornar-se-á insignificante, quando muito uma dieta que pode ajudar o organismo a ser mais saudável. O jejum, na vivência da fé, há de ser acompanhado da oração e da caridade, das boas obras. Jesus, no Evangelho, não o desvaloriza, mas dá prioridade ao acolhimento e ao seguimento: "enquanto o noivo estiver com eles...".

Nós devemos valorizar as práticas penitenciais como incentivo e como expressão da conversão, mas ligadas, sempre, à caridade e à oração.

 

BENTO XVI:

"O Jejum, que pode ter diversas motivações, adquire para o cristão um significado profundamente religioso: tornando mais pobre a nossa mesa aprendemos a superar o egoísmo para viver na lógica da doação e do amor; suportando as privações de algumas coisas – e não só do supérfluo – aprendemos a desviar o olhar do nosso «eu», para descobrir Alguém ao nosso lado e reconhecer Deus nos rostos de tantos irmãos nossos. Para o cristão o jejum nada tem de intimista, mas abre em maior medida para Deus e para as necessidades dos homens, e faz com que o amor a Deus seja também amor ao próximo (cf. Mc 12, 31)".

 

A Igreja recomenda diversas práticas: o jejum, a conversão, a confissão, a abstinência, a leitura mais frequente da Sagrada Escritura, a participação mais ativa na Eucaristia, a partilha mais efetiva com os mais necessitados. Hão de ser expressão da conversão interior. O gesto da imposição da cinzas, nesta Quarta-feira de Cinzas, mais não é que um fortíssimo sinal do nosso despojamento interior, que deverá significar adesão firme a Deus. Importa "rasgar o nosso coração"... os gestos exteriores só valem se nos mobilizarem interiormente...

 

O verdadeiro jejum é a postura que nos aproxima de Deus e faz de nós irmãos uns dos outros na promoção da vida, da dignidade, vivendo de olhos postos no Altíssimo, na partilha que leva à comunhão, na verdade que nos liberta e nos compromete na caridade... No cristianismo, os gestos exteriores assumem, para serem autênticos, a conversão interior a Jesus Cristo e ao seu modo de ser e de agir, na disponibilidade constante por dar a vida pelo outro, traduzindo em gestos concretos de bem dizer e de bem-fazer.

21.02.12

52. É Carnaval ninguém leva a mal, se fizer por tal.

mpgpadre

É Carnaval ninguém leva a mal, se fizer por tal.

A diversão, as festas, os momentos de lazer, fazem parte do nosso quotidiano. Por um lado permitem-nos descansar da rotina diária - que também é precisa, só assim faz sentido sair da rotina -, e por outro lado aproximam-nos dos outros, se aproveitarmos para conviver, para aprender, para acolher, para potenciar outros talentos.
Os tempos de descontração são bom lenitivo nas dificuldades e nas canseiras.
Seja Carnaval seja outra qualquer festa, ainda que pagã, pode ser aproveitada pelos crentes, pelos cristãos, para evangelizar.
Até para brincar é preciso ser sério.
Há quem não saiba brincar.
Há quem brinque quando não é ocasião para tal.
Há ocasiões propícias para brincar.
Quem brinca não precisa de deixar de ser sério.
Quem é pouco sério, falseia também a brincadeira e a diversão.
Quem aproveita a brincadeira para ser desonesto, perverte a beleza e a saúde da diversão.

Também nas brincadeiras dá para conhecer as pessoas.
Pode acontecer que alguns se escondam por detrás das máscaras - para tal nem precisam do Carnaval para o fazer -, para fazer mal, para prejudicar, para agredir, para ofender pessoas que à luz do dia, e sem máscaras, não o fariam.
A coerência de vida também passa por aqui: procurar ser iguais a nós próprios no trabalho, no lazer, nos momentos sérios da vida e como nos momentos de descontração.

Quem é maltratado pode não saber quem está por detrás da máscara.
Quem faz mal, ainda que protegido pela máscara, e tiver (alguma) consciência, saberá que fez mal, agiu à falsa fé, usou a hipocrisia e a cobardia para esconder as suas debilidades físicas e/ou afetivas.

Estas palavras não são para terceiros. É para todos. Podemos passar por algum momento de fraqueza em que nos escondamos do olhar dos outros...
Estamos todos a caminho.
Quem puder e/ou quem quiser aproveite o Carnaval para se divertir não à custa dos outros, mas com os outros e para os outros. À custa dos outros, brincávamos quando éramos muito crianças, muito infantis...

20.02.12

51. Aprenda a dizer não (com razões razoáveis) para valorar o sim.

mpgpadre

Aprenda a dizer não (com razões razoáveis) para valorar o sim.

Há muitas situações em que temos de dizer não.
Não por birra, ou por maldade, ou por orgulho, ou por que nos apetece chatear os outros, ou porque dessa maneira mantemos a nossa posição, ou porque não nos queremos comprometer.

Há muitas situações que seria mais fácil dizer sim, mas para sermos honestos e justos temos que responder (claramente) não. Falo também por experiência própria nas comunidades paroquiais como na escola (enquanto professor de EMRC).
O que nos pedem, e a forma como o fazem, graúdos e miúdos, enternece-nos, mas nem sempre é o caminho da verdade. Porque também nem sempre o caminho mais fácil é o que nos leva mais longe e ao destino certo.

Na liturgia da Palavra deste Domingo, escutávamos, na segunda epístola de São Paulo aos Coríntios, que Deus responde sempre SIM às Suas promessas, a favor de toda a humanidade. O Apóstolo e os seus companheiros procuram também que a sua linguagem, para a comunidade, seja sempre sim, e não alternadamente, umas vezes sim e outras não. Sempre sim.
No Evangelho, e como refletíamos ontem, Jesus convida à transparência na linguagem: "sim, sim" e "não, não".
São duas formas que apostam na transparência e na benevolência. Não há que enrolar os outros com meias verdades, e no caminho da prática cristã o sim é ponto de partida, de chegada, é alimento, é sustento da fé.

No caso presente - e mais uma vez não pretendemos ser nem taxativos nem definitivos, estamos a caminho, a partilhar e a aprofundar alguns pensamentos (positivos) - trata-se de não termos medo daquilo que o nosso não possa provocar. Obviamente, não dizemos não para irritar o outro, ou para lhe fazer mal, mas dizemos "NÃO" quando a verdade e a caridade o impõem. Sublinhamos: verdade e caridade. Havemos de cá voltar. A sinceridade por vezes é desculpa para ofendermos os outros e a sua dignidade. Tenho de ser sincero... e digo o que me dá na real ganha sem olhar à pessoa que tenho diante de mim (não confundir com outra situação: sou brando e  agressivo, conforme a simpatia que a pessoa gera em mim - este seria um caso típico de acepção de pessoas).

Queremos ser agradáveis e dizemos sim. É mais fácil... a não ser que nos estejam a pedir algo, ou a pedir o nosso tempo e trabalho, aí o sim pode já não ser do nosso agrado. Mas sempre é mais simples, mais gratificante, mais cómodo, dizer sim. Como pais, como educadores, quantas vezes a tentação de dizer sim é maior?! Na volta temos sorrisos, palavras agradáveis, boa disposição. É da nossa natureza, dizendo sim conseguimos um fácil aplauso e/ou louvor.
Aliás, é bom dizer sim e sentirmo-nos bem porque fomos e pudemos ter sido prestáveis. Mas que o sim não tenha como fim o aplauso fácil. Que seja um sim convicto, consciente, e que dignifica a nossa postura, procurando a tal coerência de vida, dizemos "sim" porque está de acordo com as nossas convicções.

Se dizemos "não", temos amuos, contestação, indisposição, irritação.
Quantos filhos não quereriam ter pais que lhes dissessem "não", quantos filhos não gostariam que os pais um dia lhes tivessem dito não! Na adolescência e na juventude, os pedidos dos filhos por vezes são forma de testarem os pais, são momentos de afirmação e são ocasiões para o pais/educadores dizerem "não" (quando se justifica) e explicar porquê. Dar razões. Confiar neles. Do mesmo jeito, quando for possível dizer sim. Confiar. Estar atento. Ser claro. Ouvir as razões do filho/aluno. Não ter medo de fazer concessões, até como forma de responsabilizar. Não há vitórias ou derrotas no relacionamento humano. Há ganhos, crescimento, partilha, enriquecimento mútuo. Nunca ganhamos à custa do sofrimento do outro. Nunca sairemos vencedores de um conflito emocional/afetivo. Sairemos todos a perder. Vale a pena apostar no diálogo, na compreensão. Nem sempre é fácil. Ou quase nunca é fácil. E neste campo, depende muito de pessoa para pessoa e também das pessoas que estão frente a frente.

Se um filho ou um aluno não tiver limites, não saberá distinguir o certo do errado, o justo do injusto, o verdadeiro da mentira, a liberdade da libertinagem.
Uma das histórias da minha infância é sintomática. Aprendi com os meus pais, mas também na escola (ou vice versa): um homem foi condenado à morte por roubar. Já várias vezes tinha sido denunciado. E foi condenado à morte na forca. como último desejo pediu para beijar a mãe, quando estava com a corda no pescoço. A mãe aproximou-se e o filho (mesmo ladrão continua a ser filho querido) arrancou-lhe o nariz com os dentes. E deu a sua explicação: quando eu era pequenino e cheguei a casa com uma agulha (roubada), se a mãe não a tivesse aceitado, mas perguntado onde a tinha encontrado e me tivesse obrigado a devolvê-la e me desse duas bofetadas (hoje já não se usam bofetadas, passou de moda), talvez eu nunca me tivesse tornado ladrão e hoje não estaria aqui.

Trata-se mais uma vez do justo equilíbrio e que na prática, no concreto do dia a dia, não é fácil, sobretudo para os pais a tempo inteiro (isto é para os pais que realmente se preocupam e acompanham o crescimento dos filhos).
Há que não ter medo de dizer "NÃO". Os filhos precisam de ouvir o "não" firme dos pais, reconhecendo a sua preocupação e o seu amor. Ninguém diz "não" para chatear os filhos. Penso eu. Ou para chatear os alunos. Penso eu que não. Ou para chatear as pessoas a quem se diz não...

Quando se equilibra o não com o sim, procurando o melhor para aqueles que estão ao nosso encargo, então quer o não quer o sim serão compensadores, se levarem a uma vida mais saudável e se resultarem do melhor que há em cada um...
Do dizer ao fazer vai um longo caminho... mas podemos começar... o caminho faz-se caminhando, às vezes tropeçando, ou caindo... importa não desanimar. Deus caminha connosco e nos outros podemos encontrar-nos com Ele.

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