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Escolhas & Percursos

...espaço de discussão, de formação, de cultura, de curiosidades, de interacção. Poderemos estar mais próximos. Deus seja a nossa Esperança e a nossa Alegria...

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22.12.11

Boletim Paroquial Voz Jovem - dezembro 2011

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       Na edição de dezembro, o Boletim Voz Jovem reflete, de uma maneira muito particular, a vivência à volta da solenidade da nossa padroeira, Nossa Senhora da Conceição, pelo que os textos apresentados, bem como as imagens, são testemunho desta festa, ou melhor, expressam a devoção á Imaculada Conceição e como deverá ser referência, modelo, guia para os cristãos, para os vários grupos paroquiais, e para toda a comunidade, como deverá inspirar-nos no nosso trabalho pastoral nesta ocasião e ao longo de todo o ano. Obviamente, que o boletim é feito também de outras informações e de outras reflexões, como o Olhar de um jovem...

        Mas poderá ler nos diversos formatos...

       O Boletim poderá ser lido a partir da página da paróquia de Tabuaço, ou fazendo o download:

21.12.11

Natascha Kampusch: não se morde a mão que nos alimenta

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"A fome é uma experiência física extrema. Primeiro, ainda nos sentimos bem: quando se corta o fornecimento de comida, o corpo ainda se estimula. A adrenalina é libertada parta o sistema. De repente, sentimo-nos melhor, cheios de energia. É provavelmente um mecanismo através do qual o corpo nos quer indicar que ainda tem reservas, e que podemos usá-las para procurar alimento. Encarcerados debaixo da terra, não podemos encontrar qualquer alimento, e o suplemento de adrenalina não nos serve para nada. Somos atormentados pelos barulhos que o estômago faz e pelos sonhos de comida. Os pensamentos giram apenas em redor do próximo pedaço de comida. Depois, perdemos a ligação à realidade, e deslizamos para um estado de delírio. deixamos de sonhar, e entramos simplesmente noutro mundo. Vemos bufetes, grandes pratos cheios de esparguete, tortas e bolos, muito perto de nós. Miragens. Cólicas que sacodem o corpo todo, de tal maneira que aparece que o estômago se está a devorar a si próprio. As dores que a fome provoca são insuportáveis. Isto é incompreensível para quem a a fome nunca passou de uns ligeiros barulhos que o estômago faz. Eu gostaria de nunca ter sentido aquelas cólicas. Por fim chega a fraqueza. Quase não conseguimos erguer um braço, a circulação sanguínea falha, e quando nos levantamos, vemos tudo preto e desmaiamos...

Não se morde a mão que nos alimenta. No meu caso apenas havia uma mão que me podia livrar de morrer de fome. Era a mão do mesmo homem que passava a vida a privar-me de comida... É tão fácil controlar alguém quando o mantemos esfomeado".

Natascha Kampusch, 3096 dias, Edições Asa: 2011

21.12.11

Abrir-se ao DOM

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Recuperar a verdade do Natal é abrir-se ao dom, deixar que Cristo se forme em nós

        Acende-se, neste tempo, a nostalgia nos nossos corações. E quando escrevo "nossos", estou a pensar em quantos ainda viveram um Natal religioso, familiar e feliz; afinal os que conheceram outra realidade diferente desta pressa anónima, irrefletida e comercial que hoje nos afoga.

       Nostálgicos, exclamamos que "já não é como dantes". Estranhamente, porém, resignamo-nos, qual pedaço de esferovite perdido na corrente: apesar de flutuar, está decididamente rendido a uma força estranha!

       Foi já há mais de uma dezena e meia de anos que me confrontei com um grito de alarme numa revista espanhola: "Roubaram-nos o Natal". Mas aonde nos levou esta constatação? Que reação provocou, para além do estranho sentimento de perda? Às indefinições que vivemos…

       Sempre tive grande dificuldade em lidar com a resignação, mesmo quando ma apresentavam vestida de suposta virtude. Realmente, tenho medo de cobardias dóceis ou cómodas abdicações.

       É por isso mesmo que defendo uma urgência: recuperar a verdade do Natal - lavando-a de todas contaminações e "distrações", para usar a ideia expressa pelo Papa Bento XVI no Angelus do passado domingo.

       Se o fizermos, torna-se natural o anúncio e a partilha da impensável notícia: "Deus amou tanto o mundo, que lhe deu o seu Filho unigénito".

       Reconheça-se que muitos cristãos assim procedem, trabalhando para que os sinais do Amor não desapareçam das casas, das ruas e, sobretudo, dos gestos. Deparamo-nos, por isso, com exposições, presépios, estandartes às janelas e campanhas que levam ao encontro do outro - que é sempre o lugar de encontro com Deus. Mas são demasiados os embrulhados numa mera generosidade de coisas; ou em atitudes simplesmente protocolares, vividas com o desencanto de quem eterniza indiferenças, ainda que escritas sob o manto de "cordiais saudações"!..

       Recuperar a verdade do Natal é abrir-se ao dom, deixar que Cristo se forme em nós. Sem medo, pois que quanto mais fugirmos de Deus, mais nos desumanizamos.

 

João Aguiar Campos, Editorial da Agência Ecclesia.

18.12.11

Faça-se em mim segundo a tua palavra

mpgpadre

       1 – ACOLHER. Deixarmo-nos surpreender pelo mistério, pela presença de Deus nas nossas vidas, é o desafio para este domingo. Maria não estava à espera. Embora conhecedora das profecias, da Sagrada Escritura, nada lhe indicava que algum dia pudesse ser a escolhida, daí a surpresa: "Como será isso se eu não conheço homem".

       Mas vejamos o desenrolar dos acontecimentos, na Anunciação, pelas palavras do Anjo:

       «Ave, cheia de graça, o Senhor está contigo; bendita és tu entre as mulheres… Não temas, Maria, porque encontraste graça diante de Deus. Conceberás e darás à luz um Filho, a quem porás o nome de Jesus. Ele será grande e chamar-Se-á Filho do Altíssimo. O Senhor Deus Lhe dará o trono de seu pai David; e o seu reinado não terá fim… O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra. Por isso o Santo que vai nascer será chamado Filho de Deus. E a tua parenta Isabel concebeu também um filho na sua velhice porque a Deus nada é impossível».

       A reação de Maria interpela-nos. Pergunta porquê, como é possível que se realize tal "milagre", mas não contesta, encontra-se em atitude de escuta, de acolhimento do mensageiro e da mensagem que chega até ela. Não lhe encontramos desculpas ou falsa modéstia. Mesmo que não entenda tudo, no momento presente, entrega-Se a Deus, abre-Se à Sua graça. É a cheia de graça. Não apenas naquele momento, mas cada dia em que responderá do mesmo jeito: «Eis a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra».

 

       2 – Ao acolher a vocação específica para ser a Mãe do filho de Deus, Ela cumpre, para nós e para a humanidade inteira, os desígnios de Deus, que nos criou por amor, para sermos felizes, termos vida e vida em abundância.

       Pelos profetas, Deus vai revelando o Seu projeto de amor e salvação. Somos convidados a fazer em nossa vida a morada de Deus, a acolhê-l´O, na certeza que é Ele que quer fazer a Sua casa em nós, tornar-nos Sua habitação. Quando David intenta construir um Templo para acolher a Arca da Aliança, sinal do pacto entre Deus e o povo, Deus faz saber através do profeta Natã: "o Senhor anuncia que te vai fazer uma casa. Quando chegares ao termo dos teus dias e fores repousar com teus pais estabelecerei em teu lugar um descendente que há-de nascer de ti e consolidarei a tua realeza. Ele construirá um palácio ao meu nome e Eu consolidarei para sempre o teu trono real. Serei para ele um pai e ele será para Mim um filho. A tua casa e o teu reino permanecerão diante de Mim eternamente e o teu trono será firme para sempre".

       Nestas palavras se confirma que Deus nunca abandonará o Seu povo, mas reforçará a ALIANÇA e tornará eterno o reino que está para chegar.

       Com a anunciação do Anjo a Maria, torna-se mais próximo o cumprimento das promessas feitas por Deus ao Seu povo, a favor da humanidade inteira. Com a vinda de Deus, encarnando no seio da Virgem Mãe, o mistério adensa-se e desvenda-se, ao mesmo tempo.

       Diz-nos o Apóstolo São Paulo: "a revelação do mistério encoberto desde os tempos eternos mas agora manifestado e dado a conhecer a todos os povos pelas escrituras dos Profetas segundo a ordem do Deus eterno, dado a conhecer a todos os gentios para que eles obedeçam à fé – a Deus, o único sábio, por Jesus Cristo".

 

       3 – Maria mostra-nos a proximidade de Deus mas também a possibilidade da nossa vida ser morada de Deus. Ela foi escolhida de antemão por Deus para ser a Mãe do Messias. Foi preservada de toda a mancha, Virgem Imaculada, salva por privilégio divino, antecipando os méritos da CRUZ redentora de Cristo Jesus. Mas n'Ela descobrimos que também poderemos ser morada de Deus, templo do Espírito Santo. Com efeito, Maria é Mãe biológica de Jesus, mas também discípula, cumpridora dos ideais do Evangelho, gerando vida em abundância pela caridade, pela intercessão, tornando-se Mãe espiritual, Mãe da Igreja.

       "Minha mãe e meus irmãos são aqueles que escutam a Palavra de Deus e a põem em prática". O mistério e o milagre na vida de Nossa Senhora poderão repetir-se na nossa vida, desde e quando cumprirmos o mesmo sim a Deus, faça-se em mim segundo a Tua Palavra. Quando aceitamos os desígnios do Senhor, quando acolhemos a Sua vida na nossa vida, quando nos tornamos a Sua casa, pela verdade, pelo bem e pela partilha solidária, cumprimos a nossa vocação, como filhos amados de Deus, no caminho da santidade, tornando-nos verdadeiramente família de Jesus.


Textos para a Eucaristia (ano B): 2 Sam 7,1-5.8b-12.14a.16; Rom 16,25-27; Lc 1,26-38. 

 

Reflexão Dominical na página da Paróquia de Tabuaço

16.12.11

IX Festival Diocesano da Canção Mensagem - Tabuaço

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       No passado dia 10 de dezembro, os jovens da paróquia de Tabuaço participaram no IX Festival Diocesano Jovem da Canção de Mensagem, organizado e promovido pelo SDPJ de Lamego, no Teatro Ribeiro Conceição. Aqui fica a belíssima prestação dos nossos jovens, agradecendo-lhes e às pessoas que se quiseram associar para os apoiar.

 

15.12.11

O Céu existe mesmo - o menino que foi ao céu e voltou!

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Todd Burpo e Lynn Vicent, O Céu existe mesmo, lua de papel, Alfragide 2011.

 

       O menino a chegar os 4 anos de idade e que faz um experiência conhecida como post-mortem. Operado ao apêndice, cinco dias depois de rebentar o abcesso e depois de cuidados intensivos e de novo operado, com os pais a verem sinais da morte presente no filho. O pai é pastor, protestante, e está habituado, na assistência aos moribundo, a detetar sinais de morte iminente. São os mesmos sinais que deteta no filho. Contudo a oração intensa e a não desistência realizam o milagre. Deus não os abandona.

       Mais tarde, Colton começa a relatar os momentos em que se viu a ser operado, tendo saido do seu corpo, guiado por Jesus, ascende ao Céu, onde encontra o avô do seu pai, crianças pequenas como ele, Jesus, Deus Pai, Deus Espírito Santo, Maria, João Baptista, a irmã não nascida, e de que nunca se falara em sua casa, e muitos situações conhecidas das Sagradas Escrituras mas cuja compreensão numa criança daquela idade é (quase) impossível. Fala de morte, e do céu, sem medo. A determinada altura chega mesmo a dizer que tem saudades da irmã (sem nome porque os pais não chegaram a colocar-lhe nome) e que não se importa de morrer, seria uma forma de voltar ao céu.

       Independentemente da fé de cada um, este é um testemunho impressionante. Para que tem fé, pode ser mais um sinal. Para quem não tem, pode ser um desafio a deixar-se interpelar pelo "DESCONHECIDO".

       Neste como em outros casos, com mais fé ou menos fé, leia, de espírito aberto, sem preconceitos. No final não deixará de ser uma bela história, uma leitura agradável. Se ajudar a cimentar a sua fé, melhor ainda. Em todo o caso, está de acordo com as profecias do Apocalipse e com muitos episódios da Sagrada Escritura.

       Este livro sugere-nos outras leituras como A vida para além da Vida, ou até mesmo A Cabana, (neste caso é uma história ficcionada), que retrata episódios semelhantes...

15.12.11

Natascha Kampusch: nem branco nem preto, cinzento...

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"Não existe nada que seja absolutamente branco ou absolutamente preto. E ninguém é totalmente bom. E isso também é verdade em relação ao criminoso. Estas são frases que as pessoas não gostam de ouvir da boca de uma vítma de rapto. Porque desse modo pomos de cabeça para baixo o conceito claramente definido do que é bom e do que é mau, que as pessoas preferem adoptar, de maneira a não perderem a orientação num mundo cheio de tonalidades de cinzento. Quando falo sobre isto, consigo detetar laivos de irritação e de rejeição nos rostos de alguns dos que nunca passaram por uma situação deste tipo. Aquilo que ainda há instantes era uma empatia sentida em relação ao que me sucedeu gela e transforma-se em repulsa. As pessoas que não têm a mínima ideia do que é a complexidade do encarceramento negam-me a capacidade de julgar as minhas próprias experiências com as seguintes palavras: Sindrome de Estocolmo"... não é um síndrome, é uma estratégia de sobrevivência...

Natascha Kampusch, 3096 dias, Edições Asa: 2011.

14.12.11

Natascha Kampusch: fazer as pazes com o passado e olhar para o futuro

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"Agora, quatro anos depois de me ter libertado sozinha, posso respirar em paz e dedicar-me ao capítulo mais difícil, ou seja, tentar lidar com o que aconteceu: fazer as pazes com o passado e olhar para o futuro. Presentemente,só algumas pessoas reagem de um modo agressivo em relação a mim. A maior parte das pessoas que encontro vai-me apoiando ao longo do meu caminho. Lenta e cuidadosamente, ponho um pé à frente do outro e vou aprendendo a confiar de novo... O meu tempo de encarcerada vai estar sempre presente na minha mente, mas, aos poucos, tenho a sensação de que já não derterminará a minha vida. É uma parte de mim, mas não é tudo. Ainda existem muitas outras facetas da minha vida que quero experimentar..."

Natascha Kampusch, 3096 dias, Edições Asa: 2011

13.12.11

Natascha Kampusch - 3096 dias de cativeiro

mpgpadre

Natascha Kampusch, 3096 dias, Edições Asa: 2011

       Natascha Kampusch foi "roubada" à vida que tinha, no dia 2 de março de 1998. Passados 3096 dias, no dia 23 de agosto de 2006, consegue finalmente ganhar coragem para fugir ao seu raptor, a única pessoa com quem podia falar, viver, relacionar-se. Só 4 anos depois, no entanto, é que consegue ser e sentir-se livre:

"Com este livro, tentei fechar o capítulo mais longo e mais negro da minha vida. Sinto-me profundamente aliviada por ter encontrado palavras para o improferível e para as constradições. Vê-las impressas diante dos meus olhos ajuda-me a olhar com confiança para o futuro. Porque aquilo por que passei também me tornou forte. Sobrevivi ao encarceramento na masmorra, consegui libertar-me sozinha e mantive a minha integridade. Acredito firmemente que também conseguirei viver a minha vida em liberdade. E essa liberdade começa apenas agora, quatro anos depois do dia 23 de agosto de 2006. Apenas agora, depois destas linhas, consigo colocar um ponto final nesta história e dizer em toda a verdade: SOU LIVRE".

       Nasceu a 17 de fevereiro de 1988. A mãe tinha então 38 anos e duas filhas já crescidas. Os viviam há três anos juntos. Vai ter de conquistar o seu lugar no mundo.

       Naquele dia acordou triste e furiosa. A fúria da mãe, por causa do pai, recaíra nela. A mãe proibiu-a de voltar a ver o pai. Queria ser adulta para se libertar das discussões da mãe. Com 10 anos aproximava o tempo de se tornar independente, faltavam 8 anos, para fazer os 18 da maioridade. Convencera a mãe a deixá-la ir a pé para a escola. Afinal já andava na quarta classe. Naquele dia saía de casa alterada com a mãe de quem memorizara as palavras: "Nunca se deve partir quando estamos furiosos com alguém. Nunca se sabe se voltaremos a ver essa pessoa".

Não se despediu da mãe e não a voltaria a ver por muito, muito, por demasiado tempo. Aproxima-se do homem que a fará prisioneira, com receio, mas quando olha para ele os seus receios desvanecem-se, estava errada, foi empurrada para a carrinha, que lhe despertara a atenção momentos antes.

"Tentei gritar. Mas não saiu nenhum som da minha boca. As minhas cordas vocais simplesmente se recusaram a colaborar. Eu toda era um grito. Um grito mudo, que ninguém conseguia ouvir".

       É encarcerada numa masmorra, sem luz natural, pequena (2,70 m de comprimento, 1,80 m de largura, 2,40 m de altura), uma jaula, na cave. Durante 8 anos será agredida com violência física e emocional (ninguém quer saber de ti, ninguém gosta de ti, só me tens a mim), passa fome, sede, por vezes fica dias inteiros sozinha, com a luz acesa, ou às escuras, com um teporizador a controlar o tempo. É forçada a trabalhar, a limpar tudo num brinco, e por vezes voltar a limpar o já limpo, só por capricho, há-de ajudar o raptor em trabalhos mais pesados, carrega pesos maiores do que as suas forças, o racionamento da comida é outra forma de controlo. O raptor promete-lhe uma vida feliz a dois, se ela não desobedecesse, se colaborasse.

       Há dias apresentamos aqui uma história de resistência e sobrevivência - INVENCIVEL -, diríamos que também esta é uma história de sobrevivência e de uma grande resistência. Não quebra, não se deixa destruir, ainda que por vezes tivesse pensamentos destrutivos, não perde a grandeza que lhe vai na alma:

"Eu sempre resisti às suas tentativas de me apagar e me transformar numa criatura sua. Ele nunca me conseguiu quebrar. Por outro lado, as tentativas dele para me transfomarem noutra pessoa caíram em solo fértil"...

       Até o nome quis trocar-lhe. Quando ela fazia algum erro, ele não perdoava: "És burra que nem um porta"... agarrou num saco de cimento e atirou-lho:

"Não foi a dor o que mais me chocou. O saco era pesado e o embate magoou-me, mas eu teria podido suportá-lo. Foi a dimensão da agressão do criminoso que me tirou a respiração. Ele era a única pessoa que existia na minha vida, e eu estava totalmente dependente dele. Aquele ataque de fúria ameaçava-me de um modo extremo. Senti-me como um cão batido que não pode morder a mão que o agride porque é a mesma que lhe dá de comer. A única saída que me restava era a fuga para dentro de mim. Fechei os olhos e ignorei tudo e não saí do sítio".

       Compensou-a com gomas.

       Mas ele não venceria...

 

"Mas acabei por vencer. Nunca, nem uma única vez, durante todos os anos em que ele exigiu de um modo tão veemente, lhe chamei «meu senhor».

Nunca me ajoelhei diante dele.

Muitas vezes teria sido mais fácil desistir. Teria sido poupada a alguns murros e pontapés. Mas eu tinha de preservar um certo espaço de manobra naquela situação de total submissão e de total dependência do raptor... Ele dominava-me quando me humilhava e maltratava sempre que lhe apetecia. Dominava-me quando me fechava dentro da masmorra, quando me obrigava a trabalhar como escrava. Mas nesse ponto fiz-lhe frente. Chamava-lhe «criminoso» quando ele queria que eu o chamasse de «meu senhor». Chamava-o de «querido» ou de «meu tesouro» em vez de «meu senhor» para o fazer ver a situação grotesca em que ele nos pusera".

       Vai escrevendo sobre o que lhe sucede. As tantas apenas sobre os maus tratos. É um segundo EU que lhe promete a libertação para os 18 anos. Nessa altura, o outro EU pegar-lhe-á na mão e conduzi-la-á em direcção à liberdade. É um grito que se mantém e certamente a ajudará a manter-se sã e decidida a viver até ao dia em que fugirá do seu raptor.

"Não te deixes abater quando ele diz que tu és demasiao estúpida para tudo.

Não te deixes abater quando ele te bate.

Não te importes quando ele di que és uma incapaz.

Não te importes quando ele diz que não consegues viver sem ele.

Não reajas quando ele te apaga a luz.

Perdoar-lhe tudo e não continuar zangada com ele.

Ser mais forte.

Não desistir. Nunca desistir"

       Mais fácill de dizer que fazer. Eis que se aproxima a hora que prometera a si mesma para fugir, e com ela a dúvida, a incerteza, a hesitação:

       "A minha incerteza acerca do criminoso afinal poder ter razão e eu estar melhor à sua guarda do que lá fora começou a diluir-se lentamente. Agora eu era uma pessoa adulta, o me segundo Eu tinha-me firmemente na mão e eu sabia muito bem que não queria continuar a viver daquela maneira".

"«Colocaste-nos numa situação em que apenas um de nós poderá sobreviver», disse eu de repente. O criminosso olhou para mim surpreendido. Eu não me deixei distrair. «Estou-te sinceramente grata por não me teres matado e por me tratares tão bem. É muito simpático da tua parte. Mas não me podes obrigar a viver contigo. Eu sou senhora de mim mesma, e tenho as minhas necessidades. Esta situação tem de ter um fim»... Eu continuei a falar. «É apenas natural que eu tenha de partir. Tu devias ter contado com isso desde o princípio. Um de nós tem de morrer, não existe outra solução. Ou me matas, ou me libertas»... Nunca desitir. Nunca desistir. Eu não vou desistir de mim... respirei e disse a frase que modifcou tudo: «Tentei tantas vezes suicidar-me - contudo, era eu a vítima. Na realidade, seria muito melhor se tu te suicidasses. Tu não tens qualquer outra opção. Se te matasses, todos os problemas deixariam de existir»... eu fugiria à primeira oportunidade. E um de nós não iria sobreviver a isso".

       Chega a dia da sua fuga. Quando ele tenta vender, por telefone, um apartamento que remodelaram, vê a oportunidade de fugir. Hesita mas foge. O portão do jardim está aberto. Cruza-se com dois homens, a quem pede socorro e um telefone para ligar para a polícia, seguem em frente. Entra no jardim de uma mulher assustada que só quer que ela saia do jardim, mas que decide ligar para a polícia, daí a pouco estão dois incrédulos polícias junto dela. Estava concluída parte da sua fuga.

      É esta a história narrada pela própria, numa linguagem atraente, em que sobressaem os seus sentimentos, quase se vêem as suas lágrimas, o seu sofrimento, a sua confusão, a sua dignidade. Este é mais uma excelente leitura, sobre sobrevivência humana. Em situações tão medonhas é impressionante que Natascha Kampusch não tenha quebrado.

 

       Apresentação do livro da TVI:

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  229. J
  230. A
  231. S
  232. O
  233. N
  234. D

Velho - Mafalda Veiga

Festa de Santa Eufémia

Pinheiros, 16/17 de setembro de 2012

Primeira Comunhão 2013

Tabuaço, 2 de junho

Profissão de Fé 2013

Tabuaço, 19 de maio

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