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Escolhas & Percursos

...espaço de discussão, de formação, de cultura, de curiosidades, de interacção. Poderemos estar mais próximos. Deus seja a nossa Esperança e a nossa Alegria...

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24.02.24

Se Deus está por nós, quem estará contra nós?

mpgpadre

       1 – "Se Deus está por nós, quem estará contra nós? Deus, que não poupou o seu próprio Filho, mas O entregou à morte por todos nós, como não havia de nos dar, com Ele, todas as coisas? Quem acusará os eleitos de Deus? Deus, que os justifica? E quem os condenará? Cristo Jesus, que morreu, e mais ainda, que ressuscitou e que está à direita de Deus e intercede por nós?"

       Duas certezas inabaláveis na nossa vida terrena: a morte e o amor (de Deus).

       O mal – expressão/manifestação da morte – é mais visível, mostra-se com mais facilidade, preenche as páginas dos (tele)jornais, choca mais, entra-nos pelos olhos, enquanto o bem muitas vezes passa despercebido.

       O amor – para além do mal e da morte – gera a vida. O amor é criativo, inventa a arte, a música, a beleza, a comunhão entre pessoas e povos. Se o amor não existisse, o mundo já há muito tinha desaparecido do mapa. O amor guarda a história, cimenta a cultura, constrói as civilizações, protege-nos do deserto da solidão e do abandono.

       Para o crente, o amor é mais forte que a morte e tem um nome: DEUS. O AMOR é Deus e Deus é Amor, é origem e sustentáculo do amor humano. O Apóstolo São Paulo, na sua epístola aos Romanos, na segunda leitura, coloca em evidência esta ligação a Deus, que nada poderá aniquilar. Deus está por nós. Ama-nos. Vem ao nosso encontro. Protege-nos como uma mãe a um filho que muito ama. Tal é o Seu amor que nos dá o Seu próprio Filho. Não O poupa ao sofrimento e à morte. Em Jesus, o amor de Deus vai até ao fim, até Se esvair em sangue, até a vida biológica se extinguir. 

       Abraão é testemunha privilegiada do amor de Deus e de como Deus Se coloca a nosso favor. "Abraão, Abraão, não levantes a mão contra o menino, não lhe faças mal algum... porque obedeceste à minha voz, na tua descendência serão abençoadas todas as nações da terra". Deus não poupa o Seu filho por amor à humanidade, poupa a humanidade, por amor.

        O mandamento de Deus é categórico: "Não matarás... não levantes a mão contra o teu filho... contra o teu irmão". Se assim for, a bênção espalhar-se-á pelas gerações.

 

       2 – Preparamo-nos para a Páscoa, acontecimento fulcral da história da salvação, acontecimento fundante da Igreja. Deus entra na história e no tempo, entranha-Se na humanidade, por Jesus Cristo. N'Ele, Deus feito homem, somos enxertados na vida de Deus. Com a ressurreição de Cristo, a nossa natureza humana é colocada à direita de Deus Pai. Nem o tempo nem a eternidade, nem a vida nem a morte nos separa do amor de Deus, pois Ele está por nós, como refere São Paulo.

       No episódio que o Evangelho deste domingo nos apresenta – a TRANSFIGURAÇÃO – Jesus irradia a presença luminosa de Deus, fazendo-nos vislumbrar os tempos da ressurreição e da eternidade.

       "Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João e subiu só com eles para um lugar retirado num alto monte e transfigurou-Se diante deles. As suas vestes tornaram-se resplandecentes, de tal brancura que nenhum lavadeiro sobre a terra as poderia assim branquear. Apareceram-lhes Moisés e Elias, conversando com Jesus. Pedro tomou a palavra e disse a Jesus: «Mestre, como é bom estarmos aqui! Façamos três tendas: uma para Ti, outra para Moisés, outra para Elias». Não sabia o que dizia, pois estavam atemorizados. Veio então uma nuvem que os cobriu com a sua sombra e da nuvem fez-se ouvir uma voz: «Este é o meu Filho muito amado: escutai-O»".

       Como aquela que está para ser mãe vai vivendo na expetativa, com o vislumbre do filho que vai chegar, através das ecografias, das fotos intrauterinas do feto, e experimentando a vida nova pelos movimentos no seu ventre, assim Jesus mostra, em antecipação, os tempos futuros, para solidificar confiança nos seus discípulos mais próximos. A alegria definitiva, a LUZ da ressurreição, transparece nesta epifania de Jesus. Uma evidência que nos envolve e desafia: no meio do quotidiano e da turbulência da vida atual é possível extrair luz, paz, vida, amor, encontro com Deus.

 

       3 – Uma certeza e uma tarefa neste segundo domingo da Quaresma.

       A certeza, que clarifica a nossa postura existencial: quanto mais perto de Deus e do Seu amor, mais distantes estaremos da morte e das suas manifestações (mal, injustiças, mentira, corrupção, conflitos, pobreza, distúrbios afetivos e emocionais).

       A tarefa (de sempre): escutar. A transfiguração faz-nos vislumbrar a Páscoa, cativando a nossa atenção, ajudando-nos a enquadrar o tempo presente, perpassado de alegrias e dores, temperado com mil cores de bem, de beleza e de amor, e de dúvida, conflito e de morte. O olhar não engana, mas por ora é a voz que ressoa nos nossos ouvidos: "Este é o meu Filho muito amado: escutai-O".

       A certeza facilita a tarefa de escutar Jesus, procurando que a Sua palavra se transforme em vida, cimentando e aprofundando em nós as marcas da ressurreição e do amor de Deus, sintonizando-nos com as pessoas que são pedacinhos de Deus, e despertando o nosso olhar para a LUZ que d'Ele nos chega.


Textos para a Eucaristia (ano B): Gen 22,1-2.9a.10-13.15-18; Rom 8,31b-34; Mc 9,2-10.

 

Reflexão Dominical na página da paróquia de Tabuaço.

03.02.24

Todos Te procuram... Vamos a outros lugares...

mpgpadre

       1 – "De manhã, muito cedo, levantou-Se e saiu. Retirou-Se para um sítio ermo e aí começou a orar. Simão e os companheiros foram à procura d’Ele e, quando O encontraram, disseram-Lhe: «Todos Te procuram». Ele respondeu-lhes: «Vamos a outros lugares, às povoações vizinhas, a fim de pregar aí também, porque foi para isso que Eu vim». E foi por toda a Galileia, pregando nas sinagogas e expulsando os demónios".

       O relato do Evangelho que nos é proposto neste domingo acompanha Jesus no Seu ministério público, em vários momentos, e em diferentes acentuações.

       Desde logo, a narração mostra como a fama de Jesus já se tinha espalhado e como são muitas as pessoas que O procuram. As razões podem ser diversas como diversa é a vida de cada um, com as suas preocupações e com os seus sonhos/projetos.

       Os discípulos mostram a preocupação: "todos Te procuram", parecendo que Jesus se tinha alheado das pessoas e desta procura. Mas escutemos: Vamos a outro lugares, ao encontro das pessoas, há mais pessoas que querem e precisam de escutar a palavra de Deus. É essa a minha missão: pregar, levar a todos a Palavra de Deus para que todos tenham a oportunidade de acolher os novos tempos da salvação.

       Como sublinhou o nosso Bispo, na tomada de posse, mais perto de Deus para se fazer mais próximo dos homens. "Pertinho de Deus, cheio de Deus, Jesus leva Deus aos seus irmãos" (D. António Couto). É o ponto de partida de Jesus. Há de chegar a ser também o nosso. Jesus não Se afasta para Se isolar, para ficar longe das pessoas, afasta-Se para rezar, para ficar pertinho de Deus e depois voltar com toda a força aos caminhos dos homens e levar Deus a todos.

 

       2 – Vejamos como São Marcos nos mostra Jesus em momentos distintos.

       Jesus avança para Cafarnaum. Vai à Sinagoga, oração, leitura, reflexão da Sagrada Escritura, cura um homem com um espírito impuro.

       Mas a Sua jornada ainda não acabou. "Jesus saiu da sinagoga e foi, com Tiago e João, a casa de Simão e André. A sogra de Simão estava de cama com febre e logo Lhe falaram dela. Jesus aproximou-Se, tomou-a pela mão e levantou-a. A febre deixou-a e ela começou a servi-los". Depreende-se que entretanto Jesus e os seus discípulos comam, descansem um pouco, retemperem forças.

       O dia ainda não terminou, ainda há muito que fazer. "Ao cair da tarde, já depois do sol-posto, trouxeram-Lhe todos os doentes e possessos e a cidade inteira ficou reunida diante da porta. Jesus curou muitas pessoas, que eram atormentadas por várias doenças, e expulsou muitos demónios..." 

       Manhã cedo, antes que os outros despertem, já Ele se levantou, saiu para um lugar sossegado, para que a Sua intimidade com Deus Pai se torne mais evidente. O alimento de Jesus é fazer a vontade do Pai. Os seus gestos, palavras, milagres, encontros, com a multidão ou em casa de pessoas concretas, são momentos que espelham o fazer a vontade do Pai. Mas por vezes, a necessidade de parar, avaliar, refletir, rezar, ouvir, fazer silêncio, para que a voz do Pai ressoe mais fundo.

 

       3 – Todos O procuram. Jesus vai, parte, industria/ensina os Seus discípulos para que eles possam ajudar, testemunhar, anunciar o AMOR de Deus em toda a parte, em todos os lugares, em todos os tempos, até ao fim do mundo.

       Disso nos dá a certeza o Apóstolo da Palavra:

       "Anunciar o Evangelho não é para mim um título de glória, é uma obrigação que me foi imposta. Ai de mim se não anunciar o Evangelho! Se o fizesse por minha iniciativa, teria direito a recompensa... Em que consiste, então, a minha recompensa? Em anunciar gratuitamente o Evangelho, sem fazer valer os direitos que o Evangelho me confere. Livre como sou em relação a todos, de todos me fiz escravo, para ganhar o maior número possível. Com os fracos tornei-me fraco, a fim de ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, a fim de ganhar alguns a todo o custo. E tudo faço por causa do Evangelho, para me tornar participante dos seus bens". 

       Que há de mais sublime que viver Deus, deixando que Ele transborde para os outros, para o mundo. Cada cristão há de tornar-se anunciador do Evangelho, é a condição de todo o batizado, o compromisso de todo/a aquele/a que quer seguir Jesus. Anunciar o Evangelho com a vida que se leva, em cada encontro, em cada lugar, para inserir a própria vida na eternidade de Deus.

 

       4 – Crente é aquele que se abre ao mistério. A vida não se resume à materialidade, à dimensão biológica. O homem ultrapassa infinitamente o homem (Blaise Pascal), está inscrito nos seus genes, aspirar sempre mais, até ao Infinito. Deus criou-nos por amor, atrai-nos constantemente. Quando nos esquecemos da nossa identidade, da nossa origem, envia profetas, envia o Seu próprio Filho. 

       Aspiremos às coisas do alto. É da eternidade que Deus nos busca. Vem. Desce. Habita-nos. Encarna. Faz-Se história. Faz-Se tempo. Vive no meio de nós. É Deus connosco. Percorre, em Jesus Cristo, os dramas e os sonhos da (nossa) humanidade. Carrega a cruz do nosso sofrimento, não por ter muitas forças, mas por transbordar de Amor. Amar é a força maior. Quem ama vai mais longe. Quem ama carrega todas as cruzes, todo o sofrimento, até ultrapassar. Quem ama dá a vida, predispõe-se a oferecer a vida pelo outro, pelo filho, pelo irmão, pela mãe e pelo pai, pela humanidade.

       O nosso desejo, sermos mais, vivermos mais, vivermos melhor, é o caminho da santidade. Aperfeiçoar-nos, não para sermos melhores que os outros, mas nos tornamos aquilo que somos, imagem e semelhança de Deus. Para sermos felizes. Quando nos dispersamos, confundimo-nos, desorientamo-nos. Não sabemos para onde ir. Não nos reconhecemos. Não sabemos por que estamos aqui. Não sabemos por que estamos e outros não. Na dispersão, diabolizamos, tornamo-nos estorvo, pedra de tropeço uns para os outros.

       A vida é efémera. Avança. Rápida. Veloz. À velocidade da luz. Estamos, e logo já não estamos. Amanhece e logo nos tornamos demasiados velhos, pesados, já não voamos, já não sonhamos, já não nos resta nem vida nem esperança.

       "Job tomou a palavra dizendo: Os meus dias passam mais velozes que uma lançadeira de tear e desvanecem-se sem esperança. – Recordai-Vos que a minha vida não passa de um sopro e que os meus olhos nunca mais verão a felicidade". 

       A vida é como um sopro. Se ela acaba na morte, é demasiado frágil, inócua, vazia, perde-se toda a esperança, tudo o que fomos, o que somos não tem saída, não tem horizonte, abertura. A nossa vida e identidade dispersam pelo cosmos como poeira insignificante. Não ficará qualquer registo da nossa passagem pelo mundo, a não ser poeira, entre poeira.

       A vida é história que nos compromete. Se na nossa fragilidade encontrarmos o Deus da vida, a esperança recoloca-nos na eternidade, o nosso fim é o Céu, e então a duração da nossa existência medir-se-á pela intensidade com que vivemos, pelo amor, pela paixão, pelo sonho, pela beleza. Enlevados para o alto para o encontro de Deus na história. Podemos alcançar Deus, melhor, podemos deixar-nos alcançar por Deus na história deste tempo, na nossa vida quotidiana.

       Evangelizar também é isto: viver na dinâmica do amor de Deus.


Textos para a Eucaristia (ano B): Job 7,1-4.6-7; 1 Cor 9,16-19.22-23; Mc 1,29-39.

22.09.18

Quem quiser ser o primeiro será o último de todos e o servo de todos

mpgpadre

1 – «Senhor, que fizestes consistir a plenitude da lei no vosso amor e no amor do próximo, dai-nos a graça de cumprirmos este duplo mandamento, para alcançarmos a vida eterna». A oração inicial da Eucaristia prepara-nos para escutar a Palavra de Deus e para, à partida, percebermos o fio condutor da mensagem nela contida, iluminando as nossas escolhas. A Palavra de Deus é sempre desafio, é luz, que nos provoca e compromete, nos envolve e nos transforma.

A oração pressupõe humildade de quem se reconhece frágil, invocando o poder e o amor de Deus. Em algumas situações, a oração pode ser contraproducente, quando agradecemos a Deus por sermos melhores que os outros e por não precisarmos de ninguém. Ou, em alternativa, só precisamos de Deus, garantia que sairemos vencedores. Os que estão ao nosso lado, mais que companhia ou ajuda, são um estorvo, fazem-nos perder tempo, incomodam-nos. Eu cá tenho a minha fé. Eu e Deus é que sabemos, os outros não importam!

Como confessa São Tiago, a fé sem obras é oca. Do mesmo modo a oração. Se rezamos voltados para Deus, mas sem ligação e sem abertura ao nosso semelhante, então a oração é um palavreado inútil, vazio, pois corta um pé do tripé em que assenta: Deus, o próximo e cada um de nós. Amar a Deus implica amar os que Ele ama, logo, a humanidade inteira, concretizável em cada pessoa.

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2 – Ao amor de Deus para connosco respondemos com amor em relação aos outros, em forma de serviço, de cuidado e de ajuda. É a nossa identidade, a nossa missão, o nosso compromisso. Não temos como fugir se a nossa opção de vida é seguir Jesus. Seguir Jesus, com efeito, é a nossa primeira vocação. Fomos batizados na Sua morte e ressurreição, para sermos plasmados pelo Seu Espírito.

Há momentos em que vem ao de cima a nossa fragilidade, o nosso pecado, o nosso egoísmo, mas também o medo, a desconfiança e a vontade de fazermos tudo à nossa maneira, e talvez que os outros se sujeitem aos nossos interesses. Não é de hoje.

Depois da confissão de fé de Pedro, Jesus diz-lhes o que vai acontecer: «O Filho do homem vai ser entregue às mãos dos homens, que vão matá-l’O; mas Ele, três dias depois de morto, ressuscitará».

Pedro reagiu da forma que vimos, repreendendo Jesus. Ao anúncio da paixão, Jesus acrescenta o anúncio da ressurreição. Mas já tinha feito estragos, os discípulos já não O escutaram direito. Em Cafarnaum, já em casa, Jesus interroga-os sobre o que vinham a discutir. Percebemos então que os discípulos discutiam sobre qual deles era o maior. Se o reino de Deus se vai manifestar, se Jesus vai ser morto, então há que avaliar qual é o mais apto para Lhe suceder.

Poderíamos pensar que a repreensão de Pedro a Jesus era muito dele, afinal os outros afinam pelo mesmo diapasão.

 

3 – Durante o caminho Jesus mantém-se em silêncio. Parece não ouvir. Talvez fosse a falar com os seus botões (se os houvesse naquele tempo!), ou a rezar! Em casa responde-lhes.

As respostas de Jesus não se pautam pelo excesso de palavras, por explicações complexas, por tentativas de convencer. Frequentemente recorre a imagens ou a situações concretas do dia-a-dia.

Sem rodeios, Jesus diz-lhes: «Quem quiser ser o primeiro será o último de todos e o servo de todos». Entre os líderes das nações, dir-lhes-á noutra ocasião, discutem-se os lugares e o poder de cada um; não seja assim entre vós, quem quiser ser o mais importante coloque-se ao serviço dos outros. Vale para eles, vale para nós. E mesmo os que detêm autoridade, devem exercê-la como serviço, desde o Papa ao mais simples trabalhador da vinha do Senhor.

Vem então o exemplo. Jesus toma uma criança, coloca-a no meio dos discípulos, abraça-a e diz-lhes: «Quem receber uma destas crianças em meu nome é a Mim que recebe; e quem Me receber não Me recebe a Mim, mas Àquele que Me enviou». Simplicidade, alguma ingenuidade, pobreza, despojamento, dependência, vulnerabilidade. Serviço, cuidado.

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Textos para a Eucaristia (ano B): Sab 2, 12. 17-20; Sl 53 (54); Tg 3, 16 – 4, 3; Mc 9, 30-37

 

REFLEXÃO DOMINICAL COMPLETA na página da Paróquia de Tabuaço

15.09.18

E vós quem dizeis que Eu sou?

mpgpadre

1 – "O que tu és fala tão alto que mal consigo ouvir o que tu dizes" (Ralph Waldo Emerson). Imediatamente nos diz que somos mais do que aquilo que dizemos. Por vezes não precisamos de falar para que as nossas atitudes, postura, os nossos gestos digam, falem, gritem por nós! Positiva e negativamente.

Ña segunda leitura, São Tiago lembra-nos como dizer, como tornar visível a fé professada, como mostrar a nossa ligação ao Deus de Jesus Cristo. A fé é o ponto de partida. É pela fé que Deus vem até nós, é a fé que nos permite ver Deus em Jesus e ver Deus no nosso semelhante. Mas não é uma fé (somente) minha, exclusiva, intimista, de trazer por casa, feita à minha medida, mas a fé em Jesus, a fé de Jesus, vivida em comunidade.

A fé é acolhimento pessoal, encontro com Jesus, morto e ressuscitado, mas vive-se na relação concreta com o outro, na comunidade e na caridade. “Se um irmão ou uma irmã não tiverem que vestir e lhes faltar o alimento de cada dia, e um de vós lhes disser: «Ide em paz. Aquecei-vos bem e saciai-vos», sem lhes dar o necessário para o corpo, de que lhes servem as vossas palavras? Assim também a fé sem obras está completamente morta”.

Tiago clarifica: "Mas dirá alguém: «Tu tens a fé e eu tenho as obras». Mostra-me a tua fé sem obras, que eu, pelas obras, te mostrarei a minha fé".

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2 – São Tiago ajuda-nos a responder à pergunta de Jesus: «E vós, quem dizeis que Eu sou?». Agora é Pedro que responde, inspirado pelo Pai, em seu e nosso nome: «Tu és o Messias».

Jesus segue com os Seus discípulos para as povoações de Cesareia de Filipe. São Marcos dá-nos conta da missão evangelizadora de Jesus, mostrando-O em movimento, por aldeias e cidades, na Judeia e na Galileia, e em outras terras mais distante, algumas fora da "fronteira" religiosa do judaísmo.

No caminho Jesus pergunta-lhes: «Quem dizem os homens que Eu sou?». E a resposta é imediata: «Uns dizem João Baptista; outros, Elias; e outros, um dos profetas». Quer a pergunta quer a resposta não nos implicam, pois apontam para o que os outros dizem e pensam. É uma sondagem sobre a opinião pública. Mas logo Jesus lhes arremessa com outra pergunta: «E vós, quem dizeis que Eu sou?».

 

3 – Esta questão é mais pessoal. Cabe a cada um responder a Jesus. Não esqueçamos que a fé tem sempre duas dimensões, a pessoal e a comunitária. A fé não é abstrata; a fé resulta de um encontro, cada um de nós com Jesus, e que implica a conversão ao Seu evangelho. Se professamos a fé em Jesus Cristo, pessoalmente, seremos impelidos para a comunidade, para junto daqueles que professam a mesma fé, adoram o mesmo Pai, se alimentam do mesmo Espírito!

Pedro toma a dianteira e responde firme: Tu és o Messias. Partindo daqui, Jesus clarifica as coordenadas da Sua missão e as consequências decorrentes das Suas opções, dizendo-lhes que se aproximam tempos conturbados em que o Filho do Homem, o Messias, vai sofrer muito, vai ser rejeitado pelas autoridades (religiosas) e vai ser morto. E, três dias depois, ressuscitará.

Perante a clareza com que Jesus fala na Sua morte, Pedro volta a intervir, já não diante dos outros apóstolos, mas à parte, repreendendo-O por dizer tais coisas. É a vez de Jesus o confrontar com os seus interesses: «Vai-te, Satanás, porque não compreendes as coisas de Deus, mas só as dos homens».

Para Pedro era inconcebível que o Messias, o Filho de Deus, pudesse sofrer às mãos dos homens.

 

4 – Seguimos Jesus porque nos deixamos encontrar por Ele e a Ele nos convertemos de todo o coração, sabendo que a nossa vida não fica mais facilitada por isso, quando muito a nossa vida fica absorvida na d’Ele, até à eternidade. Se O seguimos, sujeitamo-nos ao que Ele Se sujeitou, a ser injuriado, preso, maltratado e até morto.

Vale para os discípulos presentes e futuros. No diálogo anterior Jesus voltou-Se sobretudo para os discípulos, agora dirige-se a todos, à multidão com os seus discípulos dentro: «Se alguém quiser seguir-Me, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me. Na verdade, quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; mas quem perder a vida, por causa de Mim e do Evangelho, salvá-la-á».

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Textos para a Eucaristia (ano B):Is 50, 5-9a; Sl 114 (115); Tg 2, 14-18; Mc 8, 27-35.

 

REFLEXÃO DOMINICAL COMPLETA na página da Paróquia de Tabuaço

14.07.18

Jesus chamou os doze Apóstolos e começou a enviá-los dois a dois.

mpgpadre

1 – A nossa vocação, discipulado e apostolado partem de Jesus, assentam em Jesus e encaminham-se para Jesus. Somos chamados para O seguir. Somos discípulos para aprendermos com Ele, uma e outra vez. Somos enviados para anunciar a Boa Nova aos pobres e, com Ele, fazermos do mesmo jeito, libertando os outros das amarras da pobreza, da exclusão, da solidão e de todo o mal.

Seguir Jesus não visa sentar-nos com Ele na cavaqueira à espera que o tempo passe, que a vida aconteça, enquanto vamos passando entre os pingos da chuva, procurando não nos molharmos, assobiando para o lado, lavando as mãos, cruzando os braços, encolhendo os ombros, fazendo de conta que não é nada connosco!

A vida, o mundo, os outros, são responsabilidade nossa. Desde o início. Desde sempre. Deus criou-nos para os outros, por causa dos outros. Somos auxiliares semelhantes. Da mesma costela, da mesma carne. Do mesmo sangue. Com a mesma origem. Temos origem em Deus. Mas a meta da nossa vida também é Deus. Pelo meio não podemos e não devemos andar arredados daqueles que são parte essencial da nossa vida. Não podemos andar de costas voltadas quando queremos chegar ao mesmo lugar, ao coração do Pai.

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2 – Jesus chama os 12 Apóstolos e envia-os dois a dois. O compromisso missionário não nos permite ir sozinhos, nem em nome próprio. Vamos dois a dois, uns com os outros, fazemos parte da Igreja, e vamos em nome de Cristo, para fazer como Ele fez.

O próprio Jesus lhes/nos dá as instruções para o apostolado, para a missão. Dá-lhes o poder sobre os espíritos impuros, mas também a responsabilidade da cura, da inclusão, da paz!

Para irmos precisamos de leveza. Quantas mais coisas tivermos para levar, a quantas mais coisas estivermos presos, mais difícil será partirmos em missão. O que é necessário? O bastão, para nos apoiarmos, para nos sentirmos como pastores! "Nem pão, nem alforge, nem dinheiro... Calçados com sandálias", levando apenas uma túnica. Só o essencial, só o que não nos impede de chegar aos outros, de nos aproximarmos dos outros. As coisas podem pesar-nos, podem interpor-se entre nós. Uma imagem rápida: levamos dois sacos pesados, com coisas preciosas, um em cada mão, como fazemos para nos abraçarmos?! E se temos medo que alguém nos roube o que temos nos sacos? Colocámos no chão ou optamos por não abraçar?

Para seguirmos Jesus, não devemos deixar que o pão, o dinheiro, o vestuário, ou as nossas roupagens obstaculizem à missão, ao serviço aos irmãos, ao anúncio da paz, ao compromisso com a justiça. Que tudo seja oportunidade para nos entreajudarmos.

 

3 – O Evangelho é Boa Notícia. É uma proposta de vida. Não é uma imposição, uma desculpa, uma fuga. Não é um analgésico para os contratempos, ou uma bolha que nos protege nas dificuldades. É um acontecimento, é uma Pessoa, é Jesus Cristo na nossa vida! Não é uma guerra que se ganha pela força, pela retórica, pela chantagem ou pela ameaça. É um desafio e um compromisso. Desafia-nos a darmos o melhor de nós mesmos, não contra os outros, mas a favor de todos. É um compromisso com aqueles que estão no mundo, no mesmo barco que nós, e especialmente como os mais desfavorecidos.

Eis a recomendação: «Quando entrardes em alguma casa, ficai nela até partirdes dali. E se não fordes recebidos em alguma localidade, se os habitantes não vos ouvirem, ao sair de lá, sacudi o pó dos vossos pés como testemunho contra eles».

O encontro com os outros há de comprometer-nos a ficar, a permanecer, e não a saltar de casa em casa, de lugar em lugar. Há tempo para tudo. A fé também se fortalece com os laços de amizade que nos aproximam e nos irmanam. Por outro lado, se as nossas palavras e o nosso testemunho forem recusados, nem por isso devemos deixar de transparecer Jesus.

Naquele tempo, os Apóstolos procuraram corresponder às recomendações de Jesus, partindo e pregando o arrependimento, expulsando os demónios, ungindo com óleo os doentes e curando-os. Hoje cabe-nos fazer como eles, cabe-nos seguir Jesus, procurando agir do mesmo modo, anunciando-O e transparecendo o Seu amor.

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Textos para a Eucaristia (ano B): Amós 7, 12-15; Sl 84 (85); Ef 1, 3-14; Mc 6, 7-13.

 

REFLEXÃO DOMINICAL COMPLETA na página da Paróquia de Tabuaço

12.05.18

Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda a criatura

mpgpadre

1 – Jesus estará presente nos discípulos através do Espírito Santo. Mas caber-lhes-á, e a nós também, pôr em marcha o anúncio do Reino que Ele instaurou com a Sua vida e, particularmente, com o mistério da Sua morte e ressurreição: «Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda a criatura. Quem acreditar e for batizado será salvo; mas quem não acreditar será condenado».

Sem delongas, o evangelista informa-nos que Jesus foi elevado ao Céu, sentando-Se à direita do Pai, e os discípulos partiram por toda a parte, a anunciar o Evangelho, como lhes tinha sido ordenado, e logo verificam que o Senhor coopera com o seu ministério, visível nos milagres que comprovam e ilustram as palavras.

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2 – São Lucas faz-nos regressar um pouco atrás, sublinhando as hesitações e os medos, os percalços do caminho e o perigo da automatização da salvação. Os 40 dias dados para a Ascensão de Jesus força-nos a perceber que Ele esteve o tempo necessário para nos preparar para a missão, mas agora é a nossa vez, não podemos ficar de braços cruzados à espera que a vida aconteça, por si mesma.

Durante 40 dias apareceu-lhes, mas findaram esses dias. Será agora a restauração de Israel? Podemos ficar descansados, que tudo ficará diferente? Vamos ver o sol brilhar no país e no mundo? A resposta de Jesus é lapidar: «Não vos compete saber os tempos ou os momentos que o Pai determinou… mas recebereis a força do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém e em toda a Judeia e na Samaria e até aos confins da terra».

O decisivo não é a irrupção do Reino Deus, o fim do mundo, a vitória do bem sobre o mal, os bons em lugar dos maus, a vida a absorver a morte, a confiança a destruir o sofrimento; o decisivo é o que eu e tu podemos fazer para sermos verdadeiras testemunhas de Jesus, em Jerusalém e em toda a parte, na minha e na tua casa, na minha e na tua paróquia, na minha e na tua rua!

 

3 – Tal como Marcos, também Lucas conclui que Jesus Se eleva à vista deles, mas logo uma nuvem O esconde dos seus olhos!

O Céu faz ouvir o seu grito: «Homens da Galileia, porque estais a olhar para o Céu? Esse Jesus, que do meio de vós foi elevado para o Céu, virá do mesmo modo que O vistes ir para o Céu».

O olhar voltado para o Céu remete-nos para a terra: Jesus virá do mesmo modo! É preciso não descurar a terra, o mundo! Não basta simplesmente ficarmos pasmados a contemplar o que possa estar para lá das nuvens, é necessário que a nossa vida seja sol e luz para os irmãos, sejamos testemunhas de Jesus, do Seu amor e do Seu perdão, para, dessa forma, purificarmos o nosso olhar, o nosso coração, para que vendo-O nos irmãos, O cheguemos a ver face a face.

A Madre Teresa de Calcutá dá-nos uma dica preciosa: «Reza como se tudo dependesse de Deus e age como se tudo dependesse de ti...». O mundo precisa de Deus e precisa de nós, de mim e de ti, para levarmos o Deus que nos habita a todos que não O conhecem ou vivem afastados d’Ele.

 

4 – Hoje, sobretudo em Portugal, mas um pouco por todo o mundo, evoca-se Maria, Mãe de Jesus, como Nossa Senhora de Fátima, 101 anos depois da primeira aparição aos Pastorinhos.

A mensagem é a do Evangelho: conversão, mudança de vida, oração pela paz no mundo, compromisso com a verdade e com a justiça, defesa e promoção da vida e da dignidade das pessoas, sobretudo as mais frágeis!

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Textos para a Eucaristia: Atos 1, 1-11; Sl 46 (47); Ef 1, 17-23; Mc 16, 15-20.

 

REFLEXÃO DOMINICAL COMPLETA na página da Paróquia de Tabuaço

 

28.04.18

Eu Sou a videira, vós sós os ramos...

mpgpadre

1 – A cura é interior, ainda que o exterior a potencie. Na questão biológica, mas também afetiva, moral ou espiritual. Parafraseando Bento XVI no início do seu pontificado (24/04/2005), são muitos os desertos exteriores, mas maiores os interiores. São estes que, em definitivo, condicionam a vida das pessoas e do mundo.

Jesus Cristo dirá aos seus discípulos que o que contamina o homem é o que sai de dentro dele.

Com efeito, até mesmo as feridas expostas são curáveis a partir de dentro, pelo sangue, com a medicação adequada, quando muito a partir do exterior… Há pessoas que qualquer corte sara rapidamente e outras que demora muito tempo: é do sangue! É a resposta. A medicação visa fortalecer o sangue e os seus fluidos, para melhor reagir a bactérias, para elevar algumas das suas propriedades curativas!

Em algumas situações, temos que fazer transfusões de sangue, para repor rapidamente o sangue perdido, ou para o tornar saudável... Claro que o nosso organismo funciona como um todo, interagindo com todos os seus órgãos, desde a mais pequena célula até à complexidade do cérebro; mas para lá da biologia, o espírito, a humanidade, os afetos, o amor que nos mantém vivos!

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2 – «Eu Sou a videira, vós sós os ramos. Se alguém permanece em Mim e Eu nele, esse dá muito fruto, porque sem Mim nada podeis fazer». Para a nossa região duriense, a vinha é um cenário quotidiano que embeleza a paisagem, mas também o ganha-pão de muitas famílias. No tempo da poda, cortam-se os ramos para que as uvas possam despontar e amadurar.

Belíssima imagem esta. A seiva circula por toda a videira, até às pontas, até à parra. Se a cepa secar, por qualquer razão, também os ramos. Aliás, pelas folhas se podem detetar maleitas da videira, podendo atacar-se o problema a tempo e horas.

A descrição de Jesus é muito real: «Eu Sou a verdadeira vide e Meu Pai é o agricultor. Ele corta todo o ramo que está em mim e não dá fruto e limpa todo aquele que dá fruto, para que dê ainda mais fruto». Somos podados pelo Senhor, pela Sua palavra e, sobretudo, pelo Seu amor. «Vós já estais limpos, por causa da palavra que vos anunciei». Importa passar da imagem para a vida, procurando mantermo-nos perto Jesus Cristo, pois tal como os ramos não produzem se não estiverem ligados à vide, assim nós se não estivermos ligados a Jesus Cristo.

 

3 – Na sua primeira Carta, São João reforça a certeza que fé se entrelaça com o bem, com a justiça, com a verdade, com a prática das boas obras. «Não amemos com palavras e com a língua, mas com obras e em verdade».

O discipulado é firmado pelas obras. Sabemos qual a vontade de Deus: «A glória de meu Pai é que deis muito fruto». Dando muito fruto tornar-nos-emos discípulos de Jesus. Não passa (somente) pelos propósitos, passa (sobretudo) pelo compromisso com os outros, no mundo atual. Somos de Deus. Permaneceremos em Deus se praticarmos os Seus mandamentos! E qual o Seu mandamento? «Acreditar no nome do Seu Filho, Jesus Cristo, e amar-nos uns aos outros».


Textos para a Eucaristia (B): Atos 9, 26-31; Sl 21 (22);1 Jo 3, 18-24; Jo 15, 1-8.

 

13.01.18

«Eis o Cordeiro de Deus».

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1 – Jesus chama-nos mas não nos quer de qualquer maneira, quere-nos de corpo e alma. Aceita o nosso pecado e as nossas limitações, aceita-nos como somos, com as nossas dúvidas e hesitações, com os nossos falhanços e com os nossos esforços, compreende os nossos avanços e recuos, o nosso entusiasmo e o nosso medo, as nossas certezas e o nosso peregrinar por vezes titubeante, mas não nos quer pela rama, quere-nos envolvidos, mergulhados na Sua palavra, procurando, apesar de tudo, fazer o bem. Por conseguinte diz-nos ao que vem. Não faz campanha (eleitoral), não usa muito palavreado nem argumentos para nos levar a aderir à Sua mensagem.

Vinde ver! É a Sua resposta! Podia passar umas horas a explicar a razão e a importância do seguimento! Jesus sabe que mais facilmente imitamos comportamentos do que seguimos conselhos, então nada melhor do que ver como Ele vive, como gasta o Seu tempo, como reage às diferentes situações da vida. O apóstolo só o é verdadeiramente se for discípulo, se se mantiver perto do Mestre, pela oração, pela imitação da Sua postura: Vai e faz tu também do mesmo modo.

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2 – Para seguir Jesus não bastam algumas informações sobre Ele, mas mergulhar a nossa vida na Sua vida. Luminosa, a propósito, a Boneca de Sal, uma fábula de Anthony de Mello.

Era uma boneca feita de sal. O seu maior sonho era ver o mar. Ficava dias e noites embrenhada nos pensamentos, tentando imaginar a imensidão e a beleza do grande oceano, sentindo uma grande nostalgia, a "saudade" de algo que conheceria apesar de tão longínquo: as suas raízes, a sua origem.

Um certo dia, decidiu partir. Foi uma busca árdua, saciando pontualmente a sua sede nas fontes e nos riachos, nos lagos e nos rios. Por fim chegou a um areal, uma praia à beira mar. Como era imenso e apelativo aquele mar! E como era misterioso! Parecia que a água salgada e o mar já a habitavam por dentro. Ali ficou, perdida em contemplação, e foi dialogando com o mar: Diz-me, quem és tu?

– Sou o mar.

– Mas o que é o mar?

– Sou eu!

– Explica-me melhor, por favor! Deixa-me perceber, deixa-me conhecer-te...

– É simples: toca-me.

A boneca, extasiada, mas um pouco a medo, avançou e deixou que os seus pequenos pés fossem acariciados pela areia, pela água, pela espuma esbranquiçada. E – surpresa! – começava a compreender qualquer coisa... Quando, porém, pôs os olhos no chão, apercebeu-se, assustada, que os seus pés haviam desaparecido. Protestou aflita: «Oh! Que fizeste tu? Onde estão os meus pés?» O mar replicou: «Porque choras? Apenas foi necessário ofereceres um pouco de ti para poderes compreender».

A boneca refletiu e serenou. Entendia um pouco mais. Então, decidida avançou. A água começou lentamente a cobrir partes do seu corpo que dolorosamente se desvaneciam. Quanto mais avançava mais profundamente compreendia, apesar de ainda não ser capaz de dizer o que era o mar. Uma outra vez inquiriu: «O que é o mar?»

Uma última onda arrebatou o que restava dela. E, precisamente, naquele derradeiro momento em que desaparecia na imensidão do mar, a boneca exclamou: Sou eu!

 

3 – Depois do batismo, Jesus passa a anunciar às claras a Boa Nova da presença de Deus no meio de nós. O Evangelho aponta, com João Batista, para Jesus: «Eis o Cordeiro de Deus».

Ouvindo João, os seus discípulos passam a seguir Jesus. Timidamente, perguntam-Lhe: Rabi, onde moras? Jesus não se demora numa explicação, mas faz-lhes uma proposta: Vinde ver. Eles foram e ficaram com Ele nesse dia. Conhecer Jesus implica habitar com Ele e deixar-se habitar por Ele, deixar que os Seus pensamentos, palavras e gestos se agarrem aos seus corpos e às suas vidas. E à nossa vida!

O encontro com Jesus desencadeia a missão. André vai chamar o seu irmão Simão. O encontro com Jesus é essencial para o seguimento, deixando-se fitar por Ele, como aconteceu com Pedro: «Tu és Simão, filho de João. Chamar-te-ás Cefas». O chamamento não é para umas férias em casa de Jesus, mas é para entranhar a própria vida na Sua vida para depois O testemunhar e transparecer.


Textos para a Eucaristia (ano B): 1 Sam 3, 3b-10. 19; Sl 39 (40); 1 Cor 6, 13c-15a. 17-20; Jo 1, 35-42.

22.10.17

IGNACIO LARRAÑAGA - O POBRE DE NAZARÉ

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IGNACIO LARRAÑAGA (2013). O Pobre de Nazaré. O que precisamos de saber sobre Jesus. 4.ª Edição. Prior Velho: Paulinas Editora. 400 páginas.

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Durante 3 anos, Jesus espalhou magia por aldeias e cidades da Galileia, fez-Se docilidade, agiu compassivamente, desafiou os grandes deste mundo, mas também os excluídos, aqueles para descobrirem a grandeza e a alegria do serviço, este para se sentirem filhos queridos de Deus, com dons que os tornariam importantes. As lideranças judaicas viram-se acossadas não apenas pelas palavras de Jesus mas sobretudo pela Sua postura. Por inveja e ciúme, porque Ele atraía multidões; por medo e cobardia, porque se sentiram ameaçados no seus postos de conforto e privilégio. Foi entregue por um dos discípulos mais próximos, Judas, preso, violentamente agredido, escarnecido, obrigado a carregar a trave da cruz, para nela ser crucificado, andou de Anás para Caifás, ridicularizado, injuriado, acusado de blasfémia e por instigar a revolução, é morto como uma assassino.

Entretanto algo de extraordinário deverá ter acontecido, três dias depois de morto apresenta-Se vivo aos Seus discípulos, às mulheres que andavam com o grupo. Os discípulos deixam de se guiar pelo medo, para se guiarem por uma vontade indómita de anunciar Jesus, de mostrar que Ele está vivo, que morreu e ressuscitou, que o Pai não O deixou para sempre no túmulo do esquecimento, para o resgatou para uma vida nova, gloriosa, definitiva, para a qual também somos atraídos.

A pregação "convincente" e coerente dos Apóstolos geram novos discípulos, à dezenas, às centenas, nem sempre fáceis de gerir, pois trazem interesses e motivações diversas, como ao tempo de Jesus os discípulos e as multidões que O seguiam. Formam-se grupos, comunidades, onde se escutam os Apóstolos, recordando palavras de Jesus, feitos, milagres, gestos, encontros, onde se procura manter viva a recordação de tudo quanto diz respeito a Jesus. Os Evangelhos são uma resposta a esta inquietação de preservar tudo quanto diz respeito a Jesus. Os evangelistas recolhem testemunhos, algumas orações, ou pequenos textos e colocam por escrito. Os Evangelhos, podemos dizer com segurança, são escritos pela comunidade, mais do que por um escritor individual, pois resultam da vivência da mensagem de Jesus numa determinada comunidade, num determinado contexto. Os evangelhos escritos contém as preocupações da comunidade, as suas dificuldades, os seus pontos fortes. Também aqui se pode dizer que não há comunidade sem Evangelho, a Boa Nova de Jesus, mas o Evangelho chega até nós pelo filtro e pela vivência de comunidades concretas.

A formação dos Evangelhos tem então esta sequência, Jesus é morto e é ressuscitado pelo Pai. Os discípulos anunciam'O vivo, atraem outras a seguir Jesus, formam-se comunidades, onde se recorda tudo o que aconteceu sobretudo naqueles três anos de vida pública de Jesus. Surge a necessidade de colocar por escrito, para que não se percam as Suas palavras e não se corram o risco do esquecimento, pois também um dia os Apóstolos hão de morrer e então já não há como confrontar o que corresponde à mensagem de Jesus e o que não corresponde.

São quatro as versões do Evangelho, mas ainda assim há muitas "lacunas" na biografia de Jesus, até porque os evangelhos não têm a preocupação de fazer biografias, mas de mostrar o essencial da mensagem de Jesus, concentrados sobretudo no mistério da morte e da ressurreição de Jesus.

Ao longo do tempo, mas sobretudo a partir do século XVIII houve a preocupação de escrever e publicar a Vida de Jesus, onde se limassem todas as lacunas temporais, reconstituindo a vida de Jesus, tentando fazer concordar os 4 evangelhos, entrelaçando-os. Algumas vidas de Jesus desviam-se dos Evangelho e criam biografias alternativas, baseadas nos evangelhos apócrifos ou em algumas insinuações ou lendas criadas com o decorrer do tempo.

Hoje o que há mais, e vende muito bem, são biografias alternativas à vida de Jesus.

Ignacio Larrañaga apresenta de forma brilhante, escorreita, uma narrativa possível da vida de Jesus, tendo como base próxima os 4 evangelhos e os outros escritos neotestamentários, procurando lançar pontes com a história, com descobertas arqueológicas, com outras ciências que nos aproximam dos nossos antepassados.

É uma escrita fácil de ler, quase se escuta a sua leitura, envolve-nos nos evangelhos, no olhar, nas palavras, nos gestos de Jesus, inclui-nos nas Palavra que também nos dirige a nós, podemos rever-nos nas perguntas que Lhe fazem ou nas respostas que lhes (nos) dá e nos desafios que lhes (nos) lança.

São 400 páginas que parecem 10, tão motivadora e empolgante é a leitura. É uma linguagem acessível para todos.

Uma nota mais pessoal, mas que tem ganhado terreno: Judas não trai Jesus por dinheiro ou por ânsia de poder (num sentido mais pessoal), mas por zelo, querendo que Jesus Se resolva e apresse o Reino de Deus, eliminando rapidamente todos os corruptores, derrubando as autoridades estrangeiras e restabelecendo a realeza judaica. Judas acredita em Jesus e sabem que Ele vem de Deus e pode fazer mais do que aquilo que estará disposto a mostrar. Quando Jesus anuncia aos Seus discípulos que vai ser morto - contrário do que seria expectável por todos - Judas coloca-se em ação para O obrigar a agir. Judas é um dos discípulos mais próximos de Jesus. A cumplicidade de Judas com Jesus não espanta nenhum dos outros apóstolos, é natural, são bons amigos. O facto de Judas se enforcar denota o seu arrependimento, isto é, se ele fosse traidor (por dinheiro ou para usurpar o poder da liderança), então dar-se-ia por satisfeito. Segundo o autor, Judas é maníaco depressivo. Mais que traição uma tática para obrigar Jesus a ser Deus. Porém, Jesus assume o caminho da pobreza, é o Pobre de Nazaré, aprende a obediência, até à morte e morte de Cruz. Serviço, delicadeza, oferecimento da própria vida, despojamento, amor...

26.06.17

VL – A manhã de Páscoa é (também) hoje - 2

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O mistério da morte e da ressurreição de Jesus faz-nos entrar na comunhão de Deus que é Pai, Filho e Espírito Santo, inserindo-nos no Seu Corpo que é a Igreja. Ele a cabeça, nós os membros. Pelo batismo somos imersos na vida de Deus. Somos novas criaturas. Mergulhamos na Sua morte para ressuscitarmos com Ele. Hoje, como ontem, precisamos de viver ressuscitados e ressuscitar a cada instante na nossa identidade original: filhos de Deus, irmãos em Jesus Cristo.

A sociedade do nosso tempo é altamente individualista. A cultura do "eu" está na mó de cima. Verificável também no meu grupo, partido, no clubismo, na ideologia. Imersos num mundo global, mas cujas referências e gostos nos comprometem, não com o diferente, mas com quem tem os mesmos gostos que nós. Nas redes sociais aderimos aos grupos afins e excluímos rapidamente quem pensa diferente. Eu e o meu grupo.

O grupo dos apóstolos faz esta experiência até ao fim. De diferentes origens e com temperamentos diversos. João e André, filhos do trovão; Pedro, impulsivo; Judas Iscariotes tendencialmente revolucionário; Mateus, cobrador de impostos. Filipe letrado. Tão diferentes mas todos lutam por se colocar acima e disputar o lugar cimeiro na futura hierarquia do Reino de Deus. Como grupo fecha-se e impede que outras pessoas entrem. Afastam as crianças (cf. Mt 19, 13-15). Quando encontram um homem a pregar em nome de Jesus e a curar, proíbem-no: "ele não andam connosco" (cf. Mc 9, 38-41). A resposta de Jesus é clarificadora: deixai vir a mim as crianças, é delas o reino de Deus; não o proibais, quem não é contra nós é por nós.

Olhamos a vida a partir da nossa janela. O outro vê-nos partir da sua janela. São olhares que não se anulam, não veem o mesmo, não são fundíveis. Duas linhas retas, paralelas, nunca se tocam. Também a nossa vida. O problema não está em sermos diferentes, o problema está em não nos aceitarmos diferentes, valorizando as diferenças que nos enriquecem, pois nos fazem ver, ouvir, saborear, saber outras realidades.

Não é fácil deixarmos alguém entrar no nosso grupo. Não é fácil sentir-nos em casa num grupo que não é o nosso grupo de origem. Somos invasores, o grupo já existia quando chegamos. Quando chega alguém ao nosso grupo parece dividir a atenção que tínhamos uns com os outros, vem desestabilizar os equilíbrios que construímos ao longo do tempo.

Jesus faz essa experiência com os apóstolos, não desistindo de nenhum, treinando-os para viver em lógica de serviço e de amor.

 

Publicado na Voz de Lamego, n.º 4416, de 13 de junho de 2017

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