Salva-me, Senhor
1 – Ainda que caminhemos por entre escombros, não precisamos que nos substituam, mas que nos estendam a mão, caminhem ao nosso lado; precisamos de uma luz, ainda que seja ao fundo do túnel, um objetivo, uma razão para lutar, uma meta a atingir, um sentido que nos mova a prosseguir.
2 – No Evangelho do domingo passado (não fosse a festa da Transfiguração), Jesus realiza o milagre da multiplicação e da partilha do pão e do peixe. A multidão é a destinatária do ensino e dos gestos de Jesus. Porém, a atenção para com os discípulos mantém-se: eles são chamados a intervir, a dar de comer à multidão, a arranjarem uma solução concreta e possível, a distribuírem/partilharem o alimento e a recolherem as sobras, para que nada se perca.
Estando mais perto de Jesus, os discípulos têm o privilégio de O conhecer melhor, de O escutar com mais atenção, de beneficiarem das Suas explicações. Porém, quanto mais informação, quanto mais poder, mais a responsabilidade. Jesus compromete os discípulos no anúncio do Evangelho e na prática da caridade.
Essa proximidade que liga os discípulos a Jesus fortalece-os, e a nós também, para as tempestades da vida, para os desertos, para as invernias, para as trevas. Depois da multiplicação dos pães, Jesus permanece junto da multidão a despedir-se das pessoas. Os discípulos vão indo para a outra margem.
Há outro hiato de tempo que é recorrente, Jesus sobe ao monte para orar, para melhor escutar o Pai.
Regressa para junto dos discípulos na quarta vigília da noite. Ao vê-l'O os discípulos pensam que estão a sonhar, que estão a ver um fantasma. À noite todos os gatos são pardos. Jesus caminha sobre o mar, tranquilamente. Assustaria qualquer um. Por certo não é uma partida de crianças mas a certeza de que não há barreiras para Jesus vir ao nosso encontro, em nosso auxílio. Como então, Jesus estende-nos a mão, mostra-Se, garante-nos que está. Temos que O ver também durante a noite, quando as trevas se adensam.
3 – Pedro, sempre ele, quer imitar Jesus. E imitar Jesus é coisa boa, é bom sinal. É um desejo que também devemos ter. Mas Pedro lá acaba por se fixar mais nas suas fragilidades e limitações que em Jesus. Mais vale quem Deus ajuda que quem muito madruga. Podemos fazer tudo bem, mas se é apenas por nós, para nós, se nos apoiamos somente nas nossas capacidades, como se fôssemos deuses, tornando-nos o centro, mais tarde ou mais cedo vamos ao fundo. Da mesma forma, não avançamos se for o medo a controlar-nos, o medo de falharmos, o medo de não sermos aceites, o medo de sofrermos…
Vem. Avança. Podes confiar. Pedro vai, com o olhar fito em Jesus. Vai bem, até que olha para baixo e começa a afundar-se. É como as vertigens, quem as tem, só tem que olhar para cima, para a frente, e seguir, pois no momento em que olha para baixo vacila. Se Pedro se tivesse fixado em Jesus e na Sua voz, a violência do vento passaria para segundo plano.
Pedro dá-nos ainda outra lição importante: a humildade, o reconhecimento das próprias fragilidades, a humildade que se volta para Jesus. «Salva-me, Senhor». Só Tu, Senhor, me livras das minhas quedas, dos meus medos. Só Tu, Senhor, podes ser luz e sentido e meta para eu caminhar seguro! Vem e socorre-me, Senhor, do meu egoísmo, do meu pecado e do meu orgulho, que são peso que me afunda. Liberta-me, concede-me a capacidade de amar, de acreditar, de confiar, de me gastar a favor dos outros, o gosto de servir e cuidar, para me tornar leve, tão leve que seja capaz de caminhar por cima do mar.
Textos para a Eucaristia (ano A): 1 Reis 19, 9a. 11-13a; Sl 84 (85); 2 Rom 9, 1-5; Mt 14, 22-33.
REFLEXÃO DOMINICAL COMPLETA na página da Paróquia de Tabuaço
e no nosso outro blogue CARITAS IN VERITATE