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Escolhas & Percursos

...espaço de discussão, de formação, de cultura, de curiosidades, de interacção. Poderemos estar mais próximos. Deus seja a nossa Esperança e a nossa Alegria...

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12.10.14

HARUKI MURAKAMI - A peregrinação do rapaz sem cor

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HARUKI MURAKAMI (2014). A peregrinação do rapaz sem cor. Alfragide: Casa das Letras, 370 páginas.

 

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 "Porque não tenho identidade própria. Não tenho personalidade, sou de cor indefinida. Nada tenho para oferecer aos outros. Foi sempre esse o meu problema. Sinto-me um bocado como se fosse um recipiente vazio. De certa maneira, tenho fora, mas receio não possuir um conteúdo digno desse nome".

"Sempre me tive na conta de um tipo vazio, desprovido de cor e de identidade. Se calhar, era esse o meu papel dentro do grupo, representar o vazio...

Uma paisagem esvaziada de cor. Sem ter nenhum defeito, mas sem se destacar em nada...

Tu não eras o vazio. Ninguém te via assim... contribuías para nos tranquilizar... pelo simples facto de estares ali connosco, podíamos ser nós próprios... Era como se fosses uma âncora"

 

Cada um de nós terá um ou outro autor preferido. Por conseguinte, a sugestão de um livro ou de um autor é e será sempre muito relativo, o que a alguém poderá ser uma obra de arte, para outro poderá simplesmente ser uma seca, uma monotonia, ou algo banal.

Se tivéssemos que sugerir um romancista, Murakami seria uma das primeiras escolhas. É uma escrita acessível, fluida, em descrições envolventes, utilizando muitas imagens, histórias dentro da história principal, com avanços e recuos perfeitamente oportunos, com pontes culturais, entre o Japão e o Ocidente. Nesta história, Japão e Holanda, mas com a ambiência de fundo de um mundo global, com as referências a crenças japoneses mas também á religião cristão com a sua presença (nomeadamente) nas escolas privadas.

Cada personagem se pode identificar com cada um de nós.

O herói - digamos assim - nunca é tanto herói assim. Tem defeitos, dúvidas, hesitações. No caso concreto, é um estudante normal. Completa os estudos. Estuda só o necessário. Mas faz por seguir os seus sonhos, mesmo que tenha que se esforçar mais que o habitual. Aos trinta e seis anos, ainda tem uma vida toda por realizar, com muitas dúvidas. É feliz. Ou é mais ou menos feliz. Ocupado. Sonha e os sonhos atormenta-o. Parece que não consegue estabilizar, mantendo os amigos ou as amizades.

A história parte da adolescência. Um grupo de 5 jovens, que no compromisso com o voluntariado, nas férias, estreitam de tal forma os laços que não passam uns sem os outros. É um grupo coeso. Três rapazes e duas raparigas. Todos diferentes. Mas no entanto entendem-se às mil maravilhas. O rapaz sem cor, Tsukuru Tazaki, decide ir para Tóquio, para a universidade, onde se tornar engenheiro de estações de comboio. O seu sonho. Sempre gostou de estações, de observar as pessoas, a forma como as estações estão concebidas. No regresso a casa os 5 jovens voltam a encontrar-se, até que um dia não lhe atendem as chamadas e lhe dizem que cortam com ele, não querem mais falar com ele.

Não compreende. Num primeiro momento, não busca justificações, pois não lhas quiseram dar. Cortam simplesmente com ele. Vai-se abaixo. Foi um golpe brutal. Mas consegue sobreviver. O tempo apazigua as mágoas. Mas há mágoas que permanecem, ainda que pareça já não ter influência nas nossas vidas. É o que acontece com Tsukuru. Aquela ruptura continua a marcar a sua vida. Tem dificuldade em confiar nas pessoas da forma como confiava nos amigos, sempre o receio que novos amigos possam fazer o mesmo. Contudo, a sua busca está ainda no início. Resolve encontrar-se com os amigos, que seguiram caminhos diferentes, uma das raparigas foi assassinada, a outra casou e vive na Holanda, os outros dois mantiveram-se em Nagoia. O reencontro leva-lo-á a descobrir as razões que levaram à separação do grupo e a verificar que se nos momentos iniciais tivessem falado abertamente talvez a vida tivesse seguido um rumo diferente. Não é possível voltar atrás e também é impossível saber se as coisas seriam muito diferentes, ou muito próximas da atualidade. Há que prosseguir a vida. 

"É apenas uma questão de equilíbrio. De uma pessoa se acostumar a distribuir o peso que carrega. Pode acontecer que os outros considerem isto uma atitude de indiferença. Porém, manter o equilíbrio exige esforço e é mais difícil do que parece. Além disso, mesmo que se consiga atingir o equilíbrio, o peso suportado pelas balanças não diminuiu nem um bocadinho"

"Vamos fazer o possível por não perder o comboio"

"Sobrevivemos, tu e eu. E os que sobrevivem têm uma missão a cumprir. O nosso dever é continuar a viver, levar a vida o melhor que for possível. Mesmo que as nossas vidas estejam longe da vida".

 

Outros livros que li, de fio a pavio, que recomendamos.

06.10.14

Leituras: Pe. FEYTOR PINTO - Sexualidade Humana

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Pe. Vítor FEYTOR PINTO (2014). Sexualidade Humana.Exigências éticas e comportamentos saudáveis. Lisboa: Paulus Editora, 192 páginas.

        O (Monsenhor) Pe. Vítor Feytor Pinto, atual responsável da paróquia do Campo Grande, no Patriarcado de Lisboa, nasceu em 1932 e em 1955 foi ordenado sacerdote na Diocese da Guarda. Ficou conhecido dos portugueses sobretudo no tempo em que foi Alto-Comissário do Projeto Vida (Luta contra a Toxicodependência) travessando os governos de Cavaco Silva e de António Guterres. Durante seis anos percorreu o país, participando em debates, conferência, em igrejas, centros pastorais, escolas, hospitais.

       Em 2002, segundo o próprio, foi convidado pelo Instituto de Bioética da Universidade Católica Portuguesa para fazer algumas conferências no 1.º Curso de Mestrado em Bioética. Nessa ocasião concluiu que seria benéfico também fazer o mestrado em Bioética, proposta aceite pelo Instituto. Este livro é basicamente a dissertação preparada para o Mestrado, orientado pelo grande figura desta área, o Pe. Luís Archer.

       Escolheu para este trabalho o campo da sexualidade humana, analisando a compreensão da sexualidade no mundo e tempo atuais, verificando os efeitos da chamada revolução sexual, revisitando algumas páginas importantes do magistério da Igreja, Vaticano II, papa João Paulo II e papa Bento XVI, a compreensão bíblica da sexualidade no Antigo e no Novo Testamento, a sexualidade e a transmissão da vida, a sexualidade como dom de Deus e como compromisso e responsabilidade humana. Feytor Pinto apontará a ética personalista no enquadramento da vivência consciente, livre, responsável da sexualidade humana.

PARTE I - Ética e sexualidade integral
PARTE II - Sociedade atual e visão redutora da sexualidade
PARTE III - A Sexualidade humana: maravilhoso dom de Deus
PARTE IV - A transmissão responsável da vida

       O Pe. Feytor Pinto não foge aos diversos questionamentos colocados à temática da sexualidade, com as diversas interpretações da mesma, e as diferentes maneiras de a viver. Por outro lado, o que será útil para este tempo, a sexualidade como abertura responsável à vida e o envolvente da família. Certamente, nesta reflexão de sempre, mas acentuada pelos Sínodos dos Bispos, o extraordinário, em 2014, e o ordinário, em 2015, para melhor compreender a família, este é um texto que poderá contribuir para um enquadramento sério, humano, cristão.

       Uma nota mais pessoal/diocesana: o autor, Pe. Feytor Pinto, cita dois estudos de D. António Couto, Bispo da nossa Diocese de Lamego, Como uma Dádiva: Caminhos da Antropologia Bíblica. Lisboa: UCP, 2002, e Pentateuco.Caminho de Vida Agraciada. Lisboa: UCP, 2002.

"Não há sexualidade plenamente integrada sem afetividade, como não há comunhão de vida sem relação de amor" (p. 22)
"Não há sexualidade verdadeira sem amor, sem relação afetiva, sem capacidade de ir ao encontro do outro, sem encontrar no outro complementaridade, sem descoberta do perdão, do serviço, da alegria no dar, da serenidade no perder, no encontro das vidas até ao projeto comum que inicia comunhão de vida, o último e mais belo objetivo da sexualidade humana" (pp. 23-24).
"O amor é mais do que um encontro de corpos, o amor é mais do que o desejo, mais do que a paixão, mais do que o sentimento, o amor é um compromisso de vida. pode haver encontro dos corpos sem as pessoas se amarem..." (p. 133)
"O ato sexual encontra, na situação conjugal e somente nela, condições ideais para a sua realização. O ato sexual deve ser expressão de uma doação total, exclusiva, irrevogável. O ato sexual tem uma nobreza específica, pelo que supõe tempo necessário, uma dignidade própria, um ritmo de relação, uma afirmação recíproca de um amor que marca a vida do par" (p. 138) 
"O amor não é a atitude apenas de uma pessoa, é sempre um encontro de dois, convergente para a comunhão de ideais e de vida. O amor não é um acidente na vida, é um elemento essencial à realização de cada pessoa. Mesmo no normal processo de desenvolvimento humano, sobretudo a partir da adolescência, pressente-se facilmente que o amor é relação de conhecimento, de proximidade, de afirmação, de dádiva, de compromisso. É um dinamismo de maior riqueza no ser humano" (p. 156)

Vale a pena ler também a entrevista do Pe. Feytor Pinto,

realizada por Octávio Carmo, A VIDA É SEMPRE UM VALOR

03.10.14

Leitura: FEYTOR PINTO - A Vida é sempre um Valor

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FEYTOR PINTO (2014). A Vida é sempre um Valor. Não posso dizer «não» a ninguém. Entrevista de Octávio Carmo ao Padre Vítor Feytor Pinto. Prior Velho: Paulinas Editora. 144 páginas.

       Nos finais dos anos 90, o Pe. Feytor Pinto esteve no Seminário Maior de Lamego. Era conhecido da televisão e da rádio. Nessa ocasião ocupava um cargo importante, o de Alto Comissário do Projeto VIDA, programa governamental de combate à droga, mas que englobará outras dinâmicas de promoção da vida humana. 6 anos, três tendo como primeiro-ministro Cavaco Silva, três anos tendo como primeiro-ministro António Guterres. É certamente este cargo, esta missão, que lhe dá projeção nacional, e internacional.

       Quando o Pe. Vítor Feytor Pinto irrompe pela Capela do Seminário de Lamego o que vemos, seminaristas ainda em busca e em formação, um padre, de bom porte, sorridente mas cansado. Ajoelha-se e reza em silêncio. Quando chega a hora de falar, fá-lo em tom bastante baixo, sereno, como um pai diante dos seus filhos. Nessa viagem que efetuou, na qualidade de Alto Comissário, dormiu durante o trajeto de 4 horas, de Lisboa a Lamego. Segundo o motorista, era isso que acontecia em diversas ocasiões. Não havia tempo. Ou melhor, o tempo era para estar onde fosse solicitada a sua presença. Com os seminaristas, rezou o terço, se me não falta a memória, ou uma das horas litúrgicas, e fez-nos uma breve reflexão apontando para o sentido da Vida, e como Jesus era o centro de toda a vida. Penso que não estou a inventar. Ficou-me na lembrança sobretudo a acessibilidade do Pe. Feytor Pinto, irradiando alegria, apesar do cansaço e da viagem, agradecendo o facto de dispor de um motorista, pois assim tinha possibilidade de ir mais longe, aproveitando melhor o tempo.

       Nesta entrevista, conduzida pelo jornalista da Agência Ecclesia, Octávio Carmo, e que abarca a vida e a missão do Pe. Feytor Pinto, na Igreja e na Sociedade, na Cultura e na Pastoral da Saúde, envolvido na divulgação do Concílio Vaticano e no compromisso de testemunhar Jesus Cristo, nas responsabilidades no projeto Vida, mas também em outras tarefas, como pároco, como conselheiro, como homem de Deus.

       Este livro faz parte da coleção GRANDES DIÁLOGOS, das Paulinas, e que lendo já aconselhamos alguns deles. D. Manuel Clemente, entrevistado por Paulo Rocha: UMA CASA PARA TODOS; Frei Joaquim Carreira das Neves, entrevistado por António Marujo: O CORAÇÃO DA IGREJA TEM DE BATER; Pe. António Rego, entrevistado por Paulo Rocha: A ILHA E O VERBO, e agora a VIDA É SEMPRE UM VALOR.

       A primeira parte do livro é constituído pela entrevista. A segunda parte recolhe uma conjunto de textos e intervenções do entrevistado, neste caso, do Pe. Vítor Feytor Pinto: Discurso proferido na 48.ª Assembleia Geral das Nações Unidas enquanto Alto-Comissário para o Projeto Vida; Congresso Mundial da FIAMC (Federação Internacional de Médicos Católicos); Comunicação na reunião da OMS (Organização Mundial de Saúde) para a Europa, na qualidade de observador por parte da Santa Sé; Perante a toxicodependência: uma atitude ética; Linhas Pastorais para redescobrir e revalorizar o Viático (neste caso, proferida no Conselho Pontifício para a Pastoral da Saúde, no Vaticano, em 2005). 

       Para quem trabalha na área da pastoral da saúde, ou melhor, para todos os que lidam com pessoas, pois todas as pessoas aspiram a uma vida saudável. Aliás, o sublinhado da Pastoral da Saúde em lógica de promoção de vida saudável. Atenção, cuidado, respeito, tolerância, diálogo, assunção de convicções próprias. Tratar a pessoa como pessoa. Amá-la. Cuidar dela. Ao jeito de Jesus. Sem olhar à doença, ao credo, ao sexo ou à religião.

"O jogo dos afetos pede respeito profundo pelo outro, se realmente queremos encontrar saída para os problemas. Depois, há um ponto fulcral, absolutamente fulcral: é preciso ter em consideração que a pessoa humana é mais importante do que a economia. A economia que não serve a pessoa está em pecado, é pecaminosa" (pp 21-22)
"Amor e dor: não se recebe o amor sem se sofrer por ele. Aliás, é o mistério de Jesus Cristo. Ele amou a humanidade de uma maneira radical, a ponto de dar a vida pela própria humanidade. Ele próprio diz: «Não há maior prova de amor do que dar a vida por aqueles a quem se ama»... (p 53)
"Hoje, a fé, em tempo de nova evangelização, tem de exprimir-se de outra maneira, através da autenticidade e coerência de vida, através de gestos concretos de solidariedade e serviço, através da autenticidade e coerência para além da dor, do cansaço e do fracasso" (p. 86).

07.09.14

LEITURAS: Gianfranco RAVASI - Quem és TU Senhor?

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GIANFRANCO RAVASI (2013). Quem és TU Senhor? Encontros e desencontros com o Homem que mudou a História. Prior Velho: Paulinas Editora. 144 páginas.

       Belíssima leitura do Cardeal Gianfranco Ravasi, centrando-se em Jesus Cristo. Os encontros e desencontros com o Crucificado Ressuscitado. A identidade de Jesus. O ambiente que que nasceu e cresceu. A linguagem utilizada no anúncio da Boa Nova. Anúncio de uma grande Alegria.

       Na primeira parte, as Aparições da Páscoa; o encontro com os discípulos de Emaús e como os olhos se abrem; o Cordeiro imolado; o encontro/desencontro com o Cônsul Pilatos, governador da Judeia. Na segunda parte, a identidade de Jesus, segundo São Lucas; as duas genealogias de Jesus e as preocupações que estão na sua base; a intrução de Jesus, saberia ler e escrever - numa terra de quatro línguas (latim, grego, hebraico e aramaico - o mais provável é que Jesus fosse bilingue (hebraico e aramaico); Jesus como Messias, aceite por novos movimentos, que o consideram Messias mas não filho de Deus, pelo que partilham o património comum até ao Concílio de Niceia; o celibato de Jesus como vocação. Na terceira parte, o Anunciador da Alegria, com o seu perfil de comunicador, acentuando-se as parábolas, os milagres, o diálogo/discussão alguns grupos de judeus, palavras envolventes que desafiam, interpelam, provocam, abençoam, curam, expulsam demónios. A concluir, o envio dos discípulos "obrigados" a tornar visível a fé, o Evangelho, em palavras e em obras, testemunhando. O testemunho não é uma qualquer publicitação egoísta, mas luz que há de transparecer para o mundo.

       A leitura abre o nosso horizonte, permitindo-nos não apenas conhecer uma pessoa, um acontecimento, mas enriquecendo o nosso vocabulário, para mais facilmente percebermos os outros e para melhor nos fazermos compreender. No caso concreto, para melhor conhecermos Jesus Cristo, como viveu e como as comunidades O experimentaram, e como na atualidade Jesus Cristo (e o Cristianimo) continua a ser uma Pessoa que desafia, provoca, renova, converte, nos faz ter vontade de O imitar, com coragem e humildade.

       De forma simples, quase poética, o autor leva-nos ao encontro de Jesus, para que n'Ele descubramos a nossa condição de filhos de Deus e nos comprometamos como irmãos. Um dos temas também presentes é a relevância de Cristo e do cristianismo nesta Europa descristianizada, mas cujos elementos estruturantes, e identificação da Europa se encontram muito vincados, além das divisões políticas e económicas e pese embora alguns estados se manifestarem contra os sinais que evocam a nossa origem, a nossa cultura, comum, e nos aproximam como irmãos.

 

          Sobre o tema do Cristianismo na Europa vale a pena ler também: CHRISTOPH SCHÖNBORN (2014). Cristo na Europa. Uma fecunda interrogação.

       Do mesmo autor também recomendámos: O que é o Homem? Sentimentos e laços humanos na Bíblia.

20.06.14

Leituras: ALICE MUNRO - Fugas

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ALICE MUNRO (2007). Fugas. Lisboa: Relógio d'Água. 272 páginas.

       Há livros que encontramos por acaso, à procura de novidades, livros que nos vêm ter à mão, livros que são recomendámos e que despertam o nosso interesse, livros que nunca encontraríamos se não nos dissessem que são bons livros, leituras de outros. Também nós vamos recomendando alguns livros, muito ligados à religião, filosofia, pensamentos, reflexão, sempre ligados à vida.

       O livro que ora sugerimos é consequência da atribuição do Prémio Nobel, ainda que, só por si, não mobilizasse a aquisição do laureado. Depois da atribuição, fomos ver o que tinha escrito e pelas descrições, pelos comentários, optámos por ler alguma coisa da escritora Prémio Nobel da Literatura de 2013. O livro escolhido - FUGAS - 8 histórias que fluem por algumas páginas, histórias que refletem a vida, com naturalidade, situações que podem ter acontecido ou que vão acontecendo, vidas que correm bem e que de repente se esfumam, vidas que correm mal e se alteram para melhor, vidas que continuam a correr mal.

       Como descrito na contracapa: "As oito histórias reunidas em Fugas falam sobre pessoas - mulheres de todas as idades e de origens diferentes, os seus amigos, amantes, pais e filhos - cujas vidas, nas mãos de Alice Munro, se tornam reais e inesquecíveis".

       É uma discrição anterior ao prémio, pelo que é mais neutral.

       Cada história tem condimentos mais que suficientes para prender o leitor do início ao fim, ávido de progredir rapidamente na leitura.

       Para quem gosta de belas histórias mas que toquem a vida real, que nos façam entrar em suas casas e presenciar os seus dramas, percebendo que o que se passa com as personagens poderia e poderá passar-se também connosco, aqui está mais um título vivo e empolgante.

18.06.14

Tabuaço: Festa da Vida - 8.º Ano de Catequese

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       Os meses de maio e de junho são especialmente dedicados às festas da Catequese. Neste sábado, 14 de junho, foi a vez dos jovens do 8.º ano fazerem a sua festa, com uma referência muito particular à Vida, acolhida como dom, mas simultaneamente como tarefa a construir, a edificar, com os outros, com a ajuda da comunidade crente, com o compromisso de viver bem, de viver com os outros e para os outros, de deixar que a Fé seja Luz que guia as suas escolhas.

       Algumas imagens desta belíssima celebração:

Para as restantes imagens disponíveis visitar a página da

Paróquia de Tabuaço no FacebookAQUI.

14.06.14

Leituras: ANSELM GRÜN - Que fiz eu para merecer isto?

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ANSELM GRÜN (2007). Que fiz eu para merecer isto? A incompreensível justiça de Deus. Prior Velho: Paulinas Editora. 160 páginas.

       O sofrimento, físico, psíquico, espiritual, o sofrimento auto-infligido, ou consequência dos outros ou da natureza, é um tema por demais delicado. É precisamente aqui que o monge beneditino, alemão, Anselm Grün, reconhecido pelos seus conselhos, em palestras, livros publicados, aconselhamento espiritual, como pároco, apresenta mais uma reflexão que pretende compreender o sofrimento e dar pistas para o enfrentar, para o superar, para o aceitar, sabendo-se que cada pessoa é única e que por vezes as palavras são insuficientes para ajudar ou outras vezes são inúteis para quem passa por situações de tormenta, culpabilizando-se ou culpando os outros.

       Para os crentes há sempre uma pergunta que vem ao de cima: por quê eu? Porque é que Deus me fez isto? Sendo eu uma pessoa de bem, que vivi sempre de forma saudável, respeitando os outros, cuidando da alimentação, fazendo desporto, por que é que Deus permitiu que se manifestasse em mim esta doença?

       Embora com riscos, o autor procura mostrar que não adianta muito procurar culpados, mas vale muito levar até Deus o protesto, como fez Job, como fez Jesus, rezar-lhe as próprias mágoas, protestando contra Ele. No final, o nosso coração ficará mais preparado para aceitar a nossa fragilidade e para aceitarmos que Deus ultrapassa sempre os nossos conceitos humanos. O sofrimento pode ser oportunidade para desfazermos a imagem que temos de Deus e por outro lado para erguermos a nossa casa, a nossa vida, sobre a rocha firme que é Deus. Quando edificamos a nossa vida sobre a saúde, os bem materiais, os amigos, poderemos desembocar na desilusão, no desencanto. Edificar a nossa vida a partir de Deus, mesmo que por vezes O não entendamos, é a garantia que a nossa casa sobrevirá a todas as intempéries.

       Como em outros livros do autor que aqui já recomendámos, como Pai-nosso, uma ajuda para a vida, e A sublime Arte de envelhecer, também este lança pistas, sugestões, coloca perguntas, procura na Bíblia, na Filosofia, na Psicologia, na experiência pessoal e sacerdotal, apresentando casos concretos com os quais se deparou ao longo da vida... Sem dogmatismos, com forte confiança em Deus e na dimensão espiritual da pessoa.

       Pelo índice: respostas teológicas ao sofrimento; explicação do sofrimento pelos místicos; relação com experiências concretas de sofrimento (sofrimento provocado pelas pessoas, morte de pessoas queridas, quando o corpo ou a alma adoecem, preocupações com os filhos - homossexualidade, doença e deficiência, doença psíquica, anorexia, toxicodependência), fracasso no trabalho e nas relações (desemprego, separação e divórcio); sofrimento auto-infligido, a catástrofes naturais.

11.04.14

José Luís Nunes Martins - FILOSOFIAS - 79 reflexões

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JOSÉ LUÍS MARTINS (2013). Filosofias. 79 reflexões. Lisboa: Paulus Editora, 248 páginas.

       O próprio título sugere que que traz dentro, filosofias, modos de pensar a vida, refletir estados de almas, absorver sentimentos, encontrar razões para lutar, enquadrar o sofrimento, a dor e a morte, abrir-se à vida, à alegria e ao compromisso.

       É um livro extraordinário, em que o autor, de forma muito, muito, muito acessível, nos desafia a viajar pela mente e pelo coração, olhando para o passado e avançando para o futuro, vivendo, de forma única e irrepetível o presente, como dom e como tarefa, como compromisso, não desistindo, não culpando os outros, reconciliando-se com os fracassos, enriquecendo-se com cada encontro e acontecimento.

       Os textos fazem-nos querer sonhar, viver, descobrir, encontrar, lutar, fazem-nos querer ser mais, melhorar a nossa relação connosco e com os outros, na abertura à transcendência. Só temos uma vida, que se estende para lá do tempo e da história. A morte vence tudo, mas não vence o amor. O amor faz-nos perdoar para lá do tempo e da morte.

       As diferentes reflexões podem ser lidas espaçadamente, ao longo de 79 dias, ou de forma seguida. Depende de cada um, mas vale a pena ler, demoradamente, mastigar as palavras e as interpelações. Situemo-nos dentro dos textos. Vai parecer que foram escritos para nós, ou que os poderíamos ter escrito, tal é e evidência, a clareza e a vivacidade das letras, das palavras, dos parágrafos.

       A acompanhar cada texto, uma ilustração, intuitiva, expressiva, simples, clarificadora do texto em questão. O seu autor é Carlos Ribeiro e a quem deve ser prestada também homenagem por enriquecer um conjunto de reflexões envolventes.

       Algumas das reflexões podem ser encontradas na página correspondente no Facebook - FILOSOFIAS. 79 REFLEXÕESaqui.

07.04.14

34. Idade com que Jesus iniciou o Seu ministério, como pregador itinerante

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Idade com que Jesus iniciou o Seu ministério, como pregador itinerante, como Profeta, como Filho do Homem e de Deus.
Centralidade do anúncio de Jesus: a novidade e proximidade do Reino de Deus.
Novidade, futuro, esperança e os Velhos do Restelo.
Com a novidade do Reino, a conversão e a mudança de vida. Mudar não por mudar, mas procurar sempre e mais ser rosto de Jesus Cristo, ser o que se é pelo batismo: Filho/a de Deus.
Nunca é tarde para começar... ou recomeçar... se for para dar mais qualidade à vida...

Em alguns livros, e em alguns meios, continua a dizer-se que Jesus morreu com 33 anos, tendo iniciado a vida pública aos 30 anos de idade (informação dada por São Lucas).
Hoje é pacífico, ainda que não totalmente divulgado, que a morte de Jesus ocorreu quando Ele tinha 37 anos de idade e a Sua morte teria sido na sexta-feira, a 7 de abril do ano 30. Seguindo os evangelhos, Jesus morreu em véspera de sábado e naquele ano a Páscoa judaica ocorreu a um sábado. O calendário judaico é lunar, e a páscoa, a 14 de Nizan, pode cair a qualquer dia da semana. Nos anos 27, 30 e 33 da era cristã caiu num sábado. Morto a 27, era muito pouco tempo para a vida pública, tinha iniciado há pouco a pregação. Morto no ano 33, seriam 6 anos de pregação e os evangelhos não permitem extender por tanto tempo a sua vida pública, pois no máximo Jesus participou em 3 páscoas (segundo São João) no mínimo pelo menos numa páscoa. Daí que se calcule a vida pública entre 1 ano e meio a três anos. Há outros dados históricos que ajudam a situar cm alguma precisão a data da morte de Jesus, confrontando com os dados dos evangelhos, como por exemplo, Pôncio Pilatos exerceu o poder como autoridade romana entre o ano 26 e 36 depois de Cristo (da era cristã); Caifás entre 19 e 36 depois de Cristo...


Mas como é que morreu com 37 anos, no ano 30 da era cristã, se com Ele que se inicia a era cristã?
Vamos por partes. A data do nascimento de Jesus não se conhece com exatidão, nem o dia nem o mês nem o ano de nascimento. Festeja-se o nascimento a 25 de dezembro, quando os pagãos festejavam o deus Sol, no solstício de inverno. Para os cristãos, o verdadeiro Sol é Jesus Cristo, a Luz do Mundo. É aceitável que Jesus tivesse nascido na primavera/verão, pois se os pastores estavam por ali não poderia ser no inverno... A escolha de 25 de dezembro foi uma forma prática de "substituir" e cristianizar uma festa pagã.
O calendário cristão foi elaborado, no século VI, pelo monge Dionísio, o Exíguo, a pedido do Papa João I, tendo colocando o nascimento de Jesus a 25 de dezembro do ano 753 da fundação de Roma, e o início da era cristão em 1 de janeiro de 754, da fundação de Roma, oito dias depois, na Circuncisão de Jesus.
Dionísio ter-se-á enganado, colocando o nascimento de Jesus 4 anos depois da morte de Herodes. Contudo, Herodes estava no poder quando Jesus nasceu, o que obrigou a recuar a data de nascimento: entre 4 a 7 anos. Nesta lógica, e seguindo vários autores, optando por recuar até 7 anos, nós estaríamos neste momento no ano 2021 (partindo do nascimento de Jesus. Quando se descobriu o lapso de tempo em falta, já era tarde para corrigir a história e os respetivos documentos escritos...)

Se morreu no ano 30 e se nasceu no ano 7 antes da era cristã, Jesus morreu com 37 anos de idade. Sublinhe-se também que a esperança média de idades andava pelos quarenta anos. Não se pode dizer que Jesus tenha morrido demasiado novo, ainda que fosse antes do tempo, já que foi morto.
A pregação, a vida pública de Jesus durou três anos (ano e meio, no mínimo, a três anos, no máximo, segundo os vários evangelhos). Logo, começou a Sua pregação com (33 ou) 34 anos, na primavera do ano 27, depois de ter sido batizado por João Batista e eventualmente depois deste ter sido preso.

Os 30 anos é a idade em que todos os profetas iniciam a Sua missão. Estão preparados, maduros, já viveram muito tempo, já cresceram. Chamados desde o seio materno mas só se manifestam publicamente na idade adulta. 30 anos é uma idade simbólica. Logo se Jesus é profeta (ou o Profeta, por excelência), também Ele inicia o Seu ministério com 30 anos (mais um, dois ou três ou quatro, continua a ser 30 anos).

Depois desta precisão, voltemos ao ponto de partida desta reflexão.
Nunca é tarde para mudar. Com efeito a nossa vida transforma-se constantemente. Gostaríamos de preservar tudo o que vem de trás, mas nem sempre é possível, melhor, o que "herdámos" da nossa vida há de ser assimilado e transformado na vida presente e futuro. Somos seres em devir, em transformação. Como crentes, ainda mais, na abertura para Deus, Deus da nossa Esperança, acreditando que cada passo que dermos na fidelidade a Jesus Cristo será uma forma de atualizarmos o tempo presente, sem perdemos o melhor que recolhemos do passado.

Com efeito, Jesus inicia a vida pública com a pregação que se centra na originalidade/novidade do reino de Deus e na necessidade de nos abrirmos aos novos céus e nova terra que Jesus vem trazer com o Seu amor, com a Sua vida, a entregar por nós.
Os velhos do Restelo são aqueles que nunca estão satisfeitos com nada, nunca se dispõem a ajudar na transformação do mundo, nunca colaborarão para melhorar o meio envolvente em que vivem, querem que tudo permaneça como está, qual fotografia que se vai deslavando até perder toda a coloração...
Todos podemos ter em nós restos d' Os velhos do Restelo... Jesus deparou-se com uma sociedade certa e orgulhosa da Sua história. Também isso O levou à Cruz, os interesses instalados, a surpresa da Sua mensagem, a provocação das Suas palavras e da Sua vida... mas mudou os que se Lhe abriram de todo o coração, mudou o mundo inteiro, ainda que precisemos de novo de O acolher para continuarmos a mudar o que em nós é urgente mudar, para sermos transparência do Seu amor, no mundo em que vivemos.

 

Texto originalmente publicado em 3 de fevereiro de 2012. Revisto e publicado a 7 de abril de 2014.

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