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Escolhas & Percursos

...espaço de discussão, de formação, de cultura, de curiosidades, de interacção. Poderemos estar mais próximos. Deus seja a nossa Esperança e a nossa Alegria...

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16.03.24

Se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica só...

mpgpadre

       1 – Cada vez mais perto, mais perto ainda, e logo depois a luz incandescer-nos-á, enchendo a nossa vida de luz, de paz, de vida nova, de presença de Deus, com o fulgor e o dinamismo da Páscoa, que nos atrairá para além da CRUZ, que tornará mais belo, mais profundo e mais generoso o nosso olhar e a nossa esperança. Os nossos olhos serão transformados pela magia do amor que Deus nos dá, para fazermos a experiência de encontro com o Ressuscitado.

       Em Jerusalém, Jesus passeia-se às claras por entre os homens e as mulheres, em festa. Vai onde germina a vida, ao encontro dos outros. Deus vem onde nos pode encontrar, a nossa casa, à nossa vida, às nossas praças e ruas. Em sentido inverso, muitos são os que se sentem também atraídos por Ele e O procuram, querem vê-l’O, ora por curiosidade ora tocados pela fé. Talvez neles arda o Espírito de Deus.

       As palavras de Jesus não podem ser mais explícitas:

       «Chegou a hora em que o Filho do homem vai ser glorificado. Em verdade, em verdade vos digo: Se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica só; mas se morrer, dará muito fruto. Quem ama a sua vida, perdê-la-á, e quem despreza a sua vida neste mundo conservá-la-á para a vida eterna. Se alguém Me quiser servir, que Me siga, e onde Eu estiver, ali estará também o meu servo. E se alguém Me servir, meu Pai o honrará. Agora a minha alma está perturbada. E que hei de dizer? Pai, salva-Me desta hora? Mas por causa disto é que Eu cheguei a esta hora. Pai, glorifica o teu nome».

       O Filho do Homem vai ser glorificado pelo sofrimento, pela cruz, melhor, vai ser glorificado pela entrega, pelo amor sem fim, pela dádiva da Sua vida, do seu Corpo, morrerá por amor. Se se pode morrer por amor, eis ALGUÉM que o faz. Sem apelo nem agravo. É hora do tormento e dor, de tristeza e angústia. É hora de confiança e de realizar-se a vontade do Pai, a vontade do Amor. É o grão de trigo que cai à terra, morre, para logo germinar na abundância de saborosos frutos.

 

       2 – Não é uma hora fácil, a de Jesus Cristo, ao contemplar o quão perto se encontra do fim biológico. "Agora a minha alma está perturbada" (Evangelho). Resolutamente sabe que não veio para fazer o caminho mais curto, mais fácil, mas para vivenciar connosco todas as experiências, também a da dor, do sofrimento, da solidão, do abandono e da morte. Também aqui Jesus, Deus feito Homem, nos assume por inteiro. Não fica à distância a contemplar a nossa morte. Vem morrer connosco. E por nós.

       Ele aprende como é amarga a passagem deste mundo para a eternidade. Angustiante. Há de transpirar gotas de sangue, tal a ansiedade e o medo. Mas não desfalece. Coloca-Se em Deus Pai. Cola-Se n'Aquele que O enviou. E que O livrará da morte eterna.

       "Nos dias da sua vida mortal, Cristo dirigiu preces e súplicas, com grandes clamores e lágrimas, Àquele que O podia livrar da morte e foi atendido por causa da sua piedade. Apesar de ser Filho, aprendeu a obediência no sofrimento e, tendo atingido a sua plenitude, tornou-Se para todos os que Lhe obedecem causa de salvação eterna" (2.ª Leitura).

 

       3 – O desiderato da Sua vida e missão é a salvação da humanidade. Toda. De todos os lugares e em todos os tempos. Vem para cumprir as promessas de Deus feitas ao Seu povo, e por Israel a todos os povos da terra.

       O momento presente, de sofrimento, de blasfémias, de prisão e da morte que se aproxima, não é, de todo, comparável à beleza do amor de Deus. Jesus resiste nessa intimidade com Deus. Sabe que se aproxima a hora da morte, mas também sabe que o amor que vai até ao fim selará a nova aliança da Redenção.

       Ele inscrever-nos-á para sempre no coração de Deus e em nós inscreverá a lei do amor.

       Como nos revela através de Jeremias:

       "Dias virão, diz o Senhor, em que estabelecerei com a casa de Israel e com a casa de Judá uma aliança nova... Hei de imprimir a minha lei no íntimo da sua alma e gravá-la-ei no seu coração. Eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo. Não terão já de se instruir uns aos outros, nem de dizer cada um a seu irmão: «Aprendei a conhecer o Senhor». Todos eles Me conhecerão, desde o maior ao mais pequeno, diz o Senhor. Porque vou perdoar os seus pecados e não mais recordarei as suas faltas".

       O início da nova Aliança dá-Se na oferenda de Jesus, da Sua vida, do Seu Corpo por inteiro. Pelo Seu sacrifício o perdão do nosso pecado. Acolhamos n'Ele a vida nova, novos céus e nova terra. É também pela Cruz que ficamos a conhecer a Lei de Deus, o rosto do Amor. 

 

       4 – A liturgia deste quinto domingo da Quaresma deve levar-nos ao mesmo desejo dos judeus gregos que vieram a Jerusalém, conforme se diz no Evangelho: "alguns gregos que tinham vindo a Jerusalém para adorar nos dias da festa, foram ter com Filipe, de Betsaida da Galileia, e fizeram-lhe este pedido: «Senhor, nós queríamos ver Jesus»".

       O nosso privilégio facilita a nossa fé e adesão ao Evangelho, pois nascemos na hora de Cristo Senhor, fomos sepultados para o pecado e para a morte, pelo Batismo, e tornamo-nos novas criaturas, ressuscitando pelo Espírito Santo. Nesta tensão entre a vida presente e a eternidade, entre a Quaresma e a Páscoa da nossa existência mortal, o desejo por ver Jesus há de ser o desejo por nos vermos transformados pelo Seu amor redentor e vivermos como filhos e irmãos.

       Também com o salmista rezemos, pedindo:

       "Criai em mim, ó Deus, um coração puro e fazei nascer dentro de mim um espírito firme. Dai-me de novo a alegria da vossa salvação e sustentai-me com espírito generoso".


Textos para a Eucaristia (ano B): Jer 31,31-34; Sl 50 (51); Heb 5,7-9; Jo 12,20-33.

09.03.24

O Filho do homem será elevado

mpgpadre

1 – «Se eu me esquecer de ti, Jerusalém, esquecida fique a minha mão direita / Apegue-se-me a língua ao paladar, se não me lembrar de ti, se não fizer de Jerusalém a maior das minhas alegrias».

A liturgia propõe-nos a alegria do Evangelho da Salvação que é manifesta em Jesus Cristo. Já se vislumbra a Páscoa. A Paixão de Jesus é prova maior do amor de Deus para connosco.

Hoje como ontem, na Igreja como no povo eleito, os tempos são de provação, com dias de sol e dias de chuva. O importante é que de cada situação possamos descobrir e integrar o que nos enlace nos outros, aprender e amadurecer caminhos, aperfeiçoar e corrigir escolhas, discernir o que nos engrandece e nos faz mais humanos, capacitando-nos para enfrentar obstáculos com paciência e misericórdia, iluminando as oportunidades que temos pela frente, fortalecendo o nosso espírito para não nos deixarmos abater nas tempestades nem nos deixarmos endeusar nos momentos de conquista, de vitória e de bonança. A humildade será sempre a força dos que querem avançar e ficar na história como promotores da justiça, da paz e da solidariedade, a alegria daqueles que querem ver os seus nomes inscritos no coração de Deus.

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2 – «Enquanto o país não descontou os seus sábados, esteve num sábado contínuo, durante todo o tempo da sua desolação, até que se completaram setenta anos». A linguagem bíblica da primeira leitura fala-nos daquele SÁBADO contínuo em que DEUS Se coloca em atitude de ESPERA paciente e benevolente.

70 anos, um longo tempo de preparação e de gestação para um tempo novo. «Sobre os rios de Babilónia nos sentámos a chorar, com saudades de Sião. Nos salgueiros das suas margens, dependurámos nossas harpas». O tempo de provação aproxima-se do fim. Quem se sentir povo de Deus deverá agora pôr-se a caminho. Esta é a condição do crente: estar a caminho, em processo de conversão contínua, fazendo-Se acompanhar por Deus.

 

3 – A história da salvação chega ao seu termo com Jesus Cristo. «O Filho do homem será elevado, para que todo aquele que acredita tenha n’Ele a vida eterna». No deserto, tempo de provação do povo de Israel, Moisés levantou uma serpente de bronze. Quem olhasse para a serpente seria salvo. Era uma situação provisória e pontual. O filho do Homem, Jesus, será levantado da terra, e todos os que contemplarem a Sua Cruz, deixando-se trespassar e transformar pelo olhar de Cristo, serão salvos. É um acontecimento pleno e definitivo.

«Deus amou tanto o mundo que entregou o seu Filho Unigénito, para que todo o homem que acredita n’Ele não pereça, mas tenha a vida eterna».


Textos para a Eucaristia (ano B): 2 Cr 36, 14-16. 19-23; Sl 136 (137); Ef 2, 4-10; Jo 3, 14-21.

02.03.24

Destruí este templo e em três dias o levantarei

mpgpadre

1 – «Destruí este templo e em três dias o levantarei». Resposta de Jesus àqueles que o questionam sobre a autoridade com que repreende e expulsa os vendilhões do templo.

Os ouvintes de Jesus contestam: «Foram precisos quarenta e seis anos para se construir este templo e Tu vais levantá-lo em três dias?» São duas leituras diferentes sobre realidades distintas. Os judeus falam do templo de Jerusalém. Jesus fala da Sua vida, anunciando a Sua morte e a Sua ressurreição três dias depois de ser morto. «Quando Ele ressuscitou dos mortos, os discípulos lembraram-se do que tinha dito e acreditaram na Escritura e na palavra de Jesus».

A casa é lugar, é espaço sagrado, é altar, é sacramento, do nosso encontro com Deus e com os irmãos, seja templo de pedra ou a nossa vida, e, por conseguinte, deverá ser honrado, íntegro, sem tralha que nos impeça de voltar o coração para Deus e de abraçar os irmãos.

Mais à frente, no diálogo com a Samaritana, Jesus concluirá, com todas as letras, que o verdadeiro culto não se realiza em Jerusalém ou em Gerizim, mas em espírito e verdade, através do nosso corpo, da nossa vida por inteiro. Porém, e como se conclui da atitude de Jesus, os espaços sagrados devem ser respeitados e respeitáveis.

Três domingos e três espaços para encontrar Deus. No deserto, onde as seguranças não existem, ficámos a sós com Deus. O monte que nos invita a sair do nosso conforto e comodismo, exigindo que nos ponhamos a caminho e subamos, não para ficarmos envoltos em nuvens, mas para regressarmos e trazermos a luz ao mundo. Hoje é o Templo, espaço sagrado, para sentirmos que Deus tem lugar e hora marcada connosco, não é simples abstração espiritual.

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2 – «Não façais da casa de Meu Pai, casa de comércio». Nas entrelinhas, os discípulos percebem as palavras da Escritura Sagrada: «Devora-me o zelo pela tua casa».

Jesus é o TEMPLO que nos acolhe. A Sua vida, feita doação, tornar-se-á LUGAR de encontro e de vida nova. N'Ele seremos uma só família para Deus. Do alto da Cruz, Ele nos assumirá como irmãos,  dando-nos Maria por Mãe, para que n'Ela aprendamos a amar-nos uns aos outros. Maria cuidará de nós para que a casa do Pai não seja casa de comércio, mas casa de encontro, de partilha e de comunhão.

É preciso muito tempo para construir, edificar, para solidificar. Num edifício como nas nossas vidas, na nossa família e no grupo de amigos. Para destruir por vezes basta uma pequena aragem, uma palavra, um gesto, uma gota de inveja. Um jardim leva uma geração a ficar do agrado de quem dele cuida. Uma família está sempre em aperfeiçoamento, entre alegrias e tristezas.

O que muitos em muito tempo edificaram, poucos em pouco tempo podem destruir com a maior das facilidades. Todo o cuidado é pouco. Será muito importante não desistir. Deus não desiste de nós. Nunca desiste da humanidade. Não desistamos uns dos outros!

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Textos para a Eucaristia (ano B): Ex 20, 1-17; Sl 18 (19); 1 Cor 1, 22-25; Jo 2, 13-25.

24.02.24

Se Deus está por nós, quem estará contra nós?

mpgpadre

       1 – "Se Deus está por nós, quem estará contra nós? Deus, que não poupou o seu próprio Filho, mas O entregou à morte por todos nós, como não havia de nos dar, com Ele, todas as coisas? Quem acusará os eleitos de Deus? Deus, que os justifica? E quem os condenará? Cristo Jesus, que morreu, e mais ainda, que ressuscitou e que está à direita de Deus e intercede por nós?"

       Duas certezas inabaláveis na nossa vida terrena: a morte e o amor (de Deus).

       O mal – expressão/manifestação da morte – é mais visível, mostra-se com mais facilidade, preenche as páginas dos (tele)jornais, choca mais, entra-nos pelos olhos, enquanto o bem muitas vezes passa despercebido.

       O amor – para além do mal e da morte – gera a vida. O amor é criativo, inventa a arte, a música, a beleza, a comunhão entre pessoas e povos. Se o amor não existisse, o mundo já há muito tinha desaparecido do mapa. O amor guarda a história, cimenta a cultura, constrói as civilizações, protege-nos do deserto da solidão e do abandono.

       Para o crente, o amor é mais forte que a morte e tem um nome: DEUS. O AMOR é Deus e Deus é Amor, é origem e sustentáculo do amor humano. O Apóstolo São Paulo, na sua epístola aos Romanos, na segunda leitura, coloca em evidência esta ligação a Deus, que nada poderá aniquilar. Deus está por nós. Ama-nos. Vem ao nosso encontro. Protege-nos como uma mãe a um filho que muito ama. Tal é o Seu amor que nos dá o Seu próprio Filho. Não O poupa ao sofrimento e à morte. Em Jesus, o amor de Deus vai até ao fim, até Se esvair em sangue, até a vida biológica se extinguir. 

       Abraão é testemunha privilegiada do amor de Deus e de como Deus Se coloca a nosso favor. "Abraão, Abraão, não levantes a mão contra o menino, não lhe faças mal algum... porque obedeceste à minha voz, na tua descendência serão abençoadas todas as nações da terra". Deus não poupa o Seu filho por amor à humanidade, poupa a humanidade, por amor.

        O mandamento de Deus é categórico: "Não matarás... não levantes a mão contra o teu filho... contra o teu irmão". Se assim for, a bênção espalhar-se-á pelas gerações.

 

       2 – Preparamo-nos para a Páscoa, acontecimento fulcral da história da salvação, acontecimento fundante da Igreja. Deus entra na história e no tempo, entranha-Se na humanidade, por Jesus Cristo. N'Ele, Deus feito homem, somos enxertados na vida de Deus. Com a ressurreição de Cristo, a nossa natureza humana é colocada à direita de Deus Pai. Nem o tempo nem a eternidade, nem a vida nem a morte nos separa do amor de Deus, pois Ele está por nós, como refere São Paulo.

       No episódio que o Evangelho deste domingo nos apresenta – a TRANSFIGURAÇÃO – Jesus irradia a presença luminosa de Deus, fazendo-nos vislumbrar os tempos da ressurreição e da eternidade.

       "Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João e subiu só com eles para um lugar retirado num alto monte e transfigurou-Se diante deles. As suas vestes tornaram-se resplandecentes, de tal brancura que nenhum lavadeiro sobre a terra as poderia assim branquear. Apareceram-lhes Moisés e Elias, conversando com Jesus. Pedro tomou a palavra e disse a Jesus: «Mestre, como é bom estarmos aqui! Façamos três tendas: uma para Ti, outra para Moisés, outra para Elias». Não sabia o que dizia, pois estavam atemorizados. Veio então uma nuvem que os cobriu com a sua sombra e da nuvem fez-se ouvir uma voz: «Este é o meu Filho muito amado: escutai-O»".

       Como aquela que está para ser mãe vai vivendo na expetativa, com o vislumbre do filho que vai chegar, através das ecografias, das fotos intrauterinas do feto, e experimentando a vida nova pelos movimentos no seu ventre, assim Jesus mostra, em antecipação, os tempos futuros, para solidificar confiança nos seus discípulos mais próximos. A alegria definitiva, a LUZ da ressurreição, transparece nesta epifania de Jesus. Uma evidência que nos envolve e desafia: no meio do quotidiano e da turbulência da vida atual é possível extrair luz, paz, vida, amor, encontro com Deus.

 

       3 – Uma certeza e uma tarefa neste segundo domingo da Quaresma.

       A certeza, que clarifica a nossa postura existencial: quanto mais perto de Deus e do Seu amor, mais distantes estaremos da morte e das suas manifestações (mal, injustiças, mentira, corrupção, conflitos, pobreza, distúrbios afetivos e emocionais).

       A tarefa (de sempre): escutar. A transfiguração faz-nos vislumbrar a Páscoa, cativando a nossa atenção, ajudando-nos a enquadrar o tempo presente, perpassado de alegrias e dores, temperado com mil cores de bem, de beleza e de amor, e de dúvida, conflito e de morte. O olhar não engana, mas por ora é a voz que ressoa nos nossos ouvidos: "Este é o meu Filho muito amado: escutai-O".

       A certeza facilita a tarefa de escutar Jesus, procurando que a Sua palavra se transforme em vida, cimentando e aprofundando em nós as marcas da ressurreição e do amor de Deus, sintonizando-nos com as pessoas que são pedacinhos de Deus, e despertando o nosso olhar para a LUZ que d'Ele nos chega.


Textos para a Eucaristia (ano B): Gen 22,1-2.9a.10-13.15-18; Rom 8,31b-34; Mc 9,2-10.

 

Reflexão Dominical na página da paróquia de Tabuaço.

22.02.24

José Bernard - JOANA D'ARC. A virgem guerreira

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JOSÉ BERNARD, sj (2023). Joana d’Arc. A donzela guerreira de Orleães. Apelação: Paulus Editora, 160 páginas.

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A história de Joana d’Arc acontece numa das fases mais sombrias da existência de França, no meio de um conflito que se estendeu no tempo, a Guerra dos 100 anos. A jovem donzela vai ser decisiva na expulsão dos ingleses do solo francês. Com as “vozes” que ouve guia os franceses, o exército à vitória e faz com que o Delfim de França seja coroado como Rei. Porém, os mesmos franceses que apoiou viriam a deixá-la desprotegida, presa pelos ingleses, encarcerada e levado a julgamento, à revelia da Inquisição e, portanto, da Igreja, com o beneplácito dos ingleses.

Os testemunhos foram forjados e silenciados todos os que se opunham ao julgamento e mostravam o desagrado pela condução do julgamento. Joana foi condenada à fogueira, acusada de vestir roupas de homem, desobedecendo a uma ordem das autoridades. Inspiradas pelas vozes, por Deus, respondeu com sabedoria às questões dos especialistas, alguns da Universidade da Sorbonne. Jurou obediência ao Papa e ao Concílio reunido em Basileia. Partes das suas intervenções ou não foram registadas ou foram suprimidas. Cauchon, o Bispo que conduz o julgamento, usa todo o tipo de artimanhas, como o uso do latim, em algumas transcrições, para que Joana não percebesse o que estava a ser escrito…

Foi morta a 30 de maio de 1431. A sua reabilitação não tardaria. Foi reativada em 1452, pelo Cardeal d’Estouteville, legado do Papa Nicolau V. Alguém teria que colocar a questão. Calixto III, então Papa, incumbiu a mãe de Joana de interpor o recurso. O Processo foi solenemente inaugurado a 7 de dezembro de 1455, na catedral de Notre Dame. Foram registados 150 testemunhos, de diversas partes do mundo, principalmente em Domrémy, terra natal de Joana, e em Orleães, Paris e Rouen. O juiz e inquisidor Jean Bréhal redigiu a Recollectio do processo, a sinopse. Nove capítulos com os erros do processe e com todas os maus tratos a que sujeitaram Joana. Duzentas páginas que os legados do Papa leram. Nos portais de Rouen foi afixado o convite para que os adversários se pronunciassem. Ninguém compareceu. 7 de julho de 1456 foi o dia escolhido para o pronunciamento da sentença. Estava consumada a reabilitação. Presente na leitura da sentença o seu irmão Jean d’Arc

Em 9 de maio de 1920, aniversário da libertação de Orleães, o Papa Bento XV declarou Joana d’Arc como santa.

É com estes condimentos que o livro se torna, não apenas interessante, mas um vivo testemunho de fidelidade à verdade, de seguimento de Jesus Cristo, de pertença à Igreja, na procura de escutar a voz que vem do alto, que vem de Deus.

Sinopse do livro:

Este livro lança luz sobre a vida e a condenação de Joana D’Arc, uma figura histórica marcante do século XV. Explorando aspetos frequentemente negligenciados ou mal interpretados, o relato busca compreender a sua trajetória além dos estereótipos romantizados pela história e pelo cinema. Examina minuciosamente os eventos que levaram à sua condenação por heresia e bruxaria, destacando as motivações políticas e religiosas envolvidas. Ao afastar-se dos equívocos persistentes, oferece uma perspetiva mais precisa sobre Joana D’Arc e convida os leitores a descobrir a verdade por trás dessa figura fascinante e incompreendida da história.

17.02.24

O mais relevante não é o dilúvio, mas a ALIANÇA de Deus

mpgpadre

       1 – O povo da Bíblia, o povo judeu, pouco a pouco vai tomando consciência que Deus quer a felicidade e a salvação das pessoas e dos povos. Enquanto as civilizações vizinhas arranjam um deus por cada situação que não conseguem explicar, os judeus "percebem" que há um só Deus, que é criador, e que cria por amor. Logo, por amor não vai querer destruir a obra criada nem exigir sacrifícios que exijam a morte dos seus filhos.

       A descoberta que Deus é UM e é um Deus Pessoal que Se preocupa com a humanidade, e que Se ocupa daqueles que se desviam do Seu caminho, dando sinais e enviando mensageiros, dá aos judeus a garantia e a segurança que podem confiar n'Ele em todas as circunstâncias, concluindo que o mal existente resulta do pecado, do egoísmo e da inveja, ou das próprias leis da natureza. Há momentos duros que não entendem. Ainda assim, confiam que Deus não os abandona. Pedem que Deus volte, ou melhor, que os seus corações percebam a proximidade de Deus, como no salmo proposto para este domingo:

Mostrai-me, Senhor, os vossos caminhos,

ensinai-me as vossas veredas.

Guiai-me na vossa verdade e ensinai-me,

porque Vós sois Deus, meu Salvador.

 

Lembrai-Vos, Senhor, das vossas misericórdias

e das vossas graças que são eternas.

Lembrai-Vos de mim segundo a vossa clemência,

por causa da vossa bondade, Senhor.

 

O Senhor é bom e reto,

ensina o caminho aos pecadores.

Orienta os humildes na justiça

e dá-lhes a conhecer a sua aliança.

       O dilúvio é ocasião para o povo de Israel tomar consciência de Deus e da Sua Aliança a favor do Povo.

       Abraão, mais à frente, percebe e faz perceber ao seu povo que Deus não quis, não quer, a morte do seu filho. Nos povos vizinhos, o primeiro filho era oferecido aos deuses para aplacar a sua ira contra os filhos futuros e contra o povo ou o clã. Este é um grande avanço civilizacional: os filhos são uma bênção (de Deus), Deus não pode querer mal àqueles que cria e abençoa.

 

 

       2 – Na primeira leitura é evidente a distância da fé de Israel em relação aos povos daquela região e daquele momento da história. O dilúvio é entendido como castigo de Deus pelos pecados do povo. Durante alguns anos, e na discussão entre ciência e religião (bíblia), discutiu-se esta passagem, concluindo-se que era simbólica e nada tinha de correspondência histórica. Hoje aceita-se que terá havido dilúvio, com o degelo dos Pólos, e que deixou marcas nas pessoas. Não da forma como é descrito, nem nas proporções apresentadas, mas ainda assim marcante para os sobreviventes. E sabemos como as tradições passam de geração em geração e como a cada ponto, outro ponto se acrescenta. O texto remete para um tempo muito longínquo, conhecido pelas narrações orais. Também aqui seria impensável qualquer texto jornalístico (e mesmo que o fosse não estaria isento da interpretação do jornalista e/ou historiador).

       Para os judeus, porém, o mais relevante não é o dilúvio, mas a ALIANÇA de Deus com o Seu povo. Da humanidade destruída, Deus resgata aqueles que pode para viverem tempos novos. O dilúvio destrói. Muito maior, porém, é a destruição que brota do coração e das mãos humanas. É aqui que a ALIANÇA de Deus com o Seu povo há de incidir.

       "Estabelecerei convosco a minha aliança: de hoje em diante nenhuma criatura será exterminada pelas águas do dilúvio e nunca mais um dilúvio devastará a terra".

       O que devasta a terra, daquele e deste tempo, não são tanto os dilúvios e os desastres naturais, como o pecado dos homens e dos povos, crendo-se que hoje existem algumas "calamidades naturais" que poderiam ter sido evitadas, ou pelo menos minorar as suas consequências desastrosas.

       Exemplo disso, a poluição; a deposição de lixos tóxicos nas montanhas, nos rios, nos mares, nos Pólos; a desflorestação, que facilita as derrocadas, e estas, por sua vez, podem tornar-se um perigo para as habitações que se encontram no seu caminho; os incêndios, muitos deles na procura de transformar as florestas em terra de cultivo ou locais para habitação, ou simplesmente para obter madeira mais barata; a construção habitacional em zonas de risco elevado de ocorrerem sismos, tremores de terra, proximidade às placas tectónicas, zonas litorais com previsão de maremotos e tsunami (s); construções deficientes ao nível da segurança, para essas zonas de risco, numa tentativa de rentabilizar custos à custa de menosprezar os avisos, os estudos e as previsões de acidentes futuros.

       Acrescente-se a isso as calamidades provocadas, muito mais destruidoras: a guerra, os efeitos do comércio de droga e a toxicodependência, a fome, a escravização no trabalho, os maus tratos, os conflitos dentro das famílias e entre famílias, entre povos...

       A Aliança de Deus com a Humanidade parte do AMOR de Deus para nos redimir, para nos conduzir aos novos céus e nova terra de paz e harmonia, de aproximação e reconciliação, onde todos possam ver valorizados como filhos.

 

       3 – Em Jesus, Deus leva a Aliança à plenitude. N'Ele cumprem-se as promessas feitas a todo o povo, e do povo para a humanidade inteira. Com a Encarnação, Deus entra na história e no tempo, para rasgar novos horizontes de fraternidade e de vida nova. Juízes, reis e profetas, e muitas formas que Deus encontra para Se fazer presente. Na plenitude dos tempos envia o Seu próprio Filho.

       No Evangelho proposto para este primeiro Domingo da Quaresma, Marcos fala das tentações de Jesus, impelido ao deserto para rezar, e para que no despojamento de todas as comodidades materiais, Ele sinta mais suave e mais forte a presença de Deus Pai.

        "O Espírito Santo impeliu Jesus para o deserto. Jesus esteve no deserto quarenta dias e era tentado por Satanás. Vivia com os animais selvagens e os Anjos serviam-n’O. Depois de João ter sido preso, Jesus partiu para a Galileia e começou a pregar o Evangelho, dizendo: «Cumpriu-se o tempo e está próximo o reino de Deus. Arrependei-vos e acreditai no Evangelho».

       A dureza do deserto é igual para todos. Também Jesus sente essa dureza, não apenas em vésperas de iniciar a vida pública, mas ao longo de toda a jornada. Muitas serão as situações em que era mais fácil e apetecível seguir um caminho mais leve, mais breve, mais confortável, mais espetacular, mais evidente. Jesus resiste. Aquele que perseverar será salvo. Trilha o caminho da humanidade, em tudo, nas festas e na alegria, na secura e na fragilidade, no sofrimento e na morte, em família e na sinagoga, no campo e na cidade, procurando em tudo ser a transparência de Deus Amor.

       "Cristo morreu uma só vez pelos pecados – o Justo pelos injustos – para vos conduzir a Deus. Morreu segundo a carne, mas voltou à vida pelo Espírito. Foi por este Espírito que Ele foi pregar aos espíritos que estavam na prisão da morte e tinham sido outrora rebeldes, quando, nos dias de Noé, Deus esperava com paciência, enquanto se construía a arca, na qual poucas pessoas, oito apenas, se salvaram através da água".

       Com a paixão redentora de Jesus, Ele conduz-nos a Deus. A aliança chega ao seu termo, à sua plenitude. E é, neste concreto, NOVA ALIANÇA, fundada no sangue e no corpo de Jesus, selada na Ressurreição de entre os mortos.


Textos para a Eucaristia (ano B): Gn 9,8-15; Sl 24 (25); 1 Pe 3,18-22; Mc 1,12-15.

15.02.24

D. MANUEL I, DUAS IRMÃS PARA UM REI

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Isabel Stilwell (2022). D. Manuel I, duas irmãs para um rei. Lisboa: Planeta. 11.º edição. 640 páginas.

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É sobejamente a autora de romances históricos sobre a realeza portuguesa, ao longo dos séculos. D. Manuel I, que sucede ao seu cunhado, D. João II, estão muito ligados aos descobrimentos e à expansão de Portugal no mundo. O sonho de D. João II passa para D. Manuel. Este último quer a expansão e, ao mesmo tempo, combater o “mouro”, ou o “turco”, reconquistando Jerusalém e outros territórios ocupados pelos muçulmanos.

O filho de D. João II, Afonso, casa com a infanta D. Isabel, filha dos reis católicos, D. Isabel de Castela e D. Fernando de Aragão. O projeto é unir Portugal, Castela e Aragão num único reino. Um casamento promissor, feliz e apaixonado que terá um desfecho trágico. Afonso cai de um cavalo e morre. Durante bastante tempo, Isabel recusa a casar-se novamente, ainda que seja desejado o casamento entre o Isabel e D. Manuel, o que virá acontecer. D. Manuel desde que se encontrou e conviveu com Isabel, quis casar com ela. Complicações no parto do filho, têm como consequência a morte de D. Isabel. O filho der ambos, que uniriam o império, nasce frágil e acabará por morrer.

Maria, filha dos reis católicos, sonhou vir a desposar D. Manuel e chegada a sua vez assumiu-se como Rainha de Portugal, gerando dez filhos. O parto do 10.º filho, António, foi muito difícil, e ela morreu pouco tempo depois do filho.

Estes são os dados e ingredientes, com que Isabel Stilwell nos faz percorrer parte do reinado do D. João II e sobretudo o reinado de D. Manuel I, as relações com os reis católicos, mas também com o Papa e com outras casas reais. Num discurso vivo, a autora prende-nos às tramas, aos jogos de bastidores, à cultura da época, preconceitos, conspirações, amores, traições, a importância da expansão portuguesa, a perseguição aos muçulmanos, mas também aos judeus, se se recusassem a converter-se, ainda que os cristãos novos, mouros e sobretudo judeus, continuaram sob suspeita e muitas vezes a cair nas malhas de acusações anónimas.

Mais de quatrocentos páginas que se leem com agrado e nos fazem querer avançar com rapidez para ver os diversos desfechos que se vão insinuando. Desta forma, romanceada, o gosto pela nossa história, e nossas raízes, renasce. Estudar história, ou ler livros de história, não é para todos, mas a história “embrulhada” em romance é um desafio muito agradável.

Importa ainda dizer que, no final, depois do romance, a autora apresenta “Dramatis Personae”, as personagens que preenchem o romance, que nos colocaram na história do mundo, com o que é fiel aos documentos históricos e o que foi criado literariamente, ainda que fundamentado em outros documentos, cartas, narrativas.

 

A AUTORA

Isabel Stilwell é jornalista e escritora. A sua grande paixão por romances históricos revelou-se em 2007, com o bestseller D. Filipa de Lencastre, a que se seguiram D. Catarina de Bragança, ambos traduzidos para inglês, e D. Amélia, sempre com crescente sucesso.
Em abril de 2012, foi a vez de publicar D. Maria II, que mereceu uma edição especial para o mercado brasileiro. Em outubro de 2013 lançou Ínclita Geração – Isabel de Borgonha, em 2015, a história da mãe do primeiro rei de Portugal, D. Teresa e em 2017 um romance sobre a vida da Rainha Santa, Isabel de Aragão, eleito o 2º melhor livro de ficção, no Prémio Livro do Ano Bertrand.
Desde o Diário de Notícias, onde começou aos 21 anos, que contribui de forma essencial para o jornalismo português. Fundou e dirigiu a revista Pais & Filhos, foi diretora da revista Notícias Magazine durante 13 anos e diretora do jornal Destak até ao final do ano de 2012, entre muitos outros projetos. Atualmente escreve para a revista Máxima, tendo uma das suas peças sobre a adoção em Portugal («Não amam nem deixam amar», em conjunto com a jornalista Carla Marina Mendes) sido distinguida com o 1º Prémio de Jornalismo «Os Direitos da Criança em Notícia». Continua a colaborar mensalmente com a revista Pais e com o Jornal de Negócios, quando não está a escrever, vira diariamente os «Dias do Avesso» em conversa com Eduardo Sá, na Antena 1.

SINOPSE:

Justa, a sua querida ama, não duvidava de que era o Escolhido, aquele que as profecias anunciavam estar destinado a reconquistar Jerusalém, e a unir os homens sob a mesma Fé.

Não nasceu para ser rei, mas a roda da fortuna tornou-o duque de Beja e herdeiro de D. João II. Viu morrer o sobrinho e assassinar irmão e cunhado para subir ao trono a 27 de outubro de 1495.

As naus do Venturoso chegaram à Índia e ao Brasil construindo um Império, digno do rei mago do Ocidente, como, em segredo, se intitulava.

Ao som da música, tornou Lisboa no centro do comércio das especiarias, as suas ruas animadas por mercadores, espiões, intrigas e riquezas nunca antes vistas.

Isabel, viúva de Afonso, filho de D. João II, resistiu ao casamento. Queria viver a sua tristeza em paz. Mas Manuel era determinado. Desde aquele dia em que os seus olhares se cruzaram em Moura, sabia que Isabel havia de ser sua. Por ela faria tudo, inclusive expulsar os hereges de Portugal, e depois os judeus. Mas mais uma vez a roda da fortuna girava e a sua felicidade durou pouco.

Isabel morria no parto, e o seu único filho não sobreviveria. Era preciso garantir a descendência. Maria, irmã de Isabel, esperara, apaixonada, e o seu tempo tinha chegado. Seria rainha de Portugal e mãe de dez filhos, entre eles seis varões.

 

09.02.24

Senhor Jesus, se quiseres, podes curar-me!

mpgpadre

       1 – "Jesus ficava fora, em lugares desertos, e vinham ter com Ele de toda a parte". Este é um elemento comum ao evangelho do domingo passado – "Todos Te procuram... Vamos a outros lugares". A fama de Jesus espalha-se, onde quer que vá há alguém que já se cruzou com Ele, já O ouviu, já viu o Seu rosto, já alguém falou d'Ele. Depois da cura de um homem leproso, mais se divulga o Seu nome. Jesus dissera ao leproso para não dizer a ninguém, talvez com a preocupação de que as pessoas não se deixassem fascinar pelos milagres, mas procurassem acolher a Palavra de Deus. "Porém, logo que partiu, começou a apregoar e a divulgar o que acontecera".

       O encontro de Jesus com as pessoas faz-se nos dois sentidos. Jesus que parte, deslocando-se por aldeias, vilas e cidades. Pessoas que se informam do local em que Ele se encontra e vão ter com Ele, de toda a parte, para O escutarem e se deixarem tocar pelas suas palavras, uns em busca de paz ou de um sentido mais definitivo para a vida, outros para serem curados, uns por curiosidade, outros puxados pelos seus pares, deixam-se levar, outros ainda para assistirem às discussões com doutores da lei e fariseus.

       Mas o que se destaca hoje no evangelho é a cura de um leproso.

       Também ele tinha ouvido falar de Jesus, veio ao seu encontro, "prostrou-se de joelhos e suplicou-Lhe: «Se quiseres, podes curar-me». Jesus, compadecido, estendeu a mão, tocou-lhe e disse: «Quero: fica limpo». No mesmo instante o deixou a lepra e ele ficou limpo".

       Curiosa a forma usada por este homem: se quiseres, podes curar-me... não depende (primeiramente) da minha força, da qualidade da minha pessoa, não depende do bem ou do mal que tenha feito na minha vida, depende de Ti, Senhor.

       Só a fé nos coloca frente a frente com Jesus, com o Altíssimo, só a fé alimenta o nosso coração e nos coloca diante do mistério insondável da vida. As palavras do leproso refletem a fé de Maria: faça-se em mim segundo a Tua palavra… Fazei o que Ele vos disser... Ou na consciência de Jesus: o meu alimento é fazer a vontade de meu Pai que está nos céus. Faça-se... E aconteceu. Jesus curou-o. A fé é o ponto de partida, o ponto de encontro com Jesus. Mas tudo se concentra na iniciativa divina, na primazia do Seu sim a favor da humanidade.

 

       2 – A maior das leis é a caridade, expressão e concretização do Amor de Deus. Não há leis humanas, mesmo que revestidas como leis divinas, que esqueçam, contornem, anulem ou impeçam a vivência da caridade. Certamente que todos já nos deparámos com leis que se tornam injustas, sobretudo na sua aplicação concreta. Nem todas as pessoas são iguais, nem todos têm as mesmas necessidades. A igualdade há de existir na dignidade, no respeito pela identidade de cada um, no acolhimento das especificidades da pessoa e da cultura em que nasce e se desenvolve. No entanto, por que cada um de nós tem uma idiossincrasia, o "fato" pode não servir a todos.

       Por outro lado, há claramente leis que são fruto da cultura, da situação histórico-geográfica, elaboradas naquele tempo, para aquelas pessoas, procurando defender a maioria, mesmo que depois fiquem algumas esquecidas, abandonadas à sua sorte, desprotegidas ou até esmagadas pelas leis.

       É o caso da lepra, ou melhor, dos leprosos. Perante a ameaça de propagação, surge uma lei que se converte em lei religiosa, obtendo uma força extraordinária e para mais com a autoria atribuída ao grande líder de Israel, Moisés. Em nome de Deus, inspirado por Ele, dita a lei a Aarão, o sacerdote: "O leproso com a doença declarada usará vestuário andrajoso e o cabelo em desalinho, cobrirá o rosto até ao bigode e gritará: ‘Impuro, impuro!’ Todo o tempo que lhe durar a lepra, deve considerar-se impuro e, sendo impuro, deverá morar à parte, fora do acampamento».

       É esta lei que Jesus ultrapassa pela proximidade com todo o tipo de pessoas: doentes, andrajosos, sãos, cultos, pecadores e publicanos, mulheres e crianças, pessoas com estatuto social, religioso e político, ou sem qualquer estatuto, estrangeiros e os que estão em nome da potência invasora. Para Jesus todos são igualmente filhos, imagem e semelhança de Deus, todos merecem atenção, disponibilidade, ainda que seja para os doentes, para os pecadores, para os excluídos, que Jesus oriente a Sua máxima atenção. Não são os sãos que precisam de médico. Não para excluir uns em função dos outros. Alguns sistemas recentes procuraram substituir umas classes por outras inferiores, elevando estas e inferiorizando aquelas. Em Jesus a preocupação é a inclusão de todos, por isso tem que ir ao encontro dos excluídos da sociedade e da religião, ou deixar-se encontrar por eles.

       O homem curado de Jesus é integrado na sociedade. Jesus cura-lhe a doença, mas sobretudo introdu-lo na convivência social e religiosa, devolve-se a saúde, mas sobretudo a dignidade, a alma, a vontade de viver. Ele também é filho, também é irmão, também é rosto de Deus. Ninguém é feliz sozinho, isolado.

 

       3 – "Meu Pai trabalha incessantemente e Eu também trabalho em todo o tempo" (Jo 5, 17-30), dirá um dia Jesus aos judeus, deixando claro que não há leis que possam impedir o serviço da caridade, nem sequer a lei do Sábado, o dia do descanso para os judeus. Moisés prepara o povo para viver em clima de paz, de harmonia, de honestidade. Muitas vezes, contudo, justificam-se outros abusos com a lei mosaica. Jesus não se impressiona com o recurso a Moisés, garantido que a preocupação é a mesma, viver na obediência a Deus.

       Importa, uma vez mais, escutar as palavras do Apóstolo São Paulo: "Quer comais, quer bebais, ou façais qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus. Portai-vos de modo que não deis escândalo nem aos judeus, nem aos gregos, nem à Igreja de Deus. Fazei como eu, que em tudo procuro agradar a toda a gente, não buscando o próprio interesse, mas o de todos, para que possam salvar-se. Sede meus imitadores, como eu o sou de Cristo".

       A preocupação do cristão não é servir-se, ou usar os outros ou a própria lei em benefício próprio, mas ser instrumento de felicidade para os outros, sabendo que dessa forma se sentirá (re)compensado. Nesta epístola faz-se uma clara defesa do bem comum e também aqui uma provocação para este tempo e para a cultura ocidental, em que muitos se serviram, esqueceram-se dos outros, serviram-se das pessoas e das estruturas. Só que na volta advieram consequências desastrosas e destrutivas. Quando se sobrevaloriza o egoísmo - viver para si - advém a destruição do tecido social, cultural e religioso. Uma sociedade só vive se fizer da solidariedade e da partilha o seu lugar de encontro. Jesus, na Cruz, dá o maior dos testemunhos, não Se salva, não salva a Sua pele. Entrega-Se pelos outros, por todos.

 

       4 – Trabalhemos incansavelmente pelo reino de Deus e sua justiça. Quer comamos quer durmamos, façamos tudo em nome de Jesus. Tudo para glória de Deus. Todo o bem que fizermos ao nosso semelhante será para glória de Deus. A glória de Deus, como lembrava Santo Ireneu, é o homem vivente, o homem vivo, ou seja, a pessoa com qualidade de vida, a vida em abundância que nos é dada em Jesus Cristo.

       Entreguemo-nos à prática do bem e ao louvor de Deus. Ou, louvemos a Deus também pelas boas obras que realizamos. Isso nos será tido em conta. Não cessemos de confiar no Senhor, como nos ensina o salmista: "Vós sois o meu refúgio, defendei-me dos perigos, fazei que à minha volta só haja hinos de vitória. Alegrai-vos, justos, e regozijai-vos no Senhor, exultai, vós todos os que sois retos de coração". Será esta confiança, como a fé e a abertura do homem com lepra, que nos permitirá acolher a Deus e a todos aqueles e aquelas que Deus colocou na minha, na tua, na nossa vida.


Textos para a Eucaristia (ano B): Lev 13,1-2.44-46; Sl 31 (32); 1 Cor 10,31-11,1; Mc 1,40-45.

 

Reflexão Dominical na Página da Paróquia de Tabuaço

03.02.24

Todos Te procuram... Vamos a outros lugares...

mpgpadre

       1 – "De manhã, muito cedo, levantou-Se e saiu. Retirou-Se para um sítio ermo e aí começou a orar. Simão e os companheiros foram à procura d’Ele e, quando O encontraram, disseram-Lhe: «Todos Te procuram». Ele respondeu-lhes: «Vamos a outros lugares, às povoações vizinhas, a fim de pregar aí também, porque foi para isso que Eu vim». E foi por toda a Galileia, pregando nas sinagogas e expulsando os demónios".

       O relato do Evangelho que nos é proposto neste domingo acompanha Jesus no Seu ministério público, em vários momentos, e em diferentes acentuações.

       Desde logo, a narração mostra como a fama de Jesus já se tinha espalhado e como são muitas as pessoas que O procuram. As razões podem ser diversas como diversa é a vida de cada um, com as suas preocupações e com os seus sonhos/projetos.

       Os discípulos mostram a preocupação: "todos Te procuram", parecendo que Jesus se tinha alheado das pessoas e desta procura. Mas escutemos: Vamos a outro lugares, ao encontro das pessoas, há mais pessoas que querem e precisam de escutar a palavra de Deus. É essa a minha missão: pregar, levar a todos a Palavra de Deus para que todos tenham a oportunidade de acolher os novos tempos da salvação.

       Como sublinhou o nosso Bispo, na tomada de posse, mais perto de Deus para se fazer mais próximo dos homens. "Pertinho de Deus, cheio de Deus, Jesus leva Deus aos seus irmãos" (D. António Couto). É o ponto de partida de Jesus. Há de chegar a ser também o nosso. Jesus não Se afasta para Se isolar, para ficar longe das pessoas, afasta-Se para rezar, para ficar pertinho de Deus e depois voltar com toda a força aos caminhos dos homens e levar Deus a todos.

 

       2 – Vejamos como São Marcos nos mostra Jesus em momentos distintos.

       Jesus avança para Cafarnaum. Vai à Sinagoga, oração, leitura, reflexão da Sagrada Escritura, cura um homem com um espírito impuro.

       Mas a Sua jornada ainda não acabou. "Jesus saiu da sinagoga e foi, com Tiago e João, a casa de Simão e André. A sogra de Simão estava de cama com febre e logo Lhe falaram dela. Jesus aproximou-Se, tomou-a pela mão e levantou-a. A febre deixou-a e ela começou a servi-los". Depreende-se que entretanto Jesus e os seus discípulos comam, descansem um pouco, retemperem forças.

       O dia ainda não terminou, ainda há muito que fazer. "Ao cair da tarde, já depois do sol-posto, trouxeram-Lhe todos os doentes e possessos e a cidade inteira ficou reunida diante da porta. Jesus curou muitas pessoas, que eram atormentadas por várias doenças, e expulsou muitos demónios..." 

       Manhã cedo, antes que os outros despertem, já Ele se levantou, saiu para um lugar sossegado, para que a Sua intimidade com Deus Pai se torne mais evidente. O alimento de Jesus é fazer a vontade do Pai. Os seus gestos, palavras, milagres, encontros, com a multidão ou em casa de pessoas concretas, são momentos que espelham o fazer a vontade do Pai. Mas por vezes, a necessidade de parar, avaliar, refletir, rezar, ouvir, fazer silêncio, para que a voz do Pai ressoe mais fundo.

 

       3 – Todos O procuram. Jesus vai, parte, industria/ensina os Seus discípulos para que eles possam ajudar, testemunhar, anunciar o AMOR de Deus em toda a parte, em todos os lugares, em todos os tempos, até ao fim do mundo.

       Disso nos dá a certeza o Apóstolo da Palavra:

       "Anunciar o Evangelho não é para mim um título de glória, é uma obrigação que me foi imposta. Ai de mim se não anunciar o Evangelho! Se o fizesse por minha iniciativa, teria direito a recompensa... Em que consiste, então, a minha recompensa? Em anunciar gratuitamente o Evangelho, sem fazer valer os direitos que o Evangelho me confere. Livre como sou em relação a todos, de todos me fiz escravo, para ganhar o maior número possível. Com os fracos tornei-me fraco, a fim de ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, a fim de ganhar alguns a todo o custo. E tudo faço por causa do Evangelho, para me tornar participante dos seus bens". 

       Que há de mais sublime que viver Deus, deixando que Ele transborde para os outros, para o mundo. Cada cristão há de tornar-se anunciador do Evangelho, é a condição de todo o batizado, o compromisso de todo/a aquele/a que quer seguir Jesus. Anunciar o Evangelho com a vida que se leva, em cada encontro, em cada lugar, para inserir a própria vida na eternidade de Deus.

 

       4 – Crente é aquele que se abre ao mistério. A vida não se resume à materialidade, à dimensão biológica. O homem ultrapassa infinitamente o homem (Blaise Pascal), está inscrito nos seus genes, aspirar sempre mais, até ao Infinito. Deus criou-nos por amor, atrai-nos constantemente. Quando nos esquecemos da nossa identidade, da nossa origem, envia profetas, envia o Seu próprio Filho. 

       Aspiremos às coisas do alto. É da eternidade que Deus nos busca. Vem. Desce. Habita-nos. Encarna. Faz-Se história. Faz-Se tempo. Vive no meio de nós. É Deus connosco. Percorre, em Jesus Cristo, os dramas e os sonhos da (nossa) humanidade. Carrega a cruz do nosso sofrimento, não por ter muitas forças, mas por transbordar de Amor. Amar é a força maior. Quem ama vai mais longe. Quem ama carrega todas as cruzes, todo o sofrimento, até ultrapassar. Quem ama dá a vida, predispõe-se a oferecer a vida pelo outro, pelo filho, pelo irmão, pela mãe e pelo pai, pela humanidade.

       O nosso desejo, sermos mais, vivermos mais, vivermos melhor, é o caminho da santidade. Aperfeiçoar-nos, não para sermos melhores que os outros, mas nos tornamos aquilo que somos, imagem e semelhança de Deus. Para sermos felizes. Quando nos dispersamos, confundimo-nos, desorientamo-nos. Não sabemos para onde ir. Não nos reconhecemos. Não sabemos por que estamos aqui. Não sabemos por que estamos e outros não. Na dispersão, diabolizamos, tornamo-nos estorvo, pedra de tropeço uns para os outros.

       A vida é efémera. Avança. Rápida. Veloz. À velocidade da luz. Estamos, e logo já não estamos. Amanhece e logo nos tornamos demasiados velhos, pesados, já não voamos, já não sonhamos, já não nos resta nem vida nem esperança.

       "Job tomou a palavra dizendo: Os meus dias passam mais velozes que uma lançadeira de tear e desvanecem-se sem esperança. – Recordai-Vos que a minha vida não passa de um sopro e que os meus olhos nunca mais verão a felicidade". 

       A vida é como um sopro. Se ela acaba na morte, é demasiado frágil, inócua, vazia, perde-se toda a esperança, tudo o que fomos, o que somos não tem saída, não tem horizonte, abertura. A nossa vida e identidade dispersam pelo cosmos como poeira insignificante. Não ficará qualquer registo da nossa passagem pelo mundo, a não ser poeira, entre poeira.

       A vida é história que nos compromete. Se na nossa fragilidade encontrarmos o Deus da vida, a esperança recoloca-nos na eternidade, o nosso fim é o Céu, e então a duração da nossa existência medir-se-á pela intensidade com que vivemos, pelo amor, pela paixão, pelo sonho, pela beleza. Enlevados para o alto para o encontro de Deus na história. Podemos alcançar Deus, melhor, podemos deixar-nos alcançar por Deus na história deste tempo, na nossa vida quotidiana.

       Evangelizar também é isto: viver na dinâmica do amor de Deus.


Textos para a Eucaristia (ano B): Job 7,1-4.6-7; 1 Cor 9,16-19.22-23; Mc 1,29-39.

01.02.24

Boletim Voz Jovem – setembro a dezembro de 2023

mpgpadre

VozJovem_setembro-dezembro-1.jpg

A Festa em honra da nossa Padroeira, Nossa Senhora da Conceição, é uma das festas mais importantes e mobilizadoras da comunidade e vive-se essencialmente na dimensão religiosa, com a celebração da Eucaristia e com a Procissão, com a imagem de Nossa Senhora, num andor transportado pelos Bombeiros Voluntários, a percorrer algumas das ruas da Vila. Dois momentos sublimes, quando para frente ao Quartel dos Bombeiros, com o toque da sirene. Só se ouve a sirene! Outro momento emotivo é a passagem junto ao Lar da Santa Casa da Misericórdia, com os idosos a aproximarem-se da procissão ou colocados junto das janelas para a verem passar.

O destaque desta edição, como expectável, é para esta festa, mas esquecendo outras vivências, como a Peregrinação Anual ao recinto de Nossa Senhora da Conceição, a Festa dos Quatro Santos, o início da catequese paroquial, os 50 anos do pároco, o compromisso dos Acólitos, a Festa do Acolhimento, para e dos meninos do 1.º ano de catequese... ainda a referência, em fotos, ao magusto paroquial e à festa de Natal da catequese.

Boa leitura...

 

Para fazer o download clicar sobre a imagem ou seguir a hiperligação:

BOLETIM PAROQUIAL VOZ JOVEM - especial JMJ 2023

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